Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Um dos pontos fulcrais na envolvência de um filme que quer ter sucesso é a sua campanha de marketing. Posters, releases, outdoors, tudo isto contribui para, como Cobb de Inception descreveu tão bem, criar uma ideia, um parasita resistente na mente das pessoas: “eu quero ver aquele filme”.
Ter um bom trailer, é meio caminho andado para encher uma sala de cinema. De facto, não aconteceu tantas vezes vermos um trailer que nos arrepiou a espinha e depois chegarmos ao filme e adormecemos a meio? Ou o contrário… pôr de lado um filme que até era bom, mas quando vimos o trailer não gostámos.
Enfim… eu cá gosto de pensar que fazer um trailer é como trabalhar numa obra de arte. É verdade que trabalhamos a partir de material que já existe, mas acredito que aquela mistura certa entre a imagem e o som só surge muito raramente.
Um trailer deverá ter entre 30 segundos e três minutos, sendo que o ideal está entre o minuto e meio e os dois minutos e meio. Por pior que o filme seja, tem de ter pelo menos 30 segundos de imagens porreiras numa carrada de horas de filmagem…
Quando se faz um trailer tem de se pensar grande: “toda a gente tem de querer ver o meu filme!”. Temos de fazer com que o filme pareça maior que a vida e que a alma. E mesmo que o filme não valha um centavo e os espectadores saiam desiludidos, bem… pelo menos foram ver o filme não é?
Para já é preciso saber fazer três coisas:
Não há nada mais importante do que levar o máximo de pessoas possível a ver o filme. Devemos convencer a audiência de que o nosso produto é merecedor do seu tempo e, especialmente, do seu dinheiro. E para isto, não há nada que encaminhe melhor do que um bom trailer.
E depois desta lição rápida sobre como nos prepararmos para fazer um trailer de um filme… vamos lá embora fazer um. Com isso em mente, deixo-vos uma pequena lista com alguns dos “musts” de um Trailer com “T” grande – alguns bons, outros nem por isso.
*** *** ***
1. Arranjar um senhor com voz grave, melódica e carismática para o Voice Over.
Se não conseguirem, gravem a vossa própria voz e alterem no computador até parecerem padecer de algum mal de garganta funda.
Visto em: (500) Days of Summer.
2. Mostrar as melhores partes.
Correu tudo mal durante a produção e acabamos com um aborto em forma de filme. Ainda assim, é preciso pagar os ordenados e as contas, logo, é preciso trazer as pessoas ao cinema. Pegue-se nas melhores partes do filme (explosões, lutas, gritos, choros, por aí fora) e juntem-se todos no trailer. Depois é só fazer figas.
Visto em: Clash of the Titans
3. Não se preocupem com os Spoilers.
Nesta era em que a circulação de informação ultrapassa tudo e todos, é preciso fazer um filme dentro de um poço para manter segredo sobre o seu enredo, personagens, etc por mais do que dois minutos. Dois e meio, vá. Já que é para estragar o factor surpresa, escarrapache-se tudo no trailer. Se morre alguém, vai de se mostrar sangue, explosões e tudo o que haja para oferecer. O mau da fita? Mostre-se também! Se possível, a fazer coisas más para não se ter mesmo dúvidas.
Visto em: Carriers, Red Dragon.
4. Usar a “Lux Aeterna” de Clint Mansell ou “Hello Zepp” de Charlie Clouser.
As músicas escritas respectivamente para Requiem For A Dream e Saw, são utilizadas repetidamente em trailers de outros filmes. Deve ser um pré-requisito.
“Lux Aeterna” vista em: I Am Legend, Sunshine, The Da Vinci Code, Avatar
“Hello Zepp” vista em: The Box, Valkyrie, Deja Vu.
5. Se não é falado em inglês, não avisem ninguém.
Dizer que é estrangeiro afugenta as pessoas. Nos países de língua inglesa eles não querem ler legendas, e nós por cá não queremos ouvir outra cantiga que não a da língua de Shakespeare. Corte-se o diálogo todo e se for preciso, meta-se aquele senhor da voz grossa a fazer voice-over.
Visto em: The Girl With The Dragon Tattoo.
6. Mostrar partes de críticas.
Afinal, um filme pode sempre apoiar-se em algumas críticas sensacionais que o acham o “melhor do ano”. Só não inventem críticos, isso não dá bom resultado.
Visto em: A Single Man
7. Mostrar os efeitos visuais.
Os trailers devem capitalizar sempre os efeitos visuais de maior categoria. Além disso, todos os filmes devem ter efeitos especiais, como bem manda a Bíblia de Hollywood.
Visto em: The Matrix, Tron: Legacy
8. Espingardice de nomes, trabalhos passados e reconhecimentos.
Para os actores, isto funciona à base de prémios. Quanto à realização, a não ser que tenhamos um familiar bombástico no negócio (género Spielberd ou Scorsese), esta coisa dos nomes não tem muito por onde arder. Ninguém quer saber se o filme da afilhada do filho do marido da amante do peixe de aquário do James Cameron… Se forem um realizador famoso, toca de escarrapachar os trabalhos passados todos, mesmo que o filme presente não preste. Ao menos é bom lembrar que fizemos algo bom.
Visto em: Avatar, Black Swan
9. Colocar taglines portentosas.
Os trailers não são nada sem aquelas frases magistrais (às vezes bem ranhosas) que acompanham o desenrolar dos acontecimentos. Na altura em que escrevo isto, lembro-me novamente de Clash of the Titans, cujo mote era “Titans will clash”… mas depois devem ter reparado que era demasiado óbvio e mudaram para “Damn the Gods”, que é apenas.
Visto em: Ah, todos os filmes basicamente.
10. Mostrar cenas que não aparecem no filme.
Um bom passatempo para quem é apaixonado pelo cinema e não tem muito que fazer é ver um filme e rever o seu trailer à procura daquelas cenas que o nosso inconsciente não esqueceu enquanto víamos o filme. A parte má? Às vezes são as nossas partes favoritas do trailer.
Visto em: Predators
--- " --- " ---
E pronto, a lição está dada por hoje. Dúvidas? Reclamações? Mais algumas sugestões?
Não deixem de partilhar amigos.