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Foi finalmente divulgado o primeiro trailer de "Enemy" que volta a reunir o realizador Denis Villeneuve e Jake Gyllenhaal ("Prisoners") para uma adaptação de um dos romances de José Saramago ("O Homem Duplicado").
No enredo, um professor de história depressivo descobre acidentalmente a existência de um sósia seu quando assiste a um filme. Ele passa a seguir este homem, transformando a vida de ambos.
E o que é que isso significa, além do óbvio sucesso da Disney? Que alguém, algures por esse planeta fora, iria fazer uma versão da mesma canção interpretada por Mr. Freeze do inolvidável e inapagável "Batman and Robin".
O que é que “The Shining”, “Forrest Gump”, “American Psycho”, “One Flew Over the Cuckoo's Nest” e “Mary Poppins” têm em comum? Todos são filmes aclamados pela crítica e abraçados pelo público… mas particularmente pouco apreciados – ou diretamente odiados - pelos romancistas que os criaram.
Reza a lenda que tanto imploraram as suas filhas que Walt Disney se viu obrigado a fazer-lhes uma promessa: custasse o que custasse, traria o livro favorito das petizas à realidade edificada da sala de Cinema. Mal sabia o criador do rato Mickey, nesse momento inocente e ternurento de preceitos paternos, que esse seria um compromisso que levaria mais de 30 anos a cumprir.
“Saving Mr. Banks” é a crónica da perseguição dos direitos de adaptação que opôs Disney a P.L. Travers, a inflexível e bastante britânica (e australiana) autora de “Mary Poppins” que não tem qualquer intenção de deixar a sua adorada ama mágica ser atacada pela máquina de Hollywood. Pressionada por uma conta bancária em franco minguamento, Travers aceita encontrar-se com a equipa de Disney para tentar criar algo, mas a sua personalidade intempestiva e a familiaridade que têm com as suas personagens assegurarão que tudo é feito de acordo com o seu gosto requintado – e não há muita coisa que ela goste. Todavia, e depois de diversas investidas falhadas que envolveram storyboards, canções alegres, a cor vermelha e pinguins animados, Disney descobre a verdade sobre os fantasmas que assombram a escritora e, juntos, conseguem libertar para sempre o encantamento de uma das personagens mais amadas da história.
Trabalhando a partir de um argumento deKelly Marcel e Sue Smith, John Lee Hancock faz um animado malabarismo entre sátira Hollywoodesca, drama familiar e reforço da marca Disney que resulta num filme divertido e terno que apenas tropeça em duas dimensões cruciais.
A primeira prende-se com o facto de apresentar a Disney como uma máquina de transformações pelo bem maior – afinal, é um filme da Disney, sobre a Disney, onde o negócio apresentado beneficia da parceria com a Disney, e onde a principal epifania emocional se dá, quem poderia adivinhar, num carrossel… na Disneyland.
A segunda parte do problema parte da inconstância entre os dois universos e realidades temporais apresentados. Apesar da sua importância para convir a explicação necessária à psique e jornada interior de Travers, que por sua vez justificam a sua veemente relutância em partilhar a pureza dos seus personagens, os flashbacks da vida australiana no campo não têm a mesma dinâmica que o enredo passado nos anos 60 - a natureza novelesca e manipulativa do (melo)drama esbarra ocasionalmente com a leveza e comicidade do resto do filme.
Avançado como um poderoso candidato à awards season em geral e aos Óscares em particular, “Saving Mr. Banks” viu-se inesperadamente com apenas uma categoria aos galardões mais apetecidos – na categoria de Melhor Banda Sonora Original.
Uma das mais faladas e infames ausências nos prémios da Academia é certamente Emma Thompson, que retrata com as devidas doses de acidez, jenica e doçura a sarjenta combativa que deu pesadelos a Disney, ao argumentista Don DaGradi e aos geniais músicos e irmãos Sherman. O comportamento espinhoso de Travers e as intermináveis e citáveis one-liners que atira violentamente ao vento formam um delicioso contraste com a cor e superficialidade dos estúdios da Disney.
Menos notável mas nem por isso parco em nuances de nota, Tom Hanks é o responsável pelo primeiro retrato de Walt Disney em Cinema, oferecendo-lhe generosas doses de charme e companheirismo deixando compreensivelmente de parte muitos dos aspetos mais apetitosos mas obscuros e nocivos da personalidade do magnata americano.
Entre o elenco secundário, reservamos algumas palavras de apreço para Jason Schwartzman, B. J. Novak e Bradley Whitford que brilham não poucas vezes na outra ponta do espectro de ataques de Travers, e Paul Giamatti pelo pequeno mas memorável papel de chauffeur (e amigo) da escritora.
Se P. L. Travers ainda estivesse entre nós é praticamente certo que não guardaria palavras simpáticas para partilhar sobre a visão cor-de-rosa e Disneylizada da história. Mas ainda assim e com percalços à parte, “Saving Mr. Banks” é uma ode à dor inerente ao processo criativo e uma deleitosa – e por vezes mágica – celebração do poder da arte e da imaginação.
Não é supercalifragilisticexpialidoso… mas vale definitivamente a pena.
7.0/10
A A24 lançou online o primeiro trailer do novo filme de David Michôd ("Animal Kingdom"), protagonizado por Guy Pearce e Robert Pattinson.
Passando-se numa Austrália despedaçada pela guerra num futuro próximo, a história segue um homem solitário que persegue um gangue que lhe roubou o automóvel, deixando para trás um ferido que o ajudará na sua jornada.
Felizmente ainda há quem faça valer os extras dos DVD/Blu-Ray, e “Thor: The Dark World” prepara-se para partilhar um goodie dos bons: nada menos que o screen test de Tom Hiddleston (o nosso querido Loki) para o papel de Thor.
Se se trata de uma pequena brincadeira feita apenas para regozijo dos fãs ou se o casting foi verdadeiramente uma realidade, ainda está por apurar, mas para já ficam dois gifs animados que mostram um pouco do que seria Loki como Thor – primeiro em tronco nú e depois em gloriosa camiseta de alças da Nike.
Realizado pelo estreante Josh Boone e protagonizado por Shailene Woodley e Ansel Elgort, "The Fault In Our Stars" é um promissor drama romântico baseado no livro homónimo de John Green, publicado em 2012.
Hazel e Gus são dois jovens espirituosos com desdém pelos convencionalismos que se veem embarcados numa jornada inesquecível pelo poder do Amor. O desenvolvimento da sua relação é tanto mais miraculosa se levarmos em conta que Gus é um ex-jogador de basket com uma perna amputada com um osteossarcoma em remissão e Hazel uma lutadora contra um cancro terminal durante toda a vida.
"Her" foi um dos meus filmes favoritos de 2013, e por essa mesma razão, não achava que pudesse existir alguma coisa que o tornasse melhor. Mas aparentemente existe, e alguém se lembrou disso.
E ainda na primeira parte de jogo, Scarlett Johansson é substituída por... por... Phillip Seymour Hoffman!
Chegou finalmente - desta vez parece que é mesmo oficial e seguro - o trailer do peculiar "The Zero Theorem" de Terry Gilliam.
Protagonizado por Christoph Waltz, David Thewlis, Melanie Thierry, Ben Whishaw, Tilda Swinton e Matt Damon, "The Zero Theorem" ainda não tem distribuidora e, por isso, continua com estreia incerta.
A próxima segunda-feira (dia 27) promete ser de grandes surpresas para o universo X-Men, com o lançamento de um novo trailer de "X-Men: Days of Future Past" e, quem sabe, outras surpresas... até lá, ficamos com a última moda: o mini-teaser-do-trailer-que-vai-sair-daqui-a-uns-dias.
"Did you ever have to find a way to survive and you knew your choices were bad, BUT you had to survive?"
Poderíamos dizer que tem um pouco de “Argo”, de “Goodfellas” e de “Boogie Nights”, o que em rigor estético, narrativo e de abordagem não seria nenhuma mentira, mas a verdade é que apesar de ser uma obra geralmente positiva, “American Hustle” não surge como um todo coeso, ao contrário de qualquer uma das suas inspirações.
Apanhados pelo agente Richie DiMaso depois de um dos seus múltiplos golpes, Irving Rosenfeld e a sua parceira e amante Sydney são forçados a trabalhar para o FBI numa missão que almeja capturar alguns dos mais perigosos criminosos de New Jersey. É assim que se veem envolvidos nos negócios pouco claros de Carmine Polito, um político entusiasta mas pouco credível que se deixou cair nos meandros da máfia local. Para dificultar uma missão já de si complexa, Irving acaba por descobrir, da pior maneira possível, o poder do ressentimento de Rosalyn, a mãe do seu filho, de quem nunca se chegou a divorciar…
Com 10 nomeações aos Oscars da Academia, “American Hustle” é um dos grandes filmes da temporada, uma incursão divertida e desavergonhada pelo universo ordinário dos anos 70 vistos à lupa de golpistas que vivem da distorção pornográfica do sonho americano.
Está tudo muito bem enquanto não interrompemos a sessão para refletir e notamos que, afinal, não há muito que extrair desta mirabolante história de curvas e contracurvas onde talvez apenas por milagre do dom genuíno de muitos dos envolvidos – incluindo o próprio realizador – não se deram colisões violentas, capazes de deitar por terra todas as possibilidades de um grande filme.
O que se sugere à cabeça é que David O. Russell se enamorou inescusavelmente do charme “trashy” do período, onde abraça frivolamente os excessos da era que representa, desde os vitoriosos decotes intermináveis ao assassínio coletivo daquilo que inocentemente chamamos de um bom penteado, enquanto se deixa maravilhar pelas infinitas possibilidades de um elenco em estado de graça – e de talento.
É certo e assegurado que não precisamos todos os dias que nos chegue Cinema com profundas mensagens sobre o estado do mundo de Ontem, que se reflete exponencialmente no mundo de Hoje, mas é difícil ignorar, tendo em conta as potencialidades da história e particularmente das personagens originais, a riqueza que daqui poderia ser possível extrair.
É admitidamente um filme de atores – e de grandes atores – mas onde estes servem apenas o propósito de meras peças que se movimentam de um cenário para outro, varrendo-se rapidamente as “backstories” para debaixo do tapete em prol do frenesim da ação policial central. Este estilo “aumentado” e extravagante de O. Russell acabou por servir positivamente outras histórias que tocaram pontos e experiências emocionais para o espectador, mas o mesmo raramente acontece com “American Hustle”.
O. Russell é um homem de costumes pelo que recupera parte dos elencos de “The Fighter” e “Silver Linnings Playbook” para a sua tática de 1-3-1, onde, o ponta-de-lança de Bradley Cooper é, em 5 minutos, substituído por um “quase-cameo” de Robert De Niro que finalmente faz pandã com as inigualáveis performances com que nos brindou ao longo dos anos 70, 80 e 90. O protagonista é vivido com as devidas doses de charme e repugnância pelo camaleónico Christian Bale, mas são as mulheres – Amy Adams e Jennifer Lawrence – que mais têm feito correr tinta pelas suas magníficas (mas não totalmente surpreendentes) performances de uma acídica femme fatale e uma esposa psicótica cujas técnicas de manipulação nunca devem ser questionadas.
É um bom filme com as potencialidades de ter sido um grande filme, destinado a levar por tabela por isso e pelo (sobre)elevado reconhecimento alheio e não por desalmadas pretensões próprias, quando é uma incursão perfeitamente aceitável e, inclusive, acima da média, maus penteados à parte.
Curiosamente, o cabelo, esse, pode ser a verdadeira chave de tudo.
Na primeira cena de “American Hustle”, Irving Rosenfeld percorre o seu luxuoso quarto no Hotel Plaza enquanto abotoa uma camisa de gosto duvidoso sobre um enorme estômago que transborda por cima do apertado botão das calças, e que se adivinha cheio à custa dos golpes e contragolpes nos quais se tornou um insubstituível especialista.
O que se segue é uma sequência quase macabra que envolve a minúcia inerente à preparação diária de Rosenfeld, e que envolve o preenchimento meticuloso, quase científico, da cabeça pelada com fartos tufos de cabelo falso. É um breve momento de “make-over” demente, quase íntimo, que acompanhamos enquanto o golpista tenta erguer a ilusão palpável de um penteado preenchido e composto. A combinação final, bem afixada por uma dose generosa de laca, é uma poderosa metáfora, não só para o arco narrativo que nos preparamos para acompanhar durante pouco mais de duas horas, mas sobretudo para o produto final que David O. Russell nos serve.
É um filme de traços dementes, cuja diversão, sensualidade e potência dos protagonistas tenta ocultar as peladas de um argumento com bons one-liners, mas no final de contas pouco coeso – confuso até ocasionalmente - ou sequer preocupado em criar um ponto de foco e de ligação emocional.
Seja como for, e parta de onde partir a opinião de cada um de nós sobre o filme – quer do espetro positivo ou negativo – “American Hustle” conseguiu, através da sua minuciosa compensação de elementos menos conseguidos com o brilho das suas forças motrizes, chamar a atenção de todos, e surgir como um dos filmes mais relevantes do ano.
É o derradeiro golpe do baú.
6.5/10