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Point-of-View Shot - La Cage Dorée (2013)

por Catarina d´Oliveira, em 01.08.13

 

"Talvez que eu morra de noite 
Onde a morte é natural 
As mãos em cruz sobre o peito

Das mãos de Deus tudo aceito 
Mas que eu morra em Portugal"

 

Os ecos vinham chegando cada vez mais assertivos, mas à boa moda pessimista portuguesa não quis crer até ver. Felizmente, é mesmo verdade que o carteiro nem sempre traz más notícias. De facto, é fácil esquecer como pode trazer presentes maravilhosos.

 

Maria e José Ribeiro vivem há cerca de 30 anos na casa da porteira no rés-do-chão de um prédio num bairro parisiense respeitável e distinto. Ela é uma excelente e dedicada porteira enquanto ele é um chefe de obras fora de série. Com o passar do tempo, o casal tornou-se indispensável no dia-a-dia dos que com ele convivem. São tão apreciados e estão tão bem integrados que, no dia em que surge a possibilidade de concretizarem o sonho quase esquecido das suas vidas - regressar a Portugal em excelentes condições - ninguém quer deixar partir os Ribeiro.

 

Colocam-se agora duas questões fraturantes: até onde serão capazes de ir a sua família, os seus vizinhos e os patrões para não os deixarem partir? Por outro lado, será que Maria e José têm mesmo vontade de deixar a França e abandonar a sua preciosa gaiola dourada?

 

 

O núcleo-duro da obra debate-se com um paradoxo simples mas inteligente na qual se revêm não só as comunidades emigrantes, mas a maioria dos comuns dos mortais – o trabalho suado e dedicado de uma vida inteira, que inclusive habitua aqueles que connosco se relacionam, serve o propósito de oferecer melhores condições de vida mas acaba também por, repetidamente, impedir um condigno aproveitamento das melhores aventuras da vida.

 

O olho do realizador Ruben Alves – ele próprio filho de emigrantes e observador clínico dos trajeitos populares da comunidade - está bem atento às considerações sociais, colocado questões muito pertinentes relativamente aos valores familiares e à própria natureza do processo de emigração – a integração, a quebra de laços com a origem e a saudade de um tempo tão distante que se sente indistinto na memória gasta pelo tempo.

 

 

A identificação do povo português – especialmente das comunidades emigrantes – será naturalmente maior do que a restante audiência. O argumento é ancorado num enredo clássico, sem grandes achegas originais – mas talvez seja essa uma das razões para o seu sucesso. Afinal, só uma história tão familiar é capaz de gerar tal sentido geral de reconhecimento nacional.

 

Pegando na imagem cliché do emigrante português, Ruben Alves consegue não só desconstruí-la como apresenta-la com apontamentos satíricos precisos e autênticos mas ternos e sinceros. O equilíbrio entre o drama sério e a abordagem humorística é sempre mantido com elegância, embutindo esta “Gaiola” da capacidade mágica de nos fazer recordar jocosamente dos nossos hábitos mais característicos, para minutos depois nos estampar um sorriso de orgulho babado que quase obriga ao retiro furtivo para esconder aquela lágrima teimosa no canto do olho.

 

 

A montagem de Nassim Gordji Tehrani é auspiciosa – o que nem sempre é fácil em filmes com grandes elencos – ajudando ainda a visão do realizador ao evidenciar paralelos e contrastes do enredo. A fotografia, banda sonora e design de produção são sólidos oferecendo clichés e familiaridades em doses equilibradas e benéficas.

 

O elenco é enorme, mas não por isso mais disperso ou inconstante. Na verdade, é raro ver uma unidade de atores tão bem dirigida e sincronizada para um mesmo fim. Desde a verdade carregada por cada ruga de Rita Blanco à profunda compreensão de Joaquim de Almeida pelo estigma que persegue esta família, passando pela natureza castiça e tão portuguesa de Maria Vieira e pelas curvas vivaças de Jacqueline Corado, estamos perante um desfile de personagens que são imensamente respeitadas pelos argumentistas e realizador mas também pelos atores que as interpretam.

 

 

Uma das preocupações recorrentes relativas à “Gaiola” prendia-se com a possibilidade de retrato caricatural ou de observações pejorativas e preconceituosas que ainda hoje perduram no imaginário estrangeiro (e não só) sempre que questionado sobre a sua noção do povo português. Enquanto o filme de Ruben Alves nada faz para negar esse estereótipo nem sempre real, a verdade é que decide corajosamente “agarrar o touro pelos cornos”, e vestir essas noções pré-concebidas como uma armadura, usando-as mesmo para exaltar a natureza poderosa de um povo que tantas vezes se perde no seu próprio pessimismo e autocrítica esquecendo a sua grandeza – um pouco como acontece com o próprio filho dos Ribeiro, que afirma sempre com embaraço e temor as raízes.

 

Mas este Portugal distante que vemos nos olhos cansados da família Ribeiro não é, nem de perto, dos pequeninos. É, ao contrário, uma nação que, apesar de incontornavelmente ligada à sua perspetiva fatalista da vida e do destino, se revela num espírito resiliente e lutador inimitável.

 

 

No final, Ruben Alves deixa o apontamento que confirma a ternura, respeito e compreensão temática sustentada edificados ao longo dos 90 minutos: “aos meus pais”, aqueles que foram a verdadeira inspiração de “A Gaiola Dourada”.

 

Mas por aquela altura, quando toda a família se reúne com o Douro como pano de fundo num almoço regado a bom vinho e condimentado com azeite da terra e iguarias inconfundíveis como o bacalhau e o leitão, já não precisamos que ele nos diga. Afinal, uma carta de amor tão romântica não poderia ter uma origem menos nobre.

 

 

8.0/10

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1 comentário

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De David Lourenço a 11.09.2013 às 21:07

Não parece que a senhora atrás da Maria Vieira lhe está a apalpar as mamas, no poster?

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