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Awards Season: Vencedores dos Golden Globes 2015

por Catarina d´Oliveira, em 13.01.15

Isto já nem vem com pretensões de notícia, já que a coisa se deu na madrugada de domingo e já vamos na terça-feira, mas mais como uma anotação pessoal e um registo de detalhes importantes para a Awards Season em geral.

 

Como tal, no passado domingo ficaram a ser conhecidos os vencedores dos Golden Globes, versão 2015, respetiva ao Cinema (e televisão) de 2014.

 

la-et-golden-globe-awards-2015-show-moments-hi-053

 

Entre as notas importantes:

- Surpreendentemente sem qualquer nomeação à partida: UNBROKEN de Angelina Jolie e AMERICAN SNIPER de Clint Eastwood;

- INTERSTELLAR só indicado em Melhor Banda Sonora;

- Timothy Spall viu a sua performance como MR. TURNER não reconhecida pela HFPA, bem como Marion Cotillard pela sua interpretação no belga DEUX JOURS, UNE NUIT;

- BOYHOOD cimenta o estatuto de favorito e "inimigo a abater" por todos os outros concorrentes;

- GRAND BUDAPEST HOTEL leva a melhor sobre BIRDMAN na categoria de Melhor Filme de Comédia ou Musical;

- LEVIATHAN (Rússia) bate o favorito  IDA (Polónia) na corrida de Melhor Filme Estrangeiro;

- HOW TO TRAIN YOUR DRAGON 2 é considerado o Melho Filme de Animação, em detrimento de THE LEGO MOVIE.

 

la-et-mn-golden-globes-2015-main-001.jpg

Posto isto, vamos à lista completa de vencedores:

 

MELHOR FILME (DRAMA)
Boyhood

MELHOR REALIZADOR
Richard Linklater – Boyhood

MELHOR ATRIZ (DRAMA)
Julianne Moore – Still Alice

MELHOR ATOR (DRAMA)
Eddie Redmayne – Theory of Everyting

MELHOR FILME (COMÉDIA OU MUSICAL)
The Grand Budapest Hotel

MELHOR ATRIZ (COMÉDIA OU MUSICAL)
Amy Adams – Big Eyes

MELHOR ATOR (COMÉDIA OU MUSICAL)
Michael Keaton – Birdman

MELHOR ATRIZ SECUNDÁRIA
Patricia Arquette – Boyhood

MELHOR ATOR SECUNDÁRIO
J.K Simmons – Whiplash

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
How To Train Your Dragon 2

MELHOR BANDA SONORA ORIGINAL
Johann Johannsson – The Theory of Everything

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
“Glory” (Selma)

MELHOR ARGUMENTO
Alejandro González Iñárritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris, Armando Bo – Birdman

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Leviathan (Rússia)

 

 

la-et-mn-golden-globes-2015-best-actor-drama-pictu

 

A lista completa de nomeados originais aos Golden Globes 2015 pode ser consultada por aqui.

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Point-of-View Shot - Her (2013)

por Catarina d´Oliveira, em 14.02.14

 

"We are only here briefly and in this moment I want to allow myself joy"

 

 

Trafaria, 14 de fevereiro de 2014

 

 

Querido Spike Jonze,

 

Como vão as coisas? Espero encontrar-te bem, como também espero que não leves a mal avançar já sem medos nem receios a tratar-te por tu, mas sempre achei que o “você”, apesar de bastante respeitável, era uma forma de tratamento que transmite distanciamento e alheamento, e aqui, especialmente aqui, no que te quero dizer, quero estar perto. O mais perto possível. Então, posso tratar-te por tu, não posso?

 

Escrevo esta carta – à semelhança do teu terno protagonista - para te falar sobre o teu mais recente filme, “Her”. Fiquei siderada, confesso, e não pude deixar de recordar as célebres palavras da epígrafe do “Howard’s End” de E.M. Forster que escreveu, sobre a noção dos relacionamentos e da empatia, “only connect!”. Essa ligação – humana, tecnológica e a interceção de ambas – que é a força que move o teu novo e poderoso filme.

 


O enredo é simples na explicação, mas incrivelmente complexo na execução e implicações - lá irei. Antes de mais, e até para me ajudar na exposição das ideias, clarifiquemos que esta é a história de Theodore, um homem que escreve cartas para outras pessoas como profissão e que luta contra a tristeza de um casamento destruído, tentando, para isso, distrair-se ao comprar um novo Sistema Operativo interativo capaz de criar uma consciência digital. Samantha – como se chama - não existe sob qualquer forma física além do discreto fone e do pequeno tablet que acompanha Theodore para todo o lado, mas não é isto que a impede de formar uma ligação e relação dinâmica com ele, que não demora a tornar-se… algo mais. Juntos crescem e descobrem as suas facetas mais recônditas, e o mesmo acontece com o seu relacionamento e todas as peculiares complexidades que o acompanham.

 
Bolas Spike, quem mais poderia almejar a uma peculiar fusão entre “2001: A Space Odyssey”, os cânones da comédia romântica e as inegáveis referências da sua própria filmografia precedente? Tenho mesmo de te dizer que este é um daqueles filmes tão ousados que tinha tudo para não funcionar - para ser ridículo, frio e completamente removido da realidade. Ao invés disso é honesto, duro e terno quando tem de ser, otimista e singularmente belo na forma como contraria a natureza leviana e repetitiva como o amor romântico e as relações em geral são retratadas em cinema, perdendo o ADN que nos liga a todos: a humanidade.

 


Este teu primeiro argumento não encapsula apenas um conceito geral inovador, mas cose-se ainda de uma intuição e inteligência sobre os padrões de comportamento humano, com detalhes profundos, deprimentes e por vezes sarcásticos da dinâmica das relações. É uma examinação do lugar para onde nos dirigimos enquanto espécie, que aplica essas descobertas à realidade de um indivíduo, e um raro e modesto tipo de obra-de-arte.

 
Bem sei que não exploras determinados temas de forma direta, mas ao mesmo tempo, colocas questões fraturantes impossíveis de ignorar: como é que nos ligamos a outras pessoas? Serão os media sociais, na sua essência, antissociais? Será que a Era da Revolução da Informação e Tecnologia tanto fez para nos unir como para nos dividir? É uma relação meramente física superior a uma meramente emocional? O que é o amor? Às tantas invadiu-me um sentimento de exasperação profunda - porque é que não há mais filmes como o teu, Spike?


A proposta da tecnologia como escapismo é clara – hoje é facilitada a fuga aos silêncios constrangedores e a interrupção de uma ideia para colocar uma fotografia no Instagram. Eu própria, que escrevo esta carta de coração aberto, já me interrompi duas ao três vezes ao longo desta carta para verificar a minha conta de Facebook. Patético, não é?

 

 

Mas não deixando estre atrofio e entorpecimento social de ser um dos focos do teu filme, vale a pena reforçar, no entanto, que se “Her” não se curva perante os proveitos da grandeza tecnológica, também não é propriamente um manifesto contra ela. Estas observações, ou antes sugestões para reflexão sobre a tecnologia são repetidamente ancoradas à tua crença– e consequentemente, do filme – de que a necessidade de nos mantermos ligados ao outro é inata e manter-se-á humana até ao fim. É essa compulsão de partilhar a vida com o outro que faz as roldanas do enredo moverem-se, e a tecnologia surge como o dispositivo que lhes permite apenas conferir longevidade e amplificação.

 
Assim, e acima de tudo, construíste um veículo emocional – para nosso espanto, uma história de amor completamente familiar mas que também parece absolutamente original – e uma fórmula de sucesso reinventada e levada ao nível seguinte.

 

Compreendeste, como o faz apenas quem já amou e foi amado, que uma das maiores potencialidades do Amor é a formação da melhor versão de nós mesmos, enquanto conseguimos otimizar o nosso potencial. Todavia, este é também um dos seus maiores perigos, porque ao mesmo tempo que desejamos o crescimento da nossa “metade”, desenvolve-se em nós o medo de ficarmos para trás no processo. A tua fita não só explora essa ambígua realidade das relações como não cede à facilidade de descartar o Theodore como um indivíduo desviante, vendo-o antes como um produto do ambiente em que está envolvido, e preocupando-se mais em explorar a universalidade desses mesmos problemas relacionais – as dúvidas, a necessidade de entrega, a obsessão, a dor. Esta é, assim, uma evocação extraordinária da verdade fundamental sobre o amor, que se baseia na partilha e no sacrifício, na certeza de que temos de ceder uma parte de nós, comprometer-nos, para descobrirmos o fundo do arco-íris de uma ligação significativa, que é difícil e nega todos os idealismos e facilitismos do destino romântico fantasiado na juventude.

 


Parte do que torna isto um verdadeiro feito é o facto de a tua (vossa) criação ser tão credível, tanto no desenvolvimento em etapas do relacionamento da Samantha e do Theodore, como na própria criação estética de um mundo que a todos nós é vagamente familiar.


A forma como o ambiente que circunda o enredo foi construído é, apenas de si, digno de um mar de cartas de amor. Este é um mundo admitidamente situado num futuro próximo, mas onde não existem motas voadoras ou ciborgues a policiar as ruas. É utópico e distópico mas não suficientemente discrepante da nossa própria realidade para que não possa surgir como uma pequena mas crível viagem de “regresso ao futuro”. As construções macias e geométricas enchem esta versão de Los Angeles que é colorida por tons pastel. A simplicidade constitui uma consequência básica da inovação enquanto o aspeto desbotado sugere uma sociedade insulada do contacto humano. Tudo resplandece perante a ambígua beleza e a bizarrice vaga de tudo isto.

 


Apesar de não ter aqui espaço ou tempo para prezar a reunião perfeita de centenas de pessoas que trabalharam para edificar o todo, gostava de dirigir ainda uma palavra aos teus dois pilares. O Joaquin Phoenix, cuja performance é demasiado subtil para Óscares e outros louvores, mas absolutamente assombroso e gracioso. Num contraste poderoso com o id materializado em “The Master” de Paul Thomas Anderson, ele forjou Theodore de nuances ternas, lúcidas e inteligentes.


Por outro lado, fazer saber que no processo de desenvolvimento e filmagens de “Her” Samantha sempre foi Samantha Morton, a tua primeira escolha para dar “corpo” ao Sistema Operativo. Mas depois de Morton estar presente todos os dias no set e de fazer a gravação integral do papel, sentiste que algo não batia certo, e com a bênção de Morton (deixando, em sua honra, o nome do Sistema), substituiste-a por Scarlett Johansson. Que palpite certeiro… A Scarlett criou uma das performances mais sensuais, intrigantes e completas do ano, formando um novo ícone do Cinema moderno sem para tudo isso precisar sequer de uma existência física. Os falatórios que chegaram a existir à volta de possíveis nomeações pela sua prestação secundária podem parecer rebuscados a muita gente, mas depois de vermos o filme a única implausibilidade é ela estar de fora em praticamente todas as listas pela razão pouco adaptada ao seu tempo de que “para ser considerada uma performance deve ser plena na representação vocal e física”. Pfff... patetas.

 


Quero terminar, Spike, dizendo-te que “Her” é muitas coisas, mas também não é outras tantas. Não é uma comédia barata sobre um falhado incapaz de estabelecer uma ligação humana, ou uma palestra cínica sobre o antissocialismo dos sistemas sociais artificiais, ou sequer um ensaio sobre o quebra-cabeças do desenvolvimento do domínio tecnológico sobre nós.

Sou eu, tu e todos nós, o aqui do agora mascarado de além do amanhã. É uma história de amor do séc. XXI, que é um retrato digno desta Era dominada pela mediação tecnológica, mas ao mesmo tempo a captura perfeita da sucessão de disposições boas e más desde que conhecemos o amor como ele é. Não criaste, como já ouvi dizer, uma cápsula para o futuro, porque o desejo de amar e ser amado é eterno.

Only connect!”, escreveu E.M. Forster.


Agora desculpa-me a despedida apressada, mas vou fechar o portátil, guardar o smartphone e vou abraçar alguém.

 

Obrigada.

 

Catarina

 

 

 

9.5/10

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Point-of-View Shot - American Hustle (2013)

por Catarina d´Oliveira, em 23.01.14

 

"Did you ever have to find a way to survive and you knew your choices were bad, BUT you had to survive?"

 

Poderíamos dizer que tem um pouco de “Argo”, de “Goodfellas” e de “Boogie Nights”, o que em rigor estético, narrativo e de abordagem não seria nenhuma mentira, mas a verdade é que apesar de ser uma obra geralmente positiva, “American Hustle” não surge como um todo coeso, ao contrário de qualquer uma das suas inspirações.

 

Apanhados pelo agente Richie DiMaso depois de um dos seus múltiplos golpes, Irving Rosenfeld e a sua parceira e amante Sydney são forçados a trabalhar para o FBI numa missão que almeja capturar alguns dos mais perigosos criminosos de New Jersey. É assim que se veem envolvidos nos negócios pouco claros de Carmine Polito, um político entusiasta mas pouco credível que se deixou cair nos meandros da máfia local. Para dificultar uma missão já de si complexa, Irving acaba por descobrir, da pior maneira possível, o poder do ressentimento de Rosalyn, a mãe do seu filho, de quem nunca se chegou a divorciar…

 

 

 

Com 10 nomeações aos Oscars da Academia, “American Hustle” é um dos grandes filmes da temporada, uma incursão divertida e desavergonhada pelo universo ordinário dos anos 70 vistos à lupa de golpistas que vivem da distorção pornográfica do sonho americano.

 

Está tudo muito bem enquanto não interrompemos a sessão para refletir e notamos que, afinal, não há muito que extrair desta mirabolante história de curvas e contracurvas onde talvez apenas por milagre do dom genuíno de muitos dos envolvidos – incluindo o próprio realizador – não se deram colisões violentas, capazes de deitar por terra todas as possibilidades de um grande filme.

 

O que se sugere à cabeça é que David O. Russell se enamorou inescusavelmente do charme “trashy” do período, onde abraça frivolamente os excessos da era que representa, desde os vitoriosos decotes intermináveis ao assassínio coletivo daquilo que inocentemente chamamos de um bom penteado, enquanto se deixa maravilhar pelas infinitas possibilidades de um elenco em estado de graça – e de talento.

 

 

É certo e assegurado que não precisamos todos os dias que nos chegue Cinema com profundas mensagens sobre o estado do mundo de Ontem, que se reflete exponencialmente no mundo de Hoje, mas é difícil ignorar, tendo em conta as potencialidades da história e particularmente das personagens originais, a riqueza que daqui poderia ser possível extrair.

 

É admitidamente um filme de atores – e de grandes atores – mas onde estes servem apenas o propósito de meras peças que se movimentam de um cenário para outro, varrendo-se rapidamente as “backstories” para debaixo do tapete em prol do frenesim da ação policial central. Este estilo “aumentado” e extravagante de O. Russell acabou por servir positivamente outras histórias que tocaram pontos e experiências emocionais para o espectador, mas o mesmo raramente acontece com “American Hustle”.

 

 

O. Russell é um homem de costumes pelo que recupera parte dos elencos de “The Fighter” e “Silver Linnings Playbook” para a sua tática de 1-3-1, onde, o ponta-de-lança de Bradley Cooper é, em 5 minutos, substituído por um “quase-cameo” de Robert De Niro que finalmente faz pandã com as inigualáveis performances com que nos brindou ao longo dos anos 70, 80 e 90. O protagonista é vivido com as devidas doses de charme e repugnância pelo camaleónico Christian Bale, mas são as mulheres – Amy Adams e Jennifer Lawrence – que mais têm feito correr tinta pelas suas magníficas (mas não totalmente surpreendentes) performances de uma acídica femme fatale e uma esposa psicótica cujas técnicas de manipulação nunca devem ser questionadas.

 

É um bom filme com as potencialidades de ter sido um grande filme, destinado a levar por tabela por isso e pelo (sobre)elevado reconhecimento alheio e não por desalmadas pretensões próprias, quando é uma incursão perfeitamente aceitável e, inclusive, acima da média, maus penteados à parte.

 

 

Curiosamente, o cabelo, esse, pode ser a verdadeira chave de tudo.

 

Na primeira cena de “American Hustle”, Irving Rosenfeld percorre o seu luxuoso quarto no Hotel Plaza enquanto abotoa uma camisa de gosto duvidoso sobre um enorme estômago que transborda por cima do apertado botão das calças, e que se adivinha cheio à custa dos golpes e contragolpes nos quais se tornou um insubstituível especialista.

 

O que se segue é uma sequência quase macabra que envolve a minúcia inerente à preparação diária de Rosenfeld, e que envolve o preenchimento meticuloso, quase científico, da cabeça pelada com fartos tufos de cabelo falso. É um breve momento de “make-over” demente, quase íntimo, que acompanhamos enquanto o golpista tenta erguer a ilusão palpável de um penteado preenchido e composto. A combinação final, bem afixada por uma dose generosa de laca, é uma poderosa metáfora, não só para o arco narrativo que nos preparamos para acompanhar durante pouco mais de duas horas, mas sobretudo para o produto final que David O. Russell nos serve.

 

 

É um filme de traços dementes, cuja diversão, sensualidade e potência dos protagonistas tenta ocultar as peladas de um argumento com bons one-liners, mas no final de contas pouco coeso – confuso até ocasionalmente - ou sequer preocupado em criar um ponto de foco e de ligação emocional.

 

Seja como for, e parta de onde partir a opinião de cada um de nós sobre o filme – quer do espetro positivo ou negativo – “American Hustle” conseguiu, através da sua minuciosa compensação de elementos menos conseguidos com o brilho das suas forças motrizes, chamar a atenção de todos, e surgir como um dos filmes mais relevantes do ano.

 

É o derradeiro golpe do baú.

 

 

6.5/10

 

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Mise en Scène - Trailer completo de "American Hustle"

por Catarina d´Oliveira, em 10.10.13

Depois de, no ano passado, ter arrancado uma surpreendente nomeação de Melhor Ator pela sua prestação em "Silver Linnings Playbook", Bradley Cooper quer mostrar que esse não foi um acontecimento isolado. Case in point - o novo trailer de "American Hustle" parece prometer-lhe mais uma boa performance, que me deixou especialmente intrigada por um monólogo intenso de rolos na cabeça que protagoniza - isto para não falar dos restantes... mas desses já só se espera o melhor.

 

Além de Cooper, o filme conta com um elenco de luxo encabeçado por Christian Bale e Amy Adams, e ainda com participações de Robert DeNiro, Jennifer Lawrence, Jeremy Renner e Michael Peña. O enredo traz-nos a história verídica de dois vigaristas que são forçados a trabalhar como informadores do FBI com o intuito de desmascarar uma rede de corrupção e tráfico de influências liderada por políticos e mafiosos. 

 

 

"American Hustle" deverá chegar aos cinemas americanos neste natal.

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Mise en Scène - "American Hustle"

por Catarina d´Oliveira, em 31.07.13

 

O Good Morning America revelou finalmente o primeiro trailer oficial do muito aguardado "American Hustle", de David O. Russell.

 

Com um elenco de luxo encabeçado por Bradley Cooper, Christian Bale e Amy Adams, e ainda com participações de Robert DeNiro, Jennifer Lawrence, Jeremy Renner e Michael Peña, o filme traz-nos a história verídica de dois vigaristas que são forçados a trabalhar como informadores do FBI com o intuito de desmascarar uma rede de corrupção e tráfico de influências liderada por políticos e mafiosos. 

 

 

"American Hustle" deverá chegar aos cinemas americanos neste natal.

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Snorricam - Between Two Ferns: Oscar Buzz Edition Part 1

por Catarina d´Oliveira, em 11.02.13

É talvez uma das mais estranhas e embaraçosas web series do momento, e está de volta em grande: com a edição dos Oscars.




Zach Galifianakis é o anfitrião de "Between Two Ferns" que desta feita recebe, logo após o luncheon dos Oscars, uns participativos Jennifer Lawrence, Namoi Watts, Amy Adams, a "drunk" Anne Hathaway e Christoph Waltz para uma mini-ronda de awkwardness one-on-one

 

 

A parte 2 deverá ficar online já amanhã.

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Point-of-View Shot - The Master (2012)

por Catarina d´Oliveira, em 08.02.13

 

"I have unlocked and discovered a secret to living in these bodies that we hold"

Paul Thomas Anderson não só nos tem deixado bem habituados, como tem reunido o dom da incapacidade de expressar em palavras o que o seu trabalho tem vindo a significar para o panorama do Cinema contemporâneo Americano. Palavras como “corajoso” e “excecional” começam a parecer obsoletas. Eis que, no horizonte, surge The Master.

 

Ao cabo do termo da Segunda Guerra Mundial, o marinheiro Freddie Quell chega a casa indeciso e quebrado, inseguro quanto ao futuro, até ao dia em que se deixa seduzir pelo carismático Lancaster Dodd, líder da Causa, uma organização de base religiosa que começa a tornar-se popular nos Estados Unidos no início dos anos 1950.

 


 

Apesar de ser reconhecido como “o tal filme sobre a Cientologia”, a publicidade ao novo filme de Paul Thomas Anderson não é propriamente correta, ou sequer justa. Apesar de “A Causa” pedir uns quantos aspetos emprestados à organização criada por L. Ron Hubbard (além do paralelismo que pode ser estabelecido com qualquer outro “culto”), a verdade é que a dinâmica e natureza do seu funcionamento vão perdendo fulgor e importância à medida que Anderson se interessa mais em mergulhar na psique e mistérios de Freddie e do seu Mestre. São as ramificações decorrentes, cuja origem só podia advir de uma mente tão genial e críptica como a de Anderson (que escreveu o argumento e realizou o filme), que vão muito mais além.

 

The Master exige paciência e diligência do espectador, e em nenhum sentido é uma experiência leve, ou fácil. A sua abordagem às personagens tem muito a dizer sobre as fundações da cultura Americana, desde o individualismo à cooperação, ou da liderança à servitude. E Anderson não precisa de grandes discursos precisos, ou de personagens históricas, ou de apontamentos celebratórios supérfluos para o fazer. A humanidade misteriosa e complexa nos seus filmes acabou por, ela mesma, desenterrar a alma de uma nação.

Como “There Will Be Blood”, The Master estabelece um paralelo interessantíssimo com a disfunção Americana. Apesar de o posicionamento temporal ser preciso, a sua relevância é inegável, já que explora a dinâmica de uma nação que procura orientação até à iluminação.

 

No Festival Internacional de Toronto, Anderson discutiu a importância do período pós-Segunda Guerra Mundial no desenvolvimento de “O Mentor”, e como esse ambiente era o jardim perfeito para florescerem teorias como a da Causa – a América sentia-se rejuvenescida pelo espírito heroico, ao mesmo tempo que ainda perseguida pelos fantasmas do horror da Guerra. O questionamento sobre o sofrimento e as vidas passadas era constante, e é, como bem podemos lembrar, um tema que interessa aparentemente ao realizador, que já o abordara brevemente em “Magnolia”, se lembrarmos a asserção recorrente: “"Nós podemos cortar com o passado, mas o passado não corta connosco". É essa infinitude da vida das coisas da vida - discussões intermináveis e intemporais sobre o poder da dinâmica entre os homens e a sua necessidade de acreditar em Algo maior -, da alma e do tempo que está no cerne da convulsão interior que reside em The Master.

 

 

A própria profissão de Freddie como fotógrafo não é nem pode ser vista como arbitrária. A fotografia é o “congelar” de um momento fisicamente inacessível, um lugar onde o passado existe para ser observado mas nunca tocado, ou revivido, uma noção que acompanha particularmente bem com as noções de lembrança, sonho e acesso ao passado discutidas.

 

No limite, até a escolha de filmar em 65 mm (depois exibido em 70 mm) por Paul Thomas Anderson pode ser considerada em análise, se pensarmos no confronto entre o analógico e o digital. Enquanto o digital permite a gravação de momentos e rápido visionamento, formatação e reutilização, o mesmo não sucede com o analógico, ou neste caso, com os 70 mm, onde a impressão é permanente, não reutilizável e inapagável. Os traumas de Freddie são analógicos, indeléveis, ainda que o seu desejo de renovação seja constante.

 

 

Um segundo visionamento beneficia a experiência e equilibra em pratos mais bem calibrados a primeira metade, imensamente estimulante e entusiasmante, e a segunda, mais enigmática e complexa e consequentemente, mais distanciada - servindo o primeiro visionamento para o equivalente a observar e apreciar uma bela obra de arte e ser-se intrigado pela mesma, e o segundo para encorajar mais interpretação, reflexão, discussão e, quem sabe, um terceiro visionamento.

 

O que não precisa de ser visto mais de uma vez para gerar certezas é o calibre das interpretações dos principais peões em jogo.

 

Como Freddie, Joaquin Phoenix é assustadoramente poderoso, alternando entre os disparos raivosos e a tristeza abaladora com uma energia descontrolada que o torna apavorante, ainda que revigoradamente relacionável com uma parte recôndita e obscura do nosso ser.

 

A fabulosa interpretação de Phillip Seymour Hoffman é assemelhada em toda a natureza a um vulcão. A aparência plácida e ponderada é sempre passiva de ser substituída por uma explosão inesperada.

 

 

Em separado, são magníficos; mas juntos são uma força da natureza complementada, encaixando cada recanto com uma perfeição tão dinâmica e magnética como nenhum par conseguiu este ano. O confronto de ambos só encontra paralelo na eternal contenda entre o id e o superego: de um lado a besta indomável, de outro o treinador que aprecia a sua selvajaria, mas que anseia domá-la.

 

A personagem e performance de Amy Adams são comummente esquecidas, em detrimento de uma elaboração repetida sobre os feitos notáveis dos protagonistas masculinos, mas maior injustiça não poderia ser feita. A criação de uma mulher de natureza enganadoramente doce é notável, uma existência na sombra que é perturbadora em crescendo.

 

Tanto a fotografia de Mihai Malaimare Jr. (o primeiro trabalho de Anderson sem o seu diretor de fotografia habitual, Roger Elswit, que não pode participar por conflitos de agenda), como a banda sonora original de Jonny Greenwood estão entre as mais belas e distintas do ano.

 

 

Uma das dificuldades de The Master está, no entanto mas não só, ligada à ausência de um clímax claro e assumido, especialmente quando a última base de comparação é a sequência final convulsa e explosiva do seu último filme “There Will Be Blood”.

 

The Master desobedece ao processo de aproximação que se constata noutros títulos, potencialmente mais emocionais na experiência, menos crípticos na forma. De facto, o novo filme de Paul Thomas Anderson tem um quê de impenetrável, o que nem sempre jogará a seu favor. Apesar de uma reflexão única sobre o caráter e condição humana que apetece esgravatar, conhecer, sorver, é como pegar numa mão cheia de areia e ver os grãos escorrer entre os dedos, enquanto observamos imponentes o seu abandono do nosso controlo.

 

Paul Thomas Anderson não faz Cinema de significado claro, ou de configuração decifrável com a ajuda de uma qualquer enciclopédia interpretativa. Anderson faz Cinema quase interativo, onde o espectador é obrigado a dar algo de si, participar, espremer a laranja pelas próprias mãos. O grau de participação é, contudo, unicamente determinado por quem vê, e nesse sentido, "The Master" pode ser o que é à superficíe e nada mais, ou um infindável baú de interpretações que nunca serão certas ou erradas. Cada abordagem é tão válida como a outra.

Depois de dois visionamentos, o filme continua a ser um mistério para mim, mas mais um mistério que precisa de ser aceite, do que propriamente escarafunchado. É, afinal, muito sobre isso que reza “The Master”, sobre aquilo que não controlamos e/ou entendemos, mas que mesmo assim temos de aceitar em toda a sua complexidade.

 

Mas são mistérios subliminares como os seus que se demoram na nossa mente muito depois de abandonarmos a sala. Em retrospetiva, e tendo em conta a envergadura da carreira de Anderson, que encapsula clássicos modernos como “Boogie Nights”, “Magnolia” e “There Will Be Blood”, pode não ser um favorito óbvio e assumido os espectadores mais assíduos. Mas tal como o enredo e a própria filmografia de Anderson se preocupam em elaborar, só o tempo lhe poderá convir o lugar certo nas páginas da história.

 

É Cinema mercurial, para cativar e admirar, mais do que propriamente estabelecer uma ligação emocional com o espectador – tem uma abordagem austera, implacável, quase glaciar. Muito à imagem de Kubrick, por exemplo. É o sonho vivo e materializado do eterno estudante de Cinema, e uma adição meritória ao cânone formidável de Anderson sobre as falhas da natureza Humana.


8.5/10

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