Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]




Mais sobre mim

foto do autor


Calendário

Fevereiro 2016

D S T Q Q S S
123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
2829

subscrever feeds


Arquivo

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2014
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2013
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2012
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2011
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2010
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2009
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2008
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D


Point-of-View Shot - Joy (2015)

por Catarina d´Oliveira, em 03.02.16

joy.jpg

 

"Don't ever think that the world owes you anything, because it doesn't. The world doesn't owe you a thing"

 

Era uma vez, uma bela e pura menina de cabelos dourados, filha de um comerciante de sucesso, que sonhava com uma vida feliz e preenchida, num futuro que desejava não muito distante. Um dia, um príncipe encantado chegou, arrebatou-a e salvou-a de uma existência infeliz e abusiva, e viveram felizes para sempre.

 

Esta é a história de Cinderella, e esta poderia muito bem ser a história de Joy. Contudo, em contos que não são de fadas, mas de gentes, não há príncipes, nem carruagens mágicas, nem feitiços até à meia-noite. Há independência, dedicação sem horários e... uma esfregona milagrosa.

 

Inspirado nas histórias verdadeiras de mulheres audazes’: assim abre portas o “Joy” de David O. Russell, que poderia simplesmente ter pedido emprestada a citação que introduziu o irmão mais velho, “American Hustle”: ‘alguns destes factos aconteceram realmente’.

 

22C-1 (A only).Sub.02CC_R3.jpg

  

O nono filme no currículo do realizador nova iorquino é dissolutamente baseado na história de Joy Mangano, uma mãe solteira de Long Island que, no início dos anos 90, revolucionou a sua vida de simplicidade ao desenvolver uma invenção miraculosa que facilitaria a vida doméstica a muito boa gente e que a tornaria numa superestrela das (agora olvidadas) televendas. 

 

Numa primeira instância, e apesar de sofrer de diversas maleitas – já lá iremos - “Joy” é deliciosamente refrescante: Hollywood não se coíbe de explorar insistentemente a galinha de ovos de ouro que é o ethos nacional do Sonho Americano, mas são raras as vezes em que esse sonho se transporta de salto alto e se fortalece à base de estrogénio palpitante. Contemporaneamente feminino (sem ser pejorativamente feminista), “Joy” é uma ode à mulher moderna.

 

E já que falamos em mulher moderna... Entre bochechas redondas e olhar juvenil, é difícil engajar a suspensão de descrença ao ver Jennifer Lawrence passar por uma trintona com dois filhos, mas se “Joy” teve algum êxito indiscutível foi nesta sua inesperada aposta. No seu papel mais carnudo desde “Despojos de Inverno” – o glorioso e humilde indie que a lançou na rota do estrelato em meados de 2010, e que lhe valeu, inclusive, a primeira indicação a Óscar – Lawrence marca uma posição forte e credível, construindo uma personagem relacionável e estratificada que serve de derradeira boia de salvação entre a ciclónica bagunça tonal de O. Russell. É ela que consegue, ainda que marginalmente, colocar o filme com os pés na terra. E sempre que surge uma oportunidade para brilhar, Lawrence não desaponta, seja na dureza com que enfrenta a desonestidade de oblíquos homens de negócios, seja no retrato matizado que faz de uma mulher simples mas de grandes ideias.

 

joy-4-xlarge.jpg

 

À exceção de um competente e sóbrio Bradley Cooper, o elenco secundário (composto, entre outros, por Robert De Niro, Isabella Rosselini e Virginia Madsen) pouca margem tem para dar ares de sua graça, muito culpa do argumento, muito mecânico e pouco emocional, que torna a família de Joy particularmente subdesenvolvida, irritativa e caricaturada, com o objetivo simultâneo mas pouco conseguido de arrancar gargalhadas e estabelecer contraste com a honrada protagonista.

 

Esta é, na verdade, uma deformidade (infelizmente) atual de O. Russell, que parece cada vez mais obstinado em incluir “caricaturas do seu tempo” em cada uma das suas produções, apenas porque o pode fazer. De facto, a “família tóxica” sempre fez parte do núcleo dos seus temas recorrentes, mas enquanto noutros momentos existiu uma forte ligação entre a opressão e a rejeição e o amor e a necessidade, explorando-se depois o impacto e significado dessa relação abusiva para o protagonista, “Joy” não vai além do subdesenvolvimento e da inconsequência de uma família disfuncional apenas porque é disfuncional, nem sequer explorando os verdadeiros efeitos que essa realidade abusiva teria na protagonista ou sequer abordando a natureza controversa da dinâmica dessas relações negativas – matéria em que O. Russell já foi, inclusive, especialista (veja-se a destreza com que o fez, por exemplo, em “The Fighter”, 2010).

 

Rapidamente, o dispositivo torna-se então progressivamente mais fatigado e, naturalmente, atrasa todo o restante processo narrativo e emocional. Assim, a primeira parcela da fita – mais focada no ambiente familiar e a consequente rutura do mesmo – é manifestamente mais morosa e menos dinâmica.

 

joy-2015.jpg

 

É a partir do segundo ato que “Joy” brilha – talvez no momento em que o realizador deixa de se encantar por cartoons e volta a interessar-se pela história da mulher que o inspirou em primeiro lugar – tornando-se verdadeiramente envolvente e eficaz, deixando-se submergir nos sucos da fascinante envolvência empreendedora do enredo.

 

Consequentemente, o filme de O. Russell não ressoa propriamente como uma biografia memorável, mas mais como uma leve e fofa fatia de espírito empreendedor, contaminada por um ritmo inconstante, uma direção incerta e um grupo de personagens secundários desconfortável.

 

Há uma película notável algures, mas poluída por uma contaminação que não lhe pertence. Afinal, talvez lhe faltasse uma ou duas passagens pela tal esfregona milagrosa...

 

 

7.0/10

 

Autoria e outros dados (tags, etc)



Mais sobre mim

foto do autor


Calendário

Fevereiro 2016

D S T Q Q S S
123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
2829

subscrever feeds


Arquivo

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2014
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2013
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2012
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2011
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2010
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2009
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2008
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D