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Point-of-View Shot - The Revenant (2015)

por Catarina d´Oliveira, em 21.02.16

revenant.jpg

 

"I ain't afraid to die anymore. I'd done it already"

 

 

Um poema frenético cravado a frio na pele ensanguentada, The Revenant revisita o mito americano com a crueza que mais com ele condiz – venal, bruta e vingativa.

 

Numa expedição pelo desconhecido território americano, o lendário explorador Hugh Glass é brutalmente atacado por um urso e deixado como morto pelos seus companheiros de caça. Na luta pela sobrevivência, Glass resiste a um sofrimento inimaginável, bem como à traição de John Fitzgerald, um dos seus companheiros de expedição. Guiado pela sede de vingança e o amor da sua família, Glass terá de enfrentar um inverno rigoroso numa busca incessante pela sobrevivência e redenção.

 

the-revenant-image-tom-hardy-will-poulter.jpg

 

De Leonardo DiCaprio já se disse tudo o que virtualmente se poderia dizer de um ator absolutamente dedicado à sua arte. Depois de anos a fio a usar memes e engenhos humorísticos para gozar o facto de nunca ter levado um Óscar para casa – não obstante as vezes que o mereceu – será, certamente, este o ano que lhe quebra o enguiço. E apesar de ser uma performance profundamente instintiva, fisicamente complexa e matizada e extremamente impressionante, é difícil encaixá-la sequer no top 3 do cânone do ator, o que não deixa de parecer mais uma curiosa confirmação da célebre asserção de Katharine Hepburn sobre as estatuetas douradas: “os atores certos ganham sempre o Óscar, mas pelos papéis errados”.

 

Tanto ou mais surpreendente é Tom Hardy que aparece fiel à forma que lhe conhecemos – o que significa 100% carismático e 50% ininteligível no discurso. Fitzgerald não é um personagem propriamente complexo, aparecendo como um vilão ligeiramente cartoonizado, cujo momento mais humano surge quando descreve pormenorizadamente o que sentiu quando lhe arrancavam o escalpe a sangue frio. Fun!

 

the-revenant-trailer-screencaps-dicaprio-hardy34.p

 

Mas voltando às considerações gerais, o novo filme de Alejandro G. Iñárritu ambienta-se a um vértice fascinante da ainda breve história americana, mesmo antes de os caminhos serem trilhados, de os cowboys serem intitulados, de os homens armados de emblemas e fogos abrirem caminho pelo Oeste. É quase um cenário Bíblico, num mundo aparentemente sem lei onde a justiça se faz “olho por olho, dente por dente”. Aqui a única lei que impera é a da vingança em bruto, a única que importava naquele momento singular da história, aquele momento que se propaga numa saga de dor e determinação.

 

The Revenant é, assim e sem qualquer margem para fantasias, um violento western que só parece passado num cenário nevoso para expor ainda mais o sangue, suor e membros decepados. Iñárritu maravilha-se com a virgindade da terra, contraposta com a malevolência humana – a simples selvajaria inocente de tudo, desde as árvores sem fim, aos prados cobertos de branco, aos rios enraivecidos. Digamos que, em diversas formas e medidas, é, para o bem e para o mal (já lá iremos) o Gravity dos westerns - visceral e de tal forma eletrizante que transcende a própria narrativa.

 

O pano abre numa espécie de floresta alagada e húmida, de aspeto pouco convidativo, atolada de homens que trocaram qualquer noção de conforto pela possibilidade de fazer algum dinheiro extra no mercado das peles. Enquanto o gangue discute (pouco) alegremente assuntos mundanos, as setas começam a voar, e porque Iñárritu filma tudo com uma misteriosa obsessão pelo natural, é quase possível sentir a roupa pejada de lama, a água a consumir-nos os ossos, o sabor metálico do sangue a inundar-nos a boca. Toda a cena é filmada ao estilo de Birdman, o que significa que navegamos etereamente pelo caos, saltitando de personagem em personagem, enquanto estes rijos do Oeste tentam escapar vivos à fúria dos Índios que apenas procuram recuperar uma “princesa” desaparecida. E esta cena é apenas uma miniatura de tudo o resto.

 

the revenant.jpg

 

É uma espécie de paradoxo – aparentemente desnecessariamente cruel, mas é essa mesma dimensão ríspida que mantém a noção de que o Velho Oeste Selvagem era, de facto, desnecessariamente cruel. É certo que quase parece retirar um prazer retorcido da sua própria sanguinolência, num niilismo resvalado numa escuridão que ilustra sem espinhas que a selvajaria do Oeste selvagem não significava propósito, ou independência, ou liberdade. Aqui o selvagem era genuinamente bruto, desumanamente natural e inescapavelmente imperdoável.

 

The Revenant é visceralmente diferenciado de Birdman, mas também dos enredos entreligados dos anteriores filmes de Iñárritu (onde se contam, por exemplo, 21 Grams e Babel). Desta feita a história é extraordinariamente simples, inclusive a um ponto prejudicialmente detrimental. De facto, a ambição filosófica e moral é tão exacerbada que no momento em que chegamos à ansiada represália, depois de tanta dor, morte, planos da natureza e minutos inexplicavelmente queimados, é muito difícil não a sentir como uma relativa desilusão.

 

revenant-gallery-19.jpg

 

Na verdade, o que fez Birdman funcionar tão bem foi o harmonioso casamento entre o virtuoso estilo do realizador e o estado caótico da psique das suas personagens. Todo o pandemónio miraculosamente organizado trabalhava em prol da história de um homem que, procurando reencontrar-se consigo mesmo, se perdia ainda mais. Em The Revenant, o estilo e a história não só não parecem estar na mesma página – parecem arrancados de livros diferentes. O investimento feito em encantar os nossos olhos através de cenas que são manifestamente indeléveis (Emmanuel Lubezki destaca-se uma vez mais como um dos mais talentosos e disruptivos diretores de fotografia dos nossos tempos), o mais recente filme de Iñárritu não consegue deixar de se sentir frustrantemente frio, incapaz de nos assoberbar o coração como nos revira as entranhas.

 

Feitas as contas, The Revenant parece mais uma experiência do que um filme propriamente completo e totalmente coerente. Todavia, esse tipo de cinema, esse raro tipo de cinema que nos transporta inesperada e inescapavelmente para um outro tempo e espaço, ao ponto de lhe cheirarmos os odores, de lhe sentirmos os chãos, de lhe sofremos as dores, é sempre bem-vindo.

 

 

7.5/10

 

 

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Point-of-View Shot - The Wolf of Wall Street (2013)

por Catarina d´Oliveira, em 09.01.14

 

 

"The real question is this: was all this legal? Absolutely not!"

 

Imaginem-se vestidos para uma festa glamourosa na melhor avenida da cidade, quando descobrem que esse evento é, afinal, um espetáculo de striptease onde os vossos honrados amigos se encontram em posições menos respeitáveis, com acompanhantes de origem duvidosa, peças de roupa a menos e estupefacientes a mais. É esse o estado de choque com que recebemos “The Wolf of Wall Street”.
 
Que entre o desfile da banda intinerante. Abram alas para a devassidão, a libertinagem, e o deboche orquestrados por Martin Scorsese na potência máxima da escandaleira dos ladrões de colarinho branco.

 


 
Mas vamos ao início - é um relativamente inocente Jordan Belfort aquele que chega, embebido em esperança e ambição, a Manhattan com apenas 22 anos para o seu primeiro dia de trabalho em Wall Street. Apadrinhado pelo corretor veterano interpretado por mais um laivo de inspiração divina de Matthew McConaughey, Belfort aprende que apenas duas coisas o ajudarão a subir na vida e no universo da bolsa: 1º tem de relaxar e 2º tem de começar a juntar cocaína à sua lista de bens-essenciais do dia-a-dia.
 
A sorte (ainda) não está do lado de Belfort, que vê a Segunda-Feira Negra de 1987 despejá-lo no desemprego. A contar tostões num país que subitamente deixou de ver nos corretores as suas “estrelas de rock santificadas”, Belfort aplica os seus dons (quase) sobrenaturais numa humilde firma que vende ações de baixo custo. Como o céu se abriu para os Pastorinhos receberem Fátima, o Inferno bafejou a chama incendiária que estalou a ideia de Belfort.

 


A premissa por detrás da escalada de inclinação exponencial para a riqueza e o poder é complexa, mas apresentada à audiência de forma relativamente simples: resumindo, Belfort começou por vender ações normais a indivíduos ricos e depois de ter ganho a sua confiança começava a vender-lhes ações duvidosas e de baixo valor, onde arrecadaria uma comissão de 50% por venda, em vez do tradicional 1%. Foi esta ilegal descoberta da roda dourada (só depois, eventualmente, chegaram os subornos, branqueamento de capitais, insider trading e por aí fora) que tornou rapidamente Belfort e os seus sócios ricos além da imaginação.
 
Estava estendida a passadeira vermelha do surrealismo monetário, com milhões de dólares a choverem ao longo de uma simples semana de cinco dias úteis. O exército liderado por Belfort, que lhe responde com explosivos gritos de guerra aos inspirados discursos dignos de uma invasão Espartana aos corredores da Bolsa, é uma tropa de elite no momento de ataque, e um grupo de macacos descontrolados entre o bacanal das festas Gatsbianas que temperam os horários de descanso.

 


E o alcance dos seus feitos, seja a mirar anões em targets gigantes, ou a rodar prostitutas pelo escritório inteiro, ou a alinhar cocaína como se de uma autoestrada para o paraíso se tratasse é capaz de envergonhar e mandar para a cama com biberão os protagonistas de "The Hangover".
 
Eventualmente, e compreensivelmente, o FBI começa a farejar o caso, e nada bate certo. Quando a espiral insana de Belfort começa a desmoronar-se, na última secção do filme, a mudança de tom ameaça o quadro de Scorsese, e a audiência percebe-o. É a chamada “conclusão ressacada”, que não consegue acompanhar totalmente a explosão inebriada do primeiro ato.

 


Transformar esta besta hiperativa num filme de três horas terá sido, provavelmente, uma ambição gulosa de difícil digestão para grande parte da audiência.
 
O filme – e, sobretudo os seus intervenientes – vêem-se tão embrenhados nesta frenética criação que levam à colocação em questão da necessidade de uma duração de três horas para contar uma história de humor negro, à qual uma bem medida hora e meia chegaria. A segunda questão que surge é, no entanto, tentadora: quantas vezes aparecerá uma história debochada como esta com Martin Scorsese pronto a realizá-la?

 


O nosso Lobo - Leonardo DiCaprio - teve uma tarefa duríssima. As personalidades espalhafatosas são a materialização do gozo maior para um ator em metamorfose, mas são as suas peculiaridades e subtilezas – elas existem em Belfort, por mais difícil que seja vê-lo – que separam uma interpretação boa de uma de excelência. A de DiCaprio pertence à última categoria, e é um retrato empolgante e empolgado de um homem que, além dos seus inquestionáveis dons, era desprezivelmente interessante e divertido.
 
A maior parte do enredo e das aventuras que o colorem foram retiradas da memória homónima escrita por Belfort. Alguns dos episódios mais surreais têm o inacreditável selo do “verídico”, e nada mais podemos fazer que não recolher cuidadosamente o queixo do chão, uma e outra vez.

 


Esta exibição pornográfica de luxo, poder e sexo não se amontoa para construir um conto moral sobre a corrupção e ao deboche. Todavia, também não os glorifica. Ao contrário é uma acídica, elétrica e bem calibrada comédia negra, uma ode à decadência e ao hedonismo, e uma farsa épica que mistura o melhor de “Tudo Bons Rapazes” com uma versão moderna do Império de Calígula.
 
Está reservado para os grandes filmes, os verdadeiramente especiais, o dever de nos questionar. O facto de "The Wolf of Wall Street" se distanciar mais ou menos do estatuto de obra-de-arte não contribui, todavia, para que deixe inquietantes perguntas à nossa consideração: estamos a olhar para o comportamento desviante ou para um espelho? É a ganância uma característica do indivíduo psicótico ou um traço indiluível da natureza humana que contribui, inclusive, para a evolução da nossa espécie?
 
As respostas, essas, estão prontas para abalar o seu mundo.

 

 

9.0/10

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Snorricam - "O" filme do Leonardo

por Catarina d´Oliveira, em 02.01.14

É um dos atores americanos cujo exponencial crescimento mais me impressiona na atualidade - um dia uma (quase) irritante cara bonita que se fartava de chorar e gritar nos seus filmes, hoje Leonardo DiCaprio é um dos atores da máquina de Hollywood que mais curiosidade me desperta a cada novo projeto que abraça.

 

Felizmente, não sou a única a achá-lo, e um(a) indivíduo(a) com particular jeito para a montagem de trailers parece partilhar do meu fascínio tendo construido um fabuloso e épico vídeo que dá luz sobre quase 20 filmes da espantosa e diversa carreira de DiCaprio.


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Mise en Scène - A celebração de "The Wolf of Wall Street"

por Catarina d´Oliveira, em 30.10.13

Ainda passei por um estado profundo de ansiedade, quando se andou por aí a falar levianamente que "The Wolf of Wall Street" poderia ser adiado para o ano que vem. Mas porquê encafuar um filme que cheira a todas as coisas mais gulosas do mundo - e ainda por cima não engorda - a menos que estivesse severamente inacabado?

 

Epá pois não sei.

 

As boas notícias é que, afinal, vamos ver o Leonardo DiCaprio a ser roubado de mais uma nomeação a Oscar este ano - aqui estou só a fazer futurologia, atenção - o que é sempre uma perspetiva animadora. Ainda mais animador é saber que 2013 também tem o selo "Martin Scorsese". E isso até já me vai ajudar a dormir melhor logo à noite.

 

Posto isto, e para celebrar, o novo filme do Scorsese (Marty para os amigos) lançou um novíssimo trailer que pode ser beberricado em baixo.

Com Leonardo DiCaprio, Jonah Hill, Margot Robbie, Matthew McConaughey, Jon Favreau, Kyle Chandler, Rob Reiner, entre outros, "The Wolf of Wall Street" é a crónica da subida e queda dramáticas de Jordan Belfort em Wall Street, incluindo uma espreitadela ao seu tumultuoso estilo de vida que incluia muitas mulheres seminuas, drogas e álcool. E, bom, bastante dinheiro.

 

 

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Point-of-View Shot - The Great Gatsby (2013)

por Catarina d´Oliveira, em 17.05.13

 

Nota Introdutória

 

Face aos resultados preocupantes da bilheteira que nos chegaram ontem – as salas portuguesas perderam quase um milhão de espectadores até abril, face ao mesmo período no ano passado, traduzindo-se numa quebra de mais de 20% na audiência – cremos obstinadamente que é preciso ir ao Cinema.

 

Não sendo Portugal um país com uma cultura de crítica de Cinema como outrora foi, é crucial começar a entender o seu papel – por mais pequeno que se vá tornando – no salvamento de um meio que vê a sua luz verde afastar-se ao longe. A crítica não serve para implantar ideias ou opiniões – ao contrário, tem o propósito de contrapor argumentos, iniciar conversas, por cabeças a pensar, e, no limite, levar as pessoas à sala, mesmo que seja para constatar que estão em completo desacordo com determinado crítico. Esta é a Era em que a paixão pelo Cinema deve ser demonstrada em cada palavra – sem que para isso se tenha de gostar cegamente de tudo o que se vê.

 

É muito nesse espírito otimista, que também tantas vezes nos falha enquanto povo, que gostamos de apresentar as coisas “on the bright side of life”. É nesse espírito que tentarei hoje falar de “The Great Gatsby”, de Baz Luhrmann.

 

*** *** ***

 

So we beat on, boats against the current, borne back ceaselessly into the past.”

 

O enredo é tão familiar para os amantes de literatura como o é a história da carochinha para os nossos pequenos, mas por respeito a coesão estrutural e leitores não-familiarizados com a mesma, dispomo-nos a um pequeno aperitivo: a história arranca com o nosso narrador e aspirante a escritor - Nick Carraway - que deixa o Oeste para ir para Nova Iorque na primavera de 1922. O tempo é de moral duvidosa, do jazz deslumbrante e dos reis do contrabando – os anos 20 estão, de facto, no epítome da sua loucura. Perseguindo o Sonho Americano, Nick instala-se perto da casa do misterioso milionário Jay Gatsby e também da casa da sua prima Daisy e o seu mulherengo marido de sangue-azul, Tom Buchanan. É assim que Nick é atraído para o cativante mundo dos super-ricos, das suas ilusões, dos seus amores e deceções. Nick assiste, dentro e fora do mundo que habita, à história de um amor impossível, sonhos incorruptíveis e amargas tragédias, que nos levam inequívoca e simultaneamente, ao retrato de uma era marcante da história contemporânea e à reflexão sobre algumas das nossas lutas do mundo atual.

 

 

Na obra,– no livro sobretudo, e em maior ou menor grau também nas suas adaptações – o quadro geral é muito mais vasto do que “apenas” uma tragédia de amor assolapado. Na verdade, a noção do declínio do Sonho Americano chega a ser tão importante que é mesmo revisto no melodrama entre Jay e Daisy, que arrasta todos os seus amigos num turbilhão de desgraça. A meditação simbólica de Fitzgerald gira à volta de uma América desintegrada, situada numa era de prosperidade e excessos sem precedentes. Excessos esses que propiciam outra crítica e reflexão sociológica bem patente: o vazio da classe alta, que nesta nova era de fortunas, se divide entre a velha aristocracia de East Egg (Tom e Daisy, por exemplo) e os “novos-ricos” de West Egg (Gatsby).

 

Entre outros temas relevantes – aos quais não posso dar a atenção merecida por constrangimentos de espaço e tempo – encontramos a violência, a religião, papéis sociais de género, honestidade, etc.

 

 

The Great Gatsby”, o filme, é, certamente, profundamente divisivo, encontrando paralelos curiosos com uma outra estreia deste mês – “Spring Breakers – Viagem de Finalistas”. Tudo depende na crença pessoal e individual de cada espectador no realizador que dirige os trabalhos, e nesse sentido, ou temos uma das suas adaptações menores, ou a mais metafísica. Das duas uma: ou estilo intrépido e opulento de Luhrmann ignora ofensivamente as condenações sociais de Fitzgerald, ou faz uso desse ridículo excessivo para colocar o mesmo comentário e ainda estender a hipérbole até à natureza atual de Hollywood – da qual ele próprio faz parte.

 

De um modo geral, e excluindo algumas liberdades narrativas (no caso do arco de Nick, por exemplo) e algumas omissões compreensíveis (desenvolvimento de algumas personagens, como Myrtle e Jordan), esta é uma adaptação bastante fiel à obra de Fitzgerald, tanto em termos de “checkpoints narrativos”, como em termos de diálogo propriamente dito.

 

 

O maior problema reside, todavia, na palavra “adaptação”. Porque Luhrmann quis recriar o Gatsby de Fitzgerald, mas a recriação ficou-se em muitas instâncias, pela recitação. E a lealdade literal às palavras escritas não faz, necessária e frequentemente, o sucesso de uma adaptação.

 

The Great Gatsby” é um livro, e foi pensado e escrito como tal, tendo persistido no imaginário de gerações pela equilibrada convergência de fatores que resultaram naquelas exatas palavras, escritas naquele exato contexto. O Cinema é um meio totalmente distinto, que goza da disponibilidade de som e imagens, mas que sofre com os constrangimentos impostos pelo tempo. Ambos contam histórias, é verdade – mas também é verdade que uma bicicleta e um avião nos transportam de um lado para outro, e não é por isso que são minimamente comparáveis, existindo na sua plenitude como meios de transporte individuais. O Cinema e a Literatura funcionam na mesma base, e se Fitzgerald soube explorar ao máximo as qualidades do universo escrito, uma mente semelhante seria requerida para transpor a mesma história para outro meio completamente distinto como o Cinema, algo que, admitidamente, Baz Luhrmann não consegue fazer.

 

 

O realizador australiano não desvendou os segredos do universo ou conjurou alguma magia alquímica que tornam a fabulosa obra de Fitzgerald num semelhante titã narrativo transposto num meio diferente, mas a sua versão está, mesmo assim, longe de monstro que muitos acidamente adivinharam.

 

Luhrmann oferece uma visão provocadora do material base, que pretende ilustrar os seus temas e emoções complexos através da lente do Cinema moderno.

 

O estilo berrante e extravagante sempre foi uma das suas imagens de marca, mas o seu recorrente regresso a histórias de amor impossível parecem permitir o vislumbre de um coração apaixonado e resplandecente. Na primeira metade, o estilo explode numa bola de fogo de vida e cor. Na segunda, Luhrmann sabe diminuir a intensidade (ainda que nem sempre saiba manter o ritmo), e oferece uma narrativa paciente - o climax, curiosamente, tem o sabor de comida aquecida, não estando ao nível do que ficou para trás.

 

 

Como cd para rodar lá em casa ou no carro, a banda sonora atinge vários momentos de genialidade. Todavia, quando chega a altura de contextualização do filme, os resultados são inconsistentes – se por vezes o anacronismo fornece uma nova camada de significado, noutros momentos parece genuinamente deslocada ou subaproveitada.

 

A recriação de Nova Iorque e do Vale das Cinzas funcionam mais no plano de uma realidade sonhada do que propriamente uma autenticidade palpável. Enquanto o 3D não acrescenta grandes valores dignos de nota, é a incomparável identidade visual deste “Gatsby” que, não obstante possíveis críticas, ficará na memória – um eterno símbolo da opulência e extravagância que Luhrmann soube tão bem ordenhar.

 

 

O design de produção orgasticamente sumptuoso e o guarda-roupa (com belíssimas criações de Prada, Miu Miu e Brooks Brothers) são avassaladores, e decerto voltaremos a ouvir falar deles daqui a algunas meses, quando se iniciar a awards season.

 

No elenco, o destaque vai inequivocamente para o homem por detrás da personagem titular – Leonardo DiCaprio convém na perfeição o perigo mercurial e a dualidade que perseguiu Gatsby ao longo das páginas de Fitzgerald. Em Carey Mulligan encontra uma parceria de sucesso, com uma Daisy que equilibra satisfatoriamente um coração dorido e um vazio inexplicável. Joel Edgerton é o verdadeiro leão que Fitzgerald escreveu e Tobey Maguire, sem ser fora de série, dá a Nick a inocência e patetice de um observador exterior, que se convulsa para perceber o que o rodeia.

 

 

Resumindo e concluindo, até porque a procissão já vai longa, talvez Carraway tenha razão: “não podemos repetir o passado”. Talvez seja até essa a razão que justifique a aparente impossibilidade de adaptar o clássico de Fitzgerald. São quase 100 anos de diferença e os meios estão mais diferentes do que uma mente selvagem poderia imaginar. E se não podemos repetir o passado, podemos olhá-lo, refletir, e encarar o futuro.

 

No que podemos acreditar, é que este “Gatsby” pode ser a própria luz verde de Luhrmann, lá ao longe, no final do cais. Também como Gatsby, Luhrmann encontrou na extravagância e excesso a sua forma de a alcançar.

 

Se foi bem ou mal sucedido, isso caberá a cada um de nós decidir.

 

 

7.5/10

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Snorricam - As gritarias de Leonardo

por Catarina d´Oliveira, em 07.05.13
O Leonardo é um homem que sente. E o Leonardo é um homem que se chateia. Ou que às vezes apenas tem necessidade, por algum défice auditivo, de gritar em vez de falar. Ou talvez isto seja tudo uma questão contratual, escondida naquelas letras miúdas, que só depois de assinar é visível: "olha que maçada.. outro filme onde tenho de gritar."
É esta a sina de Leonardo, um homem que grita. Grita que se farta... mas é ótimo a fazê-lo.

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Snorricam - A imitação de Leonardo DiCaprio

por Catarina d´Oliveira, em 11.03.13

Vamos, talvez, ignorar o início do vídeo e a atitude esquisita da entrevistadora, e vamos focar-nos no talento escondido de Leonardo DiCaprio... 

 

 

... imitar as sobrancelhas de Jack Nicholson.

 

 

Começa a haver mesmo muito pouco que o homem possa fazer para lhe darem um Oscar...

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Snorricam - Fabuloso poster de "Inception"

por Catarina d´Oliveira, em 28.02.13

Nota: Só é pena que mais uma vez o DiCaprio seja o sacrificado - desta vez, nem no nome lhe acertaram... É LeonardO.

 

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Um dia o passatempo de Leonardo DiCaprio não foi ser roubado em cerimónias de prémios numa base quase anual, ou sequer era considerado o menino bonito que se mostrou ao mundo ao lado de Kate Winslet em "Titanic" (1996) também ainda não tinha tido uma das mortes mais crueis e desnecessárias da história do Cinema romântico. 

 

Essa não é a Estrela sobre a qual vamos falar hoje; hoje falamos sobre o Leonardo, só.

 

 

Ora o Leonardo é natural de Los Angeles, e vem de uma família de descendência alemã, italiana e russa. A vida artística, ou deveremos dizer "mais mediática" do então garoto DiCaprio começou cedo e com o pé esquerdo - com apenas cinco anos foi expulso do set de "Romper Room" e despedido por ser desordeiro. Tivessem os senhores uma bola de cristal para prever o futuro, e talvez tivessem aguentado um bocadinho mais as pataquadas do petiz DiCaprio.

 

De todo o modo, e ao mesmo tempo que frequentava a escola, o amigo Leonardo começou oficialmente a carreira ao participar em alguns filmes educacionais e em anúncios de televisão. Eventualmente, e isto não interessa muito à história mas deve ser contado por puro divertimento, o Leornardo achou que devia procurar um agente, quando tinha 10 anos. Encontrou-o de facto, mas deparou-se com um ultimato caricato - o agente só aceitava representá-lo se o garoto mudasse de nome (aparentemente, Leonardo DiCaprio era demasiado "étnico") para... Lenny Williams. Graças aos senhores, a coisa saiu furada, e o agente lá aceitou o miudo passado dois ou três anos, mesmo com o nome "pouco apropriado" ao ouvido americano.

 

 

Mas vamos ao que interessa, a carreira do jovem Leonardo que atingiu o seu auge na área publicitária com este fabulástico anúncio às pastilhas elásticas Bubble Yum de 1988, que fez o ator arrastar autenticamente a mãe até ao casting até conseguir o papel. Se não tivesse sido dessa maneira, talvez hoje não tivessemos Oscars para lhe roubar todos os anos...

 

 

E porque o Leonardo fez uma série de anúncios memoráveis, resolvi incluir um...

 

EXTRA: com uma carinha daquelas, com madeixas louras a cair sobre a testa, é de fazer acreditar que o pequeno Leonardo era capaz de vender qualquer coisa. Até camisolas pavorosas, dignas de um filme de terror...

 

 

"I like your sweater..." - Para mais tarde recordar, em dose dupla!

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