Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Mais sobre mim

foto do autor


Calendário

Abril 2016

D S T Q Q S S
12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930


Arquivo

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2014
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2013
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2012
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2011
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2010
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2009
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2008
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D


Point-of-View Shot - Behind the Candelabra (2013)

por Catarina d´Oliveira, em 19.09.13

 

"I want to be everything to you. I want to be father, brother, lover, best friend."

 

Atreva-se a ser deslumbrado, porque ninguém diria que Gordon Gecko e Jason Bourne formariam um casal tão credível e fascinante.

 

Como antes do fogo ardente veio a faísca, antes de Elvis, Elton John, Michael Jackson e Lady Gag veio Liberace, o extravagante e virtuoso pianista que foi a estrela mais brilhante – literalmente e não só – na vida das donas de casa norte-americanas ao longo de uma carreira de mais de 40 anos. Liberace era um entertainer de “E” maiúsculo, e não se cansava de explicitar a quem o quisesse ouvir: “Eu não dou concertos. Eu dou espetáculo!”.

 

Liberace viveu uma vida de excessos, dentro e fora do palco, e sem vergonha disso mesmo. No verão de 1977 conhece o jovem e belo Scott Thorson, um aprendiz de veterinário por quem nutre um carinho imediato. Apesar da diferença de idades e de pertencerem a mundos opostos, os dois envolvem-se numa secreta relação amorosa durante cinco anos. Eventualmente, o exuberante castelo de cartas que foi constantemente exposto a pressão e a uma existência excessiva, colapsa. Terá sido o mau comportamento de Scott a afastar Liberace ou será que este foi empurrado para maus caminhos pela crescente indiferença de uma confusa figura parental e amante?

 

 

As respostas não são simples, como seria de esperar de uma relação tão complexa. “Behind the Candelabra” é a encenação desse affair e um olhar sobre o mundo escondido do “Senhor Espetáculo”, inspirando-se diretamente na memória homónima publicada por Thorson em 1988, um ano depois da morte do entertainer.

 

Inicialmente concebido para Cinema, o filme de Steven Soderbergh viu-se com uma receção apreensiva e fria em Hollywood quando o realizador levou o projeto aos estúdios: “Disseram que era demasiado gay. Todos eles. Fiquei chocado. Não fazia qualquer sentido”.

 

Felizmente, e como tem sido o caso noutras situações, a HBO apareceu para salvar o dia, e o filme chegou a maio deste ano ao festival de Cannes, estreando no canal de cabo dias depois.

 

 

Num retrato cru e realista, estamos em permanente contacto com Scott e Liberace, na sua forma mais fabulosa e disforme, sem qualquer obstáculo a esbarrar o desenvolvimento de uma relação povoada por contradições, motivações conflituosas e ainda assim, muito amor. Este é o reflexo fiel de dois outsiders que se encontraram. Logicamente falando, não durou… mas como o final deixa no ar, talvez para ambos, de alguma forma, tenha sido para sempre.

 

Divertido mas profundamente trágico - muito como a inesquecível personalidade no centro - o tom do título é supremamente equilibrado, e no desenrolar das duas horas de acontecimentos, nunca sentimos que o argumento de Richard LaGravenese ou o ponto de vista de Soderbergh não tratem este projeto com respeito e a mais pura sinceridade.

 

 

Apesar da superfície florida, o arco narrativo mantém-se na terra, deixando-nos encontrar a comédia por nós mesmos, e interlaçando-a na perfeição com os momentos dramáticos mais intensos, que se sentem perfeitamente orgânicos, muito por culpa do argumento superior de LaGravenese.

 

Se algum problema pode ser identificado é que se sente ligeiramente longo, arrastando-se no segundo ato, antes do poderoso facelift final, o pathos que interrompe uma festa descontrolada com a pureza inescapável da luz do nascer do dia.

 

Em todos os departamentos, desde o guarda-roupa, à maquilhagem, passando pela direção artística, o Óscar pode estar fora do horizonte – por questões óbvias de conflito de meios – mas os Emmys dificilmente escaparão ao seu charme.

 

 

Nas interpretações, Michael Douglas é deslumbrante naquela que será, sem grandes dificuldades, uma das performances mais dinâmicas do ano. O seu Liberace é a encarnação da contradição, complexo mas infantilmente simples, desejando o amor e ao mesmo tempo a selvajaria sexual de um novo parceiro a cada noite e profundamente dividido pelo desejo de partilhar a cama com Scott e de adotá-lo como filho. Pegar num cartoon de capachinho com uma voz de ET afetado e transformá-lo numa pessoa real – umas vezes gentil, outras cruel – não é tarefa fácil, mas Douglas foi absolutamente destemido e em si Liberace encontra a ressurreição.

 

Quem não fica atrás é Matt Damon, o verdadeiro protagonista – afinal, “Behind the Candelabra” é contado a partir dos seus olhos. A sua performance de um jovem inocente cuja vida leva uma reviravolta dramática é corajosa, delicada, mais sóbria mas igualmente poderosa e impossível de ignorar, tanto como a de Douglas.

 

O elenco secundário é também da mais alta qualidade, com performances curtas mas incisivas de Debbie Reynolds, Scott Bakula, Dan Aykroyd e o fabuloso Rob Lowe como o sórdido cirurgião plástico Jack Startz, cuja obsessão pelo ofício e as suas maravilhas lhe conferiram um ar permanentemente drogado numa paródia perfeita aos anos 70 de Hollywood.

 

 

Na generalidade da carreira de Soderbergh, a atenção é especialmente dada à sua mestria técnica e a facilidade com que circula entre géneros. Todavia este é um dos seus projetos mais íntimos, humanos e com alma, demonstrando que é, na verdade, um dos realizadores mais completos da sua geração, e uma perda insubstituível - se a sua partida do universo cinematográfico definitiva, como tem assegurado em diversas ocasiões.

 

Liberace sempre gostou de terminar os seus espetáculos com uma performance arrasante, digna de aplausos intermináveis, algo que o seu público nunca esquecesse. E se, por hipótese, este for o último filme de Soderbergh, temos também a certeza resoluta de que “Behind the Candelabra” foi, de facto, inesquecível. 

 

 

8.5/10

Autoria e outros dados (tags, etc)

Point-of-View Shot - Side Effects (2013)

por Catarina d´Oliveira, em 07.03.13



"Depression is the inability to construct a future."

 

 

Este folheto contém informações importantes para si. Leia-o atentamente.

 

Este filme pode ser visto sem receita crítica. No entanto, é necessário prosseguir com precaução para obter os devidos resultados.

 

- Esta crítica não desvendará nada do que acontece em “Side Effects”, além do que é revelado no trailer e sinopses oficiais. Aconselhamo-lo a evitar críticas que o façam;

- Conserve esta crítica. Pode ter necessidade de a reler;

- Caso careça de esclarecimentos ou conselhos, solicite os serviços de outros críticos.

 

 

Neste folheto:

 

1.     O que saber antes de assistir

2.     A história de “Side Effects”

3.     Efeitos secundários possíveis

4.     Estrutura

5.     Considerações críticas

6.     Componentes Principais

7.     Onde conservar “Side Effects

8.     Informações Finais

 

 

1. O QUE SABER ANTES DE ASSISTIR

Ninguém diria, olhando para uma filmografia com 15 longas-metragens nos últimos 10 anos que Steven Soderbergh pudesse estar prestes a fechar o pano na sua carreira de realização Cinematográfica.

 

Em 2011, pôs a indústria em inesperado alvoroço ao anunciar que a sua reforma estava para breve. Na altura, o plano era acabar os quatro projetos em que estava envolvido, culminando a aventura cinematográfica iniciada em finais dos anos 80 (catapultada para o sucesso em 1989 com “Sex, Lies and Videotape”) em “Side Effects”, que estreia esta semana entre nós.

 

 

Entretanto, Soderbergh já andou em avanços e recuos relativamente ao seu futuro, assegurando, no entanto, que o seu retiro será uma realidade, mas poderá ter mais de sabático do que propriamente de definitivo. Com tais indecisões, não sabemos muito bem com o que contar – algo que, curiosamente ou não, também acontece muito nos enredos intrincados de alguns dos seus filmes. De todo o modo, com “Side Effects”, não ficamos nada mal servidos em matéria de despedidas.

 

 

2. A HISTÓRIA DE “EFEITOS SECUNDÁRIOS”

Emily e Martin Taylor formam um belo e jovem casal com uma vida bem-sucedida e temperada com os luxos que só o dinheiro pode comprar… até Martin ser preso por fraude. Quatro anos mais tarde e cumprida a pena, Emily espera finalmente o regresso do marido, que acaba por se revelar tão devastador como a sua encarceração, fazendo-a reentrar num estado de profunda depressão. Desesperada, concorda em frequentar terapia com um psiquiatra de sucesso que lhe prescreve uma medicação inovadora para acalmar os seus demónios. Todavia, os efeitos secundários do medicamento acabam por ter consequências aterradoras.

 

 

 

3. EFEITOS SECUNDÁRIOS POSSÍVEIS

Como os demais thrillers psicológicos, “Side Effects” é passível de gerar surpresas no espetador. Trata-se de uma experiência intensa e manipulativa, dotada de um anti-sentimentalismo cínico, especialmente desenhado para pregar partidas cruéis à audiência. É o típico exemplo de filme que não só necessita e beneficia, como exige um segundo visionamento para que seja possível sorver todos os seus deliciosos detalhes e momentos.

 

 

4. ESTRUTURA

O primeiro ato oferece um retrato do universo da depressão/tratamento muito realista na compreensão da psique, motivos e personalidade das suas personagens. Mesmo quando se aventura em extensões mais improváveis, continua irrepreensivelmente autêntico no seu retrato e perversamente inteligente nas suas discussões sobre a psicologia, indústria farmacêutica, ética e repressão social.

 

 

Se Soderbergh desse seguimento ao seu primeiro ato, talvez este se tornasse num dos filmes socialmente mais importantes da década, mas a verdade é que o segundo ato não podia ser mais diferente do primeiro, e Soderbergh faz a escolha de transformar o seu filme num género e perspetiva completamente diferentes. O investimento emocional que dedicámos na primeira metade é violentamente deitado abaixo, e a capacidade de apreciar o filme de Soderbergh vai depender muito da nossa reação a essa queda: se resolvemos abraçá-la e “recomeçar do zero”, ou se resolvemos empencar e fantasiar sobre o marco no cinema contemporâneo da crítica social que aqui poderia ter sido criado.

 

A última secção será aquela que estará mais vulnerável a críticas, por ser a menos certa a nível rítmico e por poder ou não deixar-se envolver demasiado na sua vontade de enganar o espectador.

 

 

5. CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS

Soderbergh cria um suspense ambientado ao fascinante, ominoso e eticamente desafiante mundo da psicofarmacologia capaz de deixar o pai do thriller psicológico – o grande Hitchcock – orgulhoso. Talvez ele mesmo tivesse querido contar esta história se ainda hoje fosse vivo, acrescentando-lhe, quiçá, uma loira vistosa.

 

 

Além do Mestre, uma respeitosa continência é feita, em primeira instância, também a Brian DePalma e, mais tarde, e com a metamorfose de género, segue-se uma vénia a Robert Altman e Elia Kazan.

 

A ideia mais deprimente que fica é que Soderbergh pode ter subaproveitado as potencialidades do enorme quadro social que tinha à disposição, em detrimento de um filme que preferiu transmutar de género duas ou três vezes e dar ao Karma, aquela tal famosa lei do hinduísmo, que defende um ciclo de causa-efeito nas ações humanas, uma transposição cinematográfica satisfatória.

 

Apesar de apresentar um caso passível de grande discussão sobre as implicações sociais reais da indústria farmacêutica, a verdade é que o assunto dava pano para mangas, e Soderbergh preferiu sair-se com uma camisa de alças, que assenta bem e foi impecavelmente cosida, mas que falha em figurar como uma inovadora peça de estilo. Todavia, são poucos os cineastas capazes de nos espremer de forma tão prazerosa entre as suas mãos, indicando-nos um caminho para apenas depois nos puxar o tapete debaixo dos pés. Noutro contexto distinto, talvez esta tirada não parecesse totalmente elogiosa, mas é-o neste caso particular, asseguramos.

 

 

 

6. COMPONENTES PRINCIPAIS

Como é costumeiro, Soderbergh faz o enredo beneficiar da sua inteligência gélida - é um dos realizadores americanos mais ecléticos e imprevisíveis da atualidade, e apesar de poucos dos seus filmes atingirem a potência máxima que numa primeira instância nos propormos a prever,  como talvez seja o caso de “Side Effects”. A atenção ao detalhe é exímia, e fica sempre a sensação de que não há uma linha de diálogo, um plano ou qualquer elemento técnico colocado ao acaso.

 

 

A realização é ainda abrilhantada pelo argumento sólido de Scott Z. Burns, que já havia colaborado com o realizador em “The Informant” (2009) e “Contagion” (2011) e a fotografia (do próprio Soderbergh), translúcida e com a atitude de cinismo perante o mundo moderno, algo que o realizador gosta (ou gostava) de revisitar nos seus filmes.

 

Tentando ultrapassar o estigma da cara bonita, e depois de já brilhar em “Anna Karenina”, Jude Law é uma das pedras basilares que mantém “Side Effects” em pé, demonstrando uma dinâmica imensa, enquanto flutua entre extremos emocionais completamente opostos. Com uma personagem que é, ao mesmo tempo, próxima e incrivelmente distante da que interpretou em “The Girl with the Dragon Tattoo”, Rooney Mara prova assertivamente que é um diamante em construção, e uma das atrizes mais promissoras da sua geração.

 

 

Na linha secundária, Catherine Zeta-Jones usufrui de alguns bons momentos na ribalta e Channing Tatum pouco tem de fazer, mas há que se lhe tirar o chapéu às suas últimas escolhas cinematográficas, nas quais se incluem três filmes de Soderbergh nos últimos dois anos.

 

 

7. ONDE CONSERVAR EFEITOS SECUNDÁRIOS

Apesar de não estarmos perante um título que revoluciona convenções de género ou a própria linguagem do cinema, poderá ser seguramente integrado entre os melhores thrillers psicológicos do séc. XXI.

 

 

8. INFORMAÇÕES FINAIS

Parte da campanha promocional de “Side Effects” incluiu a criação de um website dedicado à promoção do Ablixa – um medicamento fictício. Na verdade estava tão realístico que um outro espaço na web dedicado à reunião entre pacientes que lutam contra a depressão emitiu uma declaração destacando a sua natureza fictícia.

 

 

Quanto ao filme em si, é passível de cair no cliché de, ele mesmo, gerar efeitos secundários, sendo eles acesas discussões por parte de membros da audiência mais interessados nos seus meandros, durante os dias ou semanas seguintes.

 

Mas em Cinema, e ao contrário do caso apresentado em cena, esse é um efeito secundário sempre bem-vindo.

 



8.5/10

 

 

Fabricante: Steven Soderbergh

 

Este folheto foi aprovado pelo Close-Up pela última vez em 07/03/2013.

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)



Mais sobre mim

foto do autor


Calendário

Abril 2016

D S T Q Q S S
12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930


Arquivo

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2014
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2013
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2012
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2011
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2010
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2009
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2008
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D