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Os Oscars são um poço de polémica, e muitas das discussões acesas que do tema afloram, seriam facilmente resolvidas com uma constatação simples de factos: os Oscars são uma celebração organizada por um grupo de pessoas específico, neste caso, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Os filmes celebrados partem das suas escolhas, tal como os SOAP Awards aqui do Close-Up partem das minhas escolhas ou os prémios dos Críticos de Cinema Online Portugueses partem das escolhas de um grupo de bloggers. São, portanto, distinções organizadas por um grupo, e cada categoria trabalha para celebrar aquele que considera ser os melhores filmes nessa área. Muitas vezes não é possível celebrar todos os que merecem, ou porque não se sabe, ou porque não se viu, ou porque se esqueceu. É uma lei natural e que todos devemos aceitar, não obstante sermos a favor de discussões argumentadas saudáveis sobre o que é realmente um bom filme.
O Oscar de Melhor Filme é entregue anualmente ao filme que A ACADEMIA vota como o melhor, e o assunto está arrumado. Os Oscars, apesar da exposição maior que têm, encerram a importância que lhes dermos, e na realidade não são universais.
É importante expor este ponto antes de ir ao que realmente interessa neste post. 2014 não é propriamente um ano onde o vencedor de Oscar de Melhor Filme seja comummente considerado injusto... mas mesmo assim, histórias como esta só vem corromper ainda mais um sistema que de si já é tão frágil.
Indo ao cerne da questão, dois membros da Academia vieram admitir ao L.A. Times que não viram "12 Years a Slave" por acharem que seria uma experiência demasiado tortuosa e perturbadora... mas ainda assim votaram-no na categoria de "Melhor Filme", alegando uma quase "obrigação social" para com o filme e o que significa para a história da América e do mundo.
Num sistema com tantas falhas reconhecidas - desde incongruências nas regras e nos processos a incontornáveis vantagens que os filmes grandes têm sobre os mais pequenos, não osbtante a sua qualidade - esta é a sua ferida mais gravosa. Votar um filme sem o ver? É claro que a Academia como um todo tem de partir de um pressusposto de confiança, de que os votos surgem de uma confluência de experiências cinematográficas... mas como pode aceitar-se que algo como isto aconteça hoje? Haverá repercussões? Como poderá o sistema recuperar a confiança?
Mil e uma questões afloram, e poucas respostas aparecem.
O que resta dizer é que, apesar de não ser o meu filme favorito do ano, "12 Years a Slave" é uma obra magnífica a vários níveis, com e especialmente sem o "sentimento de culpa por causa da óbvia questão social". Nem o filme, nem o realizador, nem qualquer dos envolvidos merecia algo como isto, que também não é o que vai fazer com que o filme de McQueen seja um vencedor injusto. Que sirva, no entanto, esta vitória para que o filme chegue mais longe, a mais casas, a mais corações.
Aqueles dois membros podem não o saber, mas "12 Years a Slave" viverá hoje e sempre na memória dos que tiveram coragem de assistir.