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Point-of-View Shot - Beasts of the Southern Wild (2012)

por Catarina d´Oliveira, em 15.02.13
"The whole universe depends on everything fitting together just right. If one piece busts, even the smallest piece... the entire universe will get busted."

"O Universo depende de tudo se encaixar perfeitamente", afirma sabiamente, a certa altura, a pequena Hushpuppy. A mesma alegação pode ser feita sobre o primeiro filme de Benh Zeitlin, uma obra lírica que adereça a natureza desse equilíbrio com uma visão única, e uma compreensão e afeto pela Humanidade raros.

 

Qualquer sinopse relativa a “Beasts of the Southern Wild” está destinada a desvalorizar a sua alegoria cósmica, mas a verdade é que é imensamente difícil tentar explicar o que realmente é ou significa o filme de Zeitlin. O que conseguimos, todavia, discernir, é que se trata de um feito cinematográfico extraordinário, e um início de carreira promissor.

 

 

Hushpuppy é uma menina de seis anos que vive numa comunidade isolada no Louisiana, que vive às margens de um rio e separada do mundo por um extenso e aparentemente impenetrável dique. Com uma imaginação mágica que lhe permite ver as partículas a dançar no ar e sentir a presença dos animais do mundo, ela sabe que o mundo natural é uma frágil rede de coisas que vivem, respiram, pulsam e de cujo funcionamento perfeito depende todo o universo. Com a mãe há muito desaparecida e o pai descontrolado e cada vez mais doente, Hushpuppy tem de aprender a ser dona do seu próprio destino. Quando uma enorme tempestade faz subir as águas em torno da aldeia, Hushpuppy vê entrar em colapso à sua volta a ordem natural de tudo o que lhe é querido. A trama desenvolve-se, toda ela, a partir do olhar subjetivo e inocente de Hushpuppy, e esta é uma contemplação única, simultaneamente maravilhosa, desconcertante e disfuncional.

 

Conseguindo ser poético sem cair na esparrela do pretensiosismo, Beasts of the Southern Wild é um farol para o cinema Americano independente, um pequeno milagre que relembra a audiência de que a experiência de assistir a um filme pode ser especial e única. O drama é seco e evocativo, de uma originalidade estimulante que muito tem a dizer sobre o equilíbrio corrupto do mundo e a inocência da experiência humana.

 

 

A ação passa-se numa versão do mundo que nos lembra este em que vivemos, e apesar de nunca ser mencionado de forma clara ou direta, “Beasts” invoca o espírito e história do furacão Katrina. A crítica social e política é óbvia, no retrato de um universo que equilibra a pobreza e imundice humana com discrepância da riqueza, mesmo apesar de esta segunda “realidade paralela” não ter aqui honras de representação.

 

A beleza da “Banheira” e das suas gentes, está na infindável capacidade de canalizarem e expressarem a sua alegria de viver, ainda que vivam num canto cuja existência o resto do mundo já esqueceu. A simbologia da chegada dos auroques – bestas pré-históricas, como nos explica a professora de Hushpuppy ao apontar para uma tatuagem na sua coxa – é uma síntese do mito e da metáfora, que culmina com o espírito de Hushpuppy a encaixar toda a coragem, determinação e visão do espírito humano.

 

 

A partir da peça de Lucy Alibar, Benh Zeitlin oferece um dos filmes de estreia mais poderosos dos últimos anos, capturando com mestria a textura de uma comunidade na periferia da civilização. O facto de abordar o realismo social de uma forma abstrata, mágica e poética é o que faz sentir “Beasts” tão revigorante e afetante. A abordagem parece provir de um derivativo da visão de Terrence Malick, integrando Homem e natureza com uma unicidade invulgar no grande ecrã.

 

Hushpuppy, uma das mais fascinantes e enigmáticas personagens criadas este ano, é interpretada com bravura pela estreante Quvenzhané Wallis, que tinha apenas cinco anos quando ultrapassou mais de 4000 crianças no processo de casting e seis quando se deram as filmagens. Preciosa e poderosa, esta prodigiosa petiz oferece uma performance genuína, digna de uma guerreira, sem nunca obliterar o facto de que se trata do retrato de uma criança afetada e vulnerável. A sua jornada desde a inocência da infância, a um estatuto de quase líder tribal de sabedoria infindável é um acontecimento digno de se apreciar.

 

 

Por outro lado, Dwight Henry – outro surpreendente amador no seu papel de estreia – nunca dá um passo em falso, e a química que mantém com Wallis é tão forte que o que se torna difícil de acreditar é que não sejam mesmo pai e filha na vida real.

 

De resto, a “Banheira” tem outros habitantes, e ainda que mereçam pouco destaque, Zeitlin não abdica do detalhe na descrição deste mundo colorido, povoado por uma comunidade que, não sendo unida pelo sangue (apesar de assim parecer), o é, sobretudo, pelo Amor ao lugar onde vivem.

 

 

Além do elenco, da realização segura e promissora de Zeitlin e do argumento colorido, é ainda imperativo destacar o papel do belíssimo trabalho de fotografia de Ben Richardson e da inesquecível banda sonora original criada a partir da parceria de Dan Romer com o próprio Zeitlin.

 

O desafio de criar um universo que não é linearmente real ou fantástico coloca a dificuldade de deixar de parte muito do que respeita à estrutura tradicional de um filme – enredo, ou mesmo as motivações das próprias personagens. A consequência é que, por vezes, a sequência de eventos parece organizada ao acaso, dificultando assim a sua absorção em todas as faculdades.

 

 

Determinadas passagens podem parecer desnecessariamente enigmáticas, mas Zeitlin nunca perde o rasto da verdade da sua obra, e da exuberância visual ao tom da voz e declamação artística, promete uma carreira da qual ainda vamos ouvir falar durante muito tempo.

 

Na última sequência de Beasts of the Southern Wild, refletimos sobre a nossa passagem pelo mundo, e a importância da marca que deixamos para as gerações vindouras. E no que respeita ao filme de Benh Zeitlin, é “missão cumprida”.

 

 

Voltamos à questão do equilíbrio. Porque tal como “o Universo depende de tudo se encaixar perfeitamente", o mesmo acontece com a construção de “Beasts", uma história alegórica de crescimento que combina realismo mágico, com uma visão do mundo sem filtros ou “maquilhagens” enaltecedoras. A jornada de Hushpuppy é uma sucessão de metáforas intercaladas com momentos que relacionamos apenas com a mais pura das realidades.

 

Um equilíbrio perfeito na sua harmonia, imperfeito na sua humanidade. Inesquecível - e como asserta a nossa pequena protagonista, mesmo ao fechar do pano, “os cientistas do futuro vão descobrir isto tudo, e vão saber que um dia existiu uma Hushpuppy, e que ela viveu com o seu pai na Banheira”.


8.5/10

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Snorricam - TIME: Great Performances 2013

por Catarina d´Oliveira, em 08.02.13

A TIME falou com alguns dos responsáveis pelas grandes interpretações em Cinema deste ano, o que resultou numa coleção de vídeos única que pode ser vista integralmente aqui.

 

Entretanto, fica um pequeno apanhado das entrevistas a Anne Hathaway, Christoph Waltz, Hugh Jackman, Jessica Chastain, John Goodman,John Hawkes, Naomi Watts, Quvenzhané Wallis e Sally Field.

 

 

 

 

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