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Point-of-View Shot - The Diary of a Teenage Girl (2015)

por Catarina d´Oliveira, em 05.04.16

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"I had sex today... Holy shit"

 

Todos o vimos acontecer antes – ou por outra, tentar acontecer. É que a cena indie está pejada de tiros de pólvora seca quando se carregam os canhões da exploração do despertar sexual feminino. De facto, e apesar de as tentativas não serem propriamente raras, são escassos os exemplos que não se revelam demasiado moles ou genéricos ou por outro lado mal-intencionados na abordagem. Ora não nos parece de todo descabido iniciar esta análse assegurando que o assertivo e vigoroso filme de Marielle Hellner consegue fazer o que tantos outros apenas desejaram.

 

Minnie Goetze tem 15 anos, quer ser desenhadora de comic books e está a crescer no ambiente frenético da São Francisco dos anos 70, em plena ressaca do Flower Power. É uma típica adolescente em quase tudo, exceto no facto de descobrir o sexo com o namorado da sua mãe, com quem acaba por manter uma relação, mesmo depois desta o descobrir... Mas desengane-se quem visualiza Minnie como uma prima não muito afastada de Lolita. Minnie é entusiástica, é louca por sexo e não tem medo de fazer algo relativamente a essa situação, o que se coaduna na perfeição com o sentimento de emancipação e libertação sexual que se faz sentir ao longo de toda a película.

 

diary-of-a-teenage-girl.jpg

 

A base dos trabalhos é o romance homónimo e (semi-)autobiográfico de Phoebe Gloeckner, e ainda que a história de Minnie seja, de um modo geral, bastante previsível, é a abordagem do seu retrato, tão resoluta quanto refrescante, que o diferencia dos demais primos afastados.

 

Seria difícil de prever que uma tão confiante e arrojada produção surgisse das orquestrações de um maduro cineasta, mas a verdade é, de facto, que este é o primeiro filme dirigido por Marielle Heller. A abordagem desta peculiar comédia dramática sobre a nem sempre gloriosa transição entre o início da sexualidade juvenil para a assumida maioridade é absolutamente desarmante, tornando difícil relembrar um outro filme sobre o crescimento/adolescência (ou coming-of-age, à falta de um melhor termo na língua de Camões) tão apostado na manutenção de uma posição livre de julgamentos e críticas aos seus protagonistas.

 

Fundido numa paleta inspirada em polaroides e embebida numa banda-sonora apaixonada pelos anos 70, o filme mantém-se fiel às suas origens da B.D. ao incorporar algumas versões animadas de ilustrações da autora – o dispositivo que já não é novo nas lides indie ganhar aqui uma dimensão especial e intencional ao dar vida às fantasias febris de Minnie que, por sua parte, é também uma aspirante a artista gráfica.

 

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Bel Powley é absolutamente sensacional ao trazer Minnie à vida, numa performance excecionalmente corajosa e modulada. A sua inconstante protagonista é um ponto de desequilíbrio constante, podendo ser amorosa e inocente, para no momento seguinte se revelar quase cruel e manipulativa. É um poço de contradições que caminha entre a infantilidade e a “adultez”, a vulnerabilidade e a emancipação. Ela não é um cliché ou um poster ou uma figura de representação – é o desabrochar de uma jovem mulher disposta a conseguir o que quer, seja isso o que for.

 

Como uma mãe com sérios défices de capacidades maternais, Kristen Wiig vem reiterar o seu incrível talento para as lides dramáticas (que se vêm acrescentar ao seu impecável mas já bem conhecido e glorioso timing cómico). No entanto, o papel mais desafiante do plano secundário é inequivocamente o de Monroe, que se faz acompanhar do símbolo universal de tendências sexuais duvidosas: um bigodinho isolado. Correndo sempre o risco de caminhar perto demais de uma caracterização reles e tirana, nunca é vilanizado pelo argumento ou pela fantástica performance de Alexander Skarsgård, que apesar de lidar com o “boneco” mais difícil de criar empatia, consegue desenvolve-lo como alguém surpreendentemente amável para Minnie e Charlotte.

 

Globalmente, há níveis do questionável comportamento de Minnie que não são tão óbvios construtores da persona de uma mulher adulta e confiante, mas The Diary of a Teenage Girl é um inequívoco hino à emancipação feminina e à valerosa mensagem de necessidade de autoestima.

 

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Moralmente complexo e por vezes desconfortavelmente próximo de verdades desassossegadas, o filme de Hellner mantém uma honestidade fascinante, dura e frustrante – um espelho da própria adolescência. Aqui temos uma janela sem filtros do universo de sexualidade, manipulação e exposição franca de Minnie sobre a necessidade de ser desejada, amada e abraçada.

 

“Isto é para todas as raparigas quando tiverem crescido”, partilha Minnie com o seu fiel gravador de cassetes. Não sendo necessariamente um crowd pleaser no seu sentido mais tradicional, The Diary of a Teenage Girl tem toda a frescura, determinação e desembaraço para se tornar um marco nesse célebre sub-género de culto que são os filmes de crescimento.

 

E o tempo não deverá tardar a validar esta previsão.

 

 

8.0/10

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Point-of-View Shot - Spotlight (2015)

por Catarina d´Oliveira, em 10.02.16

 

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"I'm not crazy, they control everything"

 

Há vários tipos de filmes no mundo, mas apenas alguns deles têm o potencial de nos inspirar (nem que momentaneamente) a mudar de carreira.

 

Rocky fez-nos querer acordar cedo, tomar suplementação e treinar incansavelmente. Braveheart fez-nos querer pintar a cara e lutar pela liberdade com um kilt. Gandhi fez-nos querer ser melhores humanos. Que diabo, Forrest Gump fez-nos querer correr como se não houvesse amanhã!

 

Depois há Spotlight... o filme que nos impele a procurar temas fraturantes e esmiuçá-los até não sobrar nada mais que osso e uma revelação essencial.

 

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E se nos permitem o auxílio de uma útil analogia, o filme de Tom McCarthy é como uma boa banda de cera: uma vez colocada, já não há volta a dar, só resta arrancar. Ambientado ao estado de coisas em 2001, a película baseia-se em factos verídicos e segue a tenaz equipa de repórteres de investigação do Boston Globe. Liderada pelo respeitado mas rebelde Robby, a equipa conhecida por Spotlight trabalha afincadamente para investigar alegações de abuso no seio da Igreja Católica, mas nada os podia preparar para o alcance catastrófico do escândalo ou o quão longe vai a praga de fraude e apatia.

 

Cinematograficamente falando, o conceito de recontar a história de Spotlight tinha tudo para correr horrivelmente mal, mas sob a alçada da mestria de McCarthy, tudo se conjuga com a mais refinada precisão. Honestamente falando, Spotlight é um dos melhores dramas sobre jornalismo de investigação da história do Cinema, equilibrando-se nas alturas com as icónicas presenças de gigantes como All the President's Men ou The Insider.

 

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Equilibrado e astucioso, Spotlight é especialmente exímio na exploração da “área-cinzenta”. Se por um lado os vilões não podem exatamente ser considerados exclusivamente vis, também os heróis não são retratados como tal, estando inclusivamente abertos a um retrato que não persiste sem uma parte de mácula. “Se é preciso uma vila para criar uma criança, é preciso uma vila para abusar de uma”, diz, a certa altura, um dos personagens. E no filme de Tom McCathy ninguém sai incólume.

 

O elenco é formidável, de uma ponta à outra, e grande parte da razão para o sucesso da película. É que este trata-se de um puro exercício de “esforço de equipa”, onde cada ator trabalha com a inteligência da subtileza para não roubar qualquer foco ou importância ao poder do material-base, e no entanto, toda e qualquer performance é crucial para o sucesso do conjunto.

 

O sentido de gestão e contenção é transportado para o fantástico argumento, um musculado exercício em economia – cada palavra importa e cada cena existe com um propósito: o de levar a investigação mais longe. Adicionalmente, não há atalhos desnecessários para a vida pessoal de qualquer um dos jornalistas, o que nos obrigaria ou a requerer um ponto-de-vista único e profundo ou a solicitar a amalgama dos pontos-de-vista de todo o elenco. Ambas revelar-se-iam tarefas incompletas ou virtualmente impossíveis. E McCharthy e Josh Singer escolheram a premissa do distanciamento, dando-nos a conhecer apenas o estritamente necessário sobre cada um dos jornalistas e deixando que o seu trabalho defina o resto da sua figura cinematográfica.

 

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Por outro lado, os sobreviventes não são vítimas – uma diferença crucial estabelecida pelo filme – e o argumento dá um honroso espaço às suas desoladoras histórias e experiências que, emergindo de uma catarata de vergonha, medo e lágrimas, nunca são reduzidas a meros adereços para chegar a um determinado fim.

 

McCarthy orquestra a investigação procedural com precisão cirúrgica, aplicando uma noção de ritmo inacreditável para um filme que contem cenas que se estendem por minutos e que versam sobre esse “lírico” tema que é o obstáculo da burocracia para aceder documentos selados pela justiça mas abertos para consulta pública. E, como que por magia, essas são genuinamente entusiasmantes.

 

Mas o sabor que fica na boca depois de um autêntico showcase de exímia subtileza e contenção estilística não deixa de ser angustiante, como se cinzas se desfizessem na boca. Porque é impossível afirmar com franqueza de um espírito puro que se gostou do filme de McCarthy.

 

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O derradeiro e mais violento soco no estômago chega no final. Spotlight não é um filme para se gostar. É um filme para enraivecer, para gritar. Para acordar e magoar. E como a respetiva reportagem que o inspirou e que não podemos esquecer, é um filme para nos mudar.

 

Tenso, meticuloso e pernicioso, Spotlight é a narração essencial de um escândalo contemporâneo.

 

 

8.5/10

 

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Point-of-View Shot - Joy (2015)

por Catarina d´Oliveira, em 03.02.16

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"Don't ever think that the world owes you anything, because it doesn't. The world doesn't owe you a thing"

 

Era uma vez, uma bela e pura menina de cabelos dourados, filha de um comerciante de sucesso, que sonhava com uma vida feliz e preenchida, num futuro que desejava não muito distante. Um dia, um príncipe encantado chegou, arrebatou-a e salvou-a de uma existência infeliz e abusiva, e viveram felizes para sempre.

 

Esta é a história de Cinderella, e esta poderia muito bem ser a história de Joy. Contudo, em contos que não são de fadas, mas de gentes, não há príncipes, nem carruagens mágicas, nem feitiços até à meia-noite. Há independência, dedicação sem horários e... uma esfregona milagrosa.

 

Inspirado nas histórias verdadeiras de mulheres audazes’: assim abre portas o “Joy” de David O. Russell, que poderia simplesmente ter pedido emprestada a citação que introduziu o irmão mais velho, “American Hustle”: ‘alguns destes factos aconteceram realmente’.

 

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O nono filme no currículo do realizador nova iorquino é dissolutamente baseado na história de Joy Mangano, uma mãe solteira de Long Island que, no início dos anos 90, revolucionou a sua vida de simplicidade ao desenvolver uma invenção miraculosa que facilitaria a vida doméstica a muito boa gente e que a tornaria numa superestrela das (agora olvidadas) televendas. 

 

Numa primeira instância, e apesar de sofrer de diversas maleitas – já lá iremos - “Joy” é deliciosamente refrescante: Hollywood não se coíbe de explorar insistentemente a galinha de ovos de ouro que é o ethos nacional do Sonho Americano, mas são raras as vezes em que esse sonho se transporta de salto alto e se fortalece à base de estrogénio palpitante. Contemporaneamente feminino (sem ser pejorativamente feminista), “Joy” é uma ode à mulher moderna.

 

E já que falamos em mulher moderna... Entre bochechas redondas e olhar juvenil, é difícil engajar a suspensão de descrença ao ver Jennifer Lawrence passar por uma trintona com dois filhos, mas se “Joy” teve algum êxito indiscutível foi nesta sua inesperada aposta. No seu papel mais carnudo desde “Despojos de Inverno” – o glorioso e humilde indie que a lançou na rota do estrelato em meados de 2010, e que lhe valeu, inclusive, a primeira indicação a Óscar – Lawrence marca uma posição forte e credível, construindo uma personagem relacionável e estratificada que serve de derradeira boia de salvação entre a ciclónica bagunça tonal de O. Russell. É ela que consegue, ainda que marginalmente, colocar o filme com os pés na terra. E sempre que surge uma oportunidade para brilhar, Lawrence não desaponta, seja na dureza com que enfrenta a desonestidade de oblíquos homens de negócios, seja no retrato matizado que faz de uma mulher simples mas de grandes ideias.

 

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À exceção de um competente e sóbrio Bradley Cooper, o elenco secundário (composto, entre outros, por Robert De Niro, Isabella Rosselini e Virginia Madsen) pouca margem tem para dar ares de sua graça, muito culpa do argumento, muito mecânico e pouco emocional, que torna a família de Joy particularmente subdesenvolvida, irritativa e caricaturada, com o objetivo simultâneo mas pouco conseguido de arrancar gargalhadas e estabelecer contraste com a honrada protagonista.

 

Esta é, na verdade, uma deformidade (infelizmente) atual de O. Russell, que parece cada vez mais obstinado em incluir “caricaturas do seu tempo” em cada uma das suas produções, apenas porque o pode fazer. De facto, a “família tóxica” sempre fez parte do núcleo dos seus temas recorrentes, mas enquanto noutros momentos existiu uma forte ligação entre a opressão e a rejeição e o amor e a necessidade, explorando-se depois o impacto e significado dessa relação abusiva para o protagonista, “Joy” não vai além do subdesenvolvimento e da inconsequência de uma família disfuncional apenas porque é disfuncional, nem sequer explorando os verdadeiros efeitos que essa realidade abusiva teria na protagonista ou sequer abordando a natureza controversa da dinâmica dessas relações negativas – matéria em que O. Russell já foi, inclusive, especialista (veja-se a destreza com que o fez, por exemplo, em “The Fighter”, 2010).

 

Rapidamente, o dispositivo torna-se então progressivamente mais fatigado e, naturalmente, atrasa todo o restante processo narrativo e emocional. Assim, a primeira parcela da fita – mais focada no ambiente familiar e a consequente rutura do mesmo – é manifestamente mais morosa e menos dinâmica.

 

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É a partir do segundo ato que “Joy” brilha – talvez no momento em que o realizador deixa de se encantar por cartoons e volta a interessar-se pela história da mulher que o inspirou em primeiro lugar – tornando-se verdadeiramente envolvente e eficaz, deixando-se submergir nos sucos da fascinante envolvência empreendedora do enredo.

 

Consequentemente, o filme de O. Russell não ressoa propriamente como uma biografia memorável, mas mais como uma leve e fofa fatia de espírito empreendedor, contaminada por um ritmo inconstante, uma direção incerta e um grupo de personagens secundários desconfortável.

 

Há uma película notável algures, mas poluída por uma contaminação que não lhe pertence. Afinal, talvez lhe faltasse uma ou duas passagens pela tal esfregona milagrosa...

 

 

7.0/10

 

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Point-of-View Shot - What We Do in the Shadows (2014)

por Catarina d´Oliveira, em 25.10.15

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"Deacon: I think we drink virgin blood because it sounds cool.

Vladislav: I think of it like this. If you are going to eat a sandwich, you would just enjoy it more if you knew no one had fucked it."

 

 

Façamos um pequeno exercício de projeção: somos todos vampiros. À parte de toda a espetacularidade aparente de sermos, potencialmente, um ser mitológico sensualão, que tipo de dificuldades poderíamos encontrar no mais mundano dos dias?

Afinal não poderíamos confraternizar socialmente no exterior à luz do Sol; nem organizar devidamente uma indumentária catita para uma noite fulgurante de copos (de sangue) porque não conseguimos ver-nos ao espelho; nem entrar num clube badalado se não nos convidarem; nem suportar que o nosso colega de casa se recuse a limpar a badalhoquice que orquestrou quando matou alguém na noite passada.

Resumindo e concluindo, não seria fácil, mas o que é fácil é imaginar agora como esta série de situações poderia gerar comédia do mais alto gabarito. Foi essa a ideia vencedora de Jemaine Clement e Taika Waititi.

 

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Em Wellington, uma curiosa e corajosa equipa de filmagens mune-se de crucifixos e dentes de alho para tentar filmar um documentário numa casa partilhada por quatro vampiros. Começamos por conhecer o líder assumido Viago, uma figura que se orgulha do aspeto janota e que se queixa recorrentemente dos colegas de casa por se escaparem às tarefas domésticas. Segue-se Vladislav, um macho latino do lado negro, aborrecido por ter perdido o poder que detinha há 800 anos. Deacon é o bad-boy do grupo, sempre descontente e em desacordo com as imensas regras impostas por Viago. Por fim temos Petyr, que do alto dos seus 8000 anos de vida e uma tez que certamente já viu melhores dias, prefere manter-se recluso na cave da casa, longe da convivência com os outros. No entanto, quando os vampiros conhecem os humanos Nick e Stu começa a verdadeira viagem de traços hilariantes à medida que os mortos tentam compreender mais da sociedade atual.

Fazendo pelos vampiros o que “This is Spinal Tap” fez pelas bandas de Rock, “What We Do in the Shadows” é, na sua génese, uma comédia sobre a dificuldade de ser (MUITO) diferente.

 

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Depois de explorarem o conceito do que seria a vida de vampiro no quotidiano atual na curta-metragem “What We Do In the Shadows: Interviews with some Vampires” (2005), Taika Waititi e Jemaine Clement decidiram aproveitar a mesma ideia para concretizar, nove anos depois, a respetiva longa-metragem.

É verdade que, a certa altura, parece tornar-se longo demais para o seu próprio bem, um problema comum no sub-género do “mockumentary”, especialmente quando se tenta criar uma história a partir de 120 horas de improviso louco – pois foi assim que se edificou, efetivamente, esta comédia que demorou aos realizadores um ano a editar. Mas este é um género incrivelmente limitado, e Wititi e Clement demonstram um engenho particularmente notável a domar a besta.

O argumento navega de forma dinâmica por todos os elementos para encontrar o humor na forma como os personagens se relacionam entre si – mas a genialidade do mesmo encontra-se na exploração das inseguranças de cada personagem que acaba por torna-los tão… humanos. São assassinos imortais que, no fundo, têm os mesmos desejos e os mesmos medos que o comum dos mortais.

Outra das jogadas de mestre da produção foi associar cada um dos protagonistas a diversos ícones mitológicos que já passaram pelo grande ecrã ao longo dos anos. Viago representa claramente a era vitoriana de “Interview with the Vampire” (1994), Vladislav mantém o sex-appeal europeu de “Dracula” (1992), Deacon parece inspirado na natureza malandra de “The Lost Boys” (1987) e por fim, Petyr partilha claras semelhanças com o ícone “Nosferatu” (1922).

 

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Waititi e Clement criaram não só uma das melhores comédias dos últimos anos como uma fantástica adição ao cânone do Cinema sobre Vampiros. “What We Do in the Shadows” é um filme que grita por visionamentos repetidos, alimentados por um diálogo pejado de citações de platina, de gags que possivelmente se tornarão objetos de culto e de piadas secundárias que certamente perdemos quando estávamos a rir à gargalhada da primeira vez.

E é esta natureza da possibilidade de repetição que separa uma grande comédia de uma comédia mediana ou medíocre. É isto que separa “Ghostbusters”, “This is Spinal Tap” e “Monty Python and the Holy Grail” dos restantes. E é com alguma segurança que dizemos que, a partir de hoje, “What We Do in the Shadows” faz também parte desse restrito grupo imortal.

 

 

8.5/10

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Foi com uma expectativa entusiasmada mas intrigada que em abril de 2012 fizemos check-in n’ O Exótico Hotel Marigold, um albergue para idosos, perdido entre a frenética paisagem indiana de mercados de rua amontoados à volta de pequenos trilhos onde abundam lambretas barulhentas e atarefados tuk-tuks tão velozes e descuidados que parecem ter tendências assassinas. O cheiro das especiarias, o toque dos tapetes e o pó levantado pelas crianças que correm atrás de uma bola quase eram capazes de passar para o nosso lado do ecrã, e subitamente estávamos no único sítio onde queríamos estar: perdidos num cenário idílico para os corações aventureiros.

 

É curioso pensar que apenas uma semana depois, os Avengers da Marvel montaram acampamento nas salas portuguesas para resgatar o mundo fictício de mãos tiranas e lançar para o infinito da rentabilidade Hollywodesca mais um dos seus produtos de universo alternativo, quando por outro lado, eram estes super-heróis seniores que continuavam a salvar “a vida da nossa vida” com lições básicas de partilha, redescoberta e amor.

 

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Foi assim que conhecemos e nos afeiçoámos à sonhadora Evelyn de Judi Dench, ao ternamente desajeitado Douglas de Bill Nighy, ao malandro Norman de Ronald Pickup, à ávida Madge de Celia Imrie e claro, à resmungona incontornável Muriel de Maggie Smith, todos liderados pelo espírito trapalhão mas maior que a vida do gerente do Hotel, Sonny de Dev Patel.

 

O regresso não era necessário ou expectável. Afinal, aquela primeira estadia foi o equivalente ao inexplicável conforto de uma manta a acompanhar um filme de Domingo. Mas um dia vimo-nos com bilhete e nova estadia marcada, e THE SECOND BEST EXOTIC MARIGOLD HOTEL é, por ventura, o extra de uma chávena de chá com biscoitos que faltava à nossa tarde de aconchego.

 

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Os vários dilemas morais e amorosos de cada hóspede equilibram-se, nesta segunda viagem, na expansão do sonho de Sonny que, desta vez, está a ocupar-lhe mais tempo do que ele tem disponível, tendo em conta que está prestes a casar com o amor da sua vida, Sunaina (Tina Desai). Sonny está de olho numa promissora propriedade agora que a sua primeira aventura, o exótico Hotel Marigold para pessoas idosas e bonitas, tem apenas um quarto disponível quando estão para chegar mais dois hóspedes: Guy (Richard Gere) e Lavinia (Tamsin Greig).

 

John Madden volta a por a mão na massa numa comédia simpática que tem algo a dizer sobre a posição subvalorizada da população idosa na nossa sociedade, e THE SECOND BEST EXOTIC MARIGOLD HOTEL não só continua a demonstrar um enorme carinho e respeito pela cultura indiana como a atitude de apaixonante irreverência dos seus protagonistas prossegue triunfando sobre a fórmula gasta de um sentimentalismo de pé pesado e os previsíveis “finalmentes”.

 

É bastante óbvio que a razão da materialização do regresso é narrativamente desnecessária, cínica e monetariamente movida, mas não é por isso que o gangue sénior deixa de espalhar positivismo, humor e sabedoria incisiva. Todas as semanas, sequelas, remakes e reboots inundam os cinemas… mas é raro e estupendamente agradável que uma comédia romântica britânica liderada por septuagenários se encontre nestas andanças.

 

marigold2.jpg

 

O elenco superlativo é encantador sem grande esforço, e é realmente difícil alimentar grande hostilidade perante um veículo tão delicioso para bombear talento da realeza britânica – como antes de si fizeram, por exemplo, Harry Potter e Downton Abbey.

 

Mesmo sem a frescura ou sentido de descoberta do original, não há nada de errado com o desejo de regresso à comfort food para a alma ou a um filme que segue sem pretensões de mudar a indústria.

 

Às vezes o regresso a um amor antigo é o suficiente para nos fazer renascer.

 

7.0/10

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Todas as alminhas com uma amostra de espírito comerciante sabem que, possivelmente, a melhor arma do universo das vendas é... um cliente satisfeito. Poucas coisas existem que batam uma boa crítica, ou um comentário positivo de um consumidor anónimo que não foi pago para dizer, por hipótese, que o último livro da Margarida Rebelo Pinto é uma Bíblia feminina.

 

Com o crescimento da world wide web e a aposta dos negócios numa presença forte online, já não passamos sem espreitar as críticas de determinado produto/serviço que pretendemos adquirir. Portanto sempre que navegamos pelo olx, ou o ebay, ou a amazon, temos um olho no burro (o produto por que salivamos) e outro no cigano (as críticas ao mesmo).

 

Pois que é neste âmbito que surge o assunto deste post: críticas de utilizadores que compraram filmes na Amazon. Mas não são estas considerações de qualquer laia... são, apenas, alguns dos melhores apontamentos humorísticos da minha semana.

 

 

Sobre AMERICAN SNIPER...

American Sniper.png

 

 

Sobre ANNABELLE...

annabelle.jpg

 

 Sobre UNDER THE SKIN...

B7L3I7NCcAAfnco.png

 

 

Sobre LA VIE D'ADÈLE...

blue is the warmest color.png

 

 

Sobre CASABLANCA...

casablanca.png

 

 

Sobre CLOUDY WITH A CHANCE OF MEATBALLS...

cloudy with a chance of meatballs.jpg

 

 

Sobre CROUCHING TIGER, HIDDEN DRAGON...

Crouching Tiger, Hidden Dragon.png

 

 

Sobre DIRTY DANCING...

dirty dancing.png

 

 

Sobre GRAVITY...

gravity.png

 

 

Sobre INGLOURIOUS BASTERDS...

inglorious basterds.png

 

 

Sobre MAGIC MIKE...

magic mike.png

 

 

Ainda sobre MAGIC MIKE...

magic mike2.png

 

 

Sobre MAN OF STEEL...

man of steel.jpg

 

 

Sobre MARCH OF THE PENGUINS...

march of penguins.png

 

 

Sobre ONLY GOD FORGIVES...

only god forgives.jpg

 

 

Sobre SPACE JAM...

space jam.jpg

 

 

Sobre THE FOG...

the fog.png

 Sobre THE HUNGER GAMES: CATCHING FIRE...

The Hunger Games Catching Fire.png

 

 

Sobre (TWILIGHT) BREAKING DAWN - PART 1...

The Twilight Saga Breaking Dawn - Part 1.png

 

 

Ainda sobre (TWILIGHT) BREAKING DAWN - PART 1...

The Twilight Saga Breaking Dawn Part 1.png

 

 

Sobre THE WOMAN IN BLACK...

the woman in black.png

 

 

Sobre TITANIC...

titanic.jpg

 

 

Sobre WEST SIDE STORIES...

west side story.png

 

 

Sobre WHITE HOUSE DOWN...

white house down.png

 

 

Sobre THE WIZARD OF OZ...

wizard of oz.png

 

 

 

 

Crédito da "curadoria" de imagens: Amazon Movie Reviews

 

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