Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
LOG ENTRY: 28 SETEMBRO, 2015
User ID: catarina_doliveira
Host Name: close-up-blog
Host address: http://close-up.com.pt/
Message Type: pré-descrição-antestreia.txt
Message Level: 1
Message Text:
Saímos de casa pelas 20h, com aquele atraso que já nos é característico. Sempre fomos conhecidos, com alguma graça, como “a família que come muito depressa”, pelo que chegar a horas à sessão de antestreia de “The Martian” não me parecia, sequer, um desafio.
Não o foi.
Entramos na sala e sentamo-nos na fila encostada à esquerda, mesmo perto das escadas - uma escolha infortuna para quem teve de levar com um grupo de estafermos juvenis demasiado entusiasmados com uma simples ida ao cinema. Há piadas repetidas atá à exaustão. Há conversa de café durante todos os trailers, mas ao volume que tentaríamos falar numa discoteca. Há, inclusive, uma das criaturas que se sente particularmente pasmada porque está a experienciar pela primeira vez a tecnologia 3D, e expressa-se perante tal alegria com muita desenvoltura. Provavelmente, haverá ainda um soco na boca de alguém se isto não acalma.
Esperam-nos duas horas potencialmente interessantes e, provavelmente, muito irritantes.
LOG ENTRY: 29 SETEMBRO, 2015
User ID: catarina_doliveira
Host Name: close-up-blog
Host address: http://close-up.com.pt/
Message Type: pós-descrição-antestreia.txt
Message Level: 2
Message Text:
Há boas e más notícias – a má é que aqueles intervalos continuam a ser estupidamente anti climáticos. A boa é que, de facto, durante o filme, a pitalhada tomou um calmante e manteve-se controlada.
Ah, mas afinal há também uma ótima: “The Martian” é tremendo a vários níveis. A crítica faço-a nos próximos dias, porque hoje ainda tenho trabalho, um curso para me inscrever, uma visita familiar para fazer e um jantar fictício para pôr ao lume.
LOG ENTRY: 30 SETEMBRO, 2015
User ID: catarina_doliveira
Host Name: close-up-blog
Host address: http://close-up.com.pt/
Message Type: sinopse-apresentação.txt
Message Level: 3
Message Text:
Durante uma missão tripulada a Marte, o Astronauta Mark Watney é dado como morto após uma tempestade e deixado para trás pela sua tripulação. Mas Watney sobreviveu e encontra-se preso e só num planeta hostil. Com escassos mantimentos, ele terá que contar com a sua criatividade, inteligência e espírito de sobrevivência para encontrar uma maneira de enviar para a Terra um sinal de que está vivo. A milhões de quilómetros de distância, a NASA e uma equipa de cientistas internacionais trabalham incansavelmente para salvar o astronauta. O mundo une-se por uma causa – trazer Watney de volta.
Baseado no romance de Andy Weir – que por si só embarcou numa jornada galáctica desde a publicação gratuita e integral online, para o download via Kindle, para um bestseller internacional que gritava por uma adaptação a pontos de se ouvir no espaço – “The Martian” é uma mistura ajuizada do técnico e do pessoal, das viagens exteriores e interiores, e do trabalho de equipa e a glória individual.
LOG ENTRY: 1 OUTUBRO, 2015
User ID: catarina_doliveira
Host Name: close-up-blog
Host address: http://close-up.com.pt/
Message Type: contextualização-temas-observações.txt
Message Level: 4
Message Text:
É a terceira aventura espacial consecutiva a cair-nos ao colo juntamente com as folhas amareladas pelo outono. Sem a ambição técnica de “Gravity” ou a aspiração transcendente de “Interstellar”, é um esforço mais terreno e alicerçado na nossa realidade, e talvez por isso mesmo, ligeiramente menos espetacular mas mais relacional - o épico de Ridley Scott não tropeça na zanga com o incontrolável ou na introspeção perante o fim. “The Martian” é, antes, um objeto de intervenção e uma celebração da ingenuidade humana que só é equiparada pela sua resoluta vontade de sobreviver.
À semelhança de “Apollo 13”, pode ser considerado como um crowd-pleaser sem que essa categorização seja pejorativa. Foi cuidadosamente desenhado para nos transportar para um local que temos dificuldade em imaginar, mas que ainda assim é próximo o suficiente para que nos consigamos relacionar com ele. É maior do que nós, mas não demasiado distante. Não é demasiado complexo, mas lida com temas intrincados com discernimento suficiente para reconhecer a inteligência devida da audiência, que deve, por si mesma, deduzir algumas das eventualidades. No final, reclamamos a recompensa.
No livro, Weir baseou-se na construção de cenários plausíveis de um ambiente hostil para a aplicação do engenho de Watney e o desenvolvimento das consequências dos seus atos e o filme deixa-se transportar por essa aderência escrupulosa à ciência. As técnicas de storytelling utilizadas são largamente bem-sucedidas, repescando alguns dos sucessos do seu parente literário – como as log entries levadas a cabo por Mark, com meia razão para quem as descobrir um dia, e meia razão para não enlouquecer – ainda que se torne rapidamente aborrecido colocar personagens a ler em voz alta as mensagens que escrevem.
Completamente livre de enredos secundários de artifício – estabelecendo o foco geral na perspetiva de salvamento de Mark, quer em Marte, quer no espaço, quer na Terra – Drew Goddard instituiu um argumento musculado e sem gorduras adicionais, o que funciona simultaneamente como uma das suas maiores virtudes e uma das suas mais problemáticas vertentes.
Já percebemos qual o ponto de vista positivo desta escolha criativa – o foco absoluto e total em Watney, sem distrações – mas o potencial negativo de tal predileção é igualmente óbvio. A partir de certa altura, torna-se óbvio que não estamos a observar um homem a lutar contra o impossível mas a desafiar as probabilidades – uma diferença subtil, mas crucial já que impede que “The Martian” instile totalmente o sentido de urgência emocional que pretende. Este é um problema que se reflete também nas personagens, particularmente em Watney, que raramente vemos cair na fragilidade humana, ou sofrer da isolação prolongada ou da frustração da tentativa-erro.
Mas este afastamento do sentimentalismo é uma das marcas de Ridley Scott, e se é para o fazer, mais vale embarcar com um mestre. Porque da mesma forma que não o usa para nos manipular emocionalmente, também não cede à necessidade de o trazer à tona quando é conveniente à história – algo que os primos “Gravidade” e “Interstellar” fizeram sem grandes cerimónias. Não há reflexões teológicas, ou pressões psicológicas com familiares amados à distância (não ao ponto de dominar o enredo), ou afirmações espirituais. Em vez disso, estamos perante um tributo ao poder da ciência e do espírito humano.
LOG ENTRY: 2 OUTUBRO, 2015
User ID: catarina_doliveira
Host Name: close-up-blog
Host address: http://close-up.com.pt/
Message Type: elenco.txt
Message Level: 5
Como o “homem que dirige o espetáculo”, Matt Damon dá-nos a sua melhor e mais modulada performance dos últimos anos – cuidadoso para não tornar Watney num cérebro arrogante e inatingível e prudente na representação da fragilidade emocional da sua situação.
O superelenco secundário assume equivalência futebolística com um Barcelona ou um Real Madrid - Jessica Chastain, Chiwetel Ejiofor, Jeff Daniels, Sean Bean, Michael Peña, Donald Glover e Kristen Wiig – sendo incapaz de oferecer uma única performance preguiçosa. Todos são largamente unidimensionais e pouco desenvolvidos, mas em casos raros em que tudo o resto é tão bem-feito e focado, torna-se uma virtude. Não se perde tempo em flashbacks, histórias de vida ou temas arrastados. A contenção também é uma arte – onde um dos melhores exemplos aflora quando uma das cenas mais poderosas é um momento silencioso de devastação quando Watney descobre as suas batatas destruídas.
LOG ENTRY: 3 OUTUBRO, 2015
User ID: catarina_doliveira
Host Name: close-up-blog
Host address: http://close-up.com.pt/
Message Type: considerações-finais.txt
Message Level: 5
Message Text:
No meio da ode à desenvoltura humana e do exercício extremo à capacidade de resolver problemas, no final de contas, tudo depende da intensidade com que torcemos por Watney e, sobretudo, da medida em que acreditamos nele e no significado da sua história.
Por mais parolo e utópico que possa soar, “The Martian” traz perspetiva: de considerar as possibilidades infinitas do espaço, e os alcances desconhecidos do desbravamento científico, e a necessidade de perseverança perante um cenário de aparente total negatividade e a força motriz de uma causa que nos mova coletivamente numa mesma direção. Por uma vez não ficamos à espera de sequelas, ou videojogos, ou merchandising barato, mas de oportunidades de evoluir, e prosperar, e ir mais além
[……………………CRITICAL ERROR…………………..]
[NEW ENTRY - TRAVEL LOG]
CCU - Daqui fala o Controlo de Críticas do Close-Up, Houston.
Houston – Comunique.
CCU - Estamos neste momento e finalmente a levar a cabo o arranque do Planeta Vermelho e confirmamos que o novo filme de Ridley Scott é, de facto, entretenimento pipoca ainda que do mais alto calibre, como tínhamos antecipado no relatório preliminar.
Houston – OK. Preparamo-nos para o lançar na rota mainstream, órbita blockbuster do Planeta Terra.
CCU – Afirmativo. No entanto, reforçamos que representa também um farol de oportunidade. De propiciar soluções, de instigar discussões, de inspirar gerações. A escolha passa por debater as suas faltas e diminuir os seus feitos ou… abraçar o seu apelo universal e utilizar a sua ficção para inspirar a potencialidade da realidade de uma raça que deve manter-se humilde e unida mas orgulhosa na sua ambição. Pode parecer inocente, mas vamos apostar segunda opção.
Houston – Recebido e confirmado. Posicioná-lo-emos no quadrante de potencial inspirador.
CCU – Afirmativo. Houston, we (might) have a miracle.
[END OF TAPE]
8.5/10
"I want to be everything to you. I want to be father, brother, lover, best friend."
Atreva-se a ser deslumbrado, porque ninguém diria que Gordon Gecko e Jason Bourne formariam um casal tão credível e fascinante.
Como antes do fogo ardente veio a faísca, antes de Elvis, Elton John, Michael Jackson e Lady Gag veio Liberace, o extravagante e virtuoso pianista que foi a estrela mais brilhante – literalmente e não só – na vida das donas de casa norte-americanas ao longo de uma carreira de mais de 40 anos. Liberace era um entertainer de “E” maiúsculo, e não se cansava de explicitar a quem o quisesse ouvir: “Eu não dou concertos. Eu dou espetáculo!”.
Liberace viveu uma vida de excessos, dentro e fora do palco, e sem vergonha disso mesmo. No verão de 1977 conhece o jovem e belo Scott Thorson, um aprendiz de veterinário por quem nutre um carinho imediato. Apesar da diferença de idades e de pertencerem a mundos opostos, os dois envolvem-se numa secreta relação amorosa durante cinco anos. Eventualmente, o exuberante castelo de cartas que foi constantemente exposto a pressão e a uma existência excessiva, colapsa. Terá sido o mau comportamento de Scott a afastar Liberace ou será que este foi empurrado para maus caminhos pela crescente indiferença de uma confusa figura parental e amante?
As respostas não são simples, como seria de esperar de uma relação tão complexa. “Behind the Candelabra” é a encenação desse affair e um olhar sobre o mundo escondido do “Senhor Espetáculo”, inspirando-se diretamente na memória homónima publicada por Thorson em 1988, um ano depois da morte do entertainer.
Inicialmente concebido para Cinema, o filme de Steven Soderbergh viu-se com uma receção apreensiva e fria em Hollywood quando o realizador levou o projeto aos estúdios: “Disseram que era demasiado gay. Todos eles. Fiquei chocado. Não fazia qualquer sentido”.
Felizmente, e como tem sido o caso noutras situações, a HBO apareceu para salvar o dia, e o filme chegou a maio deste ano ao festival de Cannes, estreando no canal de cabo dias depois.
Num retrato cru e realista, estamos em permanente contacto com Scott e Liberace, na sua forma mais fabulosa e disforme, sem qualquer obstáculo a esbarrar o desenvolvimento de uma relação povoada por contradições, motivações conflituosas e ainda assim, muito amor. Este é o reflexo fiel de dois outsiders que se encontraram. Logicamente falando, não durou… mas como o final deixa no ar, talvez para ambos, de alguma forma, tenha sido para sempre.
Divertido mas profundamente trágico - muito como a inesquecível personalidade no centro - o tom do título é supremamente equilibrado, e no desenrolar das duas horas de acontecimentos, nunca sentimos que o argumento de Richard LaGravenese ou o ponto de vista de Soderbergh não tratem este projeto com respeito e a mais pura sinceridade.
Apesar da superfície florida, o arco narrativo mantém-se na terra, deixando-nos encontrar a comédia por nós mesmos, e interlaçando-a na perfeição com os momentos dramáticos mais intensos, que se sentem perfeitamente orgânicos, muito por culpa do argumento superior de LaGravenese.
Se algum problema pode ser identificado é que se sente ligeiramente longo, arrastando-se no segundo ato, antes do poderoso facelift final, o pathos que interrompe uma festa descontrolada com a pureza inescapável da luz do nascer do dia.
Em todos os departamentos, desde o guarda-roupa, à maquilhagem, passando pela direção artística, o Óscar pode estar fora do horizonte – por questões óbvias de conflito de meios – mas os Emmys dificilmente escaparão ao seu charme.
Nas interpretações, Michael Douglas é deslumbrante naquela que será, sem grandes dificuldades, uma das performances mais dinâmicas do ano. O seu Liberace é a encarnação da contradição, complexo mas infantilmente simples, desejando o amor e ao mesmo tempo a selvajaria sexual de um novo parceiro a cada noite e profundamente dividido pelo desejo de partilhar a cama com Scott e de adotá-lo como filho. Pegar num cartoon de capachinho com uma voz de ET afetado e transformá-lo numa pessoa real – umas vezes gentil, outras cruel – não é tarefa fácil, mas Douglas foi absolutamente destemido e em si Liberace encontra a ressurreição.
Quem não fica atrás é Matt Damon, o verdadeiro protagonista – afinal, “Behind the Candelabra” é contado a partir dos seus olhos. A sua performance de um jovem inocente cuja vida leva uma reviravolta dramática é corajosa, delicada, mais sóbria mas igualmente poderosa e impossível de ignorar, tanto como a de Douglas.
O elenco secundário é também da mais alta qualidade, com performances curtas mas incisivas de Debbie Reynolds, Scott Bakula, Dan Aykroyd e o fabuloso Rob Lowe como o sórdido cirurgião plástico Jack Startz, cuja obsessão pelo ofício e as suas maravilhas lhe conferiram um ar permanentemente drogado numa paródia perfeita aos anos 70 de Hollywood.
Na generalidade da carreira de Soderbergh, a atenção é especialmente dada à sua mestria técnica e a facilidade com que circula entre géneros. Todavia este é um dos seus projetos mais íntimos, humanos e com alma, demonstrando que é, na verdade, um dos realizadores mais completos da sua geração, e uma perda insubstituível - se a sua partida do universo cinematográfico definitiva, como tem assegurado em diversas ocasiões.
Liberace sempre gostou de terminar os seus espetáculos com uma performance arrasante, digna de aplausos intermináveis, algo que o seu público nunca esquecesse. E se, por hipótese, este for o último filme de Soderbergh, temos também a certeza resoluta de que “Behind the Candelabra” foi, de facto, inesquecível.
8.5/10
Tendo em conta que a longa-metragem de estreia de Neill Blomkamp foi o fabuloso "District 9", que conseguiu misturar eficazmente uma parábola política com entretenimento do mais alto nível, é fácil perceber todo o alvoroço que se tem gerado em torno do seu segundo filme: o drama de ação e ficção científica "Elysium". Com o lançamento do fabuloso primeiro trailer, a antecipação só pode crescer.
A sinopse oficial vai assim: "Estamos no ano de 2159, planeta Terra. A sociedade humana sobrevive mas está dividida em duas classes distintas que vivem em locais distintos. Os mais ricos e saudáveis vivem na Estação Elysium, uma luxuosa cidade espacial que oferece aos seus poderosos residentes todos as comodidades necessárias. A restante população terrestre vive num Planeta Terra superpovoado e extremamente poluído. As apertadas regras de imigração do Planeta Terra são aplicadas sem descanso pelo governo que é liderado pela Secretária Rhodes, uma ministra dura e calculista que tenta restringir ao máximo o acesso à Estação Elysium, tentando assim proteger os mais bem-sucedidos da pobreza mundial. No entanto, todos os dias várias pessoas das classes mais baixas tentam entrar à força na estação. Uma dessas pessoas é Max, um homem azarado que é coagido a aceitar uma missão de grande dificuldade que, no caso de ser bem-sucedida, poderá terminar com a polaridade da sociedade atual".
"Elysium" é realizado por Neill Blomkamp, conta com interpretações de Jodie Foster, Matt Damon, Sharlto Copley, Alice Braga, Diego Luna e Wagner Moura deverá chegar aos cinemas americanos em agosto de 2013, não havendo ainda data confirmada de chegada a Portugal.