É o meu biberão de qualquer hora do dia, e a maior fraqueza na minha armadura cinematográfica - o
indie é uma criatura única que, apesar de vir a ser cada vez mais infestado com tiques de grandes estúdios, continua a saber de cor todos os caminhos para o meu coração. E hoje dou-vos 10 grandes mas não exclusivas razões para que tal aconteça.
POSTERS COMO DEVE SER
A arte dos posters não anda pela rua da amargura, anda pelos esgotos que estão por baixo da rua da amargura. Entre clichés que são repetidos vezes e vezes sem conta nas grandes produções, cabeças flutuantes e teasers desinspirados que podiam ter sido desenhados pelo meu sobrinho de cinco anos, os indies continuam a surgir como uma fonte aparentemente inesgotável de iluminação abençoada nos meandros da negritude da falta de imaginação.
PAPÉIS ARRISCADOS
Muitas vezes, os indies contam histórias nas quais os grandes estúdios têm medo de apostar. É verdade que há a possibilidade de realmente a coisa não prestar para nada, mas por outro lado, são estas pequenas e destemidas produções que têm abrido portas a algumas das mais fascinantes encarnações vistas na história do Cinema.
A "MANIC-PIXIE-DREAM GIRL" (MPDG)
Depois de ver Kirsten Dunst em "Elizabethtown", o crítico Nathan Rabin criou o termo MPDG para descrever "a borbulhante criatura cinematográfica que existe na imaginação fervente de argumentistas-realizadores para ensinar outros personagens a abraçar a vida e os seus infinitos mistérios e aventuras".
ROAD TRIPS
Nenhum indie está verdadeiramente completo sem, pelo menos, uma montagem "ao volante" num calhambeque sem seguro onde uma personagem coloca a mão fora do vidro e faz golfinhos ao som de uma canção profunda.
NÚMEROS DE DANÇA
Ah, aquele clímax de "Little Miss Sunshine"... são momentos como este, inolvidáveis para olho e para a alma que servem verdadeiramente estabelecer uma declaração sobre a personalidade da personagem ou a sua jornada.
HISTÓRIAS DE CRESCIMENTO
Ninguém tira o mérito da capacidade de entretenimento das invasões aliens, os apocalipses zombies e dos super-heróis, mas à medida que nos desenvolvemos enquanto seres humanos, são apenas alguns filmes os que conseguem verdadeiramente "falar connosco" e focar-se nas lutas e desafios com os quais nos identificamos.
BANDAS SONORAS
Há filmes com boas bandas sonoras, e depois há filmes onde as bandas sonoras são, em si mesmas, personagens. Guitarras, assobios, palmas e letras profundas sobre a jornada da vida são elementos essenciais.
Chega para lá "300", que o slow motion que me interessa está todo nos indies. Se bem feito, pode tornar-se um momento memorável porque permite convir o que as personagens estão a sentir - ocasionalmente com um voice-over lindinho.
DORES REAIS
Magoar, tocar na ferida e revisitar fantasmas do passado não é coisa que atraia blockbusters. Mas é coisa que atrai sentimentos, e emoções, e uma ligação inexplicável com filmes que parecem pedaços arrancados de nós.
DIÁLOGO ESPIRITUOSO E CITAÇÕES PARA GUIAR A VIDA
Não há indie que se preze sem diálogo engenhoso e inventivo, ocasionalmente inverosímil de acordo com os padrões de uma conversa real. Mas quem é que se importa quando é tão bem feito e quando proporciona citações pelas quais estamos prontos a orientar a nossa vida?
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Resumindo e concluindo: porque é que gosto tanto de indies? Porque não têm um orçamento milionário e não apresentam a possibilidade primária e direta de encher o bolso ninguém. Porque são filmes feitos pelo poder explosivo do talento cru e pela satisfação inexplicável de criar algo duradouro. No fundo, porque são filmes feitos pela alegria e pelo amor de fazer filmes.