Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
"All my optimism was an illusion"
“Num cenário idílico internacional, um homem mais velho (e neurótico) apaixona-se por uma encantadora mulher mais jovem” – quase podíamos adivinhar que estávamos num filme de Woody Allen. E estamos mesmo.
Estamos no final dos anos 20, e o homem é Stanley Crawford, um famoso e celebrado mágico mais conhecido pela sua persona de palco, o chinês Wei Ling Soo. Resmungão, arrogante e com uma grande opinião de si mesmo, o mágico inglês tem uma enorme aversão aos falsos espíritas que afirmam ser capazes de fazer verdadeiras magias. Persuadido por um velho amigo, Stanley dirige-se à Côte d'Azur com o objetivo de rebaixar uma jovem e sedutora vidente, a americana Sophie Baker.
Desde o seu primeiro encontro com Sophie que Stanley a considera como uma nulidade que poderá desmascarar num instante como estando a aproveitar-se da ingenuidade da família. No entanto, para sua grande surpresa e desconforto, Sophie é capaz de numerosas proezas a ler a mente e apresenta outros poderes sobrenaturais que desafiam todas as explicações racionais, o que o deixa completamente estupefacto.
É um atestado à atenção ao detalhe e lealdade ao período pela parte de Woody Allen que “Magic in the Moonlight” pudesse perfeitamente ser um filme perdido dos anos 30, e à primeira vista, parece mesmo que entrámos numa cápsula do tempo.
Debaixo da capa de comédia romântica ambientada à Riviera francesa jaz uma sucinta mas incisiva examinação sobre a fé e a razão, a ilusão e a realidade, o otimismo e o pessimismo e dinâmica relacional que advém da convivência de todas estas constantes dicotómicas.
Como habitual, o argumento é um guia de bem-escrever diálogos inteligentes e graciosos que, não se sentido particularmente naturais ou passíveis de habitar lábios na vida real, se adequam à natureza dos seus personagens e ao seu (neurótico) habitat circundante.
Colin Firth tem a tarefa dar consistência física à neurose e sarcasmo usuais aos protagonistas de Allen conseguindo-o em medidas inconsistentes mas crescentes – depois de um início conturbado e excessivo, a performance estabiliza e equilibra-se ao longo do tempo. Emma Stone confere o charme habitual que parece ter sido suficiente para a tornar uma repetente (o realizador já prepara o seu próximo filme com ela), mas a verdadeira estrela do pedaço é Eileen Atkins, a cítrica tia de Stanley cujo tour de force se guarda para uma cena em particular que envolve a aplicação de psicologia invertida.
Todavia, “Magic in the Moonlight não deixa de parecer, em todos os âmbitos e aspetos, uma entrada menor no cânone da Woody Allen. O enredo arejado tenta fazer os desvios para terrenos familiares de forma imaginativa, mas há pouca substância que suporte a afirmação de que esta é uma comédia (ou uma farsa) particularmente sólida.
As consequências de uma carreira tão prolífera como a do realizador americano (que lança, grosso modo, um filme por ano) é a irregularidade, especialmente patente nas últimas décadas. Por cada “Midnight in Paris” ou “Blue Jasmine” temos um ou dois “Scoop” ou “Magic in the Moonlight” – charmosos e nunca intragáveis, mas evidentemente menores. No caso deste último, não é particularmente fresco ou esforçado, parecendo até, por vezes, redundante e preguiçoso.
É como que um requintado amuse-bouche, que tem todo o glamour do auspício duma sumptuosa refeição, mas que não tem o complemento de um prato principal.
Não é óbvio ou particularmente pomposo, mas como filme de Woody Allen que é, tem o seu inegável charme. E, para todos os efeitos, e mesmo nas instâncias menos brilhantes ou memoráveis, um filme de Woody Allen nunca é uma perda de tempo (ou respeito pelo intelecto).
6.5/10
A Sony Pictures Classics lançou finalmente o primeiro trailer do próximo filme de Woody Allen, "Magic in the Moonlight", que deverá chegar aos cinemas portugueses a 4 de setembro.
Com um elenco que inclui Colin Firth, Emma Stone, Eileen Atkins, Marcia Gay Harden, Hamish Linklater, Simon McBurney e Jacki Weaver, a comédia romântica segue um homem inglês que é chamado para desmascarar uma possível charlatã espiritual. Passado no sul de França nos anos 20, o filme tem como pano de fundo as maiores mansões da Côte d’Azur, clubes de jazz e os lugares mais glamourosos da Era do Jazz.