Descrição da Cena: V. faz o seu discurso revolucionário aos olhos de toda a Grã-Bretanha.
Hoje marca-se o dia.
"Remember, remember, the 5th of November The gunpowder, treason and plot; I know of no reason, why the gunpowder treason Should ever be forgot."
A HISTÓRIA(retirada de um outro artigo aqui do blog, de 2009)
Depois da rainha Elizabeth I falecer em 1603, os católicos ingleses viram alguma luz ao fundo do túnel quando o seu sucessor, James I, subiu ao trono. Todavia, e para seu infortúnio, James não era mais tolerante do que Elizabeth. A partir daí, 13 homens decidiram tentar mudar o rumo da história da Inglaterra através de uma violência explosiva que acabou por sair furada.
O grupo, liderado por Robert Catesby, pretendia explodir as Casas do Parlamento aniquilando assim o Rei, os membros do parlamento e até possivelmente o Príncipe de Gales; todos aqueles que condenavam e faziam a vida negra aos católicos. Para levar a cabo a revolta, o grupo posicionou 36 barris de pólvora numa cave mesmo por baixo da Câmara dos Lordes.
Mas conforme o plano evoluiu, tornou-se claro que pessoas inocentes acabariam por sair feridas ou ter mesmo um destino fatal no ataque (incluindo alguns que lutaram pelos direitos dos Católicos). Alguns dos conspiradores começaram a repensar o ataque e um deles chegou mesmo a enviar uma carta anónima a avisar um amigo para não estar no Parlamento no dia 5 de Novembro. A carta terá chegado, eventualmente, às mãos do Rei que rapidamente planeou a placagem do ataque.
No dia 5 de Novembro de 1605, numa terça-feira, Guy Fawkes, que estava na cave por baixo do Parlamento perto dos 36 barris de pólvora com um relógio, um fósforo, papel enrolado e uma lanterna, foi descoberto, torturado (revelando o nome dos outros conspiradores) e por fim executado.
Hoje, mais de 400 anos depois, continua a manter-se a tradição de celebrar, no dia 5 de Novembro, a Bonfire Night (Noite das Fogueiras que celebra a segurança do Rei), durante a qual se queimam bonecos que representam Fawkes e se solta fogo de artifício (representando o que a explosão poderia ter sido).
Não se sabe ao certo se o plano dos conspiradores poderia alguma vez ter os resultados que pretendiam. Ao que se sabe, a pólvora estaria velha e em mau estado sendo que, a haver explosão, também não teria rebentado com mais do que um pequeno espaço. Seja como for, a traição teve um grande impacto sendo que ainda hoje, os monarcas só visitam o Parlamento uma vez por ano, sendo este alvo de meticulosa revista tradicional antes da visita.
A CENA, O FILME, O SÍMBOLO
Antes de maiores avanços, vale sempre a pena ressalvar que o filme não se escreveu como a história, funcionando mais como uma representação ou reinterpretação dos factos, do que propriamente um reflexo rigoroso.
Em vez de Fawkes, temos V. - um homem incrivelmente paradoxal. Um homem que, por trás de uma máscara esconde expressões que corpo, voz e ações acabam por exteriorizar ainda mais poeticamente. Um terrorista. Mas um terrorista que não ambiciona aterrorizar o povo. Um terrorista que é, ou pretende ser o impulso DO povo, e acordá-lo e fazê-lo ver que o poder está realmente nas suas mãos. Estamos com ele ou contra ele?
A cena apresentada acima em particular, é uma representação do mecanismo de comunicação entre ambos. A mensagem, ou uma das mensagens (é mais rigoroso assim), é que a mais pequena mas resiliente ideia pode mudar o curso da história e inspirar a revolução da mudança. É, talvez mais do que as explosões ou as conclusões, o momento mais importante da narrativa. O momento em que a teia se tece, cada vez por mais "aranhas".
Escreveu o Marco Santos que "não sei até que ponto os que se manifestam com a máscara de Fawkes têm ideia de quem foi o homem que a inspirou e qual o seu terrível destino, mas de qualquer modo essa identificação não é importante para quem protesta. Fawkes é agora um símbolo, uma ideia, uma representação. A máscara esconde a identidade do indivíduo e transforma-o num ator com algo de muito importante para dizer. A aldeia global é o seu palco e o que lhe importa é representar uma ideia. Uma ideia de si próprio e do mundo. O tipo da máscara é o libertário que luta contra a opressão e a injustiça, aquele que carrega um símbolo de união universal e do poder dos povos, o revolucionário, a célula anarquista."
Retomando palavras de algo que escrevi, já lá vão mais de três anos, "Li algures que os políticos mentem para esconder a verdade e que os artistas dizem mentiras para a revelar. Pois bem, V for Vendetta é uma mentira bem desenhada e provocadora, um trabalho de ficção escrito para espalhar verdades. Verdades que não são felizes ou reconfortantes. Verdades que nem sempre queremos ver. Verdades que preferimos mascarar com mentiras".