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Trazer o génio de Shakespeare para o cinema nunca foi ou é fácil, mas a tarefa torna-se ainda mais complicada se falarmos da peça amaldiçoada - aquela cujo nome é "proibido" dentro de uma sala de teatro sendo a consequência de tal ato uma sequência de tragédias inimagináveis.
Mas o jovem Justin Kurznel é tipo para arriscar, e arriscar com estilo - Shakespeare, Fassbender e Cotillard não é para qualquer maluco. E a melhor notícia de tudo isto, é que este "Macbeth", além de já ser prezado pelas formas como se distancia de outras adaptações, teve uma excelente receção em Cannes.
No enredo, Macbeth, um duque da Escócia, ouve uma profecia de um trio de bruxas que lhe diz que um dia ele se tornará o Rei da Escócia. Consumido pela ambição e levado a agir pela manipuladora esposa, Macbeth assassina o rei e fica com o trono para si.
O filme de Justin Kurzel chega ao Reino Unido a 2 de outubro de 2015.
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Quando "Mistress America" estreou no festival de Sundance deste ano, já a Fox Searchlight tinha visto o seu potencial à distância e adquirido os direitos de distribuição. Não é de estranhar, já que depois do tremendo sucesso crítico de "Frances Ha", Noah Baumbach e Greta Gerwig voltaram a juntar-se para uma colaboração (além de o primeiro realizar e ela protagonizar, sºao também ambos argumentistas).
Tracy é uma caloira da universidade algo introvertida perdida pelas ruas de Nova Iorque que se vê, simultaneamente, sem a excitante experiência universitária ou o estilo de vida glamouroso que tinha envisionado. Mas quando é chocalhada pela rabanada de vento que é a sua futura cunhada Brooke - uma nova iorquina de gema e aventureira por natureza - é salva das suas desilusões e seduzida pelas loucuras de Brooke.
Infelizmente ainda sem data de estreia marcada para Portugal, o filme de Baumbach chega aos EUA a 14 de agosto.
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Depois de alguns anos a deixar que a Disney lhe voltasse a tomar a dianteira, a Pixar parece finalmente decidida a reclamar de volta o seu trono de rainha da animação do séc. XXI. Em 2015 não só deixa o terreno das sequelas como nos traz... dois pesos pesados. "Inside Out" estreia já este mês, e o segundo ataque chega lá mais para o final do ano, quando "The Good Dinosaur" tem chegada apontada.
Como seria se o asteróide que mudou para sempre a vida na Terra, falhasse completamente o planeta e os dinossauros nunca tivessem sido extintos? A Pixar Animation Studios leva-nos numa aventura épica pelo mundo dos dinossauros onde um Apatossauro chamado Arlo faz um amigo humano improvável. Enquanto viajam através de uma paisagem misteriosa, Arlo aprende o poder de enfrentar os seus medos e descobre do que é realmente capaz.
Por cá, The Good Dinosaur deve estrear em novembro de 2015.
Publicado originalmente em Vogue.pt
Na semana passada estreou nas nossas salas mais uma adaptação de “Great Expectations” de Charles Dickens. Apesar de esta ser uma abordagem largamente tradicionalista, não é incomum depararmo-nos com adaptações de obras clássicas transportadas para um setting e arco narrativo contemporâneo.
Hoje revisitamos algumas dessas mais célebres modernizações.
“GREAT EXPECTATIONS” (1998)
Baseado em: “Great Expectations” de Charles Dickens
Data de Publicação: 1860-61
A adaptação: O título não deixa grande espaço a equívocos, mas a versão realizada por Alfonso Cuarón tornou-se famosa por transportar o romance de Londres entre 1812 e 1827 para Nova Iorque nos anos 90.
“O CRIME DO PADRE AMARO” (2005)
Baseado em: “O Crime do Padre Amaro” de Eça de Queirós
Data de Publicação: 1875
A adaptação: Do ambiente de Leiria em 1875, passamos para um bairro social de Lisboa em 2005. As críticas ao clero são acentuadas e é acrescentado um olhar sobre a marginalização e diferenças socioculturais no bairro.
“BRIDGET JONES'S DIARY” (2001)
Baseado em: “Pride and Prejudice” de Jane Austen
Data de Publicação: 1813
A adaptação: Não é que tenha feito batota, mas este caso trata uma adaptação indireta. O filme de Sharon Maguire é inspirado no romance homónimo de Helen Fielding, que, por sua vez, é uma reinterpretação do livro de Austen. Da Inglaterra dos finais do séc. XVIII povoada por preconceitos de classe, somos transportados para o início do séc. XXI com uma anti-heroína com queda para as desgraças quotidianas.
“THE LION KING” (1994)
Baseado em: “Hamlet” de William Shakespeare
Data de Publicação (estimada): 1603
A adaptação: Quando uma das argumentistas foi contratada para trabalhar no guião da animação da Disney, o briefing que lhe foi dado da história foi “Bambi em África meets Hamlet”, e “Bamblet”. Apesar da adaptação não ter créditos oficiais, podem notar-se vários pontos em comum no enredo: a história de um príncipe cujo tio mata o pai e depois se torna rei, o reencontro com o fantasma do pai, e o plano da vingança contra o tio. Porque queremos crer que não existem coincidências, numa cena em que Zazu está preso e canta para Scar, este segura um crânio.
“UM AMOR DE PERDIÇÃO” (2008)
Baseado em: “Amor de Perdição” de Camilo Castelo Branco
Data de Publicação: 1862
A adaptação: Shakespeare parece omnipresente nesta temática – além da experiência pessoal, Camilo Castelo Branco bebeu ainda inspiração em “Romeu e Julieta” para criar a história de Simão e Teresa. Mário Barroso mergulhou sobretudo nos temas da obstinação juvenil que levaram à destruição do herói, e trouxe a narrativa do séc. XIX em Viseu, para a Lisboa contemporânea.
“MY OWN PRIVATE IDAHO” (1991)
Baseado em: “Henry IV” (Parte I e II) e “Henry V” de William Shakespeare.
Data de Publicação (estimada): 1598, 1600 e 1600 respetivamente
A adaptação: Inicialmente, o filme de Gus Van Sant era inspirado no romance “City of Night”, combinado com experiências do próprio realizador. A certa altura, Van Sant começou a rever nas suas personagens os dilemas presentes nas obras de Shakespeare e reescreveu o filme. Eventualmente, as referências a Shakespeare eram tão claras que os produtores e estúdios chegaram a pedir em várias instâncias a Van Sant para “baixar o volume Shakespeareano”.
“KANDUKONDAIN KANDUKONDAIN” (2000)
Baseado em: “Sense and Sensibility” de Jane Austen
Data de Publicação: 1811
A adaptação: É a maior indústria de Cinema do mundo, e é não só possível como provável que abundem as adaptações relocadas por Bollywood. Uma das mais conhecidas é uma reimaginação musical do romance de Jane Austen de acordo com a realidade e costumes indianos.
“CRUEL INTENTIONS” (1999)
Baseado em: “Les liaisons dangereuses” de Choderlos de Laclos
Data de Publicação: 1782
A adaptação: 11 anos depois da adaptação celebrada de Stephen Frears, Hollywood volta a beber inspiração na história de sexo e escândalo da aristocracia francesa. E que melhor reimaginação moderna do que a ambientação aos jogos manipulativos de um grupo de estudantes ricos de Nova Iorque? Trashy, bitchy fun.
“10 THINGS I HATE ABOUT YOU” (1999)
Baseado em: “The Taming of the Shrew” de William Shakespeare
Data de Publicação (estimada): 1623
A adaptação: É a quintessencial comédia teen com raízes na literatura clássica. A versão de Gill Junger da comédia de Shakespeare recolocou-nos numa escola secundária de Seattle nos anos 90, juntou-lhe uma serenata inolvidável e um baile de finalistas pejado de música pop et voilá: clássico teen moderno na mesa.
“CLUELESS” (1995)
Baseado em: “Emma” de Jane Austen
Data de Publicação: 1815
A adaptação: É um dos filmes teen que define a década da 90 e, surpreendentemente, moderniza a Inglaterra da Era da Regência para uma escola de Beverly Hills, na Califórnia. Fiel aos temas e arco da obra original, o filme de Amy Heckerling tornou-se um fenómeno cultural do final de séc. XX.
“OH BROTHER WHERE ART THOU?” (2000)
Baseado em: “Odisseia” de Homero
Data de Publicação: Final do séc. VIII a.C.
A adaptação: Passado no Mississipi rural em 1937 em plena Depressão, a constantemente subvalorizada comédia dos irmãos Coen é uma sátira moderna moldada à medida das aventuras e desventuras de Ulisses, onde o protagonista Everett tudo faz para voltar a reunir-se com a sua família.
“ROMEO + JULIET” (1996)
Baseado em: “Romeo and Juliet” de William Shakespeare
Data de Publicação (estimada): 1597
A adaptação: A etiqueta do “original” ninguém lhe pretendeu retirar, mas a crítica foi cautelosa e dividida na receção da adaptação contemporânea de Baz Luhrmann à imortal história de Julieta e seu Romeu. Apesar de o diálogo original ser mantido, o setting foi transportado para a fictícia Verona Beach, onde as famílias Montéquio e Capuleto detinham impérios empresariais concorrentes e os confrontos eram feitos com armas de fogo em vez de espadas.
“EASY A” (2010)
Baseado em: “The Scarlet Letter” de Nathaniel Hawthorne
Data de Publicação: 1850
A adaptação: A metamorfização de um clássico da literatura numa lição moral temperada com gargalhadas. A referência à obra de Hawthorne revê-se numa meta interpretação: no arco da protagonista e na referência direta ao livro - os alunos da escola estudam, no momento da ação, “A Letra Escarlate” em Inglês.
“RAN” (1985)
Baseado em: “King Lear” de William Shakespeare
Data de Publicação (estimada): 1608
A adaptação: A origem do filme de Akira Kurosawa remonta aos anos 70, quando leu pela primeira vez a parábola do senhor da Guerra Mōri Motonari. Foi apenas quando iniciou o planeamento do filme que Kurosawa se deu conta das semelhanças com a tragédia de Shakespeare, tendo, todavia, incorporado muitos dos seus elementos.
“ORFEU NEGRO” (1959)
Baseado em: Lenda de Orfeu e Eurídice
Data de Publicação: -
A adaptação: Bem ssei – ando perto da batota, tratando-se de uma lenda e não de uma obra propriamente dita. Todavia a curiosidade da adaptação faz o descarrilamento valer a pena. Isto porque a coprodução francesa, italiana e brasileira transporta o mito de amor trágico de Orfeu e Eurídice para o ambiente da favela no Rio de Janeiro, durante o Carnaval.
MENÇÕES HONROSAS
“HAMLET” (2000), baseado em “Hamlet” de William Shakespeare, de 1603.
“OEDIPO ALCALDE” (1996), baseado em “Édipo Rei” de Sófocles, de 427 a.C.
“ROXANNE” (1987), baseado em “Cyrano de Bergerac” de Edmond Rostand, de 1897.
“WEST SIDE STORY” (1961), baseado em “Romeu e Julieta” de William Shakespeare, de 1597.
“WARM BODIES” (2013), baseado no livro homónimo de Isaac Marion, que por sua vez se inspira em “Romeu e Julieta” de William Shakespeare, de 1597.
“SHE'S THE MAN” (2006), baseado em “Noite de Reis” de William Shakespeare, de 1623.
“A BELA JUNIE” (2008), baseado em “A Princesa de Cléves” de Madame de La Fayette, de 1678.
“THRONE OF BLOOD” (1957) baseado em “Macbeth” de William Shakespeare, de 1623.
“PARANOID PARK” (2007), baseado no livro homónimo de Blake Nelson, que por sua vez se inspira em “Crime e Castigo” de Fyodor Dostoyevsky, de 1866.
“FREEWAY” (1996), baseado em “O Capuchinho Vermelho” dos Irmãos Grimm de 1857 (versão final).