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"Don't ever think that the world owes you anything, because it doesn't. The world doesn't owe you a thing"
Era uma vez, uma bela e pura menina de cabelos dourados, filha de um comerciante de sucesso, que sonhava com uma vida feliz e preenchida, num futuro que desejava não muito distante. Um dia, um príncipe encantado chegou, arrebatou-a e salvou-a de uma existência infeliz e abusiva, e viveram felizes para sempre.
Esta é a história de Cinderella, e esta poderia muito bem ser a história de Joy. Contudo, em contos que não são de fadas, mas de gentes, não há príncipes, nem carruagens mágicas, nem feitiços até à meia-noite. Há independência, dedicação sem horários e... uma esfregona milagrosa.
‘Inspirado nas histórias verdadeiras de mulheres audazes’: assim abre portas o “Joy” de David O. Russell, que poderia simplesmente ter pedido emprestada a citação que introduziu o irmão mais velho, “American Hustle”: ‘alguns destes factos aconteceram realmente’.
O nono filme no currículo do realizador nova iorquino é dissolutamente baseado na história de Joy Mangano, uma mãe solteira de Long Island que, no início dos anos 90, revolucionou a sua vida de simplicidade ao desenvolver uma invenção miraculosa que facilitaria a vida doméstica a muito boa gente e que a tornaria numa superestrela das (agora olvidadas) televendas.
Numa primeira instância, e apesar de sofrer de diversas maleitas – já lá iremos - “Joy” é deliciosamente refrescante: Hollywood não se coíbe de explorar insistentemente a galinha de ovos de ouro que é o ethos nacional do Sonho Americano, mas são raras as vezes em que esse sonho se transporta de salto alto e se fortalece à base de estrogénio palpitante. Contemporaneamente feminino (sem ser pejorativamente feminista), “Joy” é uma ode à mulher moderna.
E já que falamos em mulher moderna... Entre bochechas redondas e olhar juvenil, é difícil engajar a suspensão de descrença ao ver Jennifer Lawrence passar por uma trintona com dois filhos, mas se “Joy” teve algum êxito indiscutível foi nesta sua inesperada aposta. No seu papel mais carnudo desde “Despojos de Inverno” – o glorioso e humilde indie que a lançou na rota do estrelato em meados de 2010, e que lhe valeu, inclusive, a primeira indicação a Óscar – Lawrence marca uma posição forte e credível, construindo uma personagem relacionável e estratificada que serve de derradeira boia de salvação entre a ciclónica bagunça tonal de O. Russell. É ela que consegue, ainda que marginalmente, colocar o filme com os pés na terra. E sempre que surge uma oportunidade para brilhar, Lawrence não desaponta, seja na dureza com que enfrenta a desonestidade de oblíquos homens de negócios, seja no retrato matizado que faz de uma mulher simples mas de grandes ideias.
À exceção de um competente e sóbrio Bradley Cooper, o elenco secundário (composto, entre outros, por Robert De Niro, Isabella Rosselini e Virginia Madsen) pouca margem tem para dar ares de sua graça, muito culpa do argumento, muito mecânico e pouco emocional, que torna a família de Joy particularmente subdesenvolvida, irritativa e caricaturada, com o objetivo simultâneo mas pouco conseguido de arrancar gargalhadas e estabelecer contraste com a honrada protagonista.
Esta é, na verdade, uma deformidade (infelizmente) atual de O. Russell, que parece cada vez mais obstinado em incluir “caricaturas do seu tempo” em cada uma das suas produções, apenas porque o pode fazer. De facto, a “família tóxica” sempre fez parte do núcleo dos seus temas recorrentes, mas enquanto noutros momentos existiu uma forte ligação entre a opressão e a rejeição e o amor e a necessidade, explorando-se depois o impacto e significado dessa relação abusiva para o protagonista, “Joy” não vai além do subdesenvolvimento e da inconsequência de uma família disfuncional apenas porque é disfuncional, nem sequer explorando os verdadeiros efeitos que essa realidade abusiva teria na protagonista ou sequer abordando a natureza controversa da dinâmica dessas relações negativas – matéria em que O. Russell já foi, inclusive, especialista (veja-se a destreza com que o fez, por exemplo, em “The Fighter”, 2010).
Rapidamente, o dispositivo torna-se então progressivamente mais fatigado e, naturalmente, atrasa todo o restante processo narrativo e emocional. Assim, a primeira parcela da fita – mais focada no ambiente familiar e a consequente rutura do mesmo – é manifestamente mais morosa e menos dinâmica.
É a partir do segundo ato que “Joy” brilha – talvez no momento em que o realizador deixa de se encantar por cartoons e volta a interessar-se pela história da mulher que o inspirou em primeiro lugar – tornando-se verdadeiramente envolvente e eficaz, deixando-se submergir nos sucos da fascinante envolvência empreendedora do enredo.
Consequentemente, o filme de O. Russell não ressoa propriamente como uma biografia memorável, mas mais como uma leve e fofa fatia de espírito empreendedor, contaminada por um ritmo inconstante, uma direção incerta e um grupo de personagens secundários desconfortável.
Há uma película notável algures, mas poluída por uma contaminação que não lhe pertence. Afinal, talvez lhe faltasse uma ou duas passagens pela tal esfregona milagrosa...
7.0/10
Foi finalmente revelado um trailer de "Serena", o muito aguardado drama realizado por Susanne Bier e protagonizado por Jennifer Lawrence e Bradley Cooper.
George Pemberton (Bradley Cooper) e Serena Pemberton (Jennifer Lawrence) são um jovem casal, que decide partir de Boston para a Carolina do Norte em 1929, no intuito de construir um império no ramo da madeira. Quando Serena descobre que não pode ter filhos, começa a manifestar sentimentos de vingança contra a mulher com quem George teve um filho ilegítimo antes de se casar. Suspeitando que George protege esta outra família, a intensa união entre ambos começa destruir-se.
"So here we are: a thief, two thugs, an assassin and a maniac. But we're not going to stand by as evil wipes out the galaxy. I guess we're stuck together, partners"
O recreio da Marvel sempre teve raízes terrenas. Mesmo com todos os monstros, deuses, abominações, mutações fantásticas, e vislumbres de outros mundos, parece não haver nada mais apelativo aos domínios da destruição alienígena e fictícia do que… bom, os Estados Unidos. Mas a colisão segura entre o mundano e o incrível acabou de ser atingida por um raio energético originário na imensidão do cosmos.
Com “Guardians of the Galaxy”, a Marvel cruza finalmente, e à velocidade da luz, as fronteiras do desconhecido para abrir alas à exploração espacial. E como qualquer incursão cósmica, a aposta foi um risco autêntico. Não só porque, ao contrário de “Spiderman” ou “Iron Man”, esta adaptação edifica-se a partir banda-desenhada relativamente recente e desconhecida àqueles que ficam por fora dos meandros do interminável universo dos comics, mas também – e sobretudo – porque vem quebrar uma crescente tendência sentida nos filmes de super-heróis do passado recente.
A idiossincrasia e a excentricidade carimbam a visão de James Gunn que vem infundir o género com entusiasmante sangue novo e resgatá-lo da pasmaceira de previsibilidade.
No enredo, o aventureiro espacial Peter Quill é alvo de um caçador de recompensas depois de roubar uma esfera cobiçada por um vilão traiçoeiro. No entanto, quando Quill descobre os seus poderes, tem de encontrar uma forma de reunir um quarteto de rivais inadaptados para tentar salvar o universo.
Co-escrito e realizado por Gunn, “Guardians of the Galaxy” é uma agradável surpresa do início ao fim, um muscular blockbuster que tanto se notabiliza pelo número atípico de gargalhadas que consegue arrancar da audiência, como pela reverência que provoca em resultado do estilo energético, leve e carregado de ação.
Apesar do potencialmente temerário enredo familiar – uma equipa organizada para combater um mal maior – Gunn tem a sensatez de minimizar a exposição sobre a origem de cada um dos membros, mantendo todavia a sua história e motivações suficientemente claras.
A celebração do heroísmo old school é um autêntico regresso aos filmes de ação de antigamente, uma era aparentemente perdida no tempo onde o entretenimento não era tão sério e sisudo e apenas despreocupadamente divertido. As influências de “Back to the Future”, “Star Wars/Trek”, e até “Indiana Jones” cheiram-se à distância, ainda antes de começarmos a abanar o esqueleto ao som dos temas clássicos e contagiosos dos anos 70 no adorado walkman de Quill.
Uma esmagadora parte do sucesso tem origem no fantástico quinteto de rebeldes e bandidos que se (des)organiza em busca da misteriosa esfera. A química entre todos é absolutamente crepitante, mas todos funcionam individualmente como personagens completamente formadas e desenvolvidas.
Além do destaque óbvio para a excêntrica dupla de Rocket & Groot (com trabalho vocal fora-de-série de Bradley Cooper e Vin Diesel), Chris Pratt é o rei do recreio, fazendo o melhor uso possível das habilidades cómicas desenvolvidas na sua passagem por “Parks and Recreation”. O seu adoravelmente espertalhão e charmoso Peter Quill – parte Han Solo, parte Marty McFly – auspicia não só um grande futuro para a saga, como um caminho de sucesso trilhado para o ator, que já se sabe protagonista de outro peso-pesado do domínio blockbuster – o novo “Jurassic World”.
É possível que houvesse benefício em tirar uns momentos para respirar… mas o melhor que temos a fazer é render-nos à euforia açucarada e aguardar, ainda com os níveis de adrenalina em alta, pela já ansiada sequela. Afinal, quem não ficou curioso para mergulhar nos meandros musicais e heroicos da promessa de Awesome Mix Volume 2?
8.5/10
"Did you ever have to find a way to survive and you knew your choices were bad, BUT you had to survive?"
Poderíamos dizer que tem um pouco de “Argo”, de “Goodfellas” e de “Boogie Nights”, o que em rigor estético, narrativo e de abordagem não seria nenhuma mentira, mas a verdade é que apesar de ser uma obra geralmente positiva, “American Hustle” não surge como um todo coeso, ao contrário de qualquer uma das suas inspirações.
Apanhados pelo agente Richie DiMaso depois de um dos seus múltiplos golpes, Irving Rosenfeld e a sua parceira e amante Sydney são forçados a trabalhar para o FBI numa missão que almeja capturar alguns dos mais perigosos criminosos de New Jersey. É assim que se veem envolvidos nos negócios pouco claros de Carmine Polito, um político entusiasta mas pouco credível que se deixou cair nos meandros da máfia local. Para dificultar uma missão já de si complexa, Irving acaba por descobrir, da pior maneira possível, o poder do ressentimento de Rosalyn, a mãe do seu filho, de quem nunca se chegou a divorciar…
Com 10 nomeações aos Oscars da Academia, “American Hustle” é um dos grandes filmes da temporada, uma incursão divertida e desavergonhada pelo universo ordinário dos anos 70 vistos à lupa de golpistas que vivem da distorção pornográfica do sonho americano.
Está tudo muito bem enquanto não interrompemos a sessão para refletir e notamos que, afinal, não há muito que extrair desta mirabolante história de curvas e contracurvas onde talvez apenas por milagre do dom genuíno de muitos dos envolvidos – incluindo o próprio realizador – não se deram colisões violentas, capazes de deitar por terra todas as possibilidades de um grande filme.
O que se sugere à cabeça é que David O. Russell se enamorou inescusavelmente do charme “trashy” do período, onde abraça frivolamente os excessos da era que representa, desde os vitoriosos decotes intermináveis ao assassínio coletivo daquilo que inocentemente chamamos de um bom penteado, enquanto se deixa maravilhar pelas infinitas possibilidades de um elenco em estado de graça – e de talento.
É certo e assegurado que não precisamos todos os dias que nos chegue Cinema com profundas mensagens sobre o estado do mundo de Ontem, que se reflete exponencialmente no mundo de Hoje, mas é difícil ignorar, tendo em conta as potencialidades da história e particularmente das personagens originais, a riqueza que daqui poderia ser possível extrair.
É admitidamente um filme de atores – e de grandes atores – mas onde estes servem apenas o propósito de meras peças que se movimentam de um cenário para outro, varrendo-se rapidamente as “backstories” para debaixo do tapete em prol do frenesim da ação policial central. Este estilo “aumentado” e extravagante de O. Russell acabou por servir positivamente outras histórias que tocaram pontos e experiências emocionais para o espectador, mas o mesmo raramente acontece com “American Hustle”.
O. Russell é um homem de costumes pelo que recupera parte dos elencos de “The Fighter” e “Silver Linnings Playbook” para a sua tática de 1-3-1, onde, o ponta-de-lança de Bradley Cooper é, em 5 minutos, substituído por um “quase-cameo” de Robert De Niro que finalmente faz pandã com as inigualáveis performances com que nos brindou ao longo dos anos 70, 80 e 90. O protagonista é vivido com as devidas doses de charme e repugnância pelo camaleónico Christian Bale, mas são as mulheres – Amy Adams e Jennifer Lawrence – que mais têm feito correr tinta pelas suas magníficas (mas não totalmente surpreendentes) performances de uma acídica femme fatale e uma esposa psicótica cujas técnicas de manipulação nunca devem ser questionadas.
É um bom filme com as potencialidades de ter sido um grande filme, destinado a levar por tabela por isso e pelo (sobre)elevado reconhecimento alheio e não por desalmadas pretensões próprias, quando é uma incursão perfeitamente aceitável e, inclusive, acima da média, maus penteados à parte.
Curiosamente, o cabelo, esse, pode ser a verdadeira chave de tudo.
Na primeira cena de “American Hustle”, Irving Rosenfeld percorre o seu luxuoso quarto no Hotel Plaza enquanto abotoa uma camisa de gosto duvidoso sobre um enorme estômago que transborda por cima do apertado botão das calças, e que se adivinha cheio à custa dos golpes e contragolpes nos quais se tornou um insubstituível especialista.
O que se segue é uma sequência quase macabra que envolve a minúcia inerente à preparação diária de Rosenfeld, e que envolve o preenchimento meticuloso, quase científico, da cabeça pelada com fartos tufos de cabelo falso. É um breve momento de “make-over” demente, quase íntimo, que acompanhamos enquanto o golpista tenta erguer a ilusão palpável de um penteado preenchido e composto. A combinação final, bem afixada por uma dose generosa de laca, é uma poderosa metáfora, não só para o arco narrativo que nos preparamos para acompanhar durante pouco mais de duas horas, mas sobretudo para o produto final que David O. Russell nos serve.
É um filme de traços dementes, cuja diversão, sensualidade e potência dos protagonistas tenta ocultar as peladas de um argumento com bons one-liners, mas no final de contas pouco coeso – confuso até ocasionalmente - ou sequer preocupado em criar um ponto de foco e de ligação emocional.
Seja como for, e parta de onde partir a opinião de cada um de nós sobre o filme – quer do espetro positivo ou negativo – “American Hustle” conseguiu, através da sua minuciosa compensação de elementos menos conseguidos com o brilho das suas forças motrizes, chamar a atenção de todos, e surgir como um dos filmes mais relevantes do ano.
É o derradeiro golpe do baú.
6.5/10
Composta por 11 "mini-curtas-metragens", a websérie "Making a Scene" é um projeto levado a cabo pelo The New York Times e que destaca nos peculiares vídeos, os melhores performers do ano.
Cate Blanchett, Bradley Cooper, Chiwetel Ejiofor, Adèle Exarchopoulos, Greta Gerwig, Oscar Isaac, Michael B. Jordan, Julia Louis-Dreyfus, Robert Redford, Forest Whitaker e Oprah Winfrey foram os talentos escolhidos interpretado pequenas passagens com frases escritas por outros grandes nomes como Julie Delpy, Ethan Hawke, Richard Linklater, Spike Jonze, Jeff Nichols, Sarah Polley, entre outros. A montagem e direção é orquestrada pelo lendário diretor de fotografia Janusz Kaminski.
Em toda a sua natureza estranha, bela e enigmática, ei-las, as maravilhosas criações.
Para os mais curiosos, aqui fica também o vídeo do making-of.
Depois de, no ano passado, ter arrancado uma surpreendente nomeação de Melhor Ator pela sua prestação em "Silver Linnings Playbook", Bradley Cooper quer mostrar que esse não foi um acontecimento isolado. Case in point - o novo trailer de "American Hustle" parece prometer-lhe mais uma boa performance, que me deixou especialmente intrigada por um monólogo intenso de rolos na cabeça que protagoniza - isto para não falar dos restantes... mas desses já só se espera o melhor.
Além de Cooper, o filme conta com um elenco de luxo encabeçado por Christian Bale e Amy Adams, e ainda com participações de Robert DeNiro, Jennifer Lawrence, Jeremy Renner e Michael Peña. O enredo traz-nos a história verídica de dois vigaristas que são forçados a trabalhar como informadores do FBI com o intuito de desmascarar uma rede de corrupção e tráfico de influências liderada por políticos e mafiosos.
"American Hustle" deverá chegar aos cinemas americanos neste natal.
O Good Morning America revelou finalmente o primeiro trailer oficial do muito aguardado "American Hustle", de David O. Russell.
Com um elenco de luxo encabeçado por Bradley Cooper, Christian Bale e Amy Adams, e ainda com participações de Robert DeNiro, Jennifer Lawrence, Jeremy Renner e Michael Peña, o filme traz-nos a história verídica de dois vigaristas que são forçados a trabalhar como informadores do FBI com o intuito de desmascarar uma rede de corrupção e tráfico de influências liderada por políticos e mafiosos.
"American Hustle" deverá chegar aos cinemas americanos neste natal.
Confesso que às vezes não tenho noção alguma da história de pessoas que durante tantos anos vejo passar no ecrã.
Bradley Cooper é uma dessas pessoas, a quem preconceituosamente não adivinhava grande formação ou coisa que lhe valha. Foi uma chapada de luva branca, como alguns diriam, a que levei ontem quando me cruzei com o que hoje partilho convosco. Mas uma chapada que tive muito gosto em levar, e que ainda acabou por me por um sorriso na cara.
Bradley é licenciou-se em Inglês com distinção em 1997. Logo de seguida, iniciou-se num Mestrado na Escola de Atores do Actors Studio que terminou posteriormente em 2000. Como muitos de vocês poderão saber, o programa "Inside the Actors Studio" é apresentado por James Lipton, o diretor da escola, e é formado por entrevistas com atores e performers de renome, alguns que chegaram mesmo a ser membros no Studio, perante uma plateia alunos.
A curiosidade da história de Bradley é que faz aqui um círculo perfeito.