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Com mais uma adaptação de um super-herói prestes a chegar às nossas salas – para os mais distraídos, The Amazing Spider-Man estreia amanhã em todo o país – começou a ficar claro na minha mente que tinha algo mais a partilhar sobre este universo convosco.
Depois de vos ter ensinado com grande distinção a tornarem-se super-heróis de acordo com os filmes, cheguei à conclusão que por detrás de um grande herói não está uma moça escultural de seios avantajados. O que está por detrás de um grande herói é, claramente, um grande vilão.
Ora o problema desta dinâmica normalmente inspirada nos meandros da banda desenhada é que o vilão até pode ser grande e poderoso, mas nem sempre é o tipo mais brilhante do enquadramento.
É claro: as convenções e a ética da moralidade fazem-nos saber de cor e salteado que, de uma ou outra forma, no final do dia e mesmo com algumas nalgadas valentes, o bem triunfa. Mas não era divertido se, uma vez por outra, fossemos surpreendidos?
Eu acho que sim, e é com esse objetivo em mente que resolvi criar aquela que vos apresento hoje como a “Compilação de Conselhos para o Triunfo de um (Super) Vilão no Cinema”.
1. Se o vilão se dá ao trabalho de ter conselheiros sábios de confiança, mais vale ouvi-los de quando em vez, sendo que um deles deve obrigatoriamente ser um garoto de 5 anos;
2. Os agentes infiltrados não deverão nunca ter tatuagens na testa a identificá-los como membros de um determinado grupo.
3. Nunca incluir um mecanismo de autodestruição na super-arma-do-mal, muito menos um que tenha um botão vermelho a dizer “Carregar para ativar autodestruição”. Ao contrário, este botão deverá desencadear uma enchurrada de tiros baleados nas nalgas de quem carregar no mesmo.
4. Até pode ser que alivie o stress, mas ter uma “gargalhada maléfica” é meio caminho andado para a cova do plano malvado.
(a) Devem atacar o herói todos ao mesmo tempo, e não um de cada vez, enquanto esperam que ele os mate a todos;
(b) Quem não passar nos testes de tiro ao alvo será imediatamente retirado da equipa de assalto/defesa;
(c) Serão sempre treinados no uso das armas mais rudimentares; desta forma, no caso de os geradores de energia serem destruídos, não são derrotados por um bando de tipos com fisgas;
(d) Quando uma câmara de vigilância falhar, todos serão instruídos a agir como se de uma emergência máxima se tratasse;
7. Todos os inimigos vencidos deverão ser incinerados, vaporizados ou ver o bucho cheio de balas, em vez de serem abandonados “meios-mortos” no fundo do mar ou numa praia deserta com possibilidades remotas de retorno.
8. Nunca programar uma bomba com contagem regressiva digital. Se esta for estritamente necessária, deverá ser ativada não no zero, mas num número inesperado, tipo 19.
9. Não matar o mensageiro só porque o desgraçado traz más notícias e porque se é “muita mauzão”. A verdade é que o mercado dos mensageiros está cada vez mais pobre e o desperdício não deve ser tolerado.
10. Por falar em mensageiro, o vilão também nunca deve ignorá-lo até acabar os seus exercícios de Yoga no Wii Fit se este parecer esbaforido e agitado… é que pode ser algo importante.
11. Nunca empregar a frase “mas tragam-mo vivo!”. Pode não ficar gramaticamente tão apelativo, mas um “tentem trazê-lo vivo se for razoavelmente conveniente” pode ser incrivelmente mais eficiente.
12. Contratar um designer para criar uniformes decentes para o exército do mal; porque se for para cair, que se caia bonito.
13. Para incrementar o fator confusão, o vilão deve usar roupas de cores alegres e primaveris.
14. Apesar de as capas imprimirem toda uma iconografia (e bazófia) a um vilão, a verdade é que não são nada funcionais tendo a tendência irritante de ficar presas durante a fuga.
15. Contratar um corpo de arquitetos (certificados!) para que examinem a fortaleza do mal em busca de túneis abandonados que o vilão possa desconhecer.
16. Deixar crescer uma barbicha geométrica e diabólica era adequado no séc. XIX, mas sendo que estamos no séc. XXI é de se adotar um look mais atual.
17. Regra básica da vilania: nunca reservar dez ou quinze minutos para explicar o plano maquiavélico inteiro antes de matar o herói. Se por acaso o herói perguntar “porquê tudo isto?”, o vilão deverá responder friamente “porque sim” e matá-lo. Idealmente, deve matá-lo primeiro e só depois dizer “porque sim”.
18. Os mecanismos das portas automáticas devem ser programados para que estas sejam fechadas caso o painel de controlo seja rebentado por for a, e abertas caso seja rebentado por dentro, e não o contrário.
19. Distribuir o terror e a opressão de forma igualitária.
20. No caso de estarmos perante uma vilania tecnologicamente avançada, ou seja, munida de sistemas informáticos (supostamente) impenetráveis, talvez não seja má ideia comprar um antivírus decente.
21. Se, em última instância, for preciso escapar, o vilão nunca deve parar para fazer uma última pose dramática e mandar uma qualquer posta de pescada em forma de chavão de diálogo.
22. Não criar planos demasiado complicados para derrotar o herói, que envolvem reunir oito hamsters de cristal no altar sagrado dos roedores quando os nove planetas estiverem alinhados.
23. Se o cientista maluco diz que a super-arma-do-apocalipse ainda não está pronta e precisa de testes, há que esperar pelos testes. Que eu saiba, ninguém conquistou o mundo com versões beta.
24. Quando o herói for capturado, é melhor ter a certeza que também foi apanhado o seu cão, gato, macaco ou marmota de companhia que seja capaz de o soltar e/ou roubar chaves para divisões importantes.
25. Se o general responsável pelas forças de ataque do exército maléfico diz que este não terá capacidade de vencer a batalha, mais vale acreditar; afinal o general é ele.
26. Os canais de ventilação da fortaleza da vilania deverão ser pequenos o suficiente para ninguém conseguir gatinhar até à invasão por lá.
27. A ter alguma besta mortífera enclausurada nas masmorras, há que trata-la com carinho e respeito, não vá um dia ela fugir e perseguir o vilão em busca de vingança.
28. Para o caso de a super-arma-do-apocalipse ter uma ficha que é facilmente desligada pelo herói no último segundo, é sempre conveniente investir numa tecnologia de complexidade imensa chamada… bateria.
29. O herói capturado não tem direito a um último pedido, telefonema, beijo, Kinder Bueno para partilhar ao lanche, nem a qualquer outro último desejo.
30. Tanto no computador pessoal como no arquivo físico, os nomes das pastas com os planos secretos para dominar o mundo deverão ser trocados com os das pastas que contém as melhores receitas de bacalhau da avó Maria. Já imaginaram a cara do herói a pensar que tinha salvo o mundo com uma receita de Bacalhau à Zé do Pipo?