Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
"Comment est votre blanquette?"
Podíamos iniciar esta crítica dizendo que estamos perante o “James Bond Francês”, mas essa afirmação teria tanto de cliché como de inexatidão.
Na verdade o que devíamos dizer é que James Bond é o “agente 117 inglês”, isto porque o espião francês foi criado pelo prolífero Jean Bruce em 1949. Sendo assim, quando James Bond fez a sua primeira aparição num romance de Ian Fleming em 1953, já La Bath andava a espalhar charme e tiros há quatro anos.
Em 2006, o exímio coronel americano do Louisiana e de descendência francesa da CIA foi transformado num espião francês trapalhão porém eficiente da SDECE (Service de Documentiation Extérieure de Contre-Espionnage). La Bath, o agente 117, tinha assim renascido como um spoof das personagens de agentes secretos, uma figura cómica e, em muitos pontos, politicamente incorreta.
Jean Dujardin, que hoje celebramos como o grande “Artista” já aqui deixava duas coisas muito claras: que tinha um enorme talento para os papéis enraizados na comicidade e que era dotado de um carisma que faz transbordar do ecrã.
Mas vamos à nossa história: a nossa ação situa-se no Egipto, um autêntico ninho de espiões e conspiradores, em 1955. O sedutor mas eficiente Hubert Bonisseur de La Bath, de nome código: agente 117, é enviado pela França para uma missão secreta na capital egípcia do Cairo e para pôr ordem no caos que se vivia na cidade.
Pensem nao paródia ao bom estilo de Airplane! ou Naked Gun, e ponham de lado os sofríveis Scary Movies, ou qualquer coisa Movie. É no primeiro grupo que este OSS 117: Le Caire Nid d'Espions se encaixa, uma sátira que respeita o género com que parodia, e, ao mesmo tempo, a audiência.
Os preconceitos da era são totalmente incorporados pelo nosso protagonista e herói que, verdade seja dita, é um verdadeiro parvalhão. Desde nomes mal pronunciados, a insultos machistas e antirreligiosos, ou a pistas mal interpretadas – La Bath tem tudo o que poderíamos achar indesejável num agente secreto… e ainda assim, o seu charme e eficiência são inegáveis.
As convenções dos filmes de ação são satirizadas e a mentalidade colonial europeia é ridicularizada, mas o humor é geralmente inteligente e espirituoso. Os toques de época são incrivelmente fiéis, e aqui não me refiro apenas ao guarda-roupa ou aos sets, mas até aos efeitos visuais, sequências de ação e banda sonora. Uma curiosidade interessante de OSS 117: Le Caire Nid d'Espions é que marcou o primeiro encontro dos três grandes protagonistas de The Artist que, na ressaca da vitória nos Oscars, ainda exaltamos: Michel Hazanavicius dirige Jean Dujardin e Bérénice Bejo nesta caótica aventura de fazer corar o mais inspirado espião.
Talvez o seu maior problema seja que, apesar de ter pouco mais de 90 minutos, comece a cansar um pouco no terceiro ato – este tipo de humor tem um alcance algo limitado na nossa atenção e tolerância.
Mas não podemos terminar sem sublinhar: não é todos os dias que temos a possibilidade do prazer de assistir à luta entre dois espiões que se baseia na utilização de galinhas como armas de arremesso. Vai buscá-la, James Bond!
7/10