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"My name is Benjamin Button, and I was born under unusual circumstances. While, everyone else was agin', I was gettin' younger... all alone"
F. Scott Fitzgerald publicou em 1921 uma pequena e curiosa história sobre um homem chamado Benjamin Button. Quase 90 anos depois, o conto inspirou os grandes mestres David Fincher (realizador) e Eric Roth (argumentista) para um dos mais fascinantes objectos de cinema que tenho visto.
Benjamin Button nasce em New Orleans em 1918, mesmo no final de Primeira Guerra Mundial. O seu caso já seria de si peculiar, não tivesse, à nascença, o aspecto de uma pessoa de idade já muito avançada. Mas o que realmente torna este um caso estranhíssimo é que, além disso, Benjamin prossegue na vida ao contrário, ou seja, a sua figura física vai ficando mais jovem com o passar dos anos.
Desde o nascimento até ao séc. XXI acompanhamos a sua vida curiosa, que, apesar de diferente, é pautada pelos mesmos sentimentos da de qualquer um de nós: alegria, tristeza, amor e a noção da passagem e do significado do tempo.
Muitas e demasiadas vezes damos por nós a assistir àquilo que gosto de chamar "meios filmes", ou "pedaços de filme": espectaculares festivais técnicos que infelizmente a narrativa não acompanha qualitativamente, ou belas histórias ingloriamente manchadas por irritantes falhas técnicas. The Curious Case of Benjamin Button é um daqueles filmes raros onde um domínio perfeito da técnica se funde num só com uma história fascinante contada pelas palavras mais requintadas.
Em termos técnicos, é um absoluto triunfo em todas as frentes. Os efeitos digitais são soberbos e, por o serem, são praticamente imperceptíveis a olho nu. A técnica é dispendiosa e complicada por várias vezes.
Se recordarmos filmes como Lord of the Rings, Star Wars ou mesmo Minority Report, pensaremos neles como grandes expoentes da técnica digital e virtual. David Fincher e o seu "Curioso Caso" passam indubitavelmente a integrar o lote; as técnicas (que se fundem com uma Maquilhagem irrepreensível e em tudo soberba) são tão perfeitas que, apesar de as sabermos lá pela sua impossibilidade física, são indistinguíveis ao mais atento espectador. Sem falhas, brilhante!
Outro grande “trunfo secundário” é o grau de fidelidade que se manteve ao longo das várias épocas da história da própria sociedade e do mundo à medida que Benjamin prossegue na vida. Especial atenção para os rebeldes anos 20, a Grande Depressão, a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria. Aqui uma vez mais os efeitos especiais subtis criam uma visão que não nos distrai da história, antes tornando-a muito mais viva e encantadora.
Brad Pitt chega-nos com uma interpretação que provavelmente lhe virá a valer uma nomeação ao Óscar. Reconheço-lhe esse mérito, mas não iria tão longe a oferecer-lhe o galardão. A performance é sem dúvida boa, com algumas alturas melhores que outras mas numa perspectiva global, bastante regular. Porque não o Óscar? Justamente porque, bom e regular não chega. Apesar de Benjamin Button ser uma das personagens mais fascinantes dos últimos anos...faltou algo para o tornar realmente Grandioso.
Cate Blanchett é uma das ou mesmo A melhor actriz da actualidade. Por mais curta que seja a sua presença, emana uma potência que é raramente vista em Cinema, uma luz própria que só as verdadeiras estrelas conseguem emitir. O restante elenco nunca compromete, grandes performances, tanto por quem companha Benjamin ao longo de toda a sua vida, como por quem tem uma passagem rápida.
Quanto à narrativa e enredo, é verdade que por vezes se desenvolve com divagações. No entanto, não podemos dizer que são desnecessárias já que contribuem para a brilhante construção biográfica desta maravilhosa personagem que é Button. As quase 3 horas de duração poderão ser pouco apelativas, mas quem disse que o cinema tem de ser uma experiência breve? Quem estiver realmente disposto a deixar-se absorver pela magia, nunca perderá o interesse ao viajar pelas desventuras do nosso protagonista; quem não estiver, verá aqui um bom filme mas que por mais que goste, não conseguirá ver de novo.
Parece que tudo neste filme é...curioso. Paradoxalmente, o facto de Benjamin viver ao contrário dá-nos uma diferente perspectiva sobre o caminho que percorremos ao longo da vida. Este espelho chega a dar uma melhor compreensão acerca da natureza humana. Um filme que se centra muito no processo físico da decadência, na perda e na morte, mas ainda nas oportunidades, felicidade e direito à diferença.
O Cinema tem o dom de falar todas aslínguas e tocar toda a gente de forma diferente. Muitos de vocês serão arrebatados por Benjamin Button, alguns nem tanto. Claramente, eu faço parte do primeiro grupo. Porque este não é um filme apenas sobre a vida de um homem que vive ao contrário; porque este não é apenas um filme que versa sobre as dificuldades da vida; porque este não é, no fundo, "apenas" um filme.
A vida é um rio que flui. Não importa se caminhamos para a frente ou para trás, já que irá desaguar no mesmo mar negro do final do nosso tempo. O que importa é viver, em todas as circunstâncias, boas ou más, sozinhos ou acompanhados, o melhor que soubermos.
"What I think is, it's never too late... or, in my case, too early, to be whoever you want to be... We can make the best or worst of it... I hope you make the best... I hope you see things that startle you. Feel things you never felt before. I hope you meet people who have a different point of view. I hope you challenge yourself. I hope you stumble, and pick yourself up. I hope you live the life you wanted to... and if you haven't, I hope you start all over again."
9/10
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Para os interessados, foi publicado aqui no Close-Up um pequeno artigo sobre a forma como funcionaram alguns dos efeitos especiais em The Curious Case of Benjamin Button. Para darem uma vista de olhos vão até A Curiosa Criação de Benjamin Button