Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]




Mais sobre mim

foto do autor


Calendário

Abril 2014

D S T Q Q S S
12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
27282930


Arquivo

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2014
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2013
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2012
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2011
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2010
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2009
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2008
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D


Point-of-View Shot - The Grand Budapest Hotel (2014)

por Catarina d´Oliveira, em 10.04.14

 

"And so my life began, junior lobby boy in training under the strict command of M. Gustave H. Many of the hotel's most valued and distinguished guests came for him. I became his pupil and he was to be my counselor and guardian"

 

 

Wes Anderson, o Willy Wonka do imaginário cinematográfico, está de volta ao grande ecrã com mais uma obra que lhe fará sonhar com a utópica mas arrebatadora possibilidade mágica de habitar um deslumbrante globo de neve.

 

O Grand Budapest Hotel é um histórico edifício situado nas pitorescas montanhas da (ficcional) República de Zubrowka e o epicentro das três eras históricas que seguimos ao longo de 100 minutos. Algures nos anos 80, um escritor recorda o rompimento do seu incessante bloqueio criativo que ocorreu anos antes, durante sua estadia no decadente hotel titular, quando conheceu o melancólico Mr. Moustafa. Depois de um encontro que pouco deveu ao acaso, o escritor navega, durante um sumptuoso jantar de vários pratos, pela incrível história de vida, morte, amor, coragem e vingança do atual dono do Hotel.

 

 

O mais proeminente habitante das suas memórias é Gustave H., o distinto concierge do Grand Budapest Hotel, mestre-de-cerimónias, sedutor de hóspedes, leitor e recitador de poesia romântica e emblema de uma era dourada na antecâmara da barbárie. Sob a sua liderança estrita, o Grand Budapest era o destino absoluto para qualquer socialite, e nenhum hóspede se sentia desacompanhado. É, no entanto, quando uma das suas muy estimadas padroeiras morre inesperadamente, que o carismático concierge e o seu fiel paquete Zero se veem envoltos numa intricada aventura que envolve acusações cruzadas de homicídio, o roubo e recuperação de uma preciosa pintura renascentista e a luta por uma enorme fortuna de família - tudo sob o cenário de um Continente que passa por inesperadas e dramáticas mudanças.

 

O universo Andersoniano atingiu aqui o apogeu em toda a ilustre glória das suas subtilezas marcantes, ironia cortante e detalhe digno de uma casa de bonecas. A graciosa zombaria que faz da história, obliterando horrores diretos em prol de uma série de piadas, jeitos e trejeitos travessos, não é gratuita. É vingativa. Dicotomicamente, é um dos filmes mais divertidos e caprichosos do realizador, mas também o mais sombrio e trágico.

 

 

A caracterização é parca, a última sequência – em virtude da mudança de tom consequente dos próprios temas negros enterrados no enredo – pontua-se por um decaimento semelhante ao início do fim da euforia depois de um volumoso consumo de açúcar, e a soma das encantadoras partes parece não dar conta certa com o resultado do todo… mas o filme de Anderson nunca deixa de ser um portento.

 

Tem, como todos os sentidos permitem atestar, muitos ingredientes familiares, mas mesmo no contexto de aliança para com a visão de Anderson, “Grand Budapest Hotel” é, possivelmente e em larga medida, o seu filme mais original.

 

Grande parte do elenco cujo pedigree serviria para nos absorver de talento durante sete vidas não tem mais do que meras linhas de diálogo, e ainda menos minutos de antena. Se noutros casos a tais aparições fulgurantes pudessem ser um ruim fator de distração, Wes Anderson tem o dom de os tornar essenciais, e cada ator se dedica à sua performance com um predador que tranca a presa. Nenhum deles era substituível, todos foram absolutamente necessários, e muitos deles, idos num instante entre instantes.

 

 

Mas o Hotel de Anderson pertence apenas e só à inspirada criação de Ralph Fiennes. Combinando a quantidade certa de comicidade irónica com um toque trágico e nostálgico, o ator britânico criou uma figura deliciosamente excêntrica e profundamente melancólica que se torna instantaneamente um ícone. A química e dinâmica que cria com o jovem Tony Revolori – que com ele carrega o filme às costas - parece uma trapaça irrepetível e congelada na nostalgia do tempo.

 

No que respeita à estética, não vale a pena andarmos com rodeios: esta é a derradeira apoteose de tudo o que reconhecemos como Andersoniano. Do design de produção (que parece sugerir dias de trabalho dedicados a corrigir uma única ruga num papel de parede ou num talher desalinhado), à banda sonora simbiótica de Alexandre Desplat, passando apaixonante guarda-roupa de Milena Canonero, tudo se enquadra com a perfeição de uma obra renascentista na fotografia de Robert D. Yeoman. No perfeito conjunto costurado à medida, é um bolo de intermináveis e deliciosas camadas do qual é humanamente impossível retirar os olhos.

 

 

Por vezes, esta sobrecarga sensorial e estética pode acabar por se revelar um problema, no Cinema de Anderson, se o espectador se deixar crer que pouca profundidade existe além da teatralidade de uma construção tão restrita e aparentemente artificial. A recompensa está ali para ser encontrada, e tem um valor inestimável, mas precisa de querer ser encontrada.

 

É que criou-se a perceção pouco fundamentada que Wes Anderson tem uma abordagem infantil e trivial das suas histórias, fazendo da sua estética e visão encantada um escudo imaturo para combater o desenvolvimento de temas mais obscuros, emocionais, ou moralmente discutíveis. Além de a presunção de que o Cinema deve ser um mero simulacro da realidade ser obviamente castradora e infundada, tais asserções revelam-se cada vez mais incorretas, conforme percorremos a cronologia da sua carreira. Em “Moonrise Kingdom”, o retrato arregalado da juventude em revolta e do primeiro amor versava também e na realidade sobre a solidão e descrença da vida adulta. Da mesma forma, por detrás do thriller cómico que colore cada ostentoso detalhe de “Grand Budapest Hotel”, está uma reflexão profunda sobre o desaparecimento da velha Europa, as tragédias do colapso socioeconómico, o poder destrutivo do conflito bélico (mesmo que sem nunca o colocar diretamente debaixo do nosso nariz) e um melancólico e trágico ensaio sobre a memória e a nostalgia.

 

 

Dá-se o caso de este não ser, para muitos gostos e opiniões, o filme mais emocional e humano de Wes Anderson, mas é inequivocamente o mais ambicioso e o mais pessoal. A certa altura, Zero partilha que "o mundo de M. Gustave já tinha acabado muito antes de ele ter entrado nele, mas ele soube manter a ilusão como ninguém". O mesmo se pode dizer de Anderson, uma mente artisticamente solipsista, de timbre único e inconfundível, absolutamente contemporânea mas inspirada (e apaixonada) pelo Cinema clássico.

 

Já não existem realizadores assim. E na verdade, talvez nunca tenham existido.

 

 

8.5/10

Autoria e outros dados (tags, etc)




Mais sobre mim

foto do autor


Calendário

Abril 2014

D S T Q Q S S
12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
27282930


Arquivo

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2014
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2013
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2012
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2011
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2010
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2009
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2008
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D