Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
"We live among its people now, hiding in plain sight, but watching over them in secret, waiting, protecting. I have witnessed their capacity for courage, and though we are worlds apart, like us, there's more to them than meets the eye. I am Optimus Prime, and I send this message to any surviving Autobots taking refuge among the stars. We are here. We are waiting."
Em 1980, a Hasbro comprou os direitos da fabricante de brinquedos japonesa Takara pra distribuir duas séries de brinquedos: Diaclone e Microman. A falta de um plano de divulgação por parte dos japoneses levou a distribuidora norte-americana a organizar uma estratégia para promover a linha de brinquedos e foi daqui que, em 1984, surgiu o nome Transformers – fruto de uma parceria entre a Hasbro e a editora Marvel. Seguiu-se a produção de uma série de comics apoiada por um desenho animado para televisão (que durou quatro temporadas).
O sucesso indiscutível ditava a inescapável aventura pela incursão cinematográfica que começou por se traduzir em Transformers, The Movie, o filme animado de 1986 que contou com as vozes célebres de Leonard Nemoy e Orson Welles, entre outros.
O live-action era um passo arriscado que requeriria grandes desenvolvimentos tecnológicos que só se mostraram disponíveis com o entrar no séc. XXI, sendo que mesmo assim, o risco de fracasso era exponencialmente maior do que o de sucesso.
Em 2004 iniciou-se a perigosa viagem da transformação de um ícone numa história real, e em 2007 estávamos perante o primeiro live-action dos robôs que conseguem transformar o seu corpo em objectos inócuos como veículos automóveis: Transformers.
Em poucas palavras e muito “aldrabadamente” (em prol daqueles que não viram o filme é claro), segue uma pequena introdução ao background de Transformers.
Longos foram os anos durante os quais, no planeta Cybertron, uma guerra opunha duas raças alienígenas de robôs - os nobres Autobots (liderados pelo sensato e inteligente Optimus Prime) e os malvados Decepticons (comandados por Megatron). O duelo justificava-se pela posse da Allspak, um talismã que garantiria poder ilimitado àquele que o possuísse. Mas a violenta disputa levou o planeta à destruição, e os robôs espalharam-se pelo universo, chegando inevitavelmente à Terra. A humanidade vê a sua existência em perigo no meio desta guerra superior com a qual não têm poderes para lutar. Mas por incrível que pareça, a esperança está num jovem rapaz, Sam Witwicky que inadvertidamente tem a chave para o fim desta guerra galáctica.
Antes de começar devo dizer que antes do filme já conhecia Transformers. Bom, conhecia literalmente porque de facto não passava disso. Sabia o conceito geral dos robôs que se transformavam em carros, tinha ouvido falar dos comics e da série televisiva mas se bem me lembro nunca li ou vi qualquer revista ou episódio. Assisti portanto com curiosidade mas sem expectativas porque realmente não tinha nada por que esperar.
Michael Bay sempre referiu que não levaria o material a sério de mais. De facto, o próprio protagonista indício disso mesmo. O Sam Witwicky de Shia LaBeouf é um rapaz absolutamente normal e reconhecível do dia-a-dia que entre as trapalhadas e tiradas verbais falhadas ajuda a equilibrar um pouco mas não totalmente um flick longo e dominador demais.
Mas apesar de Sam ser um bom rapaz com o qual simpatizamos, parece que nunca conseguimos ligar-nos realmente a ele. O intento é sem dúvida torná-lo o herói improvável por quem saltamos da cadeira, mas a última parte da equação (o saltar da cadeira é claro) nunca chega a acontecer. Quanto a Megan Fox, cumpre o papel comum da rapariga gira que fica com o herói sem grandes particularidades a anotar. Acredito que o sexo masculino tenha opiniões diferentes mas pessoalmente não criei grandes laços com a personagem que talvez tivesse ganho mais com algum desenvolvimento.
Bem, verdade seja dita. Todos sabemos que neste caso, os actores eram meros adereços numa cascata computorizada.
Depois temos o mini-enredo do grupo e jovens analistas que não serve grandes propósitos além de roubar tempo de antena que poderia muito bem ser cortado em prol de um produto final mais íntegro, mais curto e, consequentemente, melhor. Afinal, desaparecem do radar perto do final do filme sem deixar rasto…
O ponto forte do diálogo (que, por exemplo no caso dos robôs chega a ser incrivelmente fraco) é sem dúvida alguma o humor. É certo que algumas vezes inadvertidamente já que tem linhas tão ridículas que só dão mesmo para rir.
Mas não se pense que o filme está pronto para ir para a prateleira ou, quem sabe, para o lixo. Antes pelo contrário. Apesar dos pontos referidos supra, existem, sem dúvida, alguns toques de salientar. A abertura no Qatar por exemplo é uma forma inesperada e agradável de abrir caminho aos robôs metamórficos.
Ainda relativamente ao Qatar, destaco ainda a sequência do ataque do robô subterrâneo. Normalmente os efeitos neste tipo de movimentos debaixo da terra não sai muito bem, mas neste caso revelam-se assustadores e visualmente credíveis.
O toque no carro da polícia malvado também me agradou, especialmente na subtil substituição do lema “Para proteger e servir” por “Para castigar e escravizar”.
A sátira política pode dizer-se levemente presente num cenário onde o Secretário da Defesa parece mandar mais do que o próprio Presidente que só vimos surgir numa situação caricata em que, perante o Apocalipse eminente, se limita a pedir despreocupadamente a um dos seus empregados, um pacote de bolachas de chocolate.
Outro ponto positivo acaba por ser a simplicidade patente no enredo que se poderá opor às tramas labirínticas de algumas outras estrelas do género.
Paradoxalmente, um dos grandes problemas de Transformers prende-se também com o enredo. No caso, não tanto os robôs extraterrestres, mas mais os humanos. Bay é indiscutivelmente um homem dotado de vários dons “blockbuster”, mas dar profundidade às suas personagens humanas não é uma das maiores armas do seu arsenal.
Talvez não funcione porque as histórias paralelas à guerra robótica só lá estejam para preencher espaços. Afinal, não podíamos ter quase duas horas e meia de robôs à pancada e há que manter o público interessado quando estes não estão em cena. Já agora vale a pena referir que a duração acabou por ser o que me incomodou mais… é que por mim o filme adquiria logo outro encanto com menos meia hora, mas enfim.
Bay sempre foi mestre na arte das explosões cinematográficas, sejam elas entre carros, aviões, ou na verdade qualquer objecto que possa estilhaçar-se para todos os lados. Transformers aperfeiçoa, em muitos campos, uma arte já muito trabalhada oferecendo um rol arrepiante e excitante de estoiros e perseguições para todos os gostos.
Explosivo, barulhento e absurdo; incorpora na perfeição o conceito de blockbuster com o enredo simples “Bem vs Mal”, humor pontual e efeitos especiais em massa.
O terceiro acto é o clímax que não o é. O confronto entre Autobots e Decepticons é um festival de barulho e explosões e edifícios a cair e barulho e efeitos especiais e sucata a voar de um lado para o outro e ainda mais barulho. De facto é um dos maiores atentados aos tímpanos dos últimos tempos e não foram poucas as vezes em que tive de baixar o som. É uma pena porque, ainda que talvez exageradamente dramática em momentos, adorei a banda sonora.
Os efeitos gerados por computador são inquestionavelmente próximos da perfeição…o que não quer dizer que tenham de ser postos à prova a cada milésimo de segundo como é provado pela sequência final, tomando formas aleatórias e sem sentido. Na verdade, Transformers é o perfeito exemplo do filme que se constrói a partir dos efeitos especiais e não de um enredo propriamente dito. E pelo menos a meu ver, é isso que mais afecta Transformers. Porque os efeitos deixaram de ser um complemento para passar a ser o elemento.
6.5/10