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"Damien: I am dealing with a bunch of prima donas!"
Hollywood é um mundo à parte. Nada do que lá acontece é normal para nós que observamos de fora; desde os gastos inimagináveis, às excentricidades, ao poder, às exigências das “estrelas”, e por aí fora. É uma outra dimensão paralela.
Terá alguma razão de ser? Afinal, estes actores e estrelas pop são gente de carne e osso, como eu ou o caro leitor. Que direito têm então eles de estarem em tão alta consideração de todos? Porque são tão positivamente diferentes de nós?
Tropic Thunder não responde directamente a nenhuma destas perguntas, mas é uma audaciosa peça que ridiculariza, durante todos os seus 106 minutos, este universo por vezes tão plástico e falso que tanto admiramos.
A fita começa a facturar mesmo antes do seu início literal, com uma sequência não só hilariante, mas absolutamente original: uma série de trailers dá-nos a conhecer uma estrela de acção em decadência, um comediante cujo maior talento é soltar gases e um actor de método australiano vencedor de cinco Óscares. Heróis apresentados, agora sim, Tropic Thunder.
As três “estrelas” serão as protagonistas de uma mega-produção chamada Tropic Thunder, uma fita sobre a Guerra do Vietname. O projecto, apesar de promissor acaba por se tornar um pesadelo para o realizador e virtualmente toda a gente que acreditou e investiu no filme, muito por culpa do egocentrismo exacerbado e caprichos desmedidos dos elementos do elenco. Mas ninguém está disposto a deitar dinheiro inútil à rua, por isso, são tomadas medidas drásticas!
O realizador, sob inimaginável pressão do temível produtor Les Grossman, resolve atirar os actores às feras, ou seja, os três protagonistas, mais uns actores secundários, são postos na verdadeira selva vietnamita, expostos a perigos reais, e onde, para sobreviver, terão de recorrer aos seus próprios instintos. A coisa começa logo mal quando são violentamente atacados e perseguidos por locais que os acham reais soldados americanos.
Não é fácil a análise a este “filme dentro de outro filme”; de facto, Tropic Thunder consegue atingir pontos de excelência, para logo de seguida cair espalhafatosamente num lamaçal profundo. Mas, cada coisa a seu tempo, primeiro as coisas boas.
Seguindo um rumo já muitas vezes seguido, poderia ser mais uma sátira a Hollywood, todavia, consegue ser inovadoramente divertido.
Tropic Thunder tem essencialmente dois pesados trunfos: o sucesso na maioria das situações cómicas e a qualidade (de parte) do elenco.
As excentricidades dos protagonistas não são os únicos factores em análise, antes pelo contrário. Todo o filme, em todos os momentos contém pequenas mas afiadíssimas ironias mascaradas de piadas (não raro polémicas). Bons conhecedores dos bastidores Hollywoodescos, Stiller, Cohen e Theroux (os argumentistas) desconstroem um mundo irreal numa série de acontecimentos tão exagerados que os revemos facilmente no que realmente se passa hoje em dia.
Sem nunca proporcionar riso a bandeiras despregadas, Tropic Thunder tem, na realidade, muitos momentos cómicos de qualidade, temperados com “punch lines” eficientes que não podemos evitar mas lembrar cada vez que recordamos a fita: “I know what dude I am. I'm the dude playin' the dude, disguised as another dude!”.
Quanto a interpretações, e agora seguindo eu o maior cliché nas críticas a Tropic Thunder, temos dois titãs.
O primeiro surge com a confirmação de um grande regresso, o grande Robert Downey Jr. Depois de Tony Stark, Kirk Lazarus era o papel perfeito para si, e Downey Jr. nunca desiludiu. Sempre impregnado no seu papel, transforma as mais simples linhas de diálogo em algo memorável - e indecifrável no seu esforçado sotaque australiano-tentando-ser-afro-americano - capaz de nos arrancar um sorriso. O “switch” perto do final novamente para australiano é absolutamente delicioso.
Não obstante o papelão de Downey, houve ainda alguém que me surpreendeu mais e que foi, sem dúvida, o homem do filme, e, a não ser que tenham andado a viver debaixo da terra nos últimos meses, sabem muito bem a quem me refiro: Tom Cruise, com o seu electrizante Les Grossman! Que regresso! Era este Tom Cruise por que todos esperávamos!
Desde Magnolia que andou perdido em papéis desinteressantes ou sem qualquer profundidade. Hoje, Cruise está de volta à acção, mais solto do que nunca; bom, excepção feita talvez àquele embaraçoso momento no programa da Oprah…mas adiante! Les Grossman, com toda aquela pelagem, mãos grandes e careca proeminente, chega a ser assustador ao mesmo tempo que inacreditavelmente divertido. (*Uma nota positivíssima vai para o facto de terem conseguido resistir à tentação de colocar Les Grossman em qualquer material promocional ao filme, o que tornou a surpresa e o aproveitamento exponencialmente maiores!)
Infelizmente pouco mais de positivo se pode dizer acerca deste Tropic Thunder.
Em termos do resto do elenco, as performances são meramente medianas, com um destaque negativo para Jack Black, que apesar de protagonizar momentos de loucura que são puro entretenimento, tem, no geral, uma performance algo apagada.
Sendo o mais honesta possível, penso que muita gente terá sido e continuará a ser ludribiada pelo grande “hype” à volta do filme. Concerteza não é um mau filme, mas também não é a comédia de culto que muitos por aí cantam ser.
Tropic Thunder pouco mais faz do que provocar algumas sonoras gargalhadas e sorrisos. A história, apesar de inicialmente interessante, é erradamente conduzida e muitas das vezes (quase) incompreensível e superficial. A segunda metade do filme pareceu-me nítida e substancialmente inferior à primeira. Não sendo apenas confusa, também não teve tanta sorte na qualidade das piadas como o restante. O final deixou-me algum dissabor e pareceu tornar-se um pouco naquilo que o filme tanto se esforçara por criticar desde início…
Mas, afinal, é uma comédia certo? É suposto fazer-nos rir e passar bons momentos no cinema… é politicamente incorrecto, por vezes inteligente e até a acção é boa. Com esse intento, Tropic Thunder passa muito bem e chega a ser, facilmente, uma das melhores comédias do ano.
7.5/10
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