"I'm the one who's fighting. Not you, not you, and not you"
The Fighter é engraçado, triste, violento e querido, por vezes, tudo ao mesmo tempo.
O realizador David O. Russel sempre se deu bem a encontrar novas formas de utilizar actores familiares, e as performances em The Fighter provam isso mesmo uma vez mais. Enquanto o filme se aguenta bastante bem "dentro do ringue", fora dele é brilhante no retrato de uma família da classe operário que brutaliza o seu membro mais novo em nome de alguma espécie de reconhecimento.
The Fighter tenta algumas manobras arriscadas, mas elas acabam por se mostrar boas escolhas; tal como no boxe, o resultado final é que conta.
A grande fraqueza do filme está no papel principal, e esta crítica não é dirigida a Mark Wahlberg, que já se mostrou capaz noutras oportunidades; aqui não tem simplesmente muito com que trabalhar na personagem menos interessante da trama, ainda que carregue todo o coração da mesma. Por outro lado, Christian Bale domina a cena como Dicky Eklund, um tagarela que deixou fugir a própria carreira. De resto, há personagens tão repulsivas que é difícil preocuparmo-nos com o que lhes acontece, mas devido ao elenco soberdo, acabamos mesmo por querer saber delas.
Com um corpo de trabalho bastante sólido e um coração maior do que qualquer outra coisa na sua génese, fica a um ou dois suissinhos de ser
um filme grandioso, mas a técnica empregue em todo o projecto é magistral.
É uma fita que sabe o que é, não tenta ser outra coisa e que nos atinge com tal violência que seguimos directos para KO.
8.5/10
"If I am King, where is my power? Can I declare war? Form a government? Levy a tax? No! And yet I am the seat of all authority because they think that when I speak, I speak for them."
E onde é que o provável grande vencedor dos Oscars 2011 falha? Bom, não é propriamente falhar, mas eu tenho algumas dificuldades em considerá-lo um grande filme. Na verdade, acho que três filmes serão relembrados dos ano de 2010: The Social Network, Inception e Black Swan, por razões diferentes, é claro. O que acontece é que The King's Speech repousa nas expectativas do género e é um típico crowd-pleaser.
Todavia, presenteia-nos com um drama sólido com um clímax emocionante - uma peça histórica bastante satisfatória que atinge os padrões dramáticos que se requeriam sem sacrificar a técnica ou a precisão histórica. É uma combinação sagrada para receber prémios que junta o melhor de Inglaterra com os princípios de Hollywood, que nos permite assistir a dois actores brilhantes a recriar um teste de vontades monumental.
The King's Speech parece estar admiravelmente livre de respostas fáceis e finais felizes; é uma versão "desviante" da história, mas uma versão bem polida. Uma das razões para o filme de Tom Hooper resultar tão bem é que opera em vários níveis diferentes com sucesso, incluindo a nível técnico, de onde devemos destacar a banda sonora e a fotografia lindíssimas.
Um filme extraordinário sobre uma extraordinária amizade, e que, aumentando o seu estatuto de raridade, honra a inteligência da audiência.
8.5/10
"If you are afraid about being on your own, don't be. You are not."
Fazer um filme sobre o que há depois da morte é sempre um passo arriscado, mas Clint Eastwood arranjou maneira de o tornar seguro, mas não num bom sentido. Falta um drama urgente e personagens com as quais nos preocupemos de facto. Na verdade, este nem parece um filme de Clint Eastwood, mas um episódio alargado de uma qualquer série sci-fi. O realizador tem andado desinspirado e desta vez serviu-nos um prato que, ainda que contenha apontamentos interessantes, tem falta de sal e conta com alguns momentos perigosamente entediantes.
É difícil saber o que há de errado com Hereafter, mas o argumento fraco de Peter Morgan não chega nem aos calcanhares dos seus inteligentes e afiados trabalhos anteriores (The Queen e Frost/Nixon).
Um outro apontamento negativo vai para os efeitos especiais que se mostram especialmente no início do filme. Custa vez uma coisa tão fraquinha como estas merecer reconhecimento, por exemplo, da Academia em detrimento de outros trabalhos tão mais bem conseguidos e complexos.
6/10

"Yo no voy a morir"
Como me lembro de ter ouvido em algum lado, os filmes mais difíceis de escrever uma crítica são aqueles que respeitamos e admiramos mas que não nos conquistaram - Biutiful é mesmo esse tipo de filme. Apesar de a minha opinião ser bastante positiva, não me tocou como esperaria que o podia ter feito.
Iñárritu tem aqui talvez a sua obra de arte (até ao momento); uma tragédia clássica moderna, que tem em Javier Bardem o seu herói, um personagem encurralado numa teia de eventos de onde não se pode descartar. A linha narrativa é forte e equilibrada, mas com duas horas e meia, a fita está cheia demais com sub-enredos e histórias paralelas.
Biutiful é poderoso, e vai deixar marcas. Apesar de não se ter entranhado, não sou cega: há poesia aqui, e muita catástrofe também.
É cru e honesto, mas enquanto a performance transcendente de Bardem poderá chegar para uns, o filme poderá ser simplesmente demais para outros.