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Não sei se isto vai ser uma rubrica, ou se vai haver outras adaptações, ou se faz sequer sentido partilhar aqui... mas não sei porquê, hoje pareceu-me que sim.
Há uns meses meti-me na brincadeira familiar de fazer pequenas (e parvas) adaptações cinematográficas de filmes nossos conhecidos... com a minha família e amigos. Depois de darmos uma perninha no "Home Alone" e no "Wizard of Oz", veio o projeto mais ambicioso: "The Wolf of Wall Street", que com pouco engenho traduzimos para "O Lobinho da Trafaria".
Com um dia de atraso e porque no próximo Domingo decorre a cerimónia dos Oscars e não queria que nenhuma estrela faltasse porque prefere dar um pulinho à cerimónia cá do burgo (entre Trafaria e L.A. acho que se trava uma luta profundamente injusta), realizou-se esta tarde a 3ª Edição dos Close-Up SOAP Awards. Se por alguma razão inexplicável não se lembrarem dos nomeados, podem revê-los aqui.
A Academia Portuguesa de Artes Mais ou Menos Cinematográficas já contou os votos de quase 150 membros votantes e os vencedores foram decididos, mas mesmo quem foi para casa de mãos a abanar teve a noção de que esteve num evento cujo único objectivo era honrar a indústria cinematográfica, que tantas alegrias nos dá todos os anos, mas também algumas tristezas e, ocasionalmente, dores nos rins ou até patologias mais graves... além de a celebrar, se calhar gozar respeitosamente um bocadinho com ela também.
Mas vamos a resultados, que até há momentos só o senhor que nos faz os envelopes com os vencedores é que sabia - é triste, mas o senhor dos envelopes sou eu, com um bigode farfalhudo de colar, portanto talvez seja melhor ser uma senhora dos envelopes.
Além de "Rush" ter sido o surpreendente vencedor na categoria de MELHOR FILME QUE NÃO FOI NOMEADO PARA O OSCAR DE MELHOR FILME, "La Vie d'Adèle" levou para casa o segundo galardão mais apetecido da cerimónia na categoria de MELHOR FILME QUE PROVAVELMENTE MUITA GENTE NÃO VIU. Infelizmente ninguém apareceu para reclamar o prémio e dizem os rumores que a Adèle ficou em casa a encher a barriga (e os cantos da boca) de massa e chocolates.
Mas porque já vamos com chacha e conversas a mais... vamos então relevar a lista completa de vencedores dos Close-Up Soap Awards 2014.
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MELHOR FILME QUE NÃO FOI NOMEADO PARA O OSCAR DE MELHOR FILME
“Rush”
MELHOR FILME QUE PROVAVELMENTE MUITA GENTE NÃO VIU
“La Vie d’Adèle”
MELHOR BLOCKBUSTER
“The Hunger Games: Catching Fire”
MELHOR BLOCKBUSTER DA LOJA DO CHINÊS
“After Earth”
PIOR FILME PARA VERES COM OS TEUS PAIS E AVÓS
“Nymphomaniac”
FILME QUE NÃO NOS ATREVEMOS A TOCAR NEM COM UM PAU DE TRÊS METROS
“Grown Ups 2”
A TENDÊNCIA DO ANO
McConascência
MELHOR PERSONAGEM SECUNDÁRIA QUE É INEQUIVOCAMENTE MAIS ‘FIXE’ QUE O PROTAGONISTA
Loki (em oposição a Thor), em “Thor: The Dark World”
MELHOR CAMEO
Channing Tatum, em “This is the End”
MELHOR PERFORMANCE ANIMAL
A girafa em “The Hangover III”
MELHOR PRESENÇA DA CASA BRANCA NUM FILME
“Lee Daniels’ The Butler”
MELHOR TÍTULO DE UM FILME QUE TAMBÉM SERVIRIA NA INDÚSTRIA PORNOGRÁFICA
“Inside Llewyn Davis”
MELHOR (MONSTRO, EPIDEMIA, CRIATURA) DESTRUIDOR DA CIVILIZAÇÃO
Os zombies atletas olímpicos, em “World War Z”
MELHOR ORGANIZADOR DA FESTA PARA NOS DESGRAÇAR A VIDA
“The Great Gatsby”
REI/RAINHA DA PISTA DE DANÇA
Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio), em “The Wolf of Wall Street”
MELHOR UTILIZAÇÃO DA BANDA SONORA NÃO ORIGINAL
Empate: “Inside Llewyn Davis” & “The Wolf of Wall Street”
MELHOR GUARDA-ROUPA NUM FILME QUE NÃO SEJA PASSADO NO ANTIGAMENTE
“The Hunger Games: Catching Fire”
MELHOR ITEM DE VESTUÁRIO/ACESSÓRIO RESISTENTE A QUALQUER CONTENDA
Chapéu do Gandalf, em “The Hobbit: the Desolation of Smaug”
MELHOR MOMENTO A PUXAR P’RÁ LÁGRIMA TAMBÉM PATROCINADO PELO “ARREPIO NA ESPINHA”
Victory Tour – Paragem no Distrito de Rue, em “The Hunger Games: Catching Fire”
MAIOR MOMENTO WTF?
Cameron Diaz numa sessão de sexo voraz com um carro, em “The Counselor”
‘LOOK AT MA SHIT!’ AWARD
“The Wolf of Wall Street”
LINHA DE DIÁLOGO QUE ANIMA O ESPÍRITO
“Hermione just stole all our sh*t” (“This is the End”)
PRÉMIO ESPECIAL – HOMICÍDIO EM PRIMEIRO GRAU À ARTE DO PHOTOSHOP
Empate: Posters de “Grudge Match” & “Grown Ups 2”
PRÉMIO ESPECIAL – ANTIDEPRESSIVOS PARA QUE VOS QUERO
“12 Years a Slave”
PRÉMIO ESPECIAL – ‘NOSSA, QUE BIOLÊNCIA!’
O castigo de Patsey, em “12 Years a Slave”
PRÉMIO ESPECIAL – OMNIPRESENÇA
James Franco [9 créditos]
"The real question is this: was all this legal? Absolutely not!"
Imaginem-se vestidos para uma festa glamourosa na melhor avenida da cidade, quando descobrem que esse evento é, afinal, um espetáculo de striptease onde os vossos honrados amigos se encontram em posições menos respeitáveis, com acompanhantes de origem duvidosa, peças de roupa a menos e estupefacientes a mais. É esse o estado de choque com que recebemos “The Wolf of Wall Street”.
Que entre o desfile da banda intinerante. Abram alas para a devassidão, a libertinagem, e o deboche orquestrados por Martin Scorsese na potência máxima da escandaleira dos ladrões de colarinho branco.
Mas vamos ao início - é um relativamente inocente Jordan Belfort aquele que chega, embebido em esperança e ambição, a Manhattan com apenas 22 anos para o seu primeiro dia de trabalho em Wall Street. Apadrinhado pelo corretor veterano interpretado por mais um laivo de inspiração divina de Matthew McConaughey, Belfort aprende que apenas duas coisas o ajudarão a subir na vida e no universo da bolsa: 1º tem de relaxar e 2º tem de começar a juntar cocaína à sua lista de bens-essenciais do dia-a-dia.
A sorte (ainda) não está do lado de Belfort, que vê a Segunda-Feira Negra de 1987 despejá-lo no desemprego. A contar tostões num país que subitamente deixou de ver nos corretores as suas “estrelas de rock santificadas”, Belfort aplica os seus dons (quase) sobrenaturais numa humilde firma que vende ações de baixo custo. Como o céu se abriu para os Pastorinhos receberem Fátima, o Inferno bafejou a chama incendiária que estalou a ideia de Belfort.
A premissa por detrás da escalada de inclinação exponencial para a riqueza e o poder é complexa, mas apresentada à audiência de forma relativamente simples: resumindo, Belfort começou por vender ações normais a indivíduos ricos e depois de ter ganho a sua confiança começava a vender-lhes ações duvidosas e de baixo valor, onde arrecadaria uma comissão de 50% por venda, em vez do tradicional 1%. Foi esta ilegal descoberta da roda dourada (só depois, eventualmente, chegaram os subornos, branqueamento de capitais, insider trading e por aí fora) que tornou rapidamente Belfort e os seus sócios ricos além da imaginação.
Estava estendida a passadeira vermelha do surrealismo monetário, com milhões de dólares a choverem ao longo de uma simples semana de cinco dias úteis. O exército liderado por Belfort, que lhe responde com explosivos gritos de guerra aos inspirados discursos dignos de uma invasão Espartana aos corredores da Bolsa, é uma tropa de elite no momento de ataque, e um grupo de macacos descontrolados entre o bacanal das festas Gatsbianas que temperam os horários de descanso.
E o alcance dos seus feitos, seja a mirar anões em targets gigantes, ou a rodar prostitutas pelo escritório inteiro, ou a alinhar cocaína como se de uma autoestrada para o paraíso se tratasse é capaz de envergonhar e mandar para a cama com biberão os protagonistas de "The Hangover".
Eventualmente, e compreensivelmente, o FBI começa a farejar o caso, e nada bate certo. Quando a espiral insana de Belfort começa a desmoronar-se, na última secção do filme, a mudança de tom ameaça o quadro de Scorsese, e a audiência percebe-o. É a chamada “conclusão ressacada”, que não consegue acompanhar totalmente a explosão inebriada do primeiro ato.
Transformar esta besta hiperativa num filme de três horas terá sido, provavelmente, uma ambição gulosa de difícil digestão para grande parte da audiência.
O filme – e, sobretudo os seus intervenientes – vêem-se tão embrenhados nesta frenética criação que levam à colocação em questão da necessidade de uma duração de três horas para contar uma história de humor negro, à qual uma bem medida hora e meia chegaria. A segunda questão que surge é, no entanto, tentadora: quantas vezes aparecerá uma história debochada como esta com Martin Scorsese pronto a realizá-la?
O nosso Lobo - Leonardo DiCaprio - teve uma tarefa duríssima. As personalidades espalhafatosas são a materialização do gozo maior para um ator em metamorfose, mas são as suas peculiaridades e subtilezas – elas existem em Belfort, por mais difícil que seja vê-lo – que separam uma interpretação boa de uma de excelência. A de DiCaprio pertence à última categoria, e é um retrato empolgante e empolgado de um homem que, além dos seus inquestionáveis dons, era desprezivelmente interessante e divertido.
A maior parte do enredo e das aventuras que o colorem foram retiradas da memória homónima escrita por Belfort. Alguns dos episódios mais surreais têm o inacreditável selo do “verídico”, e nada mais podemos fazer que não recolher cuidadosamente o queixo do chão, uma e outra vez.
Esta exibição pornográfica de luxo, poder e sexo não se amontoa para construir um conto moral sobre a corrupção e ao deboche. Todavia, também não os glorifica. Ao contrário é uma acídica, elétrica e bem calibrada comédia negra, uma ode à decadência e ao hedonismo, e uma farsa épica que mistura o melhor de “Tudo Bons Rapazes” com uma versão moderna do Império de Calígula.
Está reservado para os grandes filmes, os verdadeiramente especiais, o dever de nos questionar. O facto de "The Wolf of Wall Street" se distanciar mais ou menos do estatuto de obra-de-arte não contribui, todavia, para que deixe inquietantes perguntas à nossa consideração: estamos a olhar para o comportamento desviante ou para um espelho? É a ganância uma característica do indivíduo psicótico ou um traço indiluível da natureza humana que contribui, inclusive, para a evolução da nossa espécie?
As respostas, essas, estão prontas para abalar o seu mundo.
9.0/10
Ainda passei por um estado profundo de ansiedade, quando se andou por aí a falar levianamente que "The Wolf of Wall Street" poderia ser adiado para o ano que vem. Mas porquê encafuar um filme que cheira a todas as coisas mais gulosas do mundo - e ainda por cima não engorda - a menos que estivesse severamente inacabado?
Epá pois não sei.
As boas notícias é que, afinal, vamos ver o Leonardo DiCaprio a ser roubado de mais uma nomeação a Oscar este ano - aqui estou só a fazer futurologia, atenção - o que é sempre uma perspetiva animadora. Ainda mais animador é saber que 2013 também tem o selo "Martin Scorsese". E isso até já me vai ajudar a dormir melhor logo à noite.
A Paramount Pictures lançou hoje o primeiro olhar sobre "The Wolf of Wall Street", o muito aguardado novo filme de Martin Scorsese.
É uma das mais distintas características de Scorsese, aquela que o mantém como um dos mais proeminentes realizadores americanos - o facto de ainda hoje ser capaz de nos surpreener a cada novo lançamento. Depois de nos fazer rir, chorar, estremecer e chocar, Scorsese prepara-se para nos mover para as salas uma vez mais, desta vez com a promessa feita através de um trailer explosivo e cheio de estilo.