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Point-of-View Shot - The Revenant (2015)

por Catarina d´Oliveira, em 21.02.16

revenant.jpg

 

"I ain't afraid to die anymore. I'd done it already"

 

 

Um poema frenético cravado a frio na pele ensanguentada, The Revenant revisita o mito americano com a crueza que mais com ele condiz – venal, bruta e vingativa.

 

Numa expedição pelo desconhecido território americano, o lendário explorador Hugh Glass é brutalmente atacado por um urso e deixado como morto pelos seus companheiros de caça. Na luta pela sobrevivência, Glass resiste a um sofrimento inimaginável, bem como à traição de John Fitzgerald, um dos seus companheiros de expedição. Guiado pela sede de vingança e o amor da sua família, Glass terá de enfrentar um inverno rigoroso numa busca incessante pela sobrevivência e redenção.

 

the-revenant-image-tom-hardy-will-poulter.jpg

 

De Leonardo DiCaprio já se disse tudo o que virtualmente se poderia dizer de um ator absolutamente dedicado à sua arte. Depois de anos a fio a usar memes e engenhos humorísticos para gozar o facto de nunca ter levado um Óscar para casa – não obstante as vezes que o mereceu – será, certamente, este o ano que lhe quebra o enguiço. E apesar de ser uma performance profundamente instintiva, fisicamente complexa e matizada e extremamente impressionante, é difícil encaixá-la sequer no top 3 do cânone do ator, o que não deixa de parecer mais uma curiosa confirmação da célebre asserção de Katharine Hepburn sobre as estatuetas douradas: “os atores certos ganham sempre o Óscar, mas pelos papéis errados”.

 

Tanto ou mais surpreendente é Tom Hardy que aparece fiel à forma que lhe conhecemos – o que significa 100% carismático e 50% ininteligível no discurso. Fitzgerald não é um personagem propriamente complexo, aparecendo como um vilão ligeiramente cartoonizado, cujo momento mais humano surge quando descreve pormenorizadamente o que sentiu quando lhe arrancavam o escalpe a sangue frio. Fun!

 

the-revenant-trailer-screencaps-dicaprio-hardy34.p

 

Mas voltando às considerações gerais, o novo filme de Alejandro G. Iñárritu ambienta-se a um vértice fascinante da ainda breve história americana, mesmo antes de os caminhos serem trilhados, de os cowboys serem intitulados, de os homens armados de emblemas e fogos abrirem caminho pelo Oeste. É quase um cenário Bíblico, num mundo aparentemente sem lei onde a justiça se faz “olho por olho, dente por dente”. Aqui a única lei que impera é a da vingança em bruto, a única que importava naquele momento singular da história, aquele momento que se propaga numa saga de dor e determinação.

 

The Revenant é, assim e sem qualquer margem para fantasias, um violento western que só parece passado num cenário nevoso para expor ainda mais o sangue, suor e membros decepados. Iñárritu maravilha-se com a virgindade da terra, contraposta com a malevolência humana – a simples selvajaria inocente de tudo, desde as árvores sem fim, aos prados cobertos de branco, aos rios enraivecidos. Digamos que, em diversas formas e medidas, é, para o bem e para o mal (já lá iremos) o Gravity dos westerns - visceral e de tal forma eletrizante que transcende a própria narrativa.

 

O pano abre numa espécie de floresta alagada e húmida, de aspeto pouco convidativo, atolada de homens que trocaram qualquer noção de conforto pela possibilidade de fazer algum dinheiro extra no mercado das peles. Enquanto o gangue discute (pouco) alegremente assuntos mundanos, as setas começam a voar, e porque Iñárritu filma tudo com uma misteriosa obsessão pelo natural, é quase possível sentir a roupa pejada de lama, a água a consumir-nos os ossos, o sabor metálico do sangue a inundar-nos a boca. Toda a cena é filmada ao estilo de Birdman, o que significa que navegamos etereamente pelo caos, saltitando de personagem em personagem, enquanto estes rijos do Oeste tentam escapar vivos à fúria dos Índios que apenas procuram recuperar uma “princesa” desaparecida. E esta cena é apenas uma miniatura de tudo o resto.

 

the revenant.jpg

 

É uma espécie de paradoxo – aparentemente desnecessariamente cruel, mas é essa mesma dimensão ríspida que mantém a noção de que o Velho Oeste Selvagem era, de facto, desnecessariamente cruel. É certo que quase parece retirar um prazer retorcido da sua própria sanguinolência, num niilismo resvalado numa escuridão que ilustra sem espinhas que a selvajaria do Oeste selvagem não significava propósito, ou independência, ou liberdade. Aqui o selvagem era genuinamente bruto, desumanamente natural e inescapavelmente imperdoável.

 

The Revenant é visceralmente diferenciado de Birdman, mas também dos enredos entreligados dos anteriores filmes de Iñárritu (onde se contam, por exemplo, 21 Grams e Babel). Desta feita a história é extraordinariamente simples, inclusive a um ponto prejudicialmente detrimental. De facto, a ambição filosófica e moral é tão exacerbada que no momento em que chegamos à ansiada represália, depois de tanta dor, morte, planos da natureza e minutos inexplicavelmente queimados, é muito difícil não a sentir como uma relativa desilusão.

 

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Na verdade, o que fez Birdman funcionar tão bem foi o harmonioso casamento entre o virtuoso estilo do realizador e o estado caótico da psique das suas personagens. Todo o pandemónio miraculosamente organizado trabalhava em prol da história de um homem que, procurando reencontrar-se consigo mesmo, se perdia ainda mais. Em The Revenant, o estilo e a história não só não parecem estar na mesma página – parecem arrancados de livros diferentes. O investimento feito em encantar os nossos olhos através de cenas que são manifestamente indeléveis (Emmanuel Lubezki destaca-se uma vez mais como um dos mais talentosos e disruptivos diretores de fotografia dos nossos tempos), o mais recente filme de Iñárritu não consegue deixar de se sentir frustrantemente frio, incapaz de nos assoberbar o coração como nos revira as entranhas.

 

Feitas as contas, The Revenant parece mais uma experiência do que um filme propriamente completo e totalmente coerente. Todavia, esse tipo de cinema, esse raro tipo de cinema que nos transporta inesperada e inescapavelmente para um outro tempo e espaço, ao ponto de lhe cheirarmos os odores, de lhe sentirmos os chãos, de lhe sofremos as dores, é sempre bem-vindo.

 

 

7.5/10

 

 

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Point-of-View Shot - Mad Max: Fury Road (2015)

por Catarina d´Oliveira, em 21.05.15

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"As the world fell it was hard to know who was more crazy. Me... or everyone else"

 

Ao fim de duas horas cronometradas no que parece uma vénia à pontualidade britânica, a sala esvazia-se em câmara-lenta, com rasgos de pequenos tragos acelerados, num silêncio aparentemente letárgico que se torna quase desconfortável. É esta perceção que invariavelmente nos fica quando a ferocidade de “Mad Max: Fury Road” desliga os motores.

 

Saímos doridos da viagem que nos encheu a boca de poeira e o corpo de nódoas negras. O regresso à normalidade, e onde o futuro pertence a outros loucos, faz-se com os sentidos dormentes, mas a alma cheia de um cinema que julgávamos perdido nos tentáculos do tempo e da inovação tecnológica - porque aquilo que poderia soar a uma tentativa desesperada de fazer render uma vaca leiteira fora de prazo revela-se um choque retumbante e revigorante de originalidade demente.

 

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Perseguido pelo seu turbulento passado, Mad Rockatansky acredita que a melhor forma de sobreviver é não depender de mais ninguém para além de si próprio. Ainda assim, acaba por se juntar a um grupo de rebeldes que atravessa a Wasteland, numa máquina de guerra conduzida por uma Imperatriz de elite, Furiosa. Este bando está em fuga de uma Cidadela tiranizada por Immortan Joe, a quem algo insubstituível foi roubado. Exasperado com a sua perda, o Senhor da Guerra reúne o seu letal gang e inicia uma impiedosa perseguição aos rebeldes e a mais implacável Guerra na Estrada de sempre. E quando o sprint para o inferno começa, já não para. É há tanta, tanta loucura. Loucura pura e cristalina; alimentada por fogo, sangue e fúria.

 

As imagens sucedem-se à velocidade de uma chuva de meteoritos. Terroristas a catapultarem-se para o veículo inimigo. Crânios como figuras de adoração. Tempestades de areia que engolem tudo. Explosões espetaculares. A figura icónica de um homem sem face preso a uma parede de colunas gigantescas onde faz uma serenada à morte enquanto rasga acordes numa guitarra elétrica que cospe fogo. Os posters não estavam a mentir – o deserto, o calor, a sede, o instinto… devem ter tornado toda a gente louca.

 

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Precisamente 30 anos depois de “Mad Max 3: Thunderdome”, “Fury Road” retoma os acontecimentos num mundo rapinado pela política, poder e selvajaria do instinto. Todavia, George Miller regressou ao universo que instituiu o seu nome como referência e Mel Gibson como uma estrela com uma entidade que opera por si mesma, sem necessidade de (re)conhecimento da proeza tripartida original – e que foi, tão somente, a explosão que catapultou a New Wave do cinema australiano para o olho global.

 

Fury Road” é tão pouco tradicional como blockbuster quanto pode ser, e sobrevive num deserto de olvidáveis experiências cinematográficas à custa da sua “originalidade old school” e audácia.

 

Um dos seus menos vistosos mas mais determinantes atributos é o sentido económico refinado do argumento. A história é tremendamente simples apesar de explodir em discussões filosóficas e transbordar sentimento, encontrando beleza no grotesco e estranheza desconcertante na graça. No entanto, não cede a qualquer tentação da complicação para o esconder. O diálogo e exposição mantém-se em volumes mínimos, servindo-se do poder geralmente subestimado do storytelling visual para contar a maior parte da história e estabelecer o mood. A prova do engenho está na claridade do enredo e das motivações de cada personagem a partir da ação, mesmo inseridos numa natureza diabólica e intempestiva.

 

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Mas não é este o único aspeto que torna “Fury Road” um poderoso marchante em contracorrente – porque ao contrário dos parentes blockbusters de estúdio atuais, o filme de Miller construiu-se na base de efeitos práticos, auxiliados de forma apenas pontual pela magia dos efeitos visuais. O espetáculo, que apesar do luxuoso orçamento se sente profunda e positivamente artesanal, torna-se, desta feita, uma faceta de pasmar, com acrobacias tais que podíamos jurar estar a assistir a uma exibição do Cirque du Soleil numa competição de Monster Trucks engolida por um concerto de heavy metal.

 

Do ponto de vista temático, é nuclearmente um ensaio sobre a objetificação humana como reflexo de uma era desesperada. E enquanto é um absurdo absoluto etiqueta-lo como propaganda ultra-feminista, o filme de Miller encontra na mulhor a heroína que tão pouco conhecemos na sétima arte. Com a autora de “Os Monólogos da Vagina” como consultora, o realizador sugere que a mulher-criadora é a chave para a esperança no futuro num twist que combate “complexo macho” que afeta a esmagadora maioria do cinema de ação, em geral.

 

Miller adorna a sua sinfonia de desordem em alta potência com pinceladas de violência tresloucada; mas cada choque, cada explosão, é cerebral na medida em que constitui um elemento essencial para o puzzle completo que se constrói num filme sobre revolução e salvação, sobre a necessidade do combate ao cultivo do ódio e do terrorismo, mas também profundamente terno nos vestígios de esperança que encontra pelo caminho.

 

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O Max de Hardy é inequivocamente mais Mad que o de carismático anti-herói Gibson, poupando nas palavras mas caprichando numa performance física que facilmente poderia ter sido dolorosamente unidimensional, mas que se revela numa complexa mistura de estranheza, comportamento errático e apetência para a loucura que não esconde totalmente o íntimo vingador e justo de um homem calejado pela dor da perda e a loucura da impotência.

 

Todavia, uma das escolhas mais corajosas de Miller foi colocar Max no lugar do pendura e abrir o palco à redenção de Furiosa. Charlize Theron constrói uma das heroínas de ação mais interessantes e complexas do Cinema contemporâneo, e é ela a alma e coração magoados do filme. É através do seu percurso e dos seus triunfos e derrotas que nos investimos, e talvez não estejamos a rumar muito além da verdade se ousarmos admitir que se poderá tornar como a maior referência de ação feminina desde que Sigourney Weaver ensinou uma lição à rainha-mãe em “Aliens”.

 

Na fila secundária, vale a pena prezar a dedicação de Nicholas Hoult a uma das personagens mais complicadas e peculiares do filme, bem como do gangue de super-noivas liderado por Rosie Huntington-Whiteley.

 

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Fury Road” é um poema de Álvaro de Campos embriagado num cocktail molotov de esteroides e areia do deserto. Uma terapia de choque frenética, uma ópera furiosa de acordes surreais, um delírio febril que faz com que qualquer outro filme de ação pareça uma insossa sucessão de fotografias.

 

É o cinema de ação em estado de graça. Como já foi. Como já não é. Como deveria ser.

 

 

9.0/10

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