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"Sadness: Crying helps me slow down and obsess over the weight of life's problems"
Decorria o ano de 2013 quando o presidente da Pixar tomou uma posição crucial para o futuro do estúdio – financeiro, criativo e sobretudo, no nosso coração. Depois de quatro filmes dos quais três eram sequelas/prequelas, o estúdio anunciou a intenção de retornar às raízes da originalidade, sublinhando a importância de lançar, pelo menos, um original por ano.
Foi uma jogada de mestre rara, só possível com uma origem onde a nobreza da satisfação por um trabalho bem feito – e feito com amor e inventividade – é a peça mais importante.
Dentro desse prisma, e depois de um ano de paragem sem o lançamento de um único filme, a Disney Pixar chega a 2015 com duas poderosas cartadas na manga. “The Good Dinosaur”, que nos fará delícias mais para o final do ano, e “Inside Out”, o corajoso e criativo filme que tem lugar dentro da nossa cabeça e onde as protagonistas são as nossas emoções.
O resultado de uma decisão como aquela que a Pixar levou a cabo é apenas um, para já: o regresso definitivo de uma idade de Ouro que a nova década ainda não tinha visto (desde “Toy Story 3”).
Com “Inside Out” a Pixar – a nossa Pixar – está de regresso.
Depois de bonecos, monstros, carros e animais terem demonstrado a capacidade de sentir, é a vez das próprias emoções mostrarem que também têm sentimentos. Apresentamo-vos a Riley, uma menina de 11 anos que terá que dizer adeus a uma vida feliz no estado americano do Minnesota e começar uma nova vida, bastante do seu desagrado, em São Francisco. Numa viagem ao interior do seu cérebro, percebe-se como se formam as memórias e como da ação conjunta de cinco emoções – alegria, nojo, raiva, tristeza e medo – se definem experiências fundamentais, como fazer novos amigos.
Não obstante o facto de ser praticamente uma verdade objetiva que já tenham existido personagens mais ricos ou uma coerência narrativa mais sólida, “Inside Out” segue sem igual ou paralelo no âmbito da ambição do conceito que apresenta, com uma metáfora adorável mas afetante que pretende “trocar por miúdos” as nossas emoções.
Pete Docter é o maestro da ousadia (juntamente com Ronaldo Del Carmen), e é curioso explorar como tentou extrair o
melhor das suas duas experiências anteriores no estúdio para criar um híbrido que vale apenas por si. É verdade que “Divertida-mente” não é tão simultaneamente coeso e inventivo como “Monsters Inc.”, nem tão emocionalmente carregado (sem ser manipulador) como “Up”, mas a metamorfização de experiências de Docter foi muito mais do que uma cautela vencedora.
A mente é representada como uma pequena Disneyland onde vários “bairros” diferentes representam o inconsciente, a imaginação, a memória e muito mais – no que à construção estética e estilística diz respeito, o novo filme da Pixar é absolutamente de cortar a respiração. Animação é brilhante, colorida e surpreendentemente inspirada para um estúdio que tanto faz.
Mas não é apenas do ponto de vista técnico de “Inside Out” é um redondo triunfo do ponto de vista temático e de abordagem. Este é admitidamente o filme mais “negro” do estúdio – no fundo, e apesar de já termos sido suficientemente traumatizados com a emocional sequência inicial de “Up” ou a confrontação com a morte certa em “Toy Story 3”, “Inside Out” é essencialmente um ensaio sobre a depressão e a necessidade crucial da tristeza no enquadramento e desenvolvimento da psique humana. Isolar e alienar a possibilidade de tristeza ocasional, avisa-nos o filme, só poderá conduzir a um estado ainda mais profundo de infelicidade. E embutir uma mensagem como estas num filme primariamente destinado a crianças denota uma coragem e respeito pela inteligência do público tremendas.
Docter e Del Carmen criam um universo único no seu elemento fantástico, mas, ao mesmo tempo, incrivelmente convincente que reflete de forma sensível e delicada as complexidades e fragilidades da mente humana.
Divertido, emocionante e emocional, “Inside Out” é um retumbante triunfo de Docter (uma das mentes mais brilhantes do cinema de animação atual) e um ansiado regresso a casa da Pixar.
Bem-vinda de volta.
8.5/10