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Deep Focus - Vamos falar de Who Framed Roger Rabbit

por Catarina d´Oliveira, em 28.04.16

whoframed.jpg

 

Hollywood, 1947. Eddie Valant, um detetive com pouca sorte, é contratado para encontrar provas de que Marvin Acme, o grande e divertido industrial dono da cidade dos desenhos animados, se anda a ‘divertir’ com a sexy Jessica Rabbit, mulher da super-estrela Roger Rabbit. Quando Acme é encontrado morto, todos os indícios apontam para Roger e o sinistro e poderoso juiz Doom está decidido a prendê-lo. Roger implora a Valiant para encontrar o verdadeiro assassino e as coisas complicam-se quando Eddie desmantela escândalo atrás de escândalo e se apercebe que a própria existência da cidade dos desenhos animados está em perigo.

 

Este poderia ser o início de muita coisa: de uma valente trip de ácidos, da ruína de um realizador alucinado, do fim de um género híbrido e incompreendido. Ainda que a questão da trip de ácidos não esteja totalmente fora da equação, Who Framed Roger Rabbit ousou, no entanto, ser uma outra coisa, que possivelmente nenhum de nós esperávamos: um clássico de culto revolucionário.

 

Eu sei o que alguns de vocês podem estar a pensar: “olha esta desgraçada andou-se a drogar e agora viu um computador à frente e é o vê-se-te-avias“. Respondendo ao hipotético insulto, não, não confirmo nem desminto o consumo de substâncias psicotrópicas, mas sim, reafirmo o estatuto deste peculiar filme sem que peque por falta de justificação – até porque razões não faltam.

 

Comecemos pelo facilmente mensurável e quantitativamente reconhecível. Em 1988, Who Framed Roger Rabbit foi o segundo filme mais rentável da indústria (ficando apenas atrás de Rain Man) e tornou-se a animação a ganhar mais Óscares da história (três galardões). Demorando uns intermináveis 14 meses de pós-produção, foi também e e foi o filme mais caro a ser produzido em Hollywood nos anos 80 (com um chorudo orçamento de 70 milhões de dólares - hoje facilmente ultrapassáveis pelos Avatares e Vingadores desta vida, mas na altura uma autêntica pipa de massa).

Mas números à parte, o que torna Who Framed Roger Rabbit um prodígio do cinema contemporâneo é tão somente a sua própria natureza e as suas exclusivas valências – pode parecer difícil de acreditar, mas este maníaco e inteligente cromo cinematográfico é um filme revolucionário para a indústria e muito mais importante para as noções artísticas e financeiras do cinema do que podem pensar.

 

Ora este nosso clássico de culto funde live action com animação tradicional, polvilhando tudo com um enredo surpreendentemente intrincado e complexo, com referências à Depressão Americana, ao film noir, a um sistema de traições e violência e a um homicídio com direito a chantagem forçosa. Foram também estes elementos inesperados e inequivocamente arriscados que enovoaram uma linha até aqui bem estabelecida entre o que eram filmes para crianças e para adultos. De facto, o projeto de Zemeckis foi um dos grandes responsáveis pelo renovado interesse da audiência na animação, propiciando também o famoso “renascimento da Disney” – que depois de um período conturbado (que é como quem diz, depois da diarreia criativa que atravessou) durante os anos 70 e 80 voltou a ressurgir em força nos anos 90 com uma série de produções de sucesso como A Pequena SereiaA Bela e o MonstroAladinoO Rei Leão e muitos outros.

Tomando liberdades possivelmente açambarcadoras, gostava de vos puxar de volta pelas orelhas à característica mais marcada de Who Framed Roger Rabbit – o facto de misturar atores e cenários reais com animação clássica – para que possamos analisar o porquê do seu caráter revolucionário e hercúleo. Na verdade, as produções que até aqui ousaram combinar estes díspares elementos (por exemplo, Mary Poppins) são hoje consideradas primitivas quando comparadas com a produção de Zemeckis.

 

Richard Williams, diretor de animação, comprometeu-se a quebrar as três regras de ouro neste tipo de misturadas fílmicas: moveu a câmara o máximo possível para que as animações não parecessem coladas a um fundo inanimado, usou a iluminação e os jogos de sombras para criar enormes contrastes e efeitos inovadores e pôs os personagens animados a interagir com objetos e pessoas o máximo possível. Como podem calcular, tinha tudo para dar merda - mas miraculosamente não deu.

 

Em termos práticos, e porque vivíamos numa era sem as facilidades tecnológicas que hoje quase 30 anos mais tarde assumimos como garantidas, todos os frames do filme que combinassem ambos os elementos teriam de ser impressos como uma fotografia. Depois, um animador desenhava a figura animada presente nessa cena em papel vegetal, colorindo-a posteriormente à mão. É só após este processo que o desenho é transferido para o frame original utilizando uma impressora ótica. 326 trabalharam a tempo inteiro no filme, construindo mais de 82.000 frames de animação - e só de escrever este parágrafo já padeço desse mal comum e maior que assombra ser humano moderno: estou a suar do bigode.

 

Evidentemente, todo o projeto foi um enorme risco conjunto da Disney e da Warner – na verdade, o primeiro visionamento de teste foi um fiasco, com uma audiência sobretudo composta por jovens adultos a odiar o filme. Mas Robert Zemeckis, porque é um homem que os tem no sítio, manteve-se firme no seu projeto - na montagem e no produto final.

 

E ainda bem. Só assim é que nascem os verdadeiros clássicos.

 

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Point-of-View Shot - The Diary of a Teenage Girl (2015)

por Catarina d´Oliveira, em 05.04.16

TheDiary2.jpg

 

"I had sex today... Holy shit"

 

Todos o vimos acontecer antes – ou por outra, tentar acontecer. É que a cena indie está pejada de tiros de pólvora seca quando se carregam os canhões da exploração do despertar sexual feminino. De facto, e apesar de as tentativas não serem propriamente raras, são escassos os exemplos que não se revelam demasiado moles ou genéricos ou por outro lado mal-intencionados na abordagem. Ora não nos parece de todo descabido iniciar esta análse assegurando que o assertivo e vigoroso filme de Marielle Hellner consegue fazer o que tantos outros apenas desejaram.

 

Minnie Goetze tem 15 anos, quer ser desenhadora de comic books e está a crescer no ambiente frenético da São Francisco dos anos 70, em plena ressaca do Flower Power. É uma típica adolescente em quase tudo, exceto no facto de descobrir o sexo com o namorado da sua mãe, com quem acaba por manter uma relação, mesmo depois desta o descobrir... Mas desengane-se quem visualiza Minnie como uma prima não muito afastada de Lolita. Minnie é entusiástica, é louca por sexo e não tem medo de fazer algo relativamente a essa situação, o que se coaduna na perfeição com o sentimento de emancipação e libertação sexual que se faz sentir ao longo de toda a película.

 

diary-of-a-teenage-girl.jpg

 

A base dos trabalhos é o romance homónimo e (semi-)autobiográfico de Phoebe Gloeckner, e ainda que a história de Minnie seja, de um modo geral, bastante previsível, é a abordagem do seu retrato, tão resoluta quanto refrescante, que o diferencia dos demais primos afastados.

 

Seria difícil de prever que uma tão confiante e arrojada produção surgisse das orquestrações de um maduro cineasta, mas a verdade é, de facto, que este é o primeiro filme dirigido por Marielle Heller. A abordagem desta peculiar comédia dramática sobre a nem sempre gloriosa transição entre o início da sexualidade juvenil para a assumida maioridade é absolutamente desarmante, tornando difícil relembrar um outro filme sobre o crescimento/adolescência (ou coming-of-age, à falta de um melhor termo na língua de Camões) tão apostado na manutenção de uma posição livre de julgamentos e críticas aos seus protagonistas.

 

Fundido numa paleta inspirada em polaroides e embebida numa banda-sonora apaixonada pelos anos 70, o filme mantém-se fiel às suas origens da B.D. ao incorporar algumas versões animadas de ilustrações da autora – o dispositivo que já não é novo nas lides indie ganhar aqui uma dimensão especial e intencional ao dar vida às fantasias febris de Minnie que, por sua parte, é também uma aspirante a artista gráfica.

 

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Bel Powley é absolutamente sensacional ao trazer Minnie à vida, numa performance excecionalmente corajosa e modulada. A sua inconstante protagonista é um ponto de desequilíbrio constante, podendo ser amorosa e inocente, para no momento seguinte se revelar quase cruel e manipulativa. É um poço de contradições que caminha entre a infantilidade e a “adultez”, a vulnerabilidade e a emancipação. Ela não é um cliché ou um poster ou uma figura de representação – é o desabrochar de uma jovem mulher disposta a conseguir o que quer, seja isso o que for.

 

Como uma mãe com sérios défices de capacidades maternais, Kristen Wiig vem reiterar o seu incrível talento para as lides dramáticas (que se vêm acrescentar ao seu impecável mas já bem conhecido e glorioso timing cómico). No entanto, o papel mais desafiante do plano secundário é inequivocamente o de Monroe, que se faz acompanhar do símbolo universal de tendências sexuais duvidosas: um bigodinho isolado. Correndo sempre o risco de caminhar perto demais de uma caracterização reles e tirana, nunca é vilanizado pelo argumento ou pela fantástica performance de Alexander Skarsgård, que apesar de lidar com o “boneco” mais difícil de criar empatia, consegue desenvolve-lo como alguém surpreendentemente amável para Minnie e Charlotte.

 

Globalmente, há níveis do questionável comportamento de Minnie que não são tão óbvios construtores da persona de uma mulher adulta e confiante, mas The Diary of a Teenage Girl é um inequívoco hino à emancipação feminina e à valerosa mensagem de necessidade de autoestima.

 

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Moralmente complexo e por vezes desconfortavelmente próximo de verdades desassossegadas, o filme de Hellner mantém uma honestidade fascinante, dura e frustrante – um espelho da própria adolescência. Aqui temos uma janela sem filtros do universo de sexualidade, manipulação e exposição franca de Minnie sobre a necessidade de ser desejada, amada e abraçada.

 

“Isto é para todas as raparigas quando tiverem crescido”, partilha Minnie com o seu fiel gravador de cassetes. Não sendo necessariamente um crowd pleaser no seu sentido mais tradicional, The Diary of a Teenage Girl tem toda a frescura, determinação e desembaraço para se tornar um marco nesse célebre sub-género de culto que são os filmes de crescimento.

 

E o tempo não deverá tardar a validar esta previsão.

 

 

8.0/10

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