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"I work as a specialized assassin, in an outfit called the Loopers. When my organization from the future wants someone to die, they zap them back to me and I eliminate the target from the future. The only rule is: never let your target escape... even if your target is you."
O enredo é complexo, e por prevenção de equívocos faltosos, cingir-nos-emos à sinopse original.
Ambientado a um futuro (relativamente) próximo, o thriller de ação Looper transporta-nos para um lugar onde a viagem no tempo será inventada, mas proibida e apenas disponível nos mercados negros. Quando a máfia deseja livrar-se de alguém, enviarão o alvo para o passado onde um “looper” – um assassino contratado, como Joe (Joseph Gordon-Levitt) – o esperará com o dedo no gatilho, pronto a disparar.
Joe está de bem na vida. Bem-sucedido no trabalho, com dinheiro, boas perspetivas de futuro… até o dia em que a máfia deseja “fechar o ciclo”, enviando a versão futura de Joe (Bruce Willis) para que este seja morto, o que vai desencadear uma caça ao homem desenfreada que mudará o Amanhã.
Rian Johnson andava a deixar-nos da dúvida. Depois de uma estreia imensamente promissora na cadeira de realização com a singularidade de ‘Brick’ (2005), fez-nos questionar se estaríamos perante um caso de “sorte de principiante” depois de um largamente desapontante ‘The Brothers Bloom’, apenas três anos depois.
Podemos limpar a gotícula de suor da testa: Johnson é dos bons.
A narrativa é intricada e a mais criativa provavelmente desde ‘Inception’ em 2010, e é gerida com segurança pelo realizador que infunde subtilezas e pedaços de alma, sendo bem auxiliando por um trabalho de câmara gracioso e fluído. A Johnson (e, claro, à equipa por detrás do design de produção) se devem também as devidas congratulações pelos pequenos toques Western de extremo gosto dos quais soube tirar partido – silêncios, quietudes, sequências de espaço aberto, entre outros, apenas aproveitados para o melhor fim.
Looper consegue um equilíbrio raro entre uma viagem excitante e a inteligência que demonstra e que espera em igual medida do espectador. A pequena gema com toques q.b. de neo-noir faísca de dilemas existenciais e fatalismo carrega a premissa das “viagens no tempo”, sempre potencialmente venenosa, e Johnson permite-se a umas quantas batotices, mas nada temam: com um sentido de humor negro e ação entusiasmante, Looper raramente sai do bom trilho.
A certa altura, o Joe de Bruce Willis atira com uma expressão impassível qualquer coisa como “se começarmos [a explicar a viagem no tempo] vamos estar aqui o dia todo, a fazer diagramas com palhinhas".
De facto, Johnson toma uma série de decisões inteligentes, entre as quais o facto de manter a questão da viagem no tempo com rédea curta, não requerendo justificações demasiado explicativas sobre a mesma, que só levariam ao levantamento de mais dúvidas sobre a física e filosofia do dispositivo. Tudo se mantém simples, mas nunca palerma.
É, no fundo, uma reflexão sobre como uma decisão tomada por uma pessoa num espaço e tempo precisos, afeta profundamente o futuro, abrindo um leque de possibilidades imensas de acontecimentos.
Se a função da maquilhagem era fazer Joseph Gordon-Levitt parecido a Bruce Willis, falhou. Se, por outro lado, esta pretendia apenas endurecer o aspeto do jovem rapaz que um dia, de cabelos longos, protagonizou ‘3rd Rock from the Sun’ (1996-2001), então tudo certo.
Mas se a maquilhagem se pode estranhar, e não necessariamente entranhar, mais difícil será dizê-lo da sólida dupla protagonista. Joseph Gordon-Levitt está especialmente notável, uma vez que se nota perfeitamente nos jeitos e trajeitos que foi ele quem teve de trabalhar para “ser” Bruce Willis, e não o contrário – como aliás já se esperava.
Claro que tudo isto se torna melhor quando o elenco secundário é tão ou mais interessante do que o principal: Jeff Daniels é memorável como o líder da máfia, Paul Dano é afetante como um looper tramado e Emily Blunt que se mantém como a peça emocional mais importante de todo o enredo.
Não é difícil reclamar sobre incoerências no argumento, passagens inconsequentes, ou “desenvolvimentos que poderiam ter sido” – talvez o mais gritante neste último grupo, seja o caso do intrigante do sub-plot de Kid Blue.
Mas um dos segredos para disfrutar em pleno da poção mágica de um enredo intelectualmente instigante e entretenimento de qualidade que Looper tem para oferecer é não procurar a ciência exata na ficção, e vice-versa.
Não é o tipo de filme que pressagia uma mudança na indústria, mas é claramente o tipo de filme que não vemos surgir no Cinema com frequência suficiente.
8.0/10