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Master Shot - Surpresas e Roubos dos Oscars 2011

por Catarina d´Oliveira, em 03.02.11

 

Antes de mais, tenho de saudar a Academia pelas escolhas feitas este ano na lista de nomeados. Um trabalho bastante bom que inclui filmes para todos os gostos e feitios. Contudo, como acontece todos os anos, há surpresas e ausências, e este ano não foi excepção. Neste artigo partilho convosco as minhas frustrações e alegrias no que respeita aos maiores roubos e maiores surpresas que a Academia me reservou.

  

ROUBOS

  

 

 

Porque merecia nomeação? É quase fácil não reparar que é Ryan Gosling um dos protagonistas de Blue Valentine – o actor é um verdadeiro camaleão e desaparece completamente nas imensas camadas sensíveis de Dean. Bad move, Academia. Distinguir Michelle Williams e ignorar Ryan Gosling demonstra que todo o sentido de Blue Valentine foi perdido nos visionamentos. É claro que lá porque um actor é nomeado, os outros não têm de ser. Mas este é um todo constituído por duas partes; duas pessoas apaixonadas e que se desencantam; uma dinâmica disfuncional mas apaixonada que foi violentada ao preferir um ao outro.

 


  

Porque merecia nomeação? Tenho de admitir: ainda não tive a oportunidade de assistir a Tron:Legacy. Todavia, já pude ouvir a sua banda sonora original completa e tenho a dizer-vos que é, sem dúvida, das melhores do ano. Já que a Academia abriu horizontes para a banda sonora com bases electónicas de The Social Network, seria de esperar que reconhecesse este conjunto de músicas inovadoras e pulsantes com um cheirinho a techno criadas pela dupla francesa Daft Punk… mas não. É uma pena.

 


 

Porque merecia nomeação? Devo admitir que não sou a maior fã de The Social Network. Admito que foi um dos eventos cinematográficos do ano, e que tem inúmeras qualidades; contudo, a mim não me tocou especialmente e não me disse tanto como outros filmes. Todavia não pude deixar de ficar um pouco revoltada com a não nomeação do fantástico secundário de Jesse Eisenberg e que deu todo o coração à fita. Garfield é um daqueles actores que pensa no que faz, e que se entrega de alma e coração aos seus personagens, surgindo como uma das grandes revelações de 2010. Talvez o personagem Eduardo tenha andado muito passivo até ao terceiro acto – mas que terceiro acto! Mas é a vida. Quem é que precisa de um Oscar quando se é o Homem-Aranha?


 

Porque merecia nomeação? Volto a reforçar, ainda não vi Tron:Legacy, mas também não sou cega e já vi bastantes vídeos e material promocional. Entre os cinco nomeados, se excluirmos Inception (justíssimo nomeado) e Hereafter (ainda não vi, por isso não opino), nenhum dos outros três filmes tem um nível de efeitos visuais sequer próximo do de Tron. Não que estejam mal apetrechados, antes pelo contrário; todavia, o nível de tecnologia empregue em Tron é apenas comparável a Avatar, tornando estes dois filmes em marcos essenciais na história no cinema. A crítica não gostou do filme caracterizando o enredo como “desorganizado” e “sem-sentido”, e é provável que não seja uma história arrebatadora… mas é sem dúvida um dos filmes com melhor aspecto do ano.

 

 

 

Porque merecia nomeação? É verdade que este thriller de Martin Scorsese não é material para agradar a gregos e troianos, mas mesmo que ignoremos as categorias principais, como é possível não distinguir os seus méritos técnicos? Nada para a edição de Thelma Schoonmaker, nem para a direcção artística de Dante Ferretti, nem para a fotografia de Robert Richardson: Nada de nada, e nada para ninguém. Talvez a Paramount tenha andado muito preocupada em promover The Fighter e True Grit e não teve tempo para apoiar este excelente filme numa ÚNICA categoria.


 

 

Porque merecia nomeação? Apenas três filmes foram nomeados este ano para a categoria de Melhor Filme de Animação e sou a primeira a admitir (ainda que Toy Story 3 ou qualquer um dos Toy Stories façam o meu género) que todos os três mereceram inteiramente o seu lugar. Todavia, não posso deixar de dizer que teria ficado muito contente se os votantes tivessem arranjado espaço para incluir um enredo colorido, que nos fez rir e que contou com a presença de inúmeras estrelas na sua dobragem. Se foram nomeadas quatro canções originais este ano, não podiam ter feito o mesmo para a Animação?

 


 

Porque merecia nomeação? Tenho de ser honesta e dizer que nem sequer tinha reparado nesta falha até à altura em que escrevi este artigo. Provavelmente, recalquei. Mas o que é isto?? Como é que é possível que os membros da Academia tenham ignorado a montagem brilhante de Inception? Na verdade, não havia sequer Inception sem o trabalho magnífico e hercúleo de Lee Smith, especialmente no último acto, pela forma soberba como mantém a audiência ciente do que se passa em cinco lugares distintos. É um autêntico crime!

 


 

Porque merecia nomeação? Já foi comparado a (500) Days of Summer (outro injustiçado pela Academia) pela desconstrução de uma relação em decomposição. De qualquer forma, cada um destes filmes é uma “besta” na sua própria liga. Blue Valentine celebra a alegria do início e chora a dor do final numa autópsia a uma relação-cadáver que é o casamento de Cindy e Dean.

 


 

Porque merecia nomeação? E chegámos, inevitavelmente, à roubalheira-mãe disto tudo. Na minha cabeça, quando se fala de Inception, as primeiras palavras que me vêm à mente são: Christopher Nolan. Foi ele a mente brilhante por trás de cada recanto sombrio, e cada laivo brilhante. Sim, Inception recebeu as merecidíssimas nomeações de Melhor Filme e Argumento Original (não que, para minha tristeza, tenha grandes hipóteses em qualquer uma das duas), mas Nolan é um mestre atrás das câmaras provando uma e outra vez o seu estilo cada vez mais singular. A competição é cerrada, é certo… mas imaginam alguém capaz de criar um mundo como o que Nolan criou?
Quero acreditar que estou presa num sonho dentro de um sonho, porque se é mesmo verdade que Nolan não foi nomeado, não há mesmo justiça no mundo.

 

SURPRESAS


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Porque é que foi uma prenda? True Grit foi um bom filme, não se ponha isso em questão. O que se passa aqui é que a Academia adora (obviamente!) os manos Coen e mostrou-se disposta a dar-lhes um presente num ano que não lhes estava destinado. Mais uma vez, não me interpretem mal. Adorei True Grit, mas a realização de Inception não poderia ser preterida a esta.



 

 

 

 

 

 

 

Porque é que foi uma prenda? The Social Network pode ter sido o filme do ano para a maioria dos críticos, mas para a Academia, só atrás de True Grit e especialmente The King’s Speech que liderou o lote de nomeados com umas impressionantes 12 indicações, e criando boas perspectivas para uma grande vitória dia 27 de Fevereiro.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

Porque é que foi uma prenda? Este foi um grande ano para as performances principais por parte dos intérpretes masculinos, e a nomeação de Javier Bardem é uma surpresa agradável. A sua performance em espanhol no drama mais que pesado Biutiful mostra que os votantes da Academia estão dispostos a procurar para além do óbvio pelas melhores performances do ano.


 

 

 

 

 

 

 

 

Porque é que foi uma prenda? Depois da ausência total dos Golden Globes (provavelmente pelo lançamento tardio do filme), True Grit regressou em força com umas espantosas 10 indicações aos Oscars – desde actores à realização, à escrita e outros. Em reacção às dez nomeações, as palavras dos Coen foram “Ten seems like an awful lot. We don’t want to take anyone else’s” – nice answer.


 

 

 

 

 

 

 

 

Porque é que foi uma prenda? Na minha óptica, fazer de si próprio não é um grande feito, e é isso que Mark Ruffalo tem feito em muitos (mas não todos) dos seus papéis. Ruffalo apanhou boleia de Annette Bening e Julianne Moore e isso acabou por lhe valer uma nomeação ao Oscar. Justifica-se estar nomeado e Moore não? Não. E justifica-se estar nomeado e Andrew Garfield não? Também não. Pois. Ora cá está um belíssimo presente para uma performance bem descondimentada.


 

 

 

 

 

 

 

 

Porque é que foi uma prenda? De uma forma geral, a Academia demonstra ser bem conservadora nas suas escolhas, pelo que a presença da banda sonora criada por Trent Reznor e Atticus Ross para The Social Network é uma agradável surpresa, ainda que seja uma indicação mais que merecida. A verdade é que esta é uma categoria com tendência para ignorar algumas das bandas sonoras originais mais interessantes e originais ao longo dos anos, mas este ano, em certa medida, estão desculpados (apesar do descalabro que é a não indicação de Tron: Legacy).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Porque é que foi uma prenda? Neste caso, só se fez luz depois de ter assistido ao filme, dias depois das nomeações aos prémios da Academia terem sido reveladas. Dark, twisted e completamente avariado são apenas algumas das palavras que podem descrever a aposta Grega para a 83ª edição dos Oscars. Considerando uma vez mais o conservadorismo do júri, é um autêntico choque ver este drama moralmente depravado entre os nomeados.


 

 

 

 

 

 

 

 

Porque é que foi uma prenda? 127 Hours recebeu muito buzz pela performance tour-de-force de James Franco, mas o filme em si acabou por morrer um pouco na memória de todos assim que os seus minutos de fama passaram. Neste sentido, foi uma surpresa vê-lo incluído no grupo de nomeados para Melhor Filme do ano de 2010. Na minha opinião, é esticar um pouco a corda. Enquanto a fotografia, edição e actuação de Franco são acima da média, o filme acaba por não ter brilho nem a aura que se esperava. Para mim, ainda que tenha gostado, foi uma pequena desilusão, e definitivamente ocupou um lugar que não lhe pertencia este ano.

 

*** *** *** 

 

UMA ÚLTIMA QUESTÃO:

Surgiu-me uma questão quando passava a vista pela primeira vez pelo lote de nomeados. Porque raio é que Hailee Steinfeld recebeu uma nomeação para actriz secundária quando ela é claramente a protagonista de True Grit? Ou vão-me dizer que Jeff Bridges é mais protagonista do que ela? Pois, não é. A nomeação de Bridges é completamente merecida, mas é Steinfeld que carrega o núcleo emocional de toda a trama. Ela introduz, narra, e é pelos seus olhos que vemos toda a história. Enfim…

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