Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Mais sobre mim

foto do autor


Calendário

Abril 2016

D S T Q Q S S
12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930

subscrever feeds


Arquivo

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2014
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2013
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2012
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2011
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2010
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2009
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2008
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D


Point-of-View Shot - Gone Girl (2014)

por Catarina d´Oliveira, em 05.10.14

 

"I can practice believing my husband loves me. But I could be wrong."

 

Capaz de fazer gelar a espinha mais bem constituída, “Gone Girl” é um mistério polido que tem tanto de ultrajante como de assustador, continuando a incursão de David Fincher pelos mais escuros meandros da condição humana.

 

Amy e Nick vivem um romance tirado dos contos de fada e dos versos das músicas. A fórmula para o entusiasmo interminável parece selada por jogos entusiasmantes e uma promessa sussurrada entre paredes: “nunca vamos ser um daqueles casais”. Mas porque o mundo não é cor-de-rosa – uma cor literal e figurativamente ausente dos universos criados por David Fincher – a recessão atinge a economia, e ambas as crias do brilho nova-iorquino encontram-se subitamente sem emprego e obrigadas ao retiro para a terra natal de Nick, no Missouri.

 

 

O fulgor cansa-se, os defeitos interessantes tornam-se fraturas dilacerantes, e em pouco tempo, Nick e Amy têm entre si uma rutura inescapável de distância e alheamento. No dia do seu quinto aniversário de casamento, Nick prepara-se para a deixar. E é nessa altura que, numa casa antes imaculada e agora surpreendentemente revirada, Amy desaparece.

 

Pode não ter o peso de “Zodiac”, ou a vitalidade de “Se7en”, ou a complexidade de “Fight Club”, mas “Gone Girl” é uma imperiosa e negra criatura da noite, como uma serpente venenosa, esguia e pronta a abocanhar uma presa insuspeita.

 

A adaptação do best-seller homónimo de Gillian Flynn conta uma história sórdida entre várias camadas de ilusão, mentiras e frenesim mediático; uma história que se alicerça no poder do storytelling (tanto no próprio enredo, como nos utilizados mecanismos para o trazer à vida) e na eterna contenda entre a perceção e a realidade.

 

 

Sagaz, cáustico e perverso, parte como uma exploração fascinante sobre narrativas duvidosas e do poder escorregadio dos media, capaz de agarrar ideias profundas sobre a identidade pessoal, a forma como nos apresentamos perante o outro e as relações, e transpô-las para um enredo metafórico que serve totalmente as necessidades de entretenimento do público moderno. Além de tudo isto, o mais recente filme de Fincher é ainda um assombroso ensaio sobre a misoginia, as dificuldades de distanciamento da educação que recebemos, a relação com cenários de crise e a anatomia de um casamento corrosivo - está para o casamento como “Fatal Attraction” está para a infidelidade.

 

Surpreendentemente, este é uma das entradas com mais humor da carreira do realizador, que aqui não só corta a escuridão como um facalhão de gume afiado, como também cria um contraste satírico fascinante com esta. “Gone Girl” é perverso, e perversamente divertido, e o respeito pela inteligência da audiência volta a ser um dos trunfos de Fincher – aqui em particular, já que é da maior importância que cada membro do público seja júri, juiz e carrasco num tabuleiro onde a perceção e a depreensão são tudo. Mas parte da razão do seu sucesso jaz no triunfo das performances dos intervenientes.

 


Apesar de ser notoriamente um ator limitado no alcance, Ben Affleck cruza-se aqui com uma das melhores interpretações da sua carreira, emanando, entre várias nuances que podem não saltar imediatamente à vista, uma empatia natural mesmo quando esta se equilibra com uma irritante quantidade de estupidez e negrume questionável.

 

Todavia, o relevo das letras gordas pertencerá sempre a Rosamund Pike, que com uma carreira sólida em papéis secundários segura com unhas, dentes e veneno a sua grande oportunidade de saltar para a primeira linha de Hollywood. Pike é uma revelação, e nenhum dos seus trabalhos precedentes nos preparava para o que aqui se mostra capaz. No filme de Fincher, ela bem pode ser a mulher desaparecida, mas Pike veio mesmo para ficar.

 

Contas feitas, esta é uma história sobre jogos. Os jogos que jogamos uns com os outros para obter a dianteira; os jogos que os media jogam connosco para obter audiências; os jogos que nos fogem por entre os dedos quando tudo o que procuramos é o seu controlo.

 

 

“Quem sou eu?” – é a questão central que faz girar em torno de si as narrativas mais convencionais. Mas o filme de Fincher apresenta uma inquisição muito mais misteriosa e potencialmente aterradora – “Quem és tu?”. Com respostas perturbadoras a perguntas incómodas, não oferece nada incrivelmente novo ao impressionante repertório do realizador, mas não deixa de surgir como um trabalho de fascinante engenharia, inteligência arrepiante e metáfora lúgubre. No entanto, poderá existir uma determinada compulsão em fazer de “Gone Girl” algo que não é. Aceitá-lo como outra coisa que não um thriller entusiasmante e sarcástico é manifestamente um desserviço.

 

Apresentado em serviço de prata e porcelana chinesa, é um cheeseburger que mereceu tratamento gourmet, e esta é, talvez, a verdadeira raiz da sua genialidade – porque veste impecavelmente a camisola da sátira que representa.

 

8.0/10

Autoria e outros dados (tags, etc)



Mais sobre mim

foto do autor


Calendário

Abril 2016

D S T Q Q S S
12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930

subscrever feeds


Arquivo

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2014
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2013
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2012
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2011
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2010
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2009
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2008
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D