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Master Shot - 10 Filmes de Terror para ver no Halloween

por Catarina d´Oliveira, em 30.10.14

 

10filmesterror_halloween.jpg

"Tis now the very witching time of night, when churchyards yawn and hell itself breathes out contagion to this world" (William Shakespeare)

 

 

Estamos outra vez naquela altura do ano.

 

A tradição teve origem nos povos antigos da Grã-Bretanha e Irlanda, cuja crença repousava na certeza de que, na véspera do Dia de Todos os Santos, os espíritos regressavam a casa – que é a forma simpática de dizer que os mortos voltavam da sepultura para aterrorizar os vivos.

 

O costume continua a encontrar maior proeminência nos países anglo-saxónicos, mas a nova e divertida celebração começa a incrustar-se cada vez mais nas restantes culturas do mundo.

 

Multidões passeiam-se sob disfarces de vampiros, monstros ou assassinos renomados, pregando partidas pela noite dentro, quando o macabro é a palavra de ordem. Mas é na altura em que o psicopata, ou um louco foragido, ou um verdadeiro monstro sai à rua, irreconhecível nesta procissão de figuras disfarçadas, que a contagem de mortos dispara.

 

É a noite mais assustadora do ano, e por isso, como a manteiga convém ao pão acabadinho de torrar, os filmes de terror encontram nesta data uma razão especial para o seu ser. Hoje revisitamos uma série de películas sangrentas que marcam o dia que se celebra. A única regra? Têm de se passar no Halloween. And now we shall celebrate the Horror.

 

 

“CREEPSHOW” 1 e 2 (1982, 1987)

creepshow.jpg

Ambos são antologias de terror (contam várias histórias ligadas entre si), e ambos são imperdíveis. Especialmente pelo tributo que prestam ao género. Isto além de que, obviamente, não há lista de terror que se preze que não refira pelo menos uma das crias do génio do terror, George A. Romero.

 

 

 

“NIGHT OF THE DEMONS” (1988)

nightdemons.jpg

Uma espécie de clássico de culto do terror que expõe a glória dos anos 80 – diálogo coxo, más interpretações e conteúdo pouco cuidado, banhados a sangue – apesar de encontrar sequelas e remakes entre 1994, 1997 e 2009. Um grupo de jovens tem a brilhante ideia de dar uma festa de Halloween numa casa assombrada. Pode ser que fique tudo bem… ou então um demónio vai possui-los e transformá-los em seres dentuças, de aspeto apodrecido e voz grossa.

 

 

 

“PET SEMATARY” 1 e 2 (1989 e 1992)

petsematary.jpg

É verdade que, se há Halloween aqui, não é lá muito; mas não há cá batotas, porque ele está lá – mais proeminentemente na sequela, mas vamos focar-nos no génio original. Stephen King é o autor de algumas das obras de literatura mais arrepiantes da história, desde ‘Carrie’ a ‘Shining’, ou ‘A Coisa’ até ‘O Cemitério’, que aqui hoje se apresenta. Apesar de ser horrífico (no bom sentido) nas ideias que apresenta, infelizmente, não potencia as possibilidades do cemitério de animais que o título promete, com direito a tartarugas carnívoras, ou hamsters mutantes, ou coelhos anões estripadores. Mas há um gato zombie e um bebé assassino, o que é prémio de consolação mais do que suficiente.

 

 

 

“JACK-O” (1995)

jack-o.jpg

Tem de ser um dos piores filmes que já existiram, o que por sua vez o eleva à restrita categoria do “é tão mau que até é bom”. O indivíduo titular tem cabeça de abóbora (literalmente) e é um demónio lendário do Halloween. Quando é trazido de volta para os tempos modernos, Jack-O começa a chacinar tudo o que mexe à sua frente para assombrar o jovem Sean Kelly e a sua família. A qualidade das interpretações é dolorosa, mas fica a garantia de uma das séries de mortes mais hilariantes alguma vez concebidas no Cinema.

 

 

 

“SCREAM” 1 e 2 (1996 e 1997)

scream.jpg

Inspirada no quadro de Edvard Munch, a máscara de Ghostface congela uma face pálida num grito silencioso. E essa face pode até ter uma voz palerma e anti-climática, mas também tem uma faca de impor respeito para tirar teimas com a população de Woodsboro. Para tirar dúvidas, tanto o clímax do original (1996) como a sua sequela direta são passados no Halloween.

 

 

 

“GINGER SNAPS” (2000)

gingersnaps.jpg

Tenho uma confissão a fazer: não gosto de lobisomens. Não lhes acho especial graça, além de que enchem as carpetes de pelos e baba. Mas Ginger Snaps é um dos mais eficientes filmes de terror que já vi com eles, e é diversão gore e folclore no seu melhor. Duas irmãs fascinadas pela morte aventuram-se na noite e uma delas acaba atacada por um lobisomem. A metamorfose começa, mas ela ainda consegue ir a uma festa de Halloween, parcialmente transformada, sem dar nas vistas. No fundo, é tudo uma metáfora para a puberdade e a inconveniência das borbulhas, mas não deixa de ser uma adição incontornável à lista.

 

 

 

“MAY” (2002)

may.jpg

A crónica da espiral de loucura de uma jovem que sempre foi esquisita por vários motivos - incluindo um olho meio avariado e um gostinho especial pelo macabro. Na noite de Halloween, os ticos e tecos entram em curto-circuito, e May decide criar um amigo… com as partes mais bonitas das pessoas que conhece. Fica o aviso de que não se recomenda para aqueles com a digestão mais sensível.

 

 

 

“HOUSE OF 1000 CORPSES” (2003)

house1000corpses.jpg

Quando quatro espíritos jovens e inconsequentes querem divertir-se às custas de uma loja de horrores na beira da estrada, acabam por conhecer a lenda do Dr. Satan, um médico que matava lentamente as suas vítimas. Como é lógico, a inteligência não abençoou as alminhas dos protagonistas dos filmes de terror, que decidem ir procurar o local onde o médico desapareceu. Também é lógico que é de noite. E que está a chover. E que vão ficar encalhados no meio do nada. E que vai haver sangue e tripas. Junte-se uma família arrepiante, mortes aversivas e um palhaço assassino, e o prato – um nadinha indigesto - está pronto a servir.

 

 

 

“TRICK R' TREAT” (2007)

trickrtreat.jpg

Mais uma antologia de terror, que desta feita conta uma série de histórias que se centram no dia 31 de Outubro. Cada uma, baseada numa parte da mitologia do Halloween, encontra elementos que a interligam com as outras. Moderno, nada aborrecido (a estrutura ajuda) e surpreendente. E garotos com sacos de batatas na cabeça são das coisas mais assustadoras que se pode encontrar nesta vida.

 

 

 

“HALLOWEEN” (franchise – 10 filmes: 1978-2009)

halloween.jpg

A resposta é não, não pode dizer que celebra o Halloween condignamente se não vir o filme de John Carpenter (1978), ou alguma das sequelas e remakes que lhe têm vindo a declinar a aparente qualidade, mas não a relevância nos últimos trinta anos. Além de ser um dos melhores filmes de terror de sempre e de apresentar uma das mais icónicas máquinas de matar do Cinema, continua a captar na perfeição o sentimento de mistério e horror do dia. E apesar de ser sobre um grupo de jovens a serem violentamente assassinados, há qualquer coisa nele capaz de nos fazer sentir em casa neste dia tão especial. Se não o virem pelo menos em algum Halloween das vossas vidas, temo que algo de muito errado vos possa acontecer.

 

 

Artigo originalmente publicado em Vogue.pt

 

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Point-of-View Shot - Fury (2014)

por Catarina d´Oliveira, em 28.10.14

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"It will end, soon. But before it does, a lot more people have to die"

 

A história volta a ser violenta no regresso de Brad Pitt ao terreno lamacento e mortífero da Segunda Guerra Mundial.

 

O filme realizado David Ayer é uma janela aberta para uma das mais interessantes partes do inolvidável conflito: o seu final. Os Nazis sabem-no perto, os Aliados sentem-no, mas Hitler ainda não o admitiu e de alguma forma os peões continuam a mover-se num terreno alemão profundamente devastado por mais de cinco anos de luta. A carnificina e o caos que por aqui passaram são inimagináveis, mas cruamente reais, como descobre da forma mais difícil o soldado novato Norman Ellison que é destacado para um dos poucos tanques norte-americanos que restam em combate.

 

No momento em que o Sargento Don “Wardaddy” Coliider lhe põe os olhos em cima, sabe que este será mais uma morte certa para as forças americanas sem a devida instrução. Mas tal como prometeu ao resto da sua equipa – o cru mecânico Grady “Coon-Ass” Travis, o espirituoso condutor Trini “Gordo” Garcia e o artilheiro Boyd “Bible” Swan – fará tudo para os levar até ao fim do conflito vivos. Todavia, e à medida que se entranham mais e mais no arrasado território inimigo povoado por alemães cada vez mais desesperados e dispostos a tudo, Wardaddy terá a sua tarefa muito dificultada.

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Profundamente ambicioso, “Fury” é um exercício fascinante e provocador, ainda que defeituoso em importantes frentes. Penoso, brutal e entusiasmante, é a maior aproximação que encontrará à experiência de passar uns “aprazíveis” dias num claustrofóbico e mal equipado tanque americano no final Guerra – só resta agradecer aos céus que ainda seja impossível uma experiência cinematográfica com cheiro… mas conseguimos imaginar!

 

Além de recordar a fraternidade entre os irmãos de armas à semelhança das películas de guerra dos anos 60 e 70 (como “The Dirty Dozen”), o filme de Ayer também reflete a sombra negra mais reconhecível nos clássicos do pós-Vietname como “Platoon” e “Full Metal Jacket” – mais concretamente, os efeitos inapagáveis da guerra na psique e alma humana.

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Mas o que distancia “Fury” dos demais familiares cinematográficos do género é a sua entrega honesta à fealdade de uma guerra feia. Ayer mergulha – e por extensão, mergulha-nos – na imundice de poças de sangue, nos corpos apodrecidos empurrados pelas escavadoras, nos cadáveres dissolvidos na lama. A beleza surge em pormenores fugidios, como um cavalo branco simbólico ou uma garota loira de olhos tristes, mas a qualquer minuto, Ayer prepara-se para nos castigar por baixarmos a guarda.

 

As batalhas são algo como nunca vimos antes, tática e logisticamente brilhantes, com a devastação bem patente à custa de explosões de cabeças e membros decepados. Apesar de ter sido orquestrada de forma entusiasmante, a conclusão é uma desilusão do ponto de vista dramático – um final “à Hollywood”, que não condiz propriamente bem com a precisão elétrica e moral ambígua da história até então.

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Brad Pitt, Shia LaBeouf e Logan Lerman ficarão certamente na memória pelas carismáticas e afetantes interpretações, mas infelizmente virtualmente todos os personagens são estereótipos: o chefe duro mas de bom coração, o latino desenvolto, o bad boy abrutalhado, o miúdo. A superficialidade da sua abordagem nunca é ultrapassada, com a exceção do jovem Norman, cujos olhos são a nossa porta de entrada para o Inferno instalado. Nestes homens não vemos ou ouvimos a referência à saudade de uma vida passada, apenas o hoje e o som metálico do interior sufocante de uma máquina de guerra que aprenderam a chamar de casa.

 

Com cirúrgica atenção ao detalhe e autenticidade aplicadas às sequências de batalha ao estilo old-school, oferece uma brutalidade e crueza refrescantes, sem cair no habitual jingoísmo do género, e alicerçando-se em verdades absolutas e sentimentos diretos e simples. É verdade que não existe uma história verídica à qual equiparar e ficcionalização de Ayer, mas esta parece leal, honesta, franca.

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É disso que trata “Fury”. Não versa sobre uma geração orgulhosa dos seus feitos, mas da pura definição de pesadelo que representa. E da lama, da sujidade, do sangue, da escuridão. Do som das canções germânicas e dos impropérios americanos. Do barulho dos tanques, das granadas e das metralhadoras. E da névoa da guerra: a neblina das bombas de fumo, mas sobretudo o indistinto nevoeiro entre o poder e a vulnerabilidade, a humanidade e a tirania, a necessidade e a crueldade, e entre o homem e o animal.

 

 

7.5/10

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Point-of-View Shot - Frank (2014)

por Catarina d´Oliveira, em 28.10.14

FRANK.jpg

"Stale beer. Fat fucked, smoked out. Cowpoked. Sequined mountain ladies. I love your wall. Put your arms around me. Fiddly digits, itchy britches. I love you all."

 

Pode não saber muito sobre “Frank”, mas provavelmente já ouviu dizer que é protagonizado por Michael Fassbender, envergando uma enorme cabeça postiça… portanto mais vale começarmos por aí.

 

Apesar de ser o ator irlandês o grande responsável pelo arrastamento de público que o filme aproveitará, a comédia dramática de Lenny Abrahamson não é tanto sobre esta sua fantástica performance (num laivo de inspiração de casting ao nível do de Scarlett Johansson em “Her"), mas sobre os ideais criativos que o seu personagem representa.

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Ainda que tenha sido coescrito por Jon Ronson (ex-membro dos Oh Blimey Big Band) e de ser inspirado na criação de Chris Sievey (uma personagem com uma enorme cabeça de papel chamada Frank Sidebottom), “Frank” é uma ficção por conta própria que nos leva numa viagem à boleia dos Soronprfbs, uma banda excêntrica encabeçada pelo enigmático personagem titular, à qual se junta Jon, um entusiástico mas inocente teclista cujo desejo de fama e reconhecimento excede largamente as suas capacidades artísticas.

 

Além de capturar na perfeição os momentos de tédio, ansiedade e explosão criativa inerentes à participação numa banda, o filme de Abrahamson é absolutamente desconcertante no tom, assumindo uma abordagem surpreendentemente negra e taciturna no storytelling. Começando como uma extravagante e não raras vezes divertida excursão pelo processo criativo, o filme evolui para uma exploração das torturadas psiques dos seus protagonistas. O facto de mergulhar as suas resoluções convencionais e estrutura familiar na estranheza e peculiaridade dos seus personagens podia ser um motivo crítico, mas a verdade é que “Frank” está no seu melhor quando utiliza as potencialidades deste sistema para parodias as dificuldades da criação musical.

 

Pelo caminho, percorremos ainda críticas e comentários ao pano de fundo da indústria musical, proliferação e crescente importância da presença nos media sociais e a dinâmica de grupo.

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Adicionalmente, e não obstante o último ato ameaçar prejudicar a mística envolvente (assumindo, inclusive uma posição algo cliché que chegou a parodiar nos primeiros dois atos) e o facto de um nevoeiro permanente pairar sobre as suas intenções – é difícil saber se é mais uma sátira crítica à indústria musical ou a celebração de um génio – “Frank” é uma deliciosa dissonância, provocadora e sensível que explora a verdadeira importância do sucesso comercial em oposição à conceção de algo verdadeiramente único.

 

Umas vezes compensa, outras não - é esta a verdadeira beleza e dor tortuosa da criação artística.

 

8.0/10

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Sophias 2014 - Os vencedores

por Catarina d´Oliveira, em 09.10.14

Decorreu ontem no CCB a segunda grande Gala dos Prémios Sophia, ou se preferirem, os "Oscars portugueses", que pretendem distinguir anualmente aquilo que de melhor se faz na indústria cinematográfica portuguesa.

 

"Até Amanhã Camaradas" valeu a Joaquim Leitão o prémio de Melhor Realizador, mas foi o documentário de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata - "A Última Vez que Vi Macau" - que arrecadou o muito apetecido Sophia de Melhor Filme.

 

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MELHOR FILME

“A Última Vez que Vi Macau” - BlackMaria

 

MELHOR REALIZADOR

Joaquim Leitão, por “Até Amanhã Camaradas”

 

MELHOR ATOR

Pedro Hestnes, em “Em Segunda Mão”

 

MELHOR ATRIZ

Rita Durão, em “Em Segunda Mão”

 

MELHOR ATOR SECUNDÁRIO

Adriano Luz, em “Até Amanhã Camaradas”

 

MELHOR ATRIZ SECUNDÁRIA

Beatriz Batarda, em Comboio Noturno para Lisboa

 

MELHOR DOCUMENTÁRIO

“A Batalha de Tabatô”, de João Viana

 

MELHOR ARGUMENTO

João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, por “A Última Vez que Vi Macau”

 

MELHOR FOTOGRAFIA

Rui Poças, por “A Última Vez que Vi Macau”

 

MELHOR DIREÇÃO ARTÍSTICA

Augusto Mayer, por “Comboio Noturno para Lisboa”

 

MELHOR SOM

Carlos Alberto Lopes e Branko Neskov, pot “Até Amanhã Camaradas”

 

MELHOR GUARDA-ROUPA

Maria Gonzaga e Maria Amaral, por “Até Amanhã Camaradas”

 

MELHOR CARACTERIZAÇÃO

Sano de Perpessac, por “Comboio Noturno para Lisboa”

 

MELHOR MÚSICA

Rodrigo Leão, por “O Frágil Som do Meu Motor”

 

MELHOR MONTAGEM

João Braz, por “É o Amor”

 

MELHOR CURTA-METRAGEM DE FICÇÃO

“Luminita”, de André Marques

 

MELHOR CURTA-METRAGEM DOCUMENTAL

“Lápis Azul”, de Rafael Antunes

 

MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO

“Alda”, de Ana Cardoso e Filipe Fonseca

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Point-of-View Shot - Gone Girl (2014)

por Catarina d´Oliveira, em 05.10.14

 

"I can practice believing my husband loves me. But I could be wrong."

 

Capaz de fazer gelar a espinha mais bem constituída, “Gone Girl” é um mistério polido que tem tanto de ultrajante como de assustador, continuando a incursão de David Fincher pelos mais escuros meandros da condição humana.

 

Amy e Nick vivem um romance tirado dos contos de fada e dos versos das músicas. A fórmula para o entusiasmo interminável parece selada por jogos entusiasmantes e uma promessa sussurrada entre paredes: “nunca vamos ser um daqueles casais”. Mas porque o mundo não é cor-de-rosa – uma cor literal e figurativamente ausente dos universos criados por David Fincher – a recessão atinge a economia, e ambas as crias do brilho nova-iorquino encontram-se subitamente sem emprego e obrigadas ao retiro para a terra natal de Nick, no Missouri.

 

 

O fulgor cansa-se, os defeitos interessantes tornam-se fraturas dilacerantes, e em pouco tempo, Nick e Amy têm entre si uma rutura inescapável de distância e alheamento. No dia do seu quinto aniversário de casamento, Nick prepara-se para a deixar. E é nessa altura que, numa casa antes imaculada e agora surpreendentemente revirada, Amy desaparece.

 

Pode não ter o peso de “Zodiac”, ou a vitalidade de “Se7en”, ou a complexidade de “Fight Club”, mas “Gone Girl” é uma imperiosa e negra criatura da noite, como uma serpente venenosa, esguia e pronta a abocanhar uma presa insuspeita.

 

A adaptação do best-seller homónimo de Gillian Flynn conta uma história sórdida entre várias camadas de ilusão, mentiras e frenesim mediático; uma história que se alicerça no poder do storytelling (tanto no próprio enredo, como nos utilizados mecanismos para o trazer à vida) e na eterna contenda entre a perceção e a realidade.

 

 

Sagaz, cáustico e perverso, parte como uma exploração fascinante sobre narrativas duvidosas e do poder escorregadio dos media, capaz de agarrar ideias profundas sobre a identidade pessoal, a forma como nos apresentamos perante o outro e as relações, e transpô-las para um enredo metafórico que serve totalmente as necessidades de entretenimento do público moderno. Além de tudo isto, o mais recente filme de Fincher é ainda um assombroso ensaio sobre a misoginia, as dificuldades de distanciamento da educação que recebemos, a relação com cenários de crise e a anatomia de um casamento corrosivo - está para o casamento como “Fatal Attraction” está para a infidelidade.

 

Surpreendentemente, este é uma das entradas com mais humor da carreira do realizador, que aqui não só corta a escuridão como um facalhão de gume afiado, como também cria um contraste satírico fascinante com esta. “Gone Girl” é perverso, e perversamente divertido, e o respeito pela inteligência da audiência volta a ser um dos trunfos de Fincher – aqui em particular, já que é da maior importância que cada membro do público seja júri, juiz e carrasco num tabuleiro onde a perceção e a depreensão são tudo. Mas parte da razão do seu sucesso jaz no triunfo das performances dos intervenientes.

 


Apesar de ser notoriamente um ator limitado no alcance, Ben Affleck cruza-se aqui com uma das melhores interpretações da sua carreira, emanando, entre várias nuances que podem não saltar imediatamente à vista, uma empatia natural mesmo quando esta se equilibra com uma irritante quantidade de estupidez e negrume questionável.

 

Todavia, o relevo das letras gordas pertencerá sempre a Rosamund Pike, que com uma carreira sólida em papéis secundários segura com unhas, dentes e veneno a sua grande oportunidade de saltar para a primeira linha de Hollywood. Pike é uma revelação, e nenhum dos seus trabalhos precedentes nos preparava para o que aqui se mostra capaz. No filme de Fincher, ela bem pode ser a mulher desaparecida, mas Pike veio mesmo para ficar.

 

Contas feitas, esta é uma história sobre jogos. Os jogos que jogamos uns com os outros para obter a dianteira; os jogos que os media jogam connosco para obter audiências; os jogos que nos fogem por entre os dedos quando tudo o que procuramos é o seu controlo.

 

 

“Quem sou eu?” – é a questão central que faz girar em torno de si as narrativas mais convencionais. Mas o filme de Fincher apresenta uma inquisição muito mais misteriosa e potencialmente aterradora – “Quem és tu?”. Com respostas perturbadoras a perguntas incómodas, não oferece nada incrivelmente novo ao impressionante repertório do realizador, mas não deixa de surgir como um trabalho de fascinante engenharia, inteligência arrepiante e metáfora lúgubre. No entanto, poderá existir uma determinada compulsão em fazer de “Gone Girl” algo que não é. Aceitá-lo como outra coisa que não um thriller entusiasmante e sarcástico é manifestamente um desserviço.

 

Apresentado em serviço de prata e porcelana chinesa, é um cheeseburger que mereceu tratamento gourmet, e esta é, talvez, a verdadeira raiz da sua genialidade – porque veste impecavelmente a camisola da sátira que representa.

 

8.0/10

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