por Catarina d´Oliveira, em 19.03.09

Continuando a viagem pelas armadilhas históricas que se nos apresentam no grande ecrã...

- Numa cena, Mary de Guise cavalgou à frente dos seus homens. De facto, parece que Mary se recusava veemente a cavalgar em frente às suas tropas; muito menos com as duas pernas sobre o cavalo.
- Elizabeth nunca foi chamada de Princesa (como acontece na fita) após a morte da mãe. Quem se lhe dirigia chamava-lhe apenas Lady Elizabeth já que Henrique VIII lhe retirou o título como demonstração pública da sua ilegitimidade.
- Numa cena vemos Elizabeth lavar a cara com água. No séc. XVI em Inglaterra, a água era considerada pouco saudável e até perigosa e quase nunca utilizada para lavar o corpo (utilizavam-se panos secos).
- Henri, o Duke de Anjou, nunca viajou até Inglaterra para fazer a corte à rainha (que era, inclusive, quase vinte anos mais velha do que ele).
- Sir Francis Walsingham era apenas um ano mais velho que a rainha.
- Elizabeth só começou a usar perucas e maquilhagem carregada muito mais tarde no seu reinado e o facto nada teve a ver com a “Virgem Maria”. Na verdade foi mais um golpe político e de vaidade. Elizabeth sempre quis manter a imagem de rainha sempre jovem e ocultar o envelhecimento e doenças.
- Elizabeth só foi excomungada pelo Papa em 1570.
- Walsingham não encontrou e prendeu Norfolk; este foi executado em Junho de 1572. Nessa altura, Walsingham estava em Paris como embaixador de Inglaterra e só regressou no ano seguinte.
- Elizabeth tinha olhos castanhos tal como a mãe - ao que parece, Cate Blanchett tem os olhos demasiado sensíveis e não lhe foi possível colocar lentes.
- Elizabeth sabia muito bem que Dudley era casado tendo mesmo (ao que se sabe) estado presente no casamento.

- Em 1585, altura em que a acção se desenrola, a rainha Elizabeth teria 52 anos e não os 30 e tais que aparenta.
- A tentativa de assassinato da rainha onde a pistola do assassino falha nunca chegou a acontecer. De facto, o plano foi descoberto antes da sua execução sem qualquer risco para Elizabeth.
- A gravidez de Bess Throckmorton que levou ao casamento secreto com Sir Walter Raleigh ocorreu no Verão de 1591; três anos depois da Armada Espanhola e não imediatamente antes.
- Nenhum dos navios enviados contra a Armada causou anos às embarcações espanholas. A consequência foi uma mera desorganização na formação.
- As provas contra Mary não eram assim tão explícitas e nunca lhe foram devidamente explicadas.
- Raleigh não comandou nenhum navio na Armada.
- O castelo Fotheringay situa-se numa zona plana de Northamptonshire no centro de Inglaterra. No filme vemos o castelo no meio de um lago com vista para as terras altas da Escócia.
- A arrepiante cena “a la Joan d’Arc” em que Elizabeth se dirige às suas tropas montando imponentemente um cavalo, de armadura e espada não é tão verdadeira como isso. Parece ser certo que a rainha fez, de facto, uma vista à suas tropas. Contudo, ela terá montado o cavalo de lado (à senhora), com um bastão e o discurso não foi o sermão inspirador a que assistimos.
- A execução de Mary Stuart foi bem pior (!!) do que o representado tendo requerido pelo menos 2 golpes: o primeiro atingiu-a na parte de trás da cabeça (diz-se que este lhe chegou a provocar gritos desesperados de dor) e o segundo cortou a maior parte do pescoço salvo alguns tendões que o carrasco terá alegadamente cortado com o machado a servir de serra.

- Cleitus não esteve envolvido no assassinato de Parmenio; nessa altura estava inclusive a caminho para se encontrar com Alexandre.
- Ptolemeu I apresenta-se contando a história de Alexandre em 283 AC com o Farol de Alexandria ao fundo da imagem; este foi apenas contruído no reinado do seu filho Ptolemeu II, à volta de 270 AC.
- Na realidade, “Como desejas ser tratado?” foi uma questão que Alexandre pôs ao rei indiano Porus que respondeu “Como um rei”, ganhando o respeito de Alexandre e tornando-se um dos seus aliados.
- Alexandre e as suas tropas lutaram várias vezes com os Persas até os conseguirem derrotar.
- A batalha final que vemos no filme, altamente exagerada e dramatizada, chamou-se Batalha de Hidaspes. Alexandre não foi ferido gravemente com uma seta nesta batalha. Isto aconteceu apenas mais tarde numa luta contra os Malli.
- Esta mesma batalha não ocorreu na floresta num dia de Sol mas sim numa planície lamacenta, à noite com chuva torrencial.

- Erros e incertezas? Muitos certamente! Muita gente é supreendida pelo mistério que rodeia a história da vida do mais famoso escritor inglês de todos os tempos. William Shakespeare é, na verdade, uma das mais misteriosas personalidades que (não) conhecemos.
- Os historiadores não acreditam por um segundo que uma paixão tenha inspirado Shakespeare na escrita do seu romance; de facto, Shakespeare adaptou mesmo o enredo de várias fontes.

- Mamutes lanosos nunca foram usados para construir pirâmides.
- Esta espécie nem sequer existia no deserto (senão nem seria sequer “lanosos”).
- As pirâmides também só apareceram no Egipto lá para 2000 AC.
- O manuseamento de metal só se tornou comum por volta de 5500 AC e a utilização de cavalos como transporte só começou em 4000 AC.
- O ataque dos pássaros negros seria um pouco difícil já que a espécie estava extinta há mais de um milhão e meio de anos.
- (Este não é bem um erro histórico mas tinha de o referir) Mas em que raio de sítio é que a acção se desenrola afinal? Um grupo de caçadores parte em busca de alguns dos membros da sua tribo que foram raptados e pelo caminho que não tem mais de alguns quilómetros passam por uma montanha com neve, uma selva e finalmente um deserto... e outra vez...que raio de sítio é este?