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"You just went and made a new dinosaur? Probably not a good idea..."
Há um lugar especial no coração de alguém que, numa insuspeita noite de verão, algures nos anos 90, se esquivava dos pais para ligar a televisão quando “Jurassic Park” era exibido pela primeira vez em canal aberto.
Descobriu-se a compaixão quando o Triceratopo adoeceu, a ansiedade quando uma debandada de Galimimos fugia à fome do T-Rex, o “toma lá bem feita!” quando o Dilofossauro impede Dennis de fugir do Parque com os embriões, os arrepios na espinha quando inolvidável o tema de John Williams ecoava pelo parque e a tensão pura e profunda quando aqueles dois Velociraptors encurralaram os miúdos na cozinha.
É pouco recomendável referir a primeira pessoa num texto que, apesar de naturalmente subjetivo, se procura fundamentalmente argumentativo e analítico. No entanto, arrisco tomar breves linhas para furar a convenção e explicar que “Jurassic Park” mudou a minha vida, porque com apenas uma mão cheia de anos de vida descobri que o milagre da sétima arte estava no seu alcance aparentemente infinito. Foi ali, com o filme de Spielberg, que o meu elo inabalável com o Cinema foi criado. E no dia em que o Parque se tornou Mundo, voltei àquela noite clandestina.
A ter lugar 22 anos depois do primeiro filme – e basicamente ignorando todos os acontecimentos das sequelas – a nova aventura Jurássica regressa à Isla Nublar onde o parque de dinossauros está finalmente em funcionamento e segurança... Até deixar de estar.
Numa nova exposição da ignorante ambição de “brincar aos deuses”, a falta de humildade humana atinge novos máximos quando a gestão do parque resolve começar a criar dinossauros geneticamente modificados, sendo a inequívoca estrela da companhia o impressionante Indominus Rex – que é, na verdade, “A” Indominus Rex. Porque é que havemos de continuar a criar espécies “mundanas” quando podemos juntar as mais perversas combinações de DNA que o tempo tentou esquecer? Evidentemente, a imprevisibilidade de tal criação leva à sua capacidade de escapar e tornar o resto do parque numa bastante completa e apetecível versão de um buffet “coma até cair para o lado”.
Apesar de não conseguir manter a aura emocional e o sentimento de assombro e fascínio do original de Steven Spielberg, Colin Trevorrow revela-se como um competente maestro do caos como gerador de ação.
Surgindo como a mais sólida (e melhor) das três sequelas, “Jurassic World” é especialmente bem-sucedido no estabelecimento do ritmo da ação que, quando arranca, explode numa montanha-russa de acontecimentos verdadeiramente entusiasmantes. Também o híbrido sintético no centro do terror da narrativa é simbólico - além do agente do caos, é uma metáfora representativa dos excessos gerados pelas imoderações do consumo e de quem produz entretenimento e a fome do lucro.
O diálogo não é particularmente inspirado e algumas personagens tornam-se estereótipos andantes por falta de melhor caracterização (particularmente os vilões), mas à parte da eterna questão “como é que estes tipos conseguem continuar a ser autorizados e financiados para abrir estes parques?”, “Jurassic World” consegue transcender a ideia básica de bestas que perseguem humanos em fuga e é estruturalmente bem construído, tem uma progressão dramática e de enredo relativamente convincentes e um clímax surpreendentemente satisfatório.
Depois de um primeiro ato gerado para fazer os queixos tombar com admiração dócil, Trevorrow transforma rapidamente esta aventura de ficção científica num elaborado exercício criativo de (re)afirmação da lei de Murphy – não só tudo o que pode correr mal vai acontecer como vai tornar-se ainda pior. Às vezes parece mesmo que Trevorrow e companhia passaram a noite anterior à escrita do argumento a encharcar-se de gomas e Coca-Cola enquanto assistiam a “Predator”, “Alien” e “The Thing” escondidos debaixo dos lençóis.
E apesar de o amor e respeito do realizador pela aura de “Jurassic Park” ser bastante óbvio, é no terceiro ato, algo espalhado por todo o lado, que esta sua nostalgia acaba por levar a melhor perdendo-se em referências e anotações demasiado encantadas com a sua própria importância. Não é necessária uma análise profunda para admitir que “Jurassic World” é frequentemente frívolo e autocomplacente, mas a verdade é que, surpreendentemente, na maioria das vezes, acaba por funcionar de alguma forma.
Chris Pratt é um herói carismático e bem-humorado, e enviamos diretamente de Portugal o prémio de "Maior Maratonista de Saltos Altos" para Bryce Dallas Howard, mas apesar de uma sólida dupla humana, são, mais uma vez, os fantasmas da maravilha extinta os principais protagonistas.
A magia dos animatrónicos de Spielberg está praticamente ausente num parque onde, provavelmente, 99% dos dinossauros são inteiramente gerados por computador. E se é verdade que esta visita aos milhões de anos passados parece, em certa medida, mais plástica e processada, este tipo de animação permite outros voos, estratosféricos, pela possibilidade do imaginário do cinema. E a vocação que é aqui demonstrada pelo estado de arte tecnológico é de cortar a respiração.
Num exemplo em que o todo é superior à soma das partes, “Jurassic World” é uma seta do cupido apontada ao nosso coração com síndrome de Peter Pan. Durante duas horas completas convencemo-nos de que os dinossauros estão à distância de uma viagem de barco e de que o limite da nossa imaginação é apenas o início das possibilidades de um Cinema feiticeiro na fábrica de sonhos.
É um blockbuster de verão à moda antiga, de coração terno e adrenalina máxima onde é o homem contra a natureza, contra a natureza (modificada). E nós, porque estamos muito mais abaixo na cadeia alimentar do que gostamos de admitir, bem podemos aplaudir, mas nunca ganhamos.
7.5/10
Produzido por Steven Spielberg e realizado por Colin Trevorrow, JURASSIC WORLD encontra, 22 anos depois, a Isla Nublar com um parque com dinossauros totalmente funcional, tal como havia sido imaginado inicialmente por John Hammond. Evidentemente, alguma coisa vai correr mal...
O herói reciclado passará a ser interpretado por Chris Pratt.
Não vale a pena tecer grandes comentários sobre o filme, mas alguns apontamentos: o foco no núcleo familiar é mantido à boa maneira de Spielberg (apesar de aqui surgir apenas como produtor); um piscar de olho claro ao Sea World; uns efeitos especiais surpreendentemente... ranhosos e meios artificiais que não me entusiasmaram muito. De resto... estou 100% a bordo!
JURASSIC WORLD deverá chegar aos cinemas portugueses em junho de 2015.
"So here we are: a thief, two thugs, an assassin and a maniac. But we're not going to stand by as evil wipes out the galaxy. I guess we're stuck together, partners"
O recreio da Marvel sempre teve raízes terrenas. Mesmo com todos os monstros, deuses, abominações, mutações fantásticas, e vislumbres de outros mundos, parece não haver nada mais apelativo aos domínios da destruição alienígena e fictícia do que… bom, os Estados Unidos. Mas a colisão segura entre o mundano e o incrível acabou de ser atingida por um raio energético originário na imensidão do cosmos.
Com “Guardians of the Galaxy”, a Marvel cruza finalmente, e à velocidade da luz, as fronteiras do desconhecido para abrir alas à exploração espacial. E como qualquer incursão cósmica, a aposta foi um risco autêntico. Não só porque, ao contrário de “Spiderman” ou “Iron Man”, esta adaptação edifica-se a partir banda-desenhada relativamente recente e desconhecida àqueles que ficam por fora dos meandros do interminável universo dos comics, mas também – e sobretudo – porque vem quebrar uma crescente tendência sentida nos filmes de super-heróis do passado recente.
A idiossincrasia e a excentricidade carimbam a visão de James Gunn que vem infundir o género com entusiasmante sangue novo e resgatá-lo da pasmaceira de previsibilidade.
No enredo, o aventureiro espacial Peter Quill é alvo de um caçador de recompensas depois de roubar uma esfera cobiçada por um vilão traiçoeiro. No entanto, quando Quill descobre os seus poderes, tem de encontrar uma forma de reunir um quarteto de rivais inadaptados para tentar salvar o universo.
Co-escrito e realizado por Gunn, “Guardians of the Galaxy” é uma agradável surpresa do início ao fim, um muscular blockbuster que tanto se notabiliza pelo número atípico de gargalhadas que consegue arrancar da audiência, como pela reverência que provoca em resultado do estilo energético, leve e carregado de ação.
Apesar do potencialmente temerário enredo familiar – uma equipa organizada para combater um mal maior – Gunn tem a sensatez de minimizar a exposição sobre a origem de cada um dos membros, mantendo todavia a sua história e motivações suficientemente claras.
A celebração do heroísmo old school é um autêntico regresso aos filmes de ação de antigamente, uma era aparentemente perdida no tempo onde o entretenimento não era tão sério e sisudo e apenas despreocupadamente divertido. As influências de “Back to the Future”, “Star Wars/Trek”, e até “Indiana Jones” cheiram-se à distância, ainda antes de começarmos a abanar o esqueleto ao som dos temas clássicos e contagiosos dos anos 70 no adorado walkman de Quill.
Uma esmagadora parte do sucesso tem origem no fantástico quinteto de rebeldes e bandidos que se (des)organiza em busca da misteriosa esfera. A química entre todos é absolutamente crepitante, mas todos funcionam individualmente como personagens completamente formadas e desenvolvidas.
Além do destaque óbvio para a excêntrica dupla de Rocket & Groot (com trabalho vocal fora-de-série de Bradley Cooper e Vin Diesel), Chris Pratt é o rei do recreio, fazendo o melhor uso possível das habilidades cómicas desenvolvidas na sua passagem por “Parks and Recreation”. O seu adoravelmente espertalhão e charmoso Peter Quill – parte Han Solo, parte Marty McFly – auspicia não só um grande futuro para a saga, como um caminho de sucesso trilhado para o ator, que já se sabe protagonista de outro peso-pesado do domínio blockbuster – o novo “Jurassic World”.
É possível que houvesse benefício em tirar uns momentos para respirar… mas o melhor que temos a fazer é render-nos à euforia açucarada e aguardar, ainda com os níveis de adrenalina em alta, pela já ansiada sequela. Afinal, quem não ficou curioso para mergulhar nos meandros musicais e heroicos da promessa de Awesome Mix Volume 2?
8.5/10