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"Everything in our lives, has brought us to this moment."
Não há muitas pessoas que tenham sido capazes de se afirmar como adjetivos; a descrição única para uma combinação singular de fatores.
O cibernético. O sexual. O estranho. O obsessivo. O febril. O eletrizante.
Cornenberg.
Aquando do lançamento de A Dangerous Method, o mundo questionou-se se o mestre do terror e do excêntrico se estaria a converter numa versão soft de si mesmo. A resposta chega como que em jeito provocador: “Vocês estavam mesmo a pedi-las”.
Cosmopolis, o mais recente filme do realizador canadiano, acompanha a história de Eric Packer, um jovem génio multimilionário que atravessa obstinadamente a cidade de Nova Iorque para cortar o cabelo.
Por esta altura, já todos os leitores se devem ter dado conta de que esta é muito mais do que uma jornada com fins estéticos, até porque, e perdoem o spoiler, o barbeiro deixa muito a desejar nos seus dotes com a tesoura.
Cosmopolis é um inebriante retrato da alienação num mundo onde, vertiginosamente, tudo – dinheiro, relações, vida e morte - perde sentido. É horror americano do século XXI, que encontra no cibercapitalismo o seu bicho-papão e numa odisseia definida por encontros pontuais a sua forma. Além do enterro do capitalismo, Cosmopolis adereça outra preocupação recorrente no cinema de Cronenberg – a das limitações do corpo e da psique humana.
Todo o filme se sente carregado de uma tensão que antevê o fim dos dias, algo que Cronenberg sempre provou dominar como se de um animal domesticado se tratasse. A parábola pós-capitalista representa de alguma forma um regresso ao passado para o realizador, numa espécie de inversão luxuosa de eXistenZ (1999).
A natureza experimental limita a maximização da potência das mensagens que se quer fazer passar. O diálogo é uma renúncia assumida ao realismo: ornamentado e poético, coloca inúmeras questões que são apenas respondidas com indiferença ou outras questões. E valorizar em todos os momentos o simbolismo em nome do enredo tem o seu preço. Cosmopolis é, por isso, um filme intelectualmente desgastante.
A essência fria, quase robótica, e a recitação monocórdica de Robert Pattinson estão de acordo com a abordagem de Cronenberg, mas o jovem ator britânico não deixou de ceder a alguns dos seus mais impetuosos tiques, enquadrando-se no personagem com mais ou menos destreza, de acordo com quem partilha o ecrã. Os seus 22 minutos ao lado de Paul Giamatti (que é responsável pelos traços mais humanos reconhecíveis na obra) são manifestamente os mais bem conseguidos. É impossível não imaginar o seu Packer como um dos célebres pacientes dos protagonistas do penúltimo filme de Cronenberg, A Dangerous Method.
Já a brilhante aparição de Mathieu Amalric, quase em jeito de cameo, deixa-nos a desejar que o terrorista das tartes de nata faça mais visitas ao cinema contemporâneo.
Pondo a questão em pratos limpos: havia duas formas de fazer Cosmopolis: torná-lo numa espécie de thriller mais convencional e mainstream, ou fazer dele uma espécie de colagem estilística da obra que o suporta, sacrificando sobretudo convenções de argumento. A escolha de Cronenberg é clara.
Este é talvez o filme mais ambicioso de Cronenberg, e aquele que parte de uma base de trabalho mais estimulante. O resultado é inequivocamente denso, opaco e altamente polarizador; se isto se traduz num sucesso total refletido numa obra relevante para o seu tempo, só poderemos saber depois de repetidas visualizações, mas sobretudo, se permitirmos que o tempo o envelheça.
Mas mesmo que seja impossível decifrar na íntegra as mensagens e que seja, na sua base, um exercício impenetrável, Cosmopolis não deixa de se impor como um reflexo de uma equação civilizacional pronta a explodir, e uma sumptuosa discussão de ideias que são importantes de mais para o nosso século para serem varridas para debaixo do tapete.
8.5/10
A Universal lançou o primeiro trailer oficial de Les Misérables de Tom Hooper (The King's Speech) e o veredito? WOW!
Anne Hathaway, Hugh Jackman, Russell Croe, Amanda Seyfried, Helena Bonham Carter e muitos outros compõem um elenco de luxo que é apenas uma das mil e uma razões que acabámos de ganhar para ficar a babar até à estreia. E que ela chegue depressa!
"I just watched a ton of reality TV. I was doing an English course [at Brown University]. So I would go from reading Virginia Woolf to [watching] Kim Kardashian. I kind of loved it, this mix of super-high and super-low culture. I think it was a nice balance."
Emma Watson (sobre a preparação para o seu novo filme The Bling Ring, de Sofia Coppola)
Excelente forma de pôr as coisas, e excelente forma de ficarmos ansiosos pela próxima incursão cinematográfica de ambas (Emma e Sofia): A trama segue um grupo de adolescentes que comete uma série de assaltos em casas de celebridades.
M. Night Shyamalan tem andado pelo twitter a partilhar algumas aventuras e desventuras da produção do seu próximo filme (que podem ler aqui). Mas a última bomba é que me deixou a pensar...
Não que Cosmopolis tenha o que quer que seja a ver com o nosso Obikwelo, que não tem; mas este é um desabafo em modo supersónico, que o tempo hoje é coisa que me falta.
Portanto resumindo bem resumidinho...
Foram anunciados há momentos os vencedores da 65ª Edição do Festival de Cannes, e como o burburinho já vinha a atestar, o filme em voga é mesmo Amour De Michael Haneke, que levou a maior honra para casa.
LONGAS-METRAGENS
Palme d'Or
AMOUR Realizado por Michael HANEKE
Grand Prix
REALITY Realizado por Matteo GARRONE
Prémio de realização
Carlos REYGADAS Para POST TENEBRAS LUX
Prémio do argumento
Cristian MUNGIU Para DUPÃ DEALURI
Prémio de interpretação feminina
Cristina FLUTUR e Cosmina STRATAN em DUPÃ DEALURI Realizado por Cristian MUNGIU
Prémio de interpretação masculina
Mads MIKKELSEN em JAGTEN Realizado por Thomas VINTERBERG
Prémio do Júri
THE ANGELS' SHARE Realizado por Ken LOACH
CURTAS-METRAGENS
Palme d'Or da curta-metragem
SESSIZ-BE DENG Realizado por L.Rezan YESILBAS
UN CERTAIN REGARD
Menção especial - Un Certain Regard
DJECA Realizado por Aida BEGIC
Prémio de Interpretação Feminina Un Certain Regard
À PERDRE LA RAISON Interpretado por Emilie DEQUENNE
LAURENCE ANYWAYS Interpretado por Suzanne CLÉMENT
Prémio Especial do Júri Un Certain Regard
LE GRAND SOIR Realizado por Gustave KERVERN, Benoît DELÉPINE
Prémio Un Certain Regard
DESPUÉS DE LUCIA Realizado por Michel FRANCO
CINEFONDATION
Primeiro Prémio da Cinéfondation
DOROGA NA Realizado por Taisia IGUMENTSEVA
Segundo Prémio da Cinéfondation
ABIGAIL Realizado por Matthew James REILLY
Terceiro Prémio da Cinéfondation
LOS ANFITRIONES Realizado por Miguel Angel MOULET
GOLDEN CAMERA
Caméra d'or
BEASTS OF THE SOUTHERN WILD Realizado por Benh ZEITLIN
Disponível por volta das 18:40, os vencedores, entrevistas e afins. A não perder!
Esta semana nos cinemas:
Cosmopolis Nota IMDB - /10
Beauty and the Beast Nota IMDB - 8.0/10
Snow White and the Huntsman Nota IMDB - /10
Femmine contro Maschi Nota IMDB 5.4/10
Lockout Nota IMDB 6.2/10
SuperClásico Nota IMDB 6.5/10
Un Monstre à Paris Nota IMDB 6.5/10
Se a Dory de Finding Nemo se apoiasse nos métodos de Leonard Shelby de Memento, deveríamos obter algo como...
"Lips red as blood. Hair black as night. Bring me your heart my dear, dear Snow White."
Não estou com muito tempo por isso perdoem a (falta de) cuidados, mas não queria deixar de passar por cá para vos deixar o meu parecer.
Às vezes uma pessoa dá-se conta de que também o Cinema parece ser uma coisa de modas. Em apenas um ano vimos não uma nem duas mas três adaptações do clássico dos Irmãos Grimm, A Branca de Neve. Três.
O primeiro a chegar às salas foi a versão com maior queda para o fantástico (e para o terrível), Mirror Mirror, opondo uma bastante insossa Lily Collins a uma maliciosamente divertida Julia Roberts; depois tivemos o duvidoso Snow White: A Deadly Summer, uma versão moderna e de baixo orçamento que me deixou genuinamente assustada, e não no bom sentido (só por curiosidade, podem ver o trailer aqui), e por fim, vemos agora chegar às nossas salas Snow White and the Huntsman, referido como um “épico de aventura”.
E é oficial: este último é claramente a adaptação mais forte do conto de origem germânica e a que mais se aproxima do tom do conto tradicional dos Irmãos Grimm, introduzindo-nos a um mundo simultaneamente belo e mortal.
Mas Snow White and the Huntsman torna-se subitamente ainda mais respeitável se considerarmos que é a primeira incursão cinematográfica do realizador Rupert Sanders, que apesar de não nos apresentar um resultado isento de falhas (é especialmente irregular em ritmo), tem aqui um sólido início de carreira que certamente lhe proporcionará outras oportunidades interessantes num futuro próximo.
Continuando pela equipa fora, Greig Fraser tem um ano bem composto, tendo sido responsável pela fotografia de Killing Them Softly (que passou esta semana por Cannes) e deste Snow White and the Huntsman, cheio de jogos de luzes interessantes e criando uma imagem associativa muito forte ao título.
Mas claro que o seu trabalho foi facilitado por uma série de outros profissionais que não posso deixar de ressaltar, como o guarda-roupa imperial de Colleen Atwood (que faz fazer valer os três Óscars que tem na prateleira), o design de produção de Dominic Watkins, que consegue o equilíbrio perfeito entre a fantasia e o real, a banda sonora pungente de James Newton Howard, e toda a equipa de maquilhagem e efeitos visuais. Snow White and the Huntsman é, por isso, e acima de tudo, um êxito pelo todo.
A prestação do elenco é, de uma forma geral, sólida (ainda não decidi se gostei ou não de Kristen Stewart, mas que estava menos mal do que imaginava, estava), sendo que os destaques mais positivos vêm, como já seria de esperar, de Charlize Theron – especialmente na primeira meia hora - e do aterrador Sam Spruell.
O argumento é possivelmente o calcanhar de Aquiles do título. Soou sempre algo insípido, e, para um blockbuster desta dimensão, tem especial falta de linhas de diálogo que fiquem na memória. Mas o que mais se destaca negativamente neste ponto é a questão relativa à motivação das personagens, ou por outro lado, a falta dela. De resto, o tom foi sempre uma mais-valia, apesar de mais alguns momentos de comic relief terem sido bem-vindos (senti os anões especialmente subaproveitados neste sentido e restringidos a piadas sobre fezes).
Resumindo e concluindo, é um filme que não causará certamente arrependimentos em quem estiver disposto a pagar pelo bilhete – acho que pelo menos o aspeto visual será relativamente consensual. As sequências a fazer lembrar Lord of the Rings são mais do que as necessárias, mas se ultrapassarem isso e mais um par de coisas, podem embarcar sem medos nesta viagem épica. E já agora, porque é sempre importante fazer este tipo de associações, nada de maçãs podres por aqui. Podem confiar.
7.5/10