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Muitos de vocês que visitam aqui o blog conhecem o meu desencantamento pelo fenómeno do 3D. Sinceramente, irrita-me, e depois de uma experiência que não vou esquecer tão cedo, resolvi escrever-vos sobre o assunto.
Estou firmemente convencida que o 3D deveria dedicar-se somente aos concertos da Hannah Montana e Justin Bieber, documentários que passam nos museus de ciência e experiências cinematográficas inteiramente dedicadas ao aspecto visual como Avatar e Tron: Legacy, ainda que neste último caso, a utilização efectiva de 3D tenha sido um pouco deficiente e definitivamente sub-aproveitada. Esta é uma tecnologia criada claramente para nos extorquir mais dinheiro e para tornar a vida mais difícil à pirataria.
E eu posso ser muito crítica neste campo, mas gosto e espero que existam filmes que me façam pensar o contrário e que me surpreendam, mas se Avatar nos provou alguma coisa, é que os gráficos e o visual apenas não fazem um grande filme.
Bom sem mais histórias, enuncio-vos as minhas razões para me considerar uma activista do anti-3D por agora.
PREÇO
É claro que os cinemas têm de pagar pelos projectores 3D, mas um bilhete que chega quase aos 10 euros é excessivo. No meu caso, na maior parte das vezes, vou ao cinema ao Almada Forum, que é o que me fica mais perto. Os bilhetes normais estão agora a 6,10€. Felizmente sou estudante e o preço cai para 4,90€. Se por acaso quiser ver um filme em 3D, a taxa e os óculos acrescentam 2,50 € às contas totais. E eu que na minha inocência pensei que se levasse os oculos que já tinha em casa pagava muito menos... não. Os óculos custam apenas 50 cêntimos, e a taxa de 2€ continua a aplicar-se. É um balúrdio.
Em 2009, menos quatro milhões de pessoas foram ao cinema do que em 2001. Em 2010, o número de espectadores aumentou, e a diferença desceu para três milhões. Todavia, com a crise económica e a subida contínua do preço dos bilhetes, não me admira nada que o valor volte a cair em 2011.
MENOS LUZ
É verdade. Mal colocamos os malditos óculos 3D, a sala fica mais escura, bem como a imagem do filme, perdendo-se propriedades importantes de fotografia e exigindo mais esforço dos olhos.
DORES DE CABEÇA
Por causa de todos os movimentos em 3D, os nossos olhos são obrigados a fazer um esforço extra durante todo o filme. Na verdade, o 3D tenta “enganar” o cérebro ao mostrar uma imagem ao olho direito e outra ao olho esquerdo, e a menos que tenham andado a fazer exercícios de olhos, muitos de vocês vão ficar com dores de cabeça mais ou menos fortes e/ou nauseas. (Quem é que tem tempo de fazer exercícios de olhos?) E nem vamos falar dos problemas que este 3D aldrabado poderá causar a longo prazo.
MENOS VISIBILIDADE
Já repararam que os óculos 3D obstruem o campo de visão? Pois… mas é verdade.
ALTERNATIVA AO 3D
Os melhores filmes em 3D chamam-se peças de teatro. E como o preço dos bilhetes de cinema anda, o argumento do “é mais caro” começa a ser cada vez menos válido.
DESCONFORTÁVEL
Usar óculos de sol no cinema não é de todo prático. Eu cá preferia ir para a praia.
IRREAL
Suponho que o grande propósito do 3D seja fazer com que nos sintamos mais imersos no mundo do filme e parecer que estamos dentro daquele mundo. Até pode ser que um dia, com o avanço das tecnologias seja assim, mas neste momento, para mim a ironia é que tudo aquilo me parece desleixado e deselegante.
VER FILMES MAUS CUSTA MAIS DINHEIRO
Ok, já falei do dinheiro anteriormente, mas este ponto é diferente. Eu adoro ir ao cinema. Infelizmente, não posso ir tanto como gostaria, mas não há nada como sentar-me numa sala escura e desfrutar de um ecrã gigante com um som porreiro durante duas horas. Ver um filme é isso mesmo. E enquanto um bom filme pode proporcionar grande enriquecimento para toda a audiência, os maus filmes também não devem ser esquecidos, uma vez que têm as suas particularidades que nos entretêm, mais que não seja por serem muito maus. As más notícias é que o 3D quer aspirar este último divertimento e com o preço excessivo dos bilhetes 3D nos dias de hoje, temos de pagar um dinheirão quando só nos apetece ver um filme mau e dar umas gargalhadas. Vê-se que a tecnologia foi longe de mais quando começa a sugar a alegria de simplesmente ir ao cinema.
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O que é grave nisto tudo é que os poderosos de Hollywood só cheiram o dinheiro e não se preocupam em tentar entender o 3D. Apesar de não ser propriamente uma novidade, depois da passagem da definição normal para alta definição, é perfeitamente natural que o 3D seja o próximo passo. Todavia, o próximo passo não é, claramente, ter de usar óculos escuros no cinema.
Como o 3D está a ser pressionado para todos os campos possíveis, é natural que algumas aplicações tenham sucesso. Por exemplo, acredito que o 3D tenha sucesso no universo dos jogos de computador se se tornar uma vantagem táctica para os jogadores. Quanto a filmes, televisão e coisas do género, se o tipo de evolução for a mesma, prevejo (e espero) que o 3D vá cair no desuso.
É certo que a tecnologia 3D chegará a mainstream um dia. Deverá, aliás, chegar. Mas não agora, e não desta forma, e especialmente, não de óculos escuros. E nesse dia, talvez eu e o 3D possamos ser amigos.