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Estava eu na cama hoje de manhã quando senti uma enorme vontade que me impeliu a levantar. Não sei explicar melhor, que era uma pressão na barriga, uma sensação estranha de algo fora do normal que estaria prestes a acontecer... o mais provável é que fossem gases.
Adiante: deu-se hoje, no aconchego do meu quarto, a muito aguardada 4ª edição dos Close-Up SOAP Awards - se por alguma razão inexplicável não se lembrarem dos nomeados, podem revê-los aqui.
A Academia Portuguesa de Artes Mais ou Menos Cinematográficas já contou os votos de mais de 100 membros e os vencedores foram decididos, mas mesmo quem foi para casa de mãos a abanar teve a noção de que esteve num evento cujo único objectivo era honrar a indústria cinematográfica, que tantas alegrias nos dá todos os anos, mas também algumas tristezas e, ocasionalmente, dores nos rins ou até patologias mais graves... além de a celebrar, se calhar gozar respeitosamente um bocadinho com ela também.
Mas vamos a resultados, que até há momentos só o senhor que nos faz os envelopes com os vencedores é que sabia - é triste, mas o senhor dos envelopes sou eu, com um bigode farfalhudo de colar, portanto talvez seja melhor ser uma senhora dos envelopes.
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Christopher Nolan levou para casa um cabaz de SOAPS por causa do seu "Interstellar", com vitórias em categorias como MELHOR BLOCKBUSTER e MELHOR FILME QUE NÃO FOI NOMEADO PARA O OSCAR DE MELHOR FILME. A razão pela qual sentiu necessidade de roubar à descarada um carrinho de comprar ali do Jumbo do Almada Forum ainda está por decifrar.
Quem também foi uma tarde particularmente feliz foi Ellar Coltrane, o rapaz que vimos crescer à frente dos nossos olhos ao longo de "Boyhood", e que foi o vencedor incontestável na categoria de MELHOR INTERPRETAÇÃO DE UM GAROTO. Por alguma razão, o Ellar apareceu na cerimónia já na casa sénior, apoiado numa bengala e com uma algália atrás... o pior foi quando aquilo se soltou e urinou-me o quarto todo. Enfim.
Também por aqui tive direito a uma performance especial de "Everything is Awesome" do filme LEGO, à semelhança do que aconteceu nos Oscars da Academia. E se se estão a perguntar - sim, teve tantos ácidos à mistura como a outra atuação. Como temos todos dois palmos de testa, pelo menos aqui oferecemos-lhe um prémio de consolação, mesmo que indireto, pela fantástica presença de LIAM NEESON EM MODO 'TAKEN', MAS SEM SER NO 'TAKEN'.
Tivemos ainda a honra de ter presente no espetáculo a já icónica Amy Dunne, que subiu ao palco para receber o seu PRÉMIO ESPECIAL - "NOSSA, QUE BIOLÊNCIA!" pela cena de sexo com Desi, em “Gone Girl” acompanhada de um carrinho de mão com os restos mortais de Neil Patrick Harris. Diz que ia fazer uma sopa de miudezas para dar ao marido.
Apesar de não podermos ter tido o prazer de contar com a sua presença física, recebemos informação do agente do Nenuco que colaborou em "American Sniper" - outro vencedor inconstestável, mas agora na categoria de MAIOR MOMENTO WTF? - do lançamento de uma coleção especial de bebés falsos pela marca, com o selo de aprovação de Clint Eastwood e do Close-Up. No próximo Natal vai ser vê-los a sair que nem pãezinhos quentes...
Por fim, e como tinhamos confirmado no início da semana, o jovem ator da Olive Tree Pictures - Francisco Oliveira - esteve na cerimónia para receber o SOAP entregue a "O Lobinho da Trafaria". Fica o registo do momento dos seus (sentidos) agradecimentos.
Mas porque já vamos com chacha e conversas a mais... vamos então relevar a lista completa de vencedores dos Close-Up Soap Awards 2015.
MELHOR FILME DA OLIVE TREE PICTURES (rubrica: Homemade)
“O Lobinho da Trafaria”
MELHOR FILME QUE NÃO FOI NOMEADO PARA O OSCAR DE MELHOR FILME
“Interstellar”
MELHOR FILME QUE PROVAVELMENTE MUITA GENTE NÃO VIU
“Under the Skin”
MELHOR BLOCKBUSTER
“Interstellar”
PIOR BLOCKBUSTER DA LOJA DO CHINÊS
“The Legend of Hercules”
FILME QUE NÃO NOS ATREVEMOS A TOCAR NEM COM UM PAU DE TRÊS METROS
“Eclipse em Portugal”
MELHOR TWIST: OU OH DIABO, PENSEI QUE ESTE FILME FOSSE SOBRE OUTRA COISA...
“Selma” (sobre uma senhora chamada Selma)
MELHOR PERFORMANCE DE UM GAROTO
Ellar Coltrane em “Boyhood”
MELHOR MANUTENÇÃO DE PILOSIDADE FACIAL
Os personagens masculinos, de “The Grand Budapest Hotel”
MELHOR LIAM NEESON EM MODO 'TAKEN' (mata toda a gente e mais uma freira e um gatinho), MAS SEM SER NO 'TAKEN'
“The LEGO Movie”
A TENDÊNCIA DO ANO
O Tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem (“X-Men: Days of Future Passed”; “Interstellar”; “Edge of Tomorrow”)
MELHOR PERSONAGEM SECUNDÁRIA QUE É INEQUIVOCAMENTE MAIS 'FIXE' DO QUE O PROTAGONISTA
Quicksilver (em oposição a Wolverine, em “X-Men: Days of Future Past”)
MELHOR CAMEO
Christopher Lloyd, em “A Million Ways to Die in the West”
MELHOR UTILIZAÇÃO DE BANDA SONORA NÃO ORIGINAL
“Guardians of the Galaxy”
MAIOR MOMENTO WTF?
O bebé de plástico de “American Sniper”
MELHOR PAPA CERELAC FEITA COM O NOSSO CÉREBRO (a.k.a. Precisava de um curso para perceber isto)
“Interstellar”
LINHA DE DIÁLOGO QUE ANIMA O ESPÍRITO
"I don't know what sort of cream they've put on you down at the morgue, but I want some. Honestly, you look better than you have in years. You look like you're alive." - M. Gustave (Ralph Fiennes), em "The Grand Budapest Hotel"
PRÉMIO ESPECIAL - PÔR ÁGUA NA FERVURA (Eles queriam nomeações a Óscar mas só levaram rebuçados)
“Unbroken”
PRÉMIO ESPECIAL - HOMICÍDIO EM PRIMEIRO GRAU À ARTE DO PHOTOSHOP
(empate) “Exodus: Gods and Kings”
(empate) “Left Behind”
PRÉMIO ESPECIAL - ANTIDEPRESSIVOS PARA QUE VOS QUERO
“The Fault in Our Stars”
PRÉMIO ESPECIAL - "NOSSA, QUE BIOLÊNCIA!"
A cena de sexo entre Amy e Desi, em “Gone Girl”
PRÉMIO ESPECIAL OMNIPRESENÇA
(empate) Julianne Moore
(empate) Liam Neeson
PRÉMIO ESPECIAL - TRAZ O TELESCÓPIO PORQUE NASCEU UMA ESTRELA (e agora vão-ta esfregar na cara durante os próximos 7 anos em todos os filmes que conseguirem)
Chris Pratt
Basta ligar a televisão parar pormos em causa toda a fé que possamos ter na racionalidade ou humanidade do Homem, que constantemente retorna ao lamaçal para chafurdar ao nível mais baixo da depravação. E se alguma parte da sabedoria popular também nos diz que ninguém muda, é com o coração pesado que constatamos que, de facto, raramente aprendemos alguma coisa com a nossa história.
O séc. XX foi profundamente triste nesse sentido, com duas guerras mundiais que se distinguem entre outras centenas de conflitos que é impossível contabilizar. O séc. XXI surgia com a promessa da tolerância, mas cedo demonstrou que pouco ou nada tinha sido apreendido, e em 2001 arrancava a Guerra ao Terror que durou quase 10 anos.
Se algum tipo de ‘conforto’ pode ser encontrado nos meandros de tanta desgraça, é a certeza de que é difícil – porém não impossível – chegar aos níveis de algo como o Holocausto, comummente associado à Segunda Guerra Mundial, e sinónimo do terror puro.
Naturalmente, tal marco da história moderna não poderia ser ignorado pelas artes, particularmente, pela sétima, e uma das suas mais célebres incursões tem uma origem curiosa.
Quem diria que seria o quintessencial mestre da fantasia norte-americana seria capaz de realizar uma das transposições para o grande ecrã mais dramáticas de um dos capítulos cruciais e mais negros história do mundo? Apesar da sua confessa notoriedade crescente já no início dos anos 90, talvez não muita gente, ou certamente menos ainda depois do desastre que certamente lhe terá provido um poderoso complexo de Peter Pan que foi “Hook” (1991).
Com 12 nomeações a Óscar e sete estatuetas arrecadadas (onde se incluíram as de Melhor Filme, Realizador e Argumento Adaptado) e integrando o 8º lugar na lista do American Film Institute que distinguiu em 2007 os 100 filmes americanos mais importantes de todos os tempos, “Schindler's List” trouxe finalmente a consagração há muito ansiada por Steven Spielberg, mas acima de tudo, um pedaço de sétima arte capaz de resistir ao teste do tempo, e que se mantém até hoje como um brilhante estudo histórico e da natureza humana.
Por ocasião do 20º aniversário do filme, é lançada hoje em território luso uma edição de celebração imperdível que contém, além da versão DVD e Blu-Ray do filme, ofertas exclusivas de um poster original, três postais das personagens principais e um livro de 16 páginas sobre a produção, tudo bem acomodado numa embalagem de colecionador com folha em prata.
Baseado no romance de Thomas Keneally – “Shindler’s Ark” -, o filme de Spielberg representa a indelével história do enigmático Oskar Schindler, um membro do partido nazi, mulherengo e especulador de guerra, que acabou no entanto por salvar a vida a mais de 1100 judeus durante o Holocausto.
Como é que um homem que não se qualifica como humanitário altruísta ou monstro terrível se situa numa sociedade como a da Alemanha do Terceiro Reich? Esta é a história de um desses homens, Oskar Schindler, cujo compromisso de crescimento individual é interrompido pela realidade gritante do desespero negro de uma era e suplantado por uma devoção à proteção do maior número de judeus possível.
Talvez seja essa uma das maiores virtudes desta Lista de Spielberg – o facto de sermos guiados por um protagonista que está longe da personificação da virtude, e cujos motivos e moral se alteram gradualmente com o passar do tempo e das experiencias. Na verdade, o mistério intoxicante mantém-se quanto aos seus motivos, mas no final, nada disso importa a quem se viu salvo da exterminação certa.
Este é o filme mais pessoal da carreira de Spielberg, que se demonstra infinitamente mais capaz quando dirige um projeto que lhe diz alguma coisa. Curiosamente, é também o seu filme menos “Spielberguiano”, abstendo-se de utilizar muitas das suas técnicas de assinatura, e preferindo um realismo cru que ressoa a verdade desde o início ao fim.
É um profundo estudo de contrastes e ironias, bem patentes, inclusive, no estado de espírito do espectador depois de assistir: é simultaneamente um filme visceralmente devastador mas profundamente esperançoso.
Apesar das liberdades dramáticas que Spielberg toma – como é aliás natural e comum no género – “Schindler's List” não deixa de ser uma imensa lição sobre um dos capítulos mais negros da história dos homens, mas também um estudo profundo sobre as pulsões e emoções humanas, manifestadas no bem e no mal.
Sem tornar o filme num festival de terror, Spielberg não se coíbe de encarar os horrores do Holocausto de frente, fazendo recurso muitas vezes da mera sugestão, que acaba por ser incrivelmente mais eficiente do que um retrato gráfico. Em última instância, permite ainda uma excelente oportunidade de alargar horizontes no que à temática diz respeito, já que a abordagem não é formulaica, nem oferece explicações simples esquivando-se inteligentemente a alguns ‘mitos urbanos’.
Tecnicamente, o percurso de mestria continua, desde a deslumbrante fotografia a preto-e-branco àquela que será, por ventura, uma das bandas sonoras mais comoventes e dilacerantes de John Williams.
Enquanto Liam Neeson é fantastico no retrato da ambivalência de Oskar Schindler e Ben Kingsley é por vezes esquecido face ao brilho da história do protagonista, é Ralph Fiennes a verdadeira estrela da companhia no que a interpretações diz respeito, no retrato do mal corporizado em Amon Goeth, um comandante de um campo de concentração que passa as manhãs a escolher judeus da sua varanda para serem abatidos.
Apesar do tema manifestamente negro e vergonhoso para uma raça que se diz racional, o filme de Spielberg é movido por uma pequena chama num antro de horror negro: uma chama de esperança e dignidade. À exceção de algumas escolhas criativas questionáveis – a maior das quais prende-se com o já ‘infame’ final escusado e indulgente – “Schindler's List” compõe-se como uma obra quase perfeita.
“Schindler's List” é intransigente no retrato das várias camadas da natureza humana: quer no retrato do bem, do mal e da área cinzenta, quer na representação da ganância, ódio, luxúria, poder, e, acima de tudo, empatia e amor. O seu toque é do mais profundo na alma humana, e a catarse decorrente é tão poderosa como apenas outros momentos cinematográficos que podem ser contados pelos dedos.
É esta dimensão profundamente humana, que se destaca como a chama laranja ou a menina do casaco vermelho na imensidão preta-e-branca, que o distingue, não só como um dos filmes mais importantes da história, mas também como uma experiência cinematográfica e humana transcendente.
Porque “quem salva uma vida, salva o mundo inteiro”.
Porque no próximo Domingo decorre a cerimónia dos Oscars e não queria que nenhuma estrela faltasse porque prefere dar um pulinho à cerimónica cá do burgo, realizou-se esta tarde a 2ª Edição dos Close-Up SOAP Awards.
A Academia Portuguesa de Artes Mais ou Menos Cinematográficas já contou os votos de quase 150 membros votantes e os vencedores foram decididos, mas mesmo quem foi para casa de mãos a abanar teve a noção de que esteve num evento cujo único objectivo era honrar a indústria cinematográfica, que tantas alegrias nos dá todos os anos... e se calhar gozar respeitosamente um bocadinho com ela também.
Mas vamos a resultados, que até há momentos só o senhor que nos faz os envelopes com os vencedores é que sabia - é triste, mas o senhor dos envelopes sou eu, portanto talvez seja melhor ser uma senhora dos envelopes.
Seguindo o legado de "Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2" no ano passado, em 2013 "The Dark Knight Rises" arrecadou os SOAPs mais apetecidos na categoria de Melhor Filme que não foi nomeado para o Oscar de Melhor Filme e Melhor Blockbuster de Verão. Também à semelhança do ano passado, não apareceu ninguém para os agradecimentos além de Bane, cujo discurso longo e diplomático teve de ser interrompido pela orquestra sinfónica da Trafaria.
Uma das grandes surpresas surgiu na categoria da Linha de Diálogo que Anima o Espírito com "Ted" a surgir como vencedor. O triunfo foi celebrado com pompa, circunstância e indecêndia pelo próprio urso que subiu ao palco e aproveitou para fazer o seu signature move com o prémio. Blhac!
Leonardo Dicaprio e o seu Calvin Candie vieram até à terra à beira Tejo plantada para receber dois prémios por "Django Unchained". DiCaprio teve de ser simpaticamente convidado a abandonar a cerimónia quando tentou agredir roubar o Prémio Especial Herbal Essences para o Cabelo do Vilão, entregue a Silva de "Skyfall".
Quvenzhané Wallis (Melhor Performance Infantil) e Russell Crowe (representando "Les Misérables) também estiveram presentes para aceitar os seus galardões de lata amarela.
Infelizmente, e no final da cerimónia, Liam Neeson emocionou-se e entusiasmou-se ao receber o seu Prémio Especial Omnipresença, e infelizmente para as minhas próximas noites de insónia, tivemos de tomar medidas drásticas para evitar que saltasse, em pelota, para cima das senhoras na audiência.