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"This is exactly why she chose him. To distract us"
A discriminação é uma das falhas mais comuns entre as sociedades de seres humanos. Discriminamos raças, orientações sexuais, filosofias de vida, enfim. Tudo o que dê para implicar, nós vamos atacar. Os filmes não são excepção.
O filme de comédia é a minoria étnica; é o miúdo gordinho no parque infantil. Mas temos de recordar que a comédia é também o género mais difícil de realizar em cinema, e aquele que tem menor taxa de sucesso em cair nas graças da audiência, e ainda menor em agradar à crítica.
Resolvi fazer esta breve introdução porque, depois de ter ido ontem ao cinema ver The Tourist, naveguei pela Internet a ver o que se dizia sobre o filme. The Tourist não é, sem dúvida, a comédia da década, nem tão pouco (e provavelmente) a do ano. Todavia, uma pontuação de 10% (ou 1/10) no Rotten Tomatoes por parte dos críticos profissionais parece-me dura de mais.
Os elementos familiars vieram todos à festa neste romance/thriller/filme de acção: armas, mafiosos, espiões, veículos despedaçados, identidades falsas e, é claro, grandes estrelas.
Durante uma viagem improvisada para Europa para curar o coração desfeito, Frank, um professor de Matemática do Wisconsin, envolve-se numa espécie de caso amoroso com Elise, uma mulher extraordinária e misteriosa e que deliberadamente se cruza no seu caminho. Tendo como pano de fundo as maravilhosas cidades de Paris e Veneza, o romance turbulento rapidamente evolui à medida que eles se encontram num jogo mortal de gato e rato.
Vamos primeiro às coisas boas ou às más? Para variar um bocadinho, vamos primeiro às más.
Um dos factores mais deprimentes é o desperdício de talento em personagens vazios. Angelina Jolie e Johnny Depp fazem o que podem (sendo que, mesmo assim, Depp faz muito mais devido à natureza mais flexível do personagem) mas a química entre os dois é inexistente. Paul Bettany, Timothy Dalton, Steven Berkoff e Rufus Sewell andam por lá a desfilar sem fazerem nada de muito memorável.
Se quisermos ficar mais deprimidos, olhemos para trás das câmeras e veremos que o realizador/argumentista é Florian Henckel von Donnersmarck, que realizou The Lives of Others (vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2007). A trabalhar no argumento tivemos ainda Christopher McQuarrie (vencedor de Oscar por The Usual Suspects) e Julian Fellowes (vencedeor do Oscar por Gosford Park). Ainda para piorar mais, o argumento foi baseado num filme francês escrito por Jerome Salle que foi nomeado para um Cesar. A esta hora, os prémios já devem ter ganho pernas e fugiram das casas dos vencedores provavelmente.
Tanta gente tão criativa presa numa bolha de inércia... Enfim...
O argumento é das coisas mais implausíveis e preguiçosas que temos visto nas salas de cinema: a lógica não impera por lá, e não são poucas as vezes que somos confrontados com situações que são incompatíveis com outras que vimos há poucos minutos. Em termos cinematográficos, é uma espécie de mistura entre Charade (1963) e North By Northwest (1959). Isto, é claro, sem a química e o mistério. Bom e sem o engenho também.
Do lado positivo, temos que The Tourist oferece o star power mais sexy do ano, e talvez seja este o grande ponto forte do filme: vamos ver porque queremos ver dois actores carismáticos e atraentes (ainda que não sejam dois grandes papéis) a fugir de um lado para o outro em lugares “exóticos” e a oferecerem-nos uma escapadinha da vida real. O truque funciona, ainda que o processo de storytelling seja, como referido supra, muito deficitário.
Outro dos pontos que funciona a seu favor nesta época de nomeações e entregas de prémios é que é uma forma simpática de se passar um serão calmo, não sendo um filme cansativo do ponto de vista intelectual e que dá oportunidade aos pais de verem um filme enquanto os filhos podem ir viajar por Narnia (também nos cinemas).
Paris e Veneza continuam duas das mais belas cidades do mundo, sendo que o enfoque é dado especialmente à última, que nunca pareceu tão bela no cinema. No fundo, The Tourist pede apenas duas coisas: para nos recostarmos e apreciarmos a viagem.
A verdade é que a experiência proporcionada pela fita será tanto melhor quantas mais pessoas estiverem a assistir connosco. O fenómeno da gargalhada e das vivências colectivas ajudam muito. Como dizia uma boa amiga minha, às vezes o que nos apetece mesmo é ver algo leve e divertido (um bom antídoto à complexidade de Inception, por exemplo). E numa noite de quarta-feira, depois de ter aulas das 8:30 às 17:00, era mesmo isso que me apetecia. E não levando expectativas altas (de todo), até não foi uma má experiência.
6/10
Os grandes vencedores da noite foram Inception e The Social Network. O primeiro mereceu seis reconhecimentos técnicos, enquanto o filme de David Fincher arrecadou algumas categorias principais como Melhor Filme, Realizador e Argumento Adaptado. A apenas 11 dias das nomeações para os Oscars, todos os indicadores são válidos, e este é um dos bons!
Best Picture: The Social Network
Best Director: David Fincher (The Social Network)
Best Actor: Colin Firth (The King's Speech)
Best Actress: Natalie Portman (Black Swan)
Best Young Actress: Hailee Steinfeld (True Grit)
Best Supporting Actor: Christian Bale (The Fighter)
Best Supporting Actress: Melissa Leo (The Fighter)
Best Adapted Screenplay: The Social Network
Best Original Screenplay: The King's Speech
Best Documentary Feature: Waiting for Superman
Best Ensemble: The Fighter
Best Action Movie: Inception
Best Comedy: Easy A
Best Animation: Toy Story 3
Best Picture Made for TV: The Pacific
Best Cinematography: Inception
Best Editing: Inception
Best Art Direction: Inception
Best Visual Effects: Inception
Best Sound: Inception