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Esta semana nos cinemas:
Os psicopatas são personagens bem conhecidos e explorados no mundo da sétima arte, muitas vezes geradores de interpretações altamente reconhecidas.
O psicopata não deve ser confundido com o psicótico - doente mental que sofre de Psicose, onde se verifica um grave afastamento e perda de contacto com a realidade. A Psicopatia é um distúrbio da personalidade que se caracteriza por uma falta anormal de empatia e conduta amoral (muitas vezes) mascarada por uma capacidade do indivíduo de se fazer passar por normal.
O psicopata define-se como alguém que procura continuamente a gratificação psicológica, sexual, ou impulsos agressivos e é incapaz de aprender com os erros do passado. Usando terminologia freudiana, a personalidade psicopática ocorre quando o ego não pode mediar entre o id e o super-ego, permitindo assim o id de se reger pelo princípio do prazer. Por outras palavras, os indivíduos com este distúrbio ganhariam satisfação através dos seus comportamentos anti-sociais, associados a uma falta uma consciência.
Mas passando ao que realmente interessa, vamos à parte cinematográfica da questão.
Os psicopatas que vemos nos filmes possuem um rol de características que não correspondem necessariamente às manifestadas pelos “psicopatas da vida real”. O psicopata tradicional de Hollywood é o vilão da história exibindo características como:
• Inteligência refinada
• Gosto pela arte, música e outros estímulos intelectuais
• Comportamento caracterizado pela vaidade e com um estilo muito particular
• Atitude calma, calculista e controlada
• Planeamento minucioso das suas acções
Algumas destas características desafiam aquilo que vemos na vida real num psicopata: impulsividade, desorganização e irritabilidade.
Neste post (dividido em duas partes) partilharei convosco os meus psicopatas favoritos que já passaram pelo grande ecrã. Sem ordem específica de preferência, todos eles obedecem a dois grandes critérios:
1. A performance deve ser duradoura, marcante e importante, querendo isto dizer que prevaleceu/prevalecerá na memória dos espectadores ao longo de várias gerações;
2. Os indivíduos deverão ser malucões à grande, mas ainda assim, fascinantes e interessantes de ver e observar: alguém que nos meta medo mas, ao mesmo tempo, seja “cool” à sua maneira.
Posto isto e sem mais demoras… a lista.
Norman Bates (Psycho - 1960)
Quem lhe deu vida: Anthony Perkins
Porquê na lista? Talvez aquele que esteja mais associado ao termo “psicopata” seja mesmo Norman Bates. Fingia que era a mãe e vestia as suas roupas, guardava o cadáver dela em casa, matava mulheres no chuveiro, tinha um hotel no meio do nada... Este é um bom conjuntinho para ter entrada directa nesta lista. Pelas mãos do mestre Alfred Hitchcock, Anthony Perkins encarnou o psicopata com mestria, sendo a sua actuação tão marcante que passamos por um turbilhão de emoções ao ponto de simpatizar com Bates no início e odiá-lo e temê-lo no final. Desafiam-se todos os leitores a assistir ao filme e a experimentar tomar um bom duche depois.
Pérolas: “We all go a little mad sometimes”; “A boy's best friend is his mother.”
Reconhecimento: Norman Bates ficou em 4º lugar (Premiere americana) e em 80º (Emipre britânica) no ranking dos 100 melhores e mais marcantes personagens de cinema de todos os tempos.
Alex DeLarge (A Clockwork Orange - 1971)
Quem lhe deu vida: Malcom McDowell
Porquê na lista? O narrador ultraviolento de A Clockwork’s Orange é psicótico até à pontinha dos cabelos. Depois de mortar, violar e beber leite com drogas, Alex é preso e submetido a um tratamento de choque para se ver livre da sua natureza violenta. Tão enamorado consigo mesmo e com o seu estilo de vida deplorável e louco, é também um intelectual e conhecedor da arte. No final do filme até nos aparece curado… ou será que não?
Pérolas: “The Korova milkbar sold milk-plus, milk plus vellocet or synthemesc or drencrom, which is what we were drinking. This would sharpen you up and make you ready for a bit of the old ultra-violence.”; “Viddy well, little brother. Viddy well”.
Reconhecimento: Alex DeLarge ficou em 68º lugar (Premiere americana) e 42º lugar (Emipre britânica) no ranking dos 100 melhores e mais marcantes personagens de cinema de todos os tempos. A performance de Malcom McDowell é a nº 100 das 100 melhores performances em cinema de todos os tempos (Premiere americana).
Hannibal Lecter (Silence of the Lambs - 1991)
Quem lhe deu vida: Anthony Hopkins
Porquê na lista? Com o seu fino gosto por vinho e partes humanas, discurso eloquente e olhar penetrante Hannibal Lecter é um dos mais infames psicopatas que já passaram pelo grande ecrã. Um homem de alta educação capaz de comer os nossos fígados com favas e vinho. O que ainda é mais espantoso é que Lecter tem um total de apenas 17 minutos em cena – mais que suficiente para arrepiar qualquer espectador.
Pérolas: “Good evening Clarice”; “A census taker once tried to test me. I ate his liver with some fava beans and a nice chianti”
Reconhecimento: Hannibal Lecter ficou em 15º lugar (Premiere americana) e 5º lugar (Emipre britânica) no ranking dos 100 melhores e mais marcantes personagens de cinema de todos os tempos. A performance de Hopkins é a nº 70 das 100 melhores performances em cinema de todos os tempos (Premiere americana), e esta valeu-lhe em 1992 um Oscar da Academia.
Patrick Bateman (American Psycho - 2000)
Quem lhe deu vida: Christian Bale
Porquê na lista? Patrick Bateman é um homem completamente banal e superficial: um obcecado pelo corpo (sorri para o espelho enquanto se exercita) que espelha os homens de negócios de Wall Street dos anos 80 que enfrentavam um mercado violento e que toma o dizer “apunhalado pelas costas” de forma um pouco literal. Adora música, bons restaurantes e, claro, matar prostitutas. Bateman vive no núcleo de uma cultura tão doente como ele próprio: não faz segredo dos seus hobbies amorais. Todavia, toda a gente à sua volta está tão ocupada e obcecada que não presta atenção.
Pérolas: "I like to dissect girls. Did you know I'm utterly insane?"; "I'm into murders and executions, mostly."
Annie Wilkes (Misery - 1990)
Quem lhe deu vida: Kathy Bates
Porquê na lista? Annie é uma fã fanática (perdoe-se a redundância) do autor Paul Sheldon que tenta finalizar a sua série de livros cuja personagem central é Misery. Ele é uma conturbada ex-enfermeira com antecedentes criminais por matar bebés que acha que foi salva pela série de livros do escritor. Mas a sua obsessão ultrapassa qualquer padrão da normalidade, e quer consideremos que o aprisionamento do autor seja uma espécie de prémio pela sua devoção ou um incentivo à escrita do romance em falta, Annie é completamente louca e perturbadora. O génio da performance de Bates reside no equilíbrio que se perde num piscar de olhos, entre a alegria doce e a raiva demoníaca.
Pérolas: “God I love you”; “I am your number one fan. There is nothing to worry about. You are going to be just fine. I am your number one fan.”
Reconhecimento: A performance de Kathy Bates valeu-lhe em 1990 um Oscar da Academia (Melhor Actriz Principal).
(continua na parte 2)