Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
[Artigo originalmente escrito para a Vogue.pt]
É oficialmente tempo de sol, surf, protetor, gelados, noites quentes e… filmes de verão. Deixam-se aqui de parte os blockbusters que têm vindo a marcar a estação nos últimos anos para nos focarmos antes naquele género muito específico de cinema criado estabelecer o mood dos três meses mais quentes do ano, seja a recordar aquele verão inesquecível da adolescência ou a reviver a paixão assolapada que mudou tudo.
Como não quero que vos que falte nada, compilam-se neste artigo (dividido em duas partes) uma coleção de 20 filmes a levar na mala nas férias de verão. Ou em alternativa, para aqueles que, como eu, ainda se encontram subjugados às maravilhas das ventoinhas e do ar condicionado, um pretexto para subornar o chefe e conseguir uns diazinhos de férias.
JAWS (1975), de Steven Spielberg
Não há nada que diga verão como perder um ou dois membros para uma besta sanguinária dos mares. JAWS é comummente considerado o primeiro blockbuster da “Nova Hollywood” e ignorar o clássico de Steven Spielberg numa lista de filmes destinada a veraneantes felizes? Impossível. A imagem idílica de Amity Island é despedaçada pelos gritos agonizantes, e com um peixe mecanizado (que agora parece) tosco e apenas duas notas imaginadas por John Williams, Spielberg instalou o medo irracional do mar nas audiências para sempre. Diz o dito popular que “quem vai ao mar perde o lugar”, mas em JAWS, quem vai ao mar perde mesmo é um braço. Ou uma perna.
LES VACANCES DE M. HULOT (1953), de Jacques Tati
No Hotel de la Plage, a massa turística passa umas férias descansadas à beira-mar. Sem tubarões à vista, há outro elemento peculiar que irá semear (involuntariamente) o terror neste espaço balnear: ele é o trapalhão sr. Hulot, Herdeiro de Charlie Chaplin e Buster Keaton, Jacques Tati foi um mago do Cinema (cómico) Mudo, ainda que só tenha realizado meia dúzia de longas-metragens e protagonizado outras tantas. LES VACANCES DE M. HULOT é um clássico do entretenimento pós-guerra e um retrato nostálgico e afetuoso de um dos prazeres humanos mais primários: o tempo de brincar em vez de trabalhar, de respirar o ar puro em vez do ar poluído da cidade, de viver em vez de sobreviver.
Y TU MAMÁ TAMBIÉN (2001), de Alfonso Cuarón
Verão não é apenas sinónimo de praia. Road-trips, boa música, tequila e amigos também entram na lista. E mulheres casadas… Pelo menos é essa a premissa de Y TU MAMÁ TAMBIÉN, o filme de Alfonso Cuarón que também nos permite um olhar independente sobre as mais belas paisagens mexicanas. Tudo isto sem mariachis à vista.
AQUELE QUERIDO MÊS DE AGOSTO (2008), de Miguel Gomes
No coração de Portugal, o mês de Agosto multiplica os populares e as atividades: festas e romarias, foguetes, música e muita animação. Cruzando ficção e documentário e grandes ambições com poucos trocos no bolso, surge um daqueles projetos aparentemente destinados ao fracasso mas que acabou como um título aclamado por esse mundo fora. A pureza das gentes portuguesas em 150 minutos que não podem ser chamados documentais nem ficcionais.
VICKY CRISTINA BARCELONA (2008)
Qualquer filme de Woody Allen é perfeito para uma noite quente de Verão, mas a imperatividade de não inundar esta lista de filmes do realizador americano obrigou-me a escolher apenas um. Vicky e Cristina têm a oportunidade de uma vida nas férias de verão com que são presenteadas em Barcelona. A cereja no topo do bolo? Um encantador “guia” com traços de Don Juan. O alerta? Uma neurótica ex-mulher. É uma viagem imperdível regada com bom vinho, sexo e turistas desapropriadamente atraentes.
MEATBALLS (1979), de Ivan Reitman
Talvez mais ainda do que um psicopata com uma machete em punho e um tubarão branco esfomeado, MEATBALLS não é propriamente o título mais atrativo para um filme, sobretudo um filme de Verão – além de que atrapalha imenso a linha, e o bikini não deixa espaço a ilusões de ótica muito favorecedoras. MEATBALLS é, contudo, o título de um dos mais icónicos filmes de verão do cinema americano: o cenário do acampamento é autenticamente previsível, com direito a corridas em sacos de batatas e despertar com adoráveis megafones, mas a primeira aparição cinematográfica de Bill Murray vale nem que seja por si mesma.
THE SANDLOT (1993), de David M. Evans
A epitome do espírito do verão inesquecível capaz de abanar as memórias mais recônditas chega sob a forma de Sandlot, um filme sobre as aventuras de um grupo de crianças que envolvem baseball, casas-de-árvore, nadadores-salvadores atraentes, o gosto de viajar e um misterioso cão que come bolas. Resta deixar um aviso aos espectadores – PERIGO de nostalgia eminente de uma vida sem preocupações onde o Hakuna Matata é lei.
LITTLE MISS SUNSHINE (2006), de Jonathan Dayton e Valerie Faris
Do alto de uma vida adulta com os dias de férias contados, relembramos hoje com desmesurada nostalgia as viagens de família que alegravam a infância e obscureciam a adolescência. Em LITTLE MISS SUNSHINE, revisitamos essa realidade dicotómica ao acompanharmos por mais de 1000 km os Hoover, uma família fabulosamente disfuncional que, à custa de muita dificuldade, catástrofe cómica e cabeçadas na parede, se une para levar o membro mais jovem da família a um concurso de beleza que esta está destinada a perder do outro lado do país numa pão-de-forma amarela. Uma viagem onde estaríamos prontos a embarcar de olhos fechados.
500 DAYS OF SUMMER (2009), de Marc Webb
Descrever um filme como “fresco que nem um pepino” pode não ser a forma mais eficiente para chamar a atenção dos espectadores para as suas qualidades. Mas a verdade é que a expressão se aplica a 500 DAYS OF SUMMER, uma das dramédias mais brilhantes e atípicas do jovem século. Mas voltemos ao pepino – o sabor húmido e fresco é perfeito para o Verão, da ajuda prestada ao combate do envelhecimento. O mesmo se passa com o título de Marc Webb, o retrato realista de um Amor perdido e achado, capaz de rejuvenescer o mais carrancudo fóssil. Pode não ser uma representação clara da estação mais apetecida, mas a encantadora Summer Finn chega (e sobra) para os propósitos desta lista.
DAZED AND CONFUSED (1993), de Richard Linklater
Se nos dedicarmos a uma busca intensiva, é possível encontrar filmes onde Matthew McConaughey não ande a bambolear-se em tronco nú a toda a santa hora na sua primeira década e pouco de carreira. É uma tarefa árdua, admito, mas é possível. DAZED AND CONFUSED é um deles, o clássico de culto que retrata os primeiros momentos das férias de verão de um grupo de adolescentes: aquelas primeiras horas de pura liberdade, a euforia que acompanha o último toque da escola. Capturando fielmente o espírito dos anos 70, é um filme que “é” o início das férias, e não um filme sobre o início das férias. E aí está uma grande diferença, uma diferença que o eleva ao estatuto de filme de culto.
Mergulhei no baú das recordações para relembrar alguns dos jogos baseados em filmes mais… peculiares… da história. Nem sempre necessariamente maus – ainda que às vezes sejam mesmo péssimos – esta é uma compilação de jogos inspirados em filmes insuspeitos que acabaram por marcar a indústria (ou as nossas memórias) indelevelmente.
“Fight Club”, um dos grandes filmes de culto das últimas décadas… não propriamente o material mais óbvio para um jogo, mas ainda assim, passível de ser transformado num veículo engraçado de execução do Project Mayhem, por exemplo.
Mas as fabulosas mentes criadoras por de trás de “Fight Club - Videogame” acharam que sabiam tudo da vida e do enredo a olhar para o nome do filme. Assim, o que acabámos por receber foi uma versão pechibeque de Street Fighter/Mortal Kombat com tipos fininhos ou barrigudos a lutar sem razão aparente em casas de banho e becos manhosos.
E o jogo é de 2005, portanto não venham com tretas – ao menos os gráficos podiam ser qualquer coisa de jeito.
Pontos extra (negativos): Abraham Lincoln é uma das personagens desbloqueáveis, ao lado de… Fred Durst. Esse mesmo, o vocalista dos Limp Bizkit… curiosamente, o exato tipo de “ícone” consumista que o filme critica.
Pontos extra (positivos): A representação dos seios de Bob é bastante precisa.
Não é que seja propriamente mau… mas é só esquisito alguém ter-se lembrado de criar um jogo para “The Breakfast Club”, onde o objetivo é apanhar maços de tabaco para salvar a Claire e fazer com ela... o amor.
Parece um padrão manhoso, alvo de uma qualquer macumba pouco própria, este que permite que os jogos baseados em filmes de Steven Spielberg sejam tão medonhos. Não contente com apenas um jogo passível de arruinar a sua imaculada reputação como o “primeiro blockbuster oficial de Hollywood” e grande filme de terror, “Jaws” tem dois jogos a trabalhar nesse sentido.
O jogo de 1987 lançado para NES coloca-nos a conduzir um barco ao caso, ocasionalmente a chocar com coisas e a nadar de um lado para o outro, evitando sermos comidos por um tubarão que vários jogadores dizem nunca ter visto.
Quase 20 anos depois, os saltos tecnológicos e despedimentos de profissionais que preferiam dormir enquanto criavam jogos faziam adivinhar um futuro menos funesto a “Jaws Unleashed”, lançado em 2006. Aceção novamente errada – além dos controlos horríveis e câmaras que só dava vontade de pontapear, apesar desta vez nos permitir tomar controlo do “vilão”, este desenvolveu algum tipo de consciência que só lhe permite fazer matar pessoas más e trazer a paz ao mundo… mas o tubarão tem sempre muita larica.
Depois a Enorme obra de Victor Hugo fazer sucesso nos palcos e nos Cinemas, já estava mais do que na hora de o fazer no mundo dos jogos – sobretudo tratando-se de um jogo de pancadaria.
O jogo chama-se "Arm Joe", e é japonês – o nome deve-se ao facto de, naquele país, “Os Miseráveis” serem conhecidos como “Aa Mujou”. O jogo foi criado para PC e obviamente não é um produto oficial – parece mesmo caseiro. Aliás, por falar nisso, quando perguntaram ao seu criador porque é que passou cinco anos a desenvolver o jogo, ele respondeu: “porque não tenho amigos”.
Mas quem liga a isso quando pode engajar-se em festivais de pancadaria entre Valjean, Javert, Marius, Eponine e especialmente Cosette?
Pontos extra (negativos): Todos os personagens falam… menos Marius, por alguma razão desconhecida.
Pontos extra (positivos): Os personagens têm poderes e aparentemente o Javert consegue conjurar meteoritos em forma de Kamehameha.
Não é, em rigor, um jogo sobre o clássico de Stanley Kubrick "2001: Odisseia no Espaço", mas é uma complexa e impressionante combinação deste com o popular jogo Tetris. O objetivo é criar um monólito com as peças pretas.
Pontos extra (positivos): Durante o jogo, passam cenas e banda sonora do filme em pano de fundo.
É comummente considerado o pior jogo baseado num filme de sempre, e voltamos a encontrar Steven Spielberg na lista, desta feita com “E.T.”, para a Atari 2600. O pai e a mãe dos flops dos “movie games”. Na verdade, não é um jogo, é um teste de resistência, e é tão pavoroso que chega a ser apontado por muitos como uma das principais razões da enorme recessão que atacou a indústria de jogos entre 1983 e 1985, e que levou, inclusive, à falência da Atari, prevalecendo a lenda urbana de que apenas 1,5 milhões dos 4 milhões produzidos foram vendidos, sendo milhares deles enterrados num aterro no Novo México.
Pontos (positivos): não há; mas se pensarmos que o criador do jogo só teve cinco semanas para o desenvolver (por obrigação de o lançar no Natal de 1982), quase não parece assim tão mau. Mas é.
Partir do conceito de um jogo que é baseado num filme que ainda por cima é mau, que por sua vez, é baseado num jogo com e celebrado, parece uma ideia palerma, destinada a resultados dolorosos e cancerígenos para gamers por esse mundo fora.
Infelizmente, ninguém se pôs à frente do camião da morte, e a ideia diabólica concretizou-se mesmo, em 1995.
Para provar que não só os jogos antigos que são marretas, revisitemos “The Hunger Games Adventures”, que com a potencialidade de aproveitar uma mina de ouro na indústria dos jogos, tem uma criação aborrecido, repetitiva, pouco, ou alias NADA original para iPhone/iPod/iPad/Facebook.
Pontos extra (negativos): é uma versão rasca do farmville.
Mais uma vez, é a lógica tripartida (começa num livro, passa pelo filme e culmina no jogo), mas serve para o propósito.
Em 1990, o clássico de F. Scott Fitzgerald, que até ao momento teve a sua versão cinematográfica mais relevante na versão de 1974 realizada por Jack Clayton, recebeu o tratamento pixelizado por cortesia de Charlie Hoey e Pete Smith, que passaram um ano inteiro a desenvolver o jogo. No enredo, tomamos a parte de Nick Carraway em busca do sonho americano, sempre acompanhado do seu chapéu boomerang mortífero.
Pontos extra (positivos): Os criadores do jogo deixaram-no em open source para que outros programadores o possam alterar ou adaptar se assim desejarem.
Não consigo avaliar se o jogo é bom ou mau (aliás, o modo "dance off" é apenas uma da cinco secções disponíveis)… mas ver o próprio Darth Vader acompanhado de um punhado de Stormtroopers a dançar em “Kinect Star Wars” é uma experiência surreal e reveladora – além de um dos maiores vilões modernos do Cinema, é também, e certamente, o melhor bailarino.
Se há alguma coisa mais horripilante que “Friday the 13th” só mesmo o seu jogo correspondente, e não pelas razões mais felizes. A possibilidade de jogar com Jason é logo posta de parte – só podemos ir saltitando de jovem vítima em jovem vítima, até a anterior ser estraçalhada pelo vilão… à luz do dia… em câmara lenta. Resumindo e concluindo, eis as nossas duas tipologias de ações: correr e morrer.
Pontos exta (negativos): temos a possibilidade de ser realmente fieis aos filmes e fazer o papel de vítimas burras que nem uma porta, que em vez de fugir, procuram os assassinos em série.
Pontos extra (ainda mais negativos): tecnicamente, era possível acabar o jogo em cerca de três minutos.
É sempre ligeiramente injusto fazer pouco de jogos que, claramente, não tinham ainda as grandes potencialidades de hoje ao serviço das suas tecnologias, hoje aparentemente tão pré-históricas que são quase equivalentes a uma pintura rupestre cibernética. De todo o modo, e enquadrando devidamente as disposições da época, continuava a haver bons jogos, maus jogos e péssimas desculpas para gastar eletricidade. “Total Recall” é um infame representante da última categoria.
Passar de um filme de rating R para um jogo acessível a crianças, não é tarefa fácil… mas daí a transformar o enredo do jogo na tentativa de um gorila indistinto (Arnold Schwarzenegger) cujas duas única linhas de ação são saltos e amostras de murros de escapar a ataques de anões de macacões cor-de-rosa vai um grande pedaço.
Há esta coisa no mundo dos jogos cujos enredos vieram transferidos de um sucesso do grande ecrã – espera-se que, de alguma forma, a narrativa apresentava seja mais ou menos fiel à do filme. Se tivermos esta asserção como dogma e se, por hipótese, nunca tivéssemos posto os olhos em “Back to the Future”, ainda hoje acreditaríamos piamente que se tratava da história infortuna de um rapaz que passava a vida a fugir de abelhas assassinas e homens de cor-de-rosa (outra vez!), enquanto aumentava religiosamente a sua coleção de relógios. Às vezes o garoto andava de skate – a parte que, efetivamente, é fiel ao filme.
Pontos extra (positivos): em caso de intoxicação alimentar, os comandos são tão tremeliques que induzem o vómito com bastante eficiência.
No espectro “mais surpreendente” da indústria dos jogos inspirados em filmes, há maus filmes que dão origem a bons jogos e há bons filmes que dão origem a maus jogos. Depois há a categoria do buraco negro – maus filmes que dão origem a jogos ainda piores, e que até fazem parecer o mau filme uma obra de arte. É esse o caso de “Charlie's Angels: Full Throttle”.
Considerado por muitas publicações como “o pior jogo de sempre”, encapsula em si gráficos inacabados, animação pobretanas, gameplay horrífico, paredes invisíveis intransponíveis e um enredo que nem sequer faz lembrar os Anjos, apesar de repetidamente as colocar em lutas acrobáticas capazes fazer Matrix corar em bikinis mínimos.
Das duas uma: ou isto é brilhante para lá da compreensão, ou simplesmente perturbador.
Pontos extra (ambíguos): beba-se um shot de cada vez que se encontra uma personagem semi-nua.
Menções (nem sempre muito) Honrosas
"Catwoman" (PC, GBA, Xbox, PS2, Game Cube)
"Iron Man" (PS2, PS3, PSP, Wii, Nintendo DS, Xbox 360, Mobile, PC)
"Raiders of the Lost Ark" (Atari 2600)
"Enter the Matrix" (PC, Game Cube, PS2, Xbox)
"Cliffhanger" (SNES, NES, Gameboy, Game Gear, Mega Drive, Amiga, Mega CD)
"The Texas Chainsaw Massacre" (Atari 2600)