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Widescreen - O 5 de Novembro de V for Vendetta

por Catarina d´Oliveira, em 05.11.12

Filme, AnoV for Vendetta, 2005

Realização: James McTeigue

Descrição da Cena: V. faz o seu discurso revolucionário aos olhos de toda a Grã-Bretanha.

 

Hoje marca-se o dia.
"Remember, remember, the 5th of November
The gunpowder, treason and plot;
I know of no reason, why the gunpowder treason
Should ever be forgot."

A HISTÓRIA (retirada de um outro artigo aqui do blog, de 2009)
Depois da rainha Elizabeth I falecer em 1603, os católicos ingleses viram alguma luz ao fundo do túnel quando o seu sucessor, James I, subiu ao trono. Todavia, e para seu infortúnio, James não era mais tolerante do que Elizabeth. A partir daí, 13 homens decidiram tentar mudar o rumo da história da Inglaterra através de uma violência explosiva que acabou por sair furada.
 
O grupo, liderado por Robert Catesby, pretendia explodir as Casas do Parlamento aniquilando assim o Rei, os membros do parlamento e até possivelmente o Príncipe de Gales; todos aqueles que condenavam e faziam a vida negra aos católicos. Para levar a cabo a revolta, o grupo posicionou 36 barris de pólvora numa cave mesmo por baixo da Câmara dos Lordes.
 
Mas conforme o plano evoluiu, tornou-se claro que pessoas inocentes acabariam por sair feridas ou ter mesmo um destino fatal no ataque (incluindo alguns que lutaram pelos direitos dos Católicos). Alguns dos conspiradores começaram a repensar o ataque e um deles chegou mesmo a enviar uma carta anónima a avisar um amigo  para não estar no Parlamento no dia 5 de Novembro. A carta terá chegado, eventualmente, às mãos do Rei que rapidamente planeou a placagem do ataque.

 
No dia 5 de Novembro de 1605, numa terça-feira, Guy Fawkes, que estava na cave por baixo do Parlamento perto dos 36 barris de pólvora com um relógio, um fósforo, papel enrolado e uma lanterna, foi descoberto, torturado (revelando o nome dos outros conspiradores) e por fim executado.
Hoje, mais de 400 anos depois, continua a manter-se a tradição de celebrar, no dia 5 de Novembro, a Bonfire Night (Noite das Fogueiras que celebra a segurança do Rei), durante a qual se queimam bonecos que representam Fawkes e se solta fogo de artifício (representando o que a explosão poderia ter sido).
 
Não se sabe ao certo se o plano dos conspiradores poderia alguma vez ter os resultados que pretendiam. Ao que se sabe, a pólvora estaria velha e em mau estado sendo que, a haver explosão, também não teria rebentado com mais do que um pequeno espaço. Seja como for, a traição teve um grande impacto sendo que ainda hoje, os monarcas só visitam o Parlamento uma vez por ano, sendo este alvo de meticulosa revista tradicional antes da visita.
 
A CENA, O FILME, O SÍMBOLO
Antes de maiores avanços, vale sempre a pena ressalvar que o filme não se escreveu como a história, funcionando mais como uma representação ou reinterpretação dos factos, do que propriamente um reflexo rigoroso.
Em vez de Fawkes, temos V. - um homem incrivelmente paradoxal. Um homem que, por trás de uma máscara esconde expressões que  corpo, voz e ações acabam por exteriorizar ainda mais poeticamente. Um terrorista. Mas um terrorista que não ambiciona aterrorizar o povo. Um terrorista que é, ou pretende ser o impulso DO povo, e acordá-lo e fazê-lo ver que o poder está realmente nas suas mãos. Estamos com ele ou contra ele?
A cena apresentada acima em particular, é uma representação do mecanismo de comunicação entre ambos. A mensagem, ou uma das mensagens (é mais rigoroso assim), é que a mais pequena mas resiliente ideia pode mudar o curso da história e inspirar a revolução da mudança.    É, talvez mais do que as explosões ou as conclusões, o momento mais importante da narrativa. O momento em que a teia se tece, cada vez por mais "aranhas".

Escreveu o Marco Santos que "não sei até que ponto os que se ma­ni­fes­tam com a más­cara de Fawkes têm ideia de quem foi o ho­mem que a ins­pi­rou e qual o seu ter­rí­vel des­tino, mas de qual­quer modo essa iden­ti­fi­ca­ção não é im­por­tante para quem pro­testa. Fawkes é agora um sím­bolo, uma ideia, uma representação. A más­cara es­conde a iden­ti­dade do in­di­ví­duo e transforma-o num ator com algo de muito im­por­tante para di­zer. A al­deia glo­bal é o seu palco e o que lhe im­porta é re­pre­sen­tar uma ideia. Uma ideia de si pró­prio e do mundo. O tipo da más­cara é o li­ber­tá­rio que luta con­tra a opres­são e a in­jus­tiça, aquele que car­rega um sím­bolo de união uni­ver­sal e do po­der dos po­vos, o re­vo­lu­ci­o­ná­rio, a cé­lula anarquista."

 

 

 

Retomando palavras de algo que escrevi, já lá vão mais de três anos, "Li algures que os políticos mentem para esconder a verdade e que os artistas dizem mentiras para a revelar. Pois bem, V for Vendetta é uma mentira bem desenhada e provocadora, um trabalho de ficção escrito para espalhar verdades. Verdades que não são felizes ou reconfortantes. Verdades que nem sempre queremos ver. Verdades que preferimos mascarar com mentiras".

 

 

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