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Deep Focus - Vamos falar de Who Framed Roger Rabbit

por Catarina d´Oliveira, em 28.04.16

whoframed.jpg

 

Hollywood, 1947. Eddie Valant, um detetive com pouca sorte, é contratado para encontrar provas de que Marvin Acme, o grande e divertido industrial dono da cidade dos desenhos animados, se anda a ‘divertir’ com a sexy Jessica Rabbit, mulher da super-estrela Roger Rabbit. Quando Acme é encontrado morto, todos os indícios apontam para Roger e o sinistro e poderoso juiz Doom está decidido a prendê-lo. Roger implora a Valiant para encontrar o verdadeiro assassino e as coisas complicam-se quando Eddie desmantela escândalo atrás de escândalo e se apercebe que a própria existência da cidade dos desenhos animados está em perigo.

 

Este poderia ser o início de muita coisa: de uma valente trip de ácidos, da ruína de um realizador alucinado, do fim de um género híbrido e incompreendido. Ainda que a questão da trip de ácidos não esteja totalmente fora da equação, Who Framed Roger Rabbit ousou, no entanto, ser uma outra coisa, que possivelmente nenhum de nós esperávamos: um clássico de culto revolucionário.

 

Eu sei o que alguns de vocês podem estar a pensar: “olha esta desgraçada andou-se a drogar e agora viu um computador à frente e é o vê-se-te-avias“. Respondendo ao hipotético insulto, não, não confirmo nem desminto o consumo de substâncias psicotrópicas, mas sim, reafirmo o estatuto deste peculiar filme sem que peque por falta de justificação – até porque razões não faltam.

 

Comecemos pelo facilmente mensurável e quantitativamente reconhecível. Em 1988, Who Framed Roger Rabbit foi o segundo filme mais rentável da indústria (ficando apenas atrás de Rain Man) e tornou-se a animação a ganhar mais Óscares da história (três galardões). Demorando uns intermináveis 14 meses de pós-produção, foi também e e foi o filme mais caro a ser produzido em Hollywood nos anos 80 (com um chorudo orçamento de 70 milhões de dólares - hoje facilmente ultrapassáveis pelos Avatares e Vingadores desta vida, mas na altura uma autêntica pipa de massa).

Mas números à parte, o que torna Who Framed Roger Rabbit um prodígio do cinema contemporâneo é tão somente a sua própria natureza e as suas exclusivas valências – pode parecer difícil de acreditar, mas este maníaco e inteligente cromo cinematográfico é um filme revolucionário para a indústria e muito mais importante para as noções artísticas e financeiras do cinema do que podem pensar.

 

Ora este nosso clássico de culto funde live action com animação tradicional, polvilhando tudo com um enredo surpreendentemente intrincado e complexo, com referências à Depressão Americana, ao film noir, a um sistema de traições e violência e a um homicídio com direito a chantagem forçosa. Foram também estes elementos inesperados e inequivocamente arriscados que enovoaram uma linha até aqui bem estabelecida entre o que eram filmes para crianças e para adultos. De facto, o projeto de Zemeckis foi um dos grandes responsáveis pelo renovado interesse da audiência na animação, propiciando também o famoso “renascimento da Disney” – que depois de um período conturbado (que é como quem diz, depois da diarreia criativa que atravessou) durante os anos 70 e 80 voltou a ressurgir em força nos anos 90 com uma série de produções de sucesso como A Pequena SereiaA Bela e o MonstroAladinoO Rei Leão e muitos outros.

Tomando liberdades possivelmente açambarcadoras, gostava de vos puxar de volta pelas orelhas à característica mais marcada de Who Framed Roger Rabbit – o facto de misturar atores e cenários reais com animação clássica – para que possamos analisar o porquê do seu caráter revolucionário e hercúleo. Na verdade, as produções que até aqui ousaram combinar estes díspares elementos (por exemplo, Mary Poppins) são hoje consideradas primitivas quando comparadas com a produção de Zemeckis.

 

Richard Williams, diretor de animação, comprometeu-se a quebrar as três regras de ouro neste tipo de misturadas fílmicas: moveu a câmara o máximo possível para que as animações não parecessem coladas a um fundo inanimado, usou a iluminação e os jogos de sombras para criar enormes contrastes e efeitos inovadores e pôs os personagens animados a interagir com objetos e pessoas o máximo possível. Como podem calcular, tinha tudo para dar merda - mas miraculosamente não deu.

 

Em termos práticos, e porque vivíamos numa era sem as facilidades tecnológicas que hoje quase 30 anos mais tarde assumimos como garantidas, todos os frames do filme que combinassem ambos os elementos teriam de ser impressos como uma fotografia. Depois, um animador desenhava a figura animada presente nessa cena em papel vegetal, colorindo-a posteriormente à mão. É só após este processo que o desenho é transferido para o frame original utilizando uma impressora ótica. 326 trabalharam a tempo inteiro no filme, construindo mais de 82.000 frames de animação - e só de escrever este parágrafo já padeço desse mal comum e maior que assombra ser humano moderno: estou a suar do bigode.

 

Evidentemente, todo o projeto foi um enorme risco conjunto da Disney e da Warner – na verdade, o primeiro visionamento de teste foi um fiasco, com uma audiência sobretudo composta por jovens adultos a odiar o filme. Mas Robert Zemeckis, porque é um homem que os tem no sítio, manteve-se firme no seu projeto - na montagem e no produto final.

 

E ainda bem. Só assim é que nascem os verdadeiros clássicos.

 

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Point-of-View Shot - The Diary of a Teenage Girl (2015)

por Catarina d´Oliveira, em 05.04.16

TheDiary2.jpg

 

"I had sex today... Holy shit"

 

Todos o vimos acontecer antes – ou por outra, tentar acontecer. É que a cena indie está pejada de tiros de pólvora seca quando se carregam os canhões da exploração do despertar sexual feminino. De facto, e apesar de as tentativas não serem propriamente raras, são escassos os exemplos que não se revelam demasiado moles ou genéricos ou por outro lado mal-intencionados na abordagem. Ora não nos parece de todo descabido iniciar esta análse assegurando que o assertivo e vigoroso filme de Marielle Hellner consegue fazer o que tantos outros apenas desejaram.

 

Minnie Goetze tem 15 anos, quer ser desenhadora de comic books e está a crescer no ambiente frenético da São Francisco dos anos 70, em plena ressaca do Flower Power. É uma típica adolescente em quase tudo, exceto no facto de descobrir o sexo com o namorado da sua mãe, com quem acaba por manter uma relação, mesmo depois desta o descobrir... Mas desengane-se quem visualiza Minnie como uma prima não muito afastada de Lolita. Minnie é entusiástica, é louca por sexo e não tem medo de fazer algo relativamente a essa situação, o que se coaduna na perfeição com o sentimento de emancipação e libertação sexual que se faz sentir ao longo de toda a película.

 

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A base dos trabalhos é o romance homónimo e (semi-)autobiográfico de Phoebe Gloeckner, e ainda que a história de Minnie seja, de um modo geral, bastante previsível, é a abordagem do seu retrato, tão resoluta quanto refrescante, que o diferencia dos demais primos afastados.

 

Seria difícil de prever que uma tão confiante e arrojada produção surgisse das orquestrações de um maduro cineasta, mas a verdade é, de facto, que este é o primeiro filme dirigido por Marielle Heller. A abordagem desta peculiar comédia dramática sobre a nem sempre gloriosa transição entre o início da sexualidade juvenil para a assumida maioridade é absolutamente desarmante, tornando difícil relembrar um outro filme sobre o crescimento/adolescência (ou coming-of-age, à falta de um melhor termo na língua de Camões) tão apostado na manutenção de uma posição livre de julgamentos e críticas aos seus protagonistas.

 

Fundido numa paleta inspirada em polaroides e embebida numa banda-sonora apaixonada pelos anos 70, o filme mantém-se fiel às suas origens da B.D. ao incorporar algumas versões animadas de ilustrações da autora – o dispositivo que já não é novo nas lides indie ganhar aqui uma dimensão especial e intencional ao dar vida às fantasias febris de Minnie que, por sua parte, é também uma aspirante a artista gráfica.

 

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Bel Powley é absolutamente sensacional ao trazer Minnie à vida, numa performance excecionalmente corajosa e modulada. A sua inconstante protagonista é um ponto de desequilíbrio constante, podendo ser amorosa e inocente, para no momento seguinte se revelar quase cruel e manipulativa. É um poço de contradições que caminha entre a infantilidade e a “adultez”, a vulnerabilidade e a emancipação. Ela não é um cliché ou um poster ou uma figura de representação – é o desabrochar de uma jovem mulher disposta a conseguir o que quer, seja isso o que for.

 

Como uma mãe com sérios défices de capacidades maternais, Kristen Wiig vem reiterar o seu incrível talento para as lides dramáticas (que se vêm acrescentar ao seu impecável mas já bem conhecido e glorioso timing cómico). No entanto, o papel mais desafiante do plano secundário é inequivocamente o de Monroe, que se faz acompanhar do símbolo universal de tendências sexuais duvidosas: um bigodinho isolado. Correndo sempre o risco de caminhar perto demais de uma caracterização reles e tirana, nunca é vilanizado pelo argumento ou pela fantástica performance de Alexander Skarsgård, que apesar de lidar com o “boneco” mais difícil de criar empatia, consegue desenvolve-lo como alguém surpreendentemente amável para Minnie e Charlotte.

 

Globalmente, há níveis do questionável comportamento de Minnie que não são tão óbvios construtores da persona de uma mulher adulta e confiante, mas The Diary of a Teenage Girl é um inequívoco hino à emancipação feminina e à valerosa mensagem de necessidade de autoestima.

 

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Moralmente complexo e por vezes desconfortavelmente próximo de verdades desassossegadas, o filme de Hellner mantém uma honestidade fascinante, dura e frustrante – um espelho da própria adolescência. Aqui temos uma janela sem filtros do universo de sexualidade, manipulação e exposição franca de Minnie sobre a necessidade de ser desejada, amada e abraçada.

 

“Isto é para todas as raparigas quando tiverem crescido”, partilha Minnie com o seu fiel gravador de cassetes. Não sendo necessariamente um crowd pleaser no seu sentido mais tradicional, The Diary of a Teenage Girl tem toda a frescura, determinação e desembaraço para se tornar um marco nesse célebre sub-género de culto que são os filmes de crescimento.

 

E o tempo não deverá tardar a validar esta previsão.

 

 

8.0/10

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"That's how it starts. The fever... the rage... the feeling of powerlessness that turns good men cruel"

 

 

Permitam-me a indulgência de uma pequena viagem no tempo. Estávamos no esquizofrénico e atarefado ano de 2007 quando tudo começou.

 

O terrível Massacre de Virginia Tech tinha arrasado o mundo, o Futebol Clube do Pinto da Costa preparava-se para conquistar um novo campeonato, a pequena Maddie McCann não deixou rasto na praia da Luz, o primeiro episódio de Mad Men foi para o ar na AMC, o Cavaco já era a nossa múmi...Presidente, a Britney Spears rapou o cabelo e um filme protagonizado por Will Smith previu o futuro.

 

Todos estes são temas merecedoras de extensas teses de investigação, particularmente o colapso emocional da um dia considerada Princesa da Pop, mas para efeitos de eficácia e proximidade ao tema, vamos focar-nos no último.

 

Em “I am Legend”, Smith é um sobrevivente de um apocalipse em Nova Iorque, e algures na cidade destroçada pode ser visto um enorme billboard com um logótipo de Batman Vs. Superman datado de 15-05-2010. O peculiar easter egg nada mais significou do que um mero exercício de divertida futurologia, mas curiosamente, em pleno 2016, o saldo de apocalipses alimentado por criaturas de péssimo CGI continua felizmente negativo, contudo, a titânica profecia cinematográfica concretiza-se com o atraso e toda a pompa e circunstância que lhe seria adivinhada.

 

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Cronologicamente falando, “Batman V. Superman: Dawn of Justice” é apenas o segundo filme na cronologia do Universo Cinematográfico da DC Comics, seguindo de muito perto os acontecimentos do primeiro – “Man of Steel” (2013). Abre-se o pano com a célebre, (anti)climática e estupidamente destrutiva batalha de Super-Homem contra o General Zod vista pelo ponto de vista de Bruce Wayne – e as semelhanças com uma espécie de 11 de setembro à vista do Ground Zero não são totalmente inocentes.

 

Volvidos dois anos dos fatídicos acontecimentos, Wayne, que entretanto colocou as vestes negras de combate ao crime na reforma, ainda culpa o alienígena com tiques de Deus pelos milhares de inocentes mortos no intergaláctico incidente, e será este ódio (e potencial ciúme pelo tratamento religioso que Kal-El recebe pela imprensa e população generalizada) que alimentará o violento confronto entre o Cavaleiro das Trevas e o Homem de Aço... pelo menos até ao eventual aperto de mãos resolvido em questão de minutos e necessário em face de males maiores (e mais horripilantes) trazidos a bom porto pelo vilão Lex Luthor.

 

Há algures entre os escombros de Metropolis um filme fascinante sobre a fenda ideológica e moral que divide Batman do Super-Homem, mas muito provavelmente, Zack Snyder não era o homem para o fazer. A economia e a nuance nunca foram os seus fortes e as questões que coloca são demasiado óbvias – e mesmo assim, nem sempre com lógica ou resposta - mas há créditos que lhe são merecidos: o homem sabe fazer um filme grandioso.

 

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Grande em todos os sentidos e mais alguns, “Batman V. Superman” é uma orgia de ação fantasiosa que é um deleite para os olhos – alguns momentos são mesmo de inequívoca e gloriosa poesia visual. Para quem procura escala e beleza em esteroides, não deverá sair defraudado, mas no ponto da história em que estamos no ciclo de Super-Heróis nascidos e criados em Hollywood... será o suficiente?

 

A promessa inicial é bastante auspiciosa, toldando a mente e o espírito de dois dos grandes heróis dos nossos tempos com emoções tão humanas como o ódio e o medo do desconhecido. Todavia, e ainda que o célebre mano-a-mano seja uma espécie de escrito religioso para os aficionados da B.D., “Batman V. Superman” não o serve particularmente bem. Volvidas duas horas e meia de muita conversa, porrada grossa e buracos que tornam o argumento uma espécie de estrada de cabras, o resultado não deixa de se revelar pouco satisfatório – suficiente para manter o interesse, mas incapaz de induzir o delírio por uma realidade fantástica para onde, na verdade dos factos, não conseguimos ser sugados.

 

A divisão moral entre os dois heróis é eficientemente delineada, denotando-se uma clara tentativa de exploração dos motivos humanos e filosóficos da história. No entanto, perde-se repetidamente entre o estilo bombástico e um exagerado sentido de grandiloquência que se inunda na sua própria mitologia, tornando-se assim difícil avaliar Batman V. Superman. Se, por um lado, nunca transcende o ponto de se tornar uma experiência verdadeiramente memorável e plena, por outro, também é demasiado competente e grandioso para poder ser apelidado de desastre.

 

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De facto, o peso sobre os ombros desta produção é quase sobrehumano; até para a aliança entre o mais poderoso dos nossos amigos alienígenas e o mais “acessorizado” dos heróis – estamos a olhar para ti, utility belt. É que o titã cinematográfico de Zack Snyder não representa apenas a primeira adaptação cinematográfica de um confronto épico para abalar todas as eras mas também a rampa de lançamento oficial para o Universo Expandido da DC Comics. É uma tarefa geralmente ingrata, a de estabelecer a base sobre o qual vai assentar um império que, para já, tem cerca de outras 10 produções agendadas. Torna-se isto portanto uma espécie de maleita crónica, sofrendo-se das consequências da necessidade de lotar o enredo de sub-plots (para já) desnecessários, cameos metidos a martelo e estabelecer bases do universo cinematográfico a metro (ou quilómetro).

 

Surpreendentemente e contra todas as críticas que se vieram acumulando desde o anúncio do seu casting, Ben Affleck revela-se um sólido sucessor de Christian Bale, ainda que o seu Bruce Wayne seja largamente mais complexo que o seu Batman - apesar de se identificar como uma variação intrigante do Cavaleiro das Trevas (mais brutal do que bruto), entra em colisão com alguns dos princípios fundadores do personagem, mais precisamente a sua “regra única” contra a morte dispondo uma série de preocupantes disposições sádicas que o colocam perigosamente perto do precipício que se eleva entre um anti-herói e um vilão assumido.

 

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Do outro lado da barricada, e apesar de ser possivelmente o mais imponente e fisicamente capaz de todos os Super-Homens, Henry Cavill continua a hercúlea e desmerecida tarefa de levar avante a história daquele que será, por ventura, também o mais taciturno de todos eles. Cavill, que já provou os seus dotes de charme, timing cómico e carisma em filmes como “The Man from U.N.C.L.E.”, parece sofrer aqui uma vez mais das limitações criativas impostas pelo arco do personagem que perde muita potencialidade por abandonar toda a leveza pontual que lhe conhecíamos de outras incursões e que fazia, inclusivamente, a separação (agora virtualmente inexistente) entre a persona de collants e o atrapalhado jornalista do Daily Planet – assim fica a parecer mais uma benevolente pedra de collants e capa... mas uma pedra atraente, ainda assim.

 

O elenco secundário traz melhores, ainda que breves, surpresas, com Amy Adams a ter ligeiramente mais tempo de antena e ação com a sua Lois Lane e Jeremy Irons a criar um contraponto forte com o Alfred de Michael Caine na saga de Christopher Nolan, sendo desta feita não tanto um mordomo mas um sardónico e seco companheiro no (combate ao) crime de Batman. Todavia, o grande destaque vai invariavelmente para a (quase) estreante Gal Gadot, a ex-Miss Israel que também cumpriu serviço militar no Exército durante dois anos. A sua Wonder Woman é a primeira incursão de sempre da personagem no grande ecrã, mas apesar do tempo limitado em cena, chega para deixar no ar um perfumado carisma e sentido de mistério que acompanharemos com curiosidade até à estreia do seu episódio a solo, agendado já para o próximo ano.

 

De parte das apreciações positivas deixa-se ficar o Lex Luthor de Jesse Eisenberg, que está destinado a dividir opiniões. Numa espécie de versão vilanizada do seu Mark Zuckerberg em “The Social Network”, Eisenberg assume uma posição de quase-cartoon que apesar de extremamente distrativa, pontualmente exagerada e dificilmente levada a sério (especialmente no contexto de contacto próximo e persuasivo com líderes de nação), não só permite o vislumbre psicótico dos seus motivos quase teológicos como parece ser, na verdade, a única pessoa que parece estar a divertir-se no ecrã, o que por si só já vale um pontinho de honra.

 

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Nos limites balança da apreciação, “Batman V. Superman” contém vários elementos positivos e extremamente merecedores de recomendação, mas também deficiências demasiado óbvias para ignorar.

 

Não é caso para dizer que, no mundo de hoje, todos os filmes de Super-Heróis devam ser como os da Marvel – equilibrando ação, história e gravidade com uma leveza assumida na forma de one-liners para a posteridade. De facto, cada herói tem a sua história e a transformação cinematográfica da DC tem vindo a apostar mais no lugar cinzento da psique dos seus heróis, abordando temáticas mais cerebrais e, digamos assim, pesadas. Na maioria das interpretações, os filmes da DC têm-se diferenciado dos demais com os seus heróis a observar as suas habilidades e obrigações de salvação não propriamente como um dom, mas um fardo e um ponto motriz capaz de criar as mais nefastas consequências.

 

Essa conceção é tremendamente interessante, e potencialmente até mais capaz de, em matérias de analogia, dizer algo sobre nós, Homens e Mulheres do mundo real. Todavia, nada disso pode ou deve significar a perda do sentido de entretenimento, de positiva anarquia, de escapismo, de gozo de fazer e oferecer Cinema.

 

Tomando as palavras de outro habitante, de outra interpretação, do mesmo universo: why so serious?

 

 

6.5/10

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Close-Up Soap Awards 2016 - 5ª Edição | Vencedores

por Catarina d´Oliveira, em 03.03.16

Lembram-se de vos ter dito que a cerimónia dos Close-Up Soap Awards 2016 ia ter lugar no dia 25 de fevereiro? Epá devo ter dormido muito bem nesse dia, porque essa previsão era deveras positiva... mas aqui estou eu, uma semana mais tarde, a trazer-vos resultados requentados - mas que fiz questão de dar um calorzinho no microondas!

 

Apertem os cintos porque esta é a 5ª Edição dos Soap Awards!!!

 

[ovação de pé durante 17 minutos]

 

Agora que já sossegamos, vamos aos highlights da cerimónia que, tal como os primos pobres da Academia norte-americana (os Óscares), esteve muito marcada por vitórias em diversas categorias de Mad Max: Fury Road.

 

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George Miller papou uma série de SOAPs importantes (na verdade foram quatro, não era assim tão difícil de contar...), incluíndo o muito cobiçado Melhor Blockbuster. Evidentemente, também o já célebre Doof Warrior levou um merecido galardão pela sua participação rica em elementos WTF no filme de Miller, e dizem os rumores que já foi avistado a guitarrar no seu carro de guerra com um prémio na mão!

 

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Outro dos protagonistas da cerimónia deste lusco-fusco (porque se fosse fazer à noite esta trampa acabava muito tarde!) foi Ex-Machina, cuja inteligência artificial na forma de Alicia-Está-Nos-Filmes-Todos-Vikander deu a volta a muitos e bons cinéfilos. Mas não foi só a esbelta sueca que fez o serão dos votantes, já que também os moves sensualões de Oscar Isaac lhe valerão o láureo de Rei da Pista de Dança 2016.

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E já que falamos em reis, porque não dar também o devido destaque a uma das grandes estrelas mediáticas do final do ano de 2015? Não, não estamos a falar do Donald Trampa, mas sim, claro está, do urso de The Revenant. Ao que conseguimos apurar, o mamífero que chegou a roupa ao pelo de DiCaprio no filme de Alejandro Iñárritu tem nome e chama-se Leopoldo Machado. Leopoldo subiu ao palco com pompa e circustância para a primeira ovação da noite, prestada em reconhecimento pelo seu excelso papel secundário no épico de lama e partes baixas geladas do realizador mexicano.

urso.jpg

 

 

 Por fim, não podemos deixar de guardar um parágrafo de destaque para 50 Shades of Grey, que, basicamente, ganhou quase todos aqueles prémios que ninguém queria ganhar. Quando subiu ao palco para agradecer uma das estatuetas, Jamie Dornan (o Christian Grey) apresentou-se apenas de ceroulas temáticas e agradeceu a distinção de forma categórica: "i was fifety shades of fucked up, now i'm fifety shades of... soap".

CLOSEUP-cueca.jpg

 

 

Enfim, é o que temos e foi uma cerimónia muito gira e muito animada e coiso e tal portanto rezem para, no próximo ano, serem convidados para o evento cinematográfico mais in de 2017.

 

Até lá, deixo-vos com a lista completa de vencedores dos Close-Up Soap Awards 2016.

 

*** *** ***

 

Melhor Filme que não foi Nomeado para o Oscar de Melhor Filme

Ex-Machina

 

 

Melhor Filme que Provavelmente Muita Gente Não Viu

As Mil e Uma Noites (3 Volumes) 

 

 

Pior Filme que poderá vir a ser chamado de “Oscar-Winning”

50 Shades of Grey (Melhor Canção Original)

 

 

Melhor Blockbuster

Mad Max: Fury Road

 

 

(Pior) Blockbuster da Loja do Chinês

EX AEQUO: Fantastic Four & Jupiter Ascending

 

 

Filme que não nos atrevemos a tocar nem com um pau de três metros

Mortdecai

 

 

Pior filme para veres com os teus pais e avós

50 Shades of Grey

 

 

Melhor Twist: ou Oh diabo, pensei que este filme fosse sobre outra coisa…

EX AEQUO: Tangerine (sobre fruta) & What We Do in the Shadows (sobre masturbação em locais públicos... à noite)

 

 

Melhor Dinossauro

Arlo, de The Good Dinosaur

 

 

Inteligência Artificial? Oh que %€?”#$%#”, se soubesse tinha ficado quieto

Ex-Machina

 

 

Rei/Rainha da Pista de Dança

Oscar Isaac, em Ex-Machina

 

 

Melhor desfibrilhação para franchises adormecidos

Mad Max: Fury Road

 

 

A Moda do Ano

Recuperar Franchises

 

 

Melhor Cameo

Daniel Craig, em Star Wars: The Force Awakens

 

 

Melhor Utilização de Banda Sonora Não Original

Straight Outta Compton

 

 

Melhor título de um filme que também serviria na indústria pornográfica

Get Hard

 

 

Melhor Indie que tresanda a Indie (em bom)

Me, And Earl, And the Dying Girl

 

 

Maior Momento WTF?

O guitarrista, de Mad Max: Fury Road

 

 

A Linha de Diálogo mais Ridícula de 50 Shades of Grey

“Because I’m fifty shades of fucked up, Anastasia.” (Christian Grey)

 

 

Linha de Diálogo que anima o espírito

“What a lovely day!” – Mad Max: Fury Road

 

 

Prémio Especial - Pôr água na fervura (Eles queriam nomeações a Óscar mas só levaram rebuçados)

Beasts of No Nation

 

 

Prémio Especial - Antidepressivos para que vos quero

Room

 

 

Prémio Especial – Não estou nada a chorar! Foram as cebolas!

“Leva-a à lua por mim, ok?” (Bing Bong), em Inside Out

 

 

Prémio Especial – “Nossa, que biolência!”

O ataque do urso, em The Revenant

 

 

Prémio Especial – Omnipresença

Alicia Vikander (The Danish Girl, Burnt, The Man from UNCLE, Testament of Youth, Ex-Machina, The Seventh Son, Son of a Gun)

 

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Se não vivem debaixo de uma pedra - opção que não coloco totalmente de lado à partida - já deverão conhecer todos os 24 vencedores da 88ª edição dos Oscars da Academia e já devem estar emocionalmente recuperados do facto de o Leonardo DiCaprio ter, finalmente, conseguido a sua estatueta depois de anos e anos a fazer tudo e mais alguma coisa no grande ecrã - incluíndo encharcar-se em drogas, interpretar uma pessoa com deficiência e um amor impossível perdido no oceano gelado.

 

Posto isto, estamos então todos prontíssimos para avançar na nossa análise habitual da cerimónia - mas não é aquela análise detalhada e atenta a todos os pormenores da cerimónia mais mediática da sétima arte... é mesmo aquela análise rasca que se auxilia de GIFs, Memes e Vídeos para arrancar à força views dos 13 leitores habituais deste blog. Na verdade, talvez sejam só 7, mas vamos a isto!

 

*** *** ***

 

Estavamos perto das 23:00 quando começou a emissão da passadeira vermelha e nestes momentos iniciais, nunca sabemos muito bem o que esperar da noitada que se avizinha...

 

 

 

No entanto, decidimos colocar alguma fé no potencial da cerimónia e assumimo-nos entusiasmados pelas possibilidades da noite...

 

 

 

Um dos destaques da cerimónia foi Jacob Tremblay - o adorável protagonista de Room que estou, neste exato momento a tentar adotar

 

 

 

Vejam como o garoto rejubila com o glamour hollywodesco... imagine-se o que não seria se viesse morar comigo para a Trafaria!

 

 

 

No entanto, o único local mais animado além da red carpet dos Oscars naquele momento era a boa da internet, que conforme as estrelas iam chegando, ia fazendo das suas...

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Alicia Vikander e o seu jovial vestido amarelo não passaram despercebidos e a atriz sueca não fugiu a duas recorrentes comparações com duas famosas personagens da Disney/Pixar...

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Jared Leto que se destaca sempre pela diferenciação num mar de homens virtualmente todos iguais também tratou de levar no lombo...

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Mas ninguém levou mais ódio que Heidi Klum - em sua defesa digo: não é fácil uma pessoa vestir-se às escuras...

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Mas um dos momentos mais ridículos da red carpet estava guardado para Whoopi Goldberg, quando foi confundida com a Oprah pela Total Beauty 

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A empresa bem tentou apagar o tweet que fez mas, amigos...na internet é para sempre, temos pena, portanto os print screens perdurarão para sempre e o vosso ridículo também, graças ao senhor.

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Evidentemente, seguiram-se vários comentários relacionados com a bronca

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Mas o meu favorito...

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Mas felizmente o Jacob Tremblay está sempre disponível para ser o ser mais amoroso à face da Terra e salvar a alma do convento...

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Mas parou tudo. Leonardo DiCaprio e Kate Winslet chegaram e pousaram juntos para as fotografias e o mundo teve um orgasmo coletivo.

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Por falar em DiCaprio, decerto que estavam todos como nós nesta altura, em ansiosa expectativa por aquele que viria a ser um dos momentos da noite...

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Mas até lá ainda faltavam longas horas, razão mais do que suficiente para que alguns famosos levassem consigo uma boa merenda que os ajudasse a chegar ao fim da noite. Bryan Cranston levou uma bolacha épica que teve um fim pouco feliz...

 

 

 

 

Mas Charlize Theron foi a pessoa mais honesta relativamente à fomeca que se passa em cada uma destas cerimónias...

 

 

 

 

Estavamos a breves momentos de iniciar a nossa maratona noturna, pelo que era o momento perfeito para os últimos preparativos e as últimas selfies de manta, à lareira, com comida de merda...

 

 

 

 

Tudo a postos para o arranque? Vamos à chamada? Equipa Mad Max? Presente! Equipa The Revenant? Presente. Equipa The Danish Girl...

 

 

 

 

 

Tudo alapado e pronto para o arranque. Abrimos caminho com o monólogo de Chris Rock, que sem grandes surpresas, não ataca a temática das condições ideais para a plantação da ervilha em estufa mas sim... 

 

 

 

 

O tema do racismo dominou toda a cerimónia e deu azo a várias piadas acídicas...

 

 

 

Mas a minha favorita foi a trancada épica na Jada Pinkett Smith

 

 

 

 

 O discurso fechou com a promessa de diversidade ao longo da noite e oh senhores se isso não foi verdade...

 

 

 

 

 Começamos com uma muito inspirada montagem de alguns filmes do ano com "intrusos" que promoviam a diversidade de género (mas que na verdade foram só afro-americanos)

 

 

 

 

Um destaque extra para Tracy Morgan que fez uma imitação perfeita de metade da performance de Eddie Redmayne...

 

 

 

 

 

Depois de ter sido uma das involuntárias protagonistas da red carpet, Whoopi Goldberg voltou à carga, criticando desta feita Joy

 

 

 

 

E estabelecendo uma verdade absoluta sobre uma história adaptada à realidade afro americana que pudesse ser considerada à realidade do Oscar...

 

 

 

 

Destas críticas nem o Leonardo & Cia. se escaparam...

 

 

 

 

Mas às tantas as piadas já eram tantas que o discurso sobre a diversidade se foi ridicularizando ao longo da noite, assumindo o ponto alto da idiotice na absurda aparição de Stacey Dash...

 

 

 

 

 

E eu que nem simpatizo com o The Weeknd, senti a sua dor...

 

 

 

 

Mas regressemos às coisas positivas: Alicia Vikander levou um muito merecido Oscar para casa e é, sem dúvida, a sueca mais bronzeada que eu vi na vida.

 

 

 

 

Por esta altura, a cerimónia decorria leve, com humor e sem grandes precalços. Até o Stallone estava a curti-las...

 

 

 

 Bom, pelo menos até ao momento da verdade...

 

 

 

 

Ainda no início da noite, Mark Rylance surpreendeu tudo e todos a levar o Oscar de Melhor Ator Secundário no lugar de Sly...

 

 

 

 

O pessoal ficou possesso na internet, mas Frank Stallone fez um ótimo trabalho ao envergonhar o irmão com uma saga de tweets profundamente ressabiada e, portanto, hilariante

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Mas não foi ele o único a dar bandeira perante a sua tremenda infelicidade. Por esta altura Alejandro Iñárritu ainda não tinha perdido cerca de 674 Oscars para Mad Max, portanto estava bem disposto...

 

 

 

Mas quando a responsável pelo guarda-roupa de Mad Max subiu ao palco para receber o seu galardão, o realizador mexicano amarrou bem o burrinho.

 

 

 

Mas tudo ficou bem no mundo porque a senhora cagou no assunto e vestiu este fantástico blusão com diamantes... porque sim.

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E George Miller aprovou.

 

 

 

Quem também deu o aval à escolha foi Ali G - ou a nova tentativa de Sasha Baron Cohen de ser definitivamente banido da cerimónia...

 

 

 

Por esta altura, a cerimónia precisava de um empurrãozinho, e de forma ligeiramente desinspirada, Chris Rock tentou recuperar o momento da pizza de Ellen Degeneres com o momento da venda das bolachas das filhas...

 

 

 

A audiência até gostou da ideia, porque entrar para aqueles vestidos esterlicadinhos significa muita larica na barriga...

 

 

 

E toda a gente fez fila para comprar uma caixa...

 

 

 

Tanto que não chegou para todos e Matt Damon teve de partilhar o seu tesouro com Christian Bale que depois d' O Maquinista jurou para nunca mais passar fome daquela.

 

 

 

Já o Leonardo... parece que não partilhou.

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E a internet não perdoou, mais uma vez...

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 Se soubesse não me tinha posto a merendar antes da atuação do Sam Smith da canção nomeada do 007 - Spectre que, perdoem-me o palavreado, foi uma valente merda pingada. Ele próprio admitiu...

 

 

 

Mais entusiasmante e emocionante foi o momento musical de Lady Gaga...

 

 

Em "Til it happens to you", subiram ao palco dezenas de vítimas de assédio sexual numa apresentação que deixou muitos membros da audiência de lágrima no canto do olho...

 

 

 

À saída do palco, Brie Larson deu-nos mais uma razão para sermos seus fãs, ao cumprimentar e abraçar CADA UM dos participantes na performance...

 

 

 

Estava tudo alinhado para que uma cantiga bonita ganhasse a noite mas....

 

 

 

oh que merda esta....

 

 

 

A pior canção de Bond de sempre com um Oscar.

 

 

 

Ficamos assim, então, Academia.

 

 

 

Deixemos que a alegria musical nos chegue através da colossal vitória de Ennio Morricone na categoria de Melhor Banda Sonora Original (The Hateful Eight)...

 

 

 

 

E vendo o querido Ennio com uma lágrima a aceitar este prémio há tanto merecido, fiquei com desejos de o adotar também!

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Por falar em adorável: eis um rápido tutorial de como arruinar a participação de crianças asiáticas adoráveis na cerimónia:

 

 

 

 

Oh Ryan, lá tivemos de recorrer a ti para mais um daqueles momentos WTF...

 

 

 

Mas ei, os Minions chegaram para animar a malta!

 

 

 

Ou...quase toda a malta.

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 Mas esta noite também serviu para recordar grandes momentos de infância... como aqueles que passamos com Woody e Buzz <3

 

 

 

 

E também com R2-D2 e 3CPO e.... ai!!! O Jacob a ser adorável outra vez!!

 

 

 

Já me acalmei. Entretanto, entre os aborrecidos apresentadores que normalmente preenchem as noites dos Oscars, aparecem sempre aqueles que secretamente desejamos que um dia apresentem a cerimónia... como a dupla Steve Carell e Tina Fey.

 

 

 

Será que este momento teve algo a ver com isto...?

 

 

 

De todo o modo, nenhum apresentador hipotético gerou tanta mobilização online como o brilhante Louis C.K.

 

 

A sério... ponham-no a apresentar tudo.

 

 

 

Mas também pode ser o Jacob...

 

 

 

 

 A sério... eu vou eventualmente acalmar-me, mas o puto é glorioso.

 

 

 

 

E quando Brie Larson venceu o Oscar de Melhor Atriz, a cumplicidade entre os dois derreteu toda a gente...

 

 

 

Entretanto o Iñárritu lá ficou com melhor cara...

 

 

 

Mas a esta hora já só tinhamos uma coisa na cabeça - DiCaprio - pelo que nem ouvimos nada do discurso dele...

 

 

 

 

Chegou o momento. Depois de dias a ver e rever todas as ocasiões em que DiCaprio NÃO VENCEU, eis o dia, ei-lo!!!

 

 

 

Ele não disse, mas estava assim por dentro.

 

 

 

O reconhecimento foi geral e merecido...

 

 

 

 

Inclusive do seu excelso coprotagonista...

 

 

 

Mas Kate Winslet aplaudiu com o fervor que todos nós sentíamos...

 

 

 

 

 E o nosso rapaz não desiludiu com um discurso fantástico e consciente.

 

 

 

E a Kate Winslet continuava a ser todos nós.

 

 

 

Foi uma boa viagem, kid.

 

 

 

 

Bem vindo ao fim dos memes! Ou será que...?

 

 

 

 

A noite já ia longa e só nos faltava um prémio. Para surpresa de uns, e confirmação de outros, Spotlight foi o vencedor da categoria mais cobiçada. E Michael Keaton manteve o nível com um elaborado "fuck yeah!!!" enquanto mascava a sua já famosa chicla de menta.

 

 

 

A sério, é mesmo famosa.

 

 

 

 

Reparem como a mastiga com vigor... podíamos ficar nisto durante horas...

 

 

 

Mas aproveitamos este momento para relembrar o momento em que Morgan Freeman retira selvaticamente as bolachas da mão de Chris Rock. A fome é negra... e isto não é uma piada racista.

 

 

 

 

Resumindo e concluindo, Julianne Moore deixou a sua apreciação sobre uma cerimónia tépida, mesmo envolvida em muita polémica...

 

 

 

Jacob, estamos combinados para o ano? Apresentas? Sim? Boa!

 

 

 

 

 ... se por acaso o Jacob e o Louis C.K. não puderem, deixo uma terceira alternativa de host em aberto....

 

 

 

Até para o ano malta...

 

 

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Oscars 2016: Vencedores

por Catarina d´Oliveira, em 01.03.16

Já não é notícia para ninguém, mas na verdade sentia-me extremamente mal por não ter isto no blog, portanto finjam-se surpreendidos para todos os efeitos: decorreu no passado Domingo a mais recente cerimónia dos Oscars da Academia

 

Feitas as contas, os galardões distribuíram-se por várias aldeias, dando espaço para uma ou outra surpresa entre o lote de vencedores, nomeadamente Ex-Machina, que levou a melhor sobre Mad Max:Fury Road na categoria de Melhores Efeitos Visuais. Mas o filme de George Miller não foi a chorar para casa: de facto, arrecadou umas espantosas seis estatuetas técnicas que não fazem vergonha a ninguém.

 

Spotlight foi considerado o Melhor Filme e Argumento Original enquanto The Revenant valeu a Iñárritu o segundo Oscar consecutivo de Melhor Realizador e a implosão total e absoluta da internet: a vitória de Leonardo DiCaprio na categoria de Melhor Ator.

 

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Eis a lista completa de vencedores:

 

Melhor Filme: "Spotlight"

Melhor Realizador: Alejandro G. Iñárritu

Melhor Ator Principal: Leonardo DiCaprio, em "The Revenant"

Melhor Atriz Principal: Brie Larson, em "Room"

Melhor Ator Secundário: Mark Rylance, em "Bridge of Spies"

Melhor Atriz Secundária: Alicia Vikander, em "The Danish Girl"

Melhor Canção Original: "Writing's on the Wall", de "007 - Spectre"

Melhor Banda Sonora: Ennio Morricone, de "The Hateful Eight"

Melhor Filme Estrangeiro: "Son of Saul"

Melhor Documentário: "Amy"

Melhor Argumento Original: Josh Singer, "Spotlight"

Melhor Argumento Adaptado: Adam McKay, "The Big Short"

Melhor Fotografia: Emmanuel Lubezki, de "The Revenant"

Melhor Montagem: "Mad Max: Fury Road"

Melhor Mistura de Som: "Mad Max: Fury Road"

Melhor Montagem de Som: "Mad Max: Fury Road"

Melhor Guarda-Roupa: "Mad Max: Fury Road"

Melhor Design de Produção/Cenografia: "Mad Max: Fury Road"

Melhor Caracterização: "Mad Max: Fury Road"

Melhores Efeitos Visuais: "Ex-Machina"

Melhor Curta-Metragem (Live-Action): "Stutterer"

Melhor Curta-Metragem (Documentário): "A Girl in the River: The Price of Forgiveness"

Melhor Curta-Metragem (Animação): "Bear Story"

 

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Close-Up Soap Awards 2016 - 5ª Edição | Nomeados

por Catarina d´Oliveira, em 26.02.16

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Como é hábito, e 275937 dias depois da data inicialmente prevista, eis que vos apresento, qual supositório indolor, a 5ª Edição dos Close-Up SOAP Awards, que como já sabem aqueles três leitores que vêm cá ao blog: são exatamente aqueles prémios de Cinema que celebram coisas que não interessam ao menino Jesus. E isto realmente só se torna interessante porque já estamos carecas de saber que o DiCaprio nos vai estragar a merda da vida a ganhar o Óscar e a destruir o trabalho de anos e anos na carreira dos memes.

 

Mas porque isto não tinha piada só com as minhas opiniões verborreicas pouco atestadas, para que esta cerimónia fictícia seja o mais participativa possível, pedia-vos que colaborassem comigo e me ajudassem a distinguir os melhores dos melhores... e dos piores... votando (em todas as categorias que puderem, mas não obrigatoriamente em todas). Mas mesmo!

 

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Porque almejamos sempre ao mais glamouroso, os vencedores serão anunciados durante o dia 25 de Fevereiro.

 

E agora, sem mais demoras... minhas senhoras e meus senhores, o link para a votação está AQUI e os nomeados (com bonecos e links para ajudar a identificar) são:

 

 

 (ATENÇÃO este artigo pode conter, ou melhor, contém mesmo imensos spoilers)

 

 

 

Melhor Filme que não foi Nomeado para o Oscar de Melhor Filme

Carol

Ex Machina

Sicario

Straight Outta Compton

Steve Jobs

The Hateful Eight

Love & Mercy

Creed

 

 

Melhor Filme que Provavelmente Muita Gente Não Viu

Tangerine

Me, and Earl, and the Dying Girl

Son of Saul

As Mil e uma Noites

The Assassin 

Mustang

What We Do In the Shadows

Relatos Selvajes

 

 

Melhor Blockbuster

Ant-Man

Avengers: Age of Ultron

Furious 7

Jurassic World

Mad Max: Fury Road

Mission Impossible: Rogue Nation

 

 

(Pior) Blockbuster da Loja do Chinês

Fantastic Four

Hitman: Agent 47

Pixels

Terminator: Genisys

The Last Witch Hunter

Pan

Jupiter Ascending

 

 

Pior Filme que poderá vir a ser chamado de “Oscar-Winning”

Cinderella (Guarda-Roupa)

The 100-Year-Old Man Who Climbed Out the Window (Maquilhagem)

50 Shades of Grey (Melhor Canção Original)

Spectre (Melhor Canção Original)

 

 

Pior filme para veres com os teus pais e avós

50 Shades of Grey

Love

The Duke of Burgundy

I Smile Back

 

 

Filmes que não nos atrevemos a tocar nem com um pau de três metros

The Cobbler

Mortdecai

The Wedding Ringer

Get Hard

No Escape

 

 

Melhor Twist: ou Oh diabo, pensei que este filme fosse sobre outra coisa…

Tangerine (sobre fruta)

The Big Short (sobre um tipo gordo baixinho)

Burnt (sobre a Unidade de Queimados do Hospital de S. José)

Spotlight (sobre uma loja de holofotes)

What We Do in the Shadows (sobre masturbação em locais públicos à noite)

 

 

Melhor Dinossauro

Indominus Rex, de Jurassic World

Tyrannosaurus Rex, de Jurassic World

Velociraptor (Blue), de Jurassic World

Tyrannosaurus Rex, de Minions

Arlo, de The Good Dinosaur

 

 

Inteligência Artificial? €?”#$%#”, se soubesse tinha ficado quieto

Ex-Machina

Avengers: Age of Ultron

Chappie

Terminator: Genisys

 

 

Rei/Rainha da Pista de Dança

Joe Manganiello, em Magic Mike XXL (Vídeo)

Oscar Isaac, em Ex-Machina (Vídeo)

Amy Schumer, em Trainwreck (Vídeo)

Tina Fey e Amy Poehler, em Sisters (GIF)

 

 

Melhor desfibrilhação para franchises adormecidos

Mad Max: Fury Road

Terminator: Genisys

Jurassic World

Star Wars: The Force Awakens

 

 

A Moda do Ano

Westerns (The Salvation, Slow West, Echoes Of War, Bone Tomahawk, Forsaken, The Hateful Eight, Jane Got A Gun, The Revenant)

Ter Alicia Vikander no elenco

Recuperar franchises (Mad Max: Fury Road, Terminator: Genisys, Jurassic World, Star Wars)

Brincar aos espiões (Mortdecai, Kingsman: the Secret Service, The Man from U.N.C.L.E., Spy, American Ultra)

 

 

Melhor Cameo

Daniel Craig, em Star Wars: The Force Awakens (ler aqui)

Hugh Jackman, em Me and Earl and the Dying Girl

Stan Lee, em Avengers: Age of Ultron (GIF)

Liam Neeson, em Ted 2 (Vídeo)

Daniel Radcliffe e Marisa Tomei, em Trainwreck (ver aqui)

 

 

Melhor Utilização de Banda Sonora Não Original

The Diary of a Teenage Girl (consultar tracklist)

Lost River (consultar tracklist)

Dope (consultar tracklist)

Eden (consultar tracklist)

Amy (consultar tracklist)

Love & Mercy (consultar tracklist)

Joy (consultar tracklist)

Youth (consultar tracklist)

Straight Outta Compton (consultar tracklist)

 

 

Melhor título de um filme que também serviria na indústria pornográfica

Get Hard

Magic Mike XXL

Daddy’s Home

The Big Short

What We Do In the Shadows

Welcome to Me

Sleeping with Other People

 

 

Melhor Indie que tresanda a Indie (em bom)

The End of the Tour

Grandma

The Diary of a Teenage Girl

Mistress America

Me, and Earl, and the Dying Girl

 

 

Maior Momento WTF?

O guitarrista, de Mad Max: Fury Road (GIF)

O tipo das Margaritas, de Jurassic World (GIF)

O pensamento de abstração, de Inside Out (GIF)

O momento em que um pénis de zombie é violentamente arrancado, de Scouts Guide to the Zombie Apocalypse (Ver aqui)

Os carros voadores, de Furious 7 (Imagem)

A violação em orifícios de feridas, de Human Centipede 3 (Vídeo)

 

 

A Linha de Diálogo mais Ridícula de 50 Shades of Grey

I don’t make love. I fuck… hard.” (Christian Grey)

Because I’m fifty shades of fucked up, Anastasia.” (Christian Grey)

Laters, baby.” (Christian Grey)

- Anastasia, have you been drinking?

- Yeah! I have, Mr. Fancy Pants. You hit… you hit the hail on the nead. I mean the head right on the nail.” (Christian Grey; Anastasia)

I have rules. If you follow them, I’ll reward you. If you don’t, I’ll punish you.” (Christian Grey)

You have a beautiful body, Anastasia. I want you unashamed of your nakedness. Do you understand?” (Christian Grey)

 

 

Linha de Diálogo que anima o espírito

“In the face of overwhelming odds, I’m left with only one option, I’m gonna have to science the shit out of this.” - The Martian

“Just when you think it can’t get any worse you run out of cigarettes” - Carol

“Mark Wahlberg? I look like Mark Wahlberg ate Mark Wahlberg!” – Trainwreck

“The city is flying and we’re fighting an army of robots. And I have a bow and arrow. Nothing makes sense” – Avengers: Age of Ultron

“I’m going to tear up the fuckin dance floor, dude, check it out” – Ex-Machina

“What a lovely day!” – Mad Max: Fury Road

“God sent his only son on a suicide mission, but people like him because he made trees.” – Steve Jobs

 

 

Prémio Especial - Pôr água na fervura (Eles queriam nomeações a Óscar mas só levaram rebuçados)

Black Mass

Beasts of No Nation

Concussion

Suffragette

The Walk

Irrational Man

 

 

Prémio Especial - Antidepressivos para que vos quero

Amy

Room

Dark Places

Beasts of No Nation

Spotlight

 

 

Prémio Especial – Não estou nada a chorar! Foram as cebolas!

O filme de Greg para Rachel, em Me, and Earl, and the Dying Girl

A última viagem de Paul Walker, em Furious 7

A ascensão de Adonis, em Creed

Gerda chama desesperadamente pelo marido “desaparecido”, em The Danish Girl

“Leva-a à lua por mim, ok?” (Bing Bong), em Inside Out

A despedida de Arlo e Spot... ou quando Arlo vê o fantasma do pai...ou, epá Pixar, merda!, em The Good Dinosaur

 

 

Prémio Especial – “Nossa, que biolência!”

O ataque do urso, em The Revenant (GIF)

A "despedida" de Splendid Angharad, em Mad Max: Fury Road (GIF)

RIP Zara, em Jurassic World (GIF)

Pénis cortado ao meio, em I Spit on Your Grave III (GIF)

O massacre na igreja, de Kingsman: The Secret Service (Vídeo)

A sessão de escalpe, de Bone Tomahawk (GIF)

O frio absoluto, de Everest (GIF)

 

 

Prémio Especial – Omnipresença

Alicia Vikander (The Danish Girl, Burnt, The Man from UNCLE, Testament of Youth, Ex-Machina, The Seventh Son, Son of a Gun)

 

 

 

Relembro que o voto de cada um de vocês é essencial para que esta iniciativa se torne um sucesso. Podem aceder ao formulário de votação AQUI (caso não estejam familiarizados com todas as categorias, podem votar apenas nas que desejarem). E aproveitem já que estão nisto para gostar da alegre página no facebook do blog.
 
Obrigada.
 
 

 

NOTA FINAL

Fica o pedido de desculpa se tiver ocorrido alguma omissão grave, quer nos nomeados ou nas próprias categorias – basicamente a escolha foi baseada em cinco fatores:

- filmes estreados pela primeira vez em 2015 (ou final de 2014);

- filmes que vi ou conheço o suficiente para mandar uma ou outra bujarda;

- a minha fraca memória, que decerto acabou por excluir muita coisa que aqui devia estar;

- algumas dicas que alguns amigos cinéfilos me foram dando;

- a tentativa de manter uma lista de nomes conhecidos e reconhecidos o suficiente para esta brincadeira ter piada e o máximo de pessoas possível poder votar com conhecimento de causa.

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Point-of-View Shot - Trumbo (2015)

por Catarina d´Oliveira, em 23.02.16

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"What the imagination can't conjure, reality delivers with a shrug"

 

Se há coisa que não falta a Trumbo é um conjunto de intrigantes razões que edificaram a vontade que há muito trazíamos de lhe explorar os segredos.

 

A primeira é, por ventura, a mais óbvia: Bryan Cranston. Isto porque, apesar de já não ser uma cara nova nas lides de Hollywood, as performances que mais o marcaram no grande ecrã foram sobretudo secundárias. De O Resgate do Soldado Ryan, a Drive, passando por Argo, Contagion, e muitos outros, fica a sensação que Cranston não teve até aqui a oportunidade de explorar as suas máximas potencialidades dramáticas em Cinema, e talvez tenha sido o Walter White de Breaking Bad a ajudar a quebrar o enguiço.

 

Prosseguimos com o realizador Jay Roach que aqui embarca na sua primeira aventura dramática. Até aqui, a sua experiência ia pouco além das comédias de cariz físico e palerma de Austin Powers e a sátira familiar de Uns Sogros do Pior.

 

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Por fim, o elemento mais curioso, que é tão somente o objeto em observação macroscópica: Dalton Trumbo, um histórico argumentista da Era de Ouro de Hollywood, celebrado pelo engenho nas palavras, renegado pelas suas opções políticas – e enquanto é possível que o seu nome pouco dissesse a ouvidos destreinados, as suas obras deixam-se falar por si: Roman Holiday(1953), The Brave One (1956),  Spartacus (1960), Exodus (1960).

 

Estavamos oficialmente interessados, mas estaria Trumbo à altura das modestas mas sólidas expectativas que criamos?

 

O enredo ambienta-se, na sua maioria, aos anos 40, e temos encontro marcado com a carreira de sucesso do argumentista Dalton Trumbo. No entanto, e ao espelho do que ainda hoje acontece na indústria das montanhas-russas do sucesso e dos 15 minutos de fama, o seu estatuto de génio inabalável é fortemente bombardeado quando ele e outras figuras de Hollywood entram na lista negra pelas suas convicções políticas. Trumbo, que sempre se recusou a fazer segredo da sua posição política e social, juntamente com muitos dos seus pares, tornou-se assim vítimas da histeria do anti-Comunismo que reinou na América do pós-guerra, chegando, inclusive, a ser sentenciado a uma pena na prisão por desacato. A infame lista negra de “perigosos radicais” que viam o seu caminho interdito aos grandes estúdios não parou de inchar durante vários anos. Esta é, portanto, a história da sua luta contra o governo norte-americano e os patrões dos Estúdios, numa guerra pelas palavras e a liberdade, que envolveu todos em Hollywood, desde Hedda Hopper e John Wayne, até Kirk Douglas e Otto Preminger.

 

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Se isto vos parece a receita perfeita para um testemunho maçudo incognoscível sobre oposições ideológicas e políticas, podem ficar descansados: não é preciso estudar a vida de Dalton Trumbo antes do filme, e muito menos os princípios do Comunismo – desde que não esperem entender as suas raízes meramente a partir deste objeto cinematográfico.

 

De facto, Jay Roach inspira-se nas suas raízes humorísticas para conferir alguma leveza a um dos períodos mais negros na liberdade criativa e de expressão em Hollywood, transformando Trumbo numa fatia leve e informativa de uma das muitas e variadas eras da injustiça na indústria – um tema sempre atual, como podemos observar, num outro prisma, nas recentes movimentações contra a falta de diversidade na representação de papéis nas grandes produções de Hollywood. O argumento de John McNamara é também neste sentido arejado e relativamente capaz de condensar um conjunto de eventos complexos em duas horas de entretenimento acessível e informativo.

 

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Mas o maior problema de Trumbo surge justamente da batalha entre a informação que entretém e o retrato de uma Era verdadeiramente negra para o Cinema. Na verdade, a necessidade de entrecortar constantemente momentos de drama e seriedade com pedaços de comédia em forma de algodão doce é que se perde na tradução o tema muito, muito assustador que se pretende cobrir. E esta falta de alma e de predisposição a abraçar a seriedade sem medo de aborrecer o público não é ajudada pelo facto de o protagonista parecer repetidamente capaz de resolver todo e qualquer problema que lhe surja no caminho, qual super-herói do universo Marvel.

 

No elenco, o líder dos “Vingadores das palavras” é Bryan Cranston, que captura toda a nuance gentleman que envolvia Trumbo, bem como a sua inesgotável fonte de espirituosa produção de palavras – ditas e escritas. Do mesmo lado da barricada, vale ainda a pena destacar os complacentes companheiros de batalha, particularmente a figura compassiva e contrastante de Louis C.K., e ainda o gigantesco comic relief patrocinado por John Goodman como o irreverente Frank King, chefe de armas do estúdio de série B (ou Z?) King Brothers Productions.

 

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Do outro lado do campo de batalha jaz um dos maiores problemas de Trumbo: os vilões, pouco interessantes e dolorosamente unidimensionais. De facto, numa passagem tardia do filme, Trumbo sugere que não procuremos por heróis ou vilões no meio do que aconteceu, mas apenas vítimas. Não deixa de ser curioso que o próprio filme que relata tais ideais seja pouco capaz de os transferir para a película – ainda que encontre um certo grau de redenção para pelo menos um dos seus personagens mais moralmente questionáveis.

 

Resumindo e concluindo, o filme de Jay Roach é um exercício irregular de entretenimento que se quer relativamente informativo, mas não demasiadamente dramático. E é nesse equilíbrio desequilibrado que aniquila as suas próprias possibilidades de se tornar um filme excecional e importante: porque afinal de contas, apesar de representar uma luta ganha, Trumbo é um triunfo relativamente modesto – sólido e satisfatório, mas sem alma ou ambição que verdadeiramente merecia.

 

 

7.0/10

 

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Point-of-View Shot - The Revenant (2015)

por Catarina d´Oliveira, em 21.02.16

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"I ain't afraid to die anymore. I'd done it already"

 

 

Um poema frenético cravado a frio na pele ensanguentada, The Revenant revisita o mito americano com a crueza que mais com ele condiz – venal, bruta e vingativa.

 

Numa expedição pelo desconhecido território americano, o lendário explorador Hugh Glass é brutalmente atacado por um urso e deixado como morto pelos seus companheiros de caça. Na luta pela sobrevivência, Glass resiste a um sofrimento inimaginável, bem como à traição de John Fitzgerald, um dos seus companheiros de expedição. Guiado pela sede de vingança e o amor da sua família, Glass terá de enfrentar um inverno rigoroso numa busca incessante pela sobrevivência e redenção.

 

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De Leonardo DiCaprio já se disse tudo o que virtualmente se poderia dizer de um ator absolutamente dedicado à sua arte. Depois de anos a fio a usar memes e engenhos humorísticos para gozar o facto de nunca ter levado um Óscar para casa – não obstante as vezes que o mereceu – será, certamente, este o ano que lhe quebra o enguiço. E apesar de ser uma performance profundamente instintiva, fisicamente complexa e matizada e extremamente impressionante, é difícil encaixá-la sequer no top 3 do cânone do ator, o que não deixa de parecer mais uma curiosa confirmação da célebre asserção de Katharine Hepburn sobre as estatuetas douradas: “os atores certos ganham sempre o Óscar, mas pelos papéis errados”.

 

Tanto ou mais surpreendente é Tom Hardy que aparece fiel à forma que lhe conhecemos – o que significa 100% carismático e 50% ininteligível no discurso. Fitzgerald não é um personagem propriamente complexo, aparecendo como um vilão ligeiramente cartoonizado, cujo momento mais humano surge quando descreve pormenorizadamente o que sentiu quando lhe arrancavam o escalpe a sangue frio. Fun!

 

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Mas voltando às considerações gerais, o novo filme de Alejandro G. Iñárritu ambienta-se a um vértice fascinante da ainda breve história americana, mesmo antes de os caminhos serem trilhados, de os cowboys serem intitulados, de os homens armados de emblemas e fogos abrirem caminho pelo Oeste. É quase um cenário Bíblico, num mundo aparentemente sem lei onde a justiça se faz “olho por olho, dente por dente”. Aqui a única lei que impera é a da vingança em bruto, a única que importava naquele momento singular da história, aquele momento que se propaga numa saga de dor e determinação.

 

The Revenant é, assim e sem qualquer margem para fantasias, um violento western que só parece passado num cenário nevoso para expor ainda mais o sangue, suor e membros decepados. Iñárritu maravilha-se com a virgindade da terra, contraposta com a malevolência humana – a simples selvajaria inocente de tudo, desde as árvores sem fim, aos prados cobertos de branco, aos rios enraivecidos. Digamos que, em diversas formas e medidas, é, para o bem e para o mal (já lá iremos) o Gravity dos westerns - visceral e de tal forma eletrizante que transcende a própria narrativa.

 

O pano abre numa espécie de floresta alagada e húmida, de aspeto pouco convidativo, atolada de homens que trocaram qualquer noção de conforto pela possibilidade de fazer algum dinheiro extra no mercado das peles. Enquanto o gangue discute (pouco) alegremente assuntos mundanos, as setas começam a voar, e porque Iñárritu filma tudo com uma misteriosa obsessão pelo natural, é quase possível sentir a roupa pejada de lama, a água a consumir-nos os ossos, o sabor metálico do sangue a inundar-nos a boca. Toda a cena é filmada ao estilo de Birdman, o que significa que navegamos etereamente pelo caos, saltitando de personagem em personagem, enquanto estes rijos do Oeste tentam escapar vivos à fúria dos Índios que apenas procuram recuperar uma “princesa” desaparecida. E esta cena é apenas uma miniatura de tudo o resto.

 

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É uma espécie de paradoxo – aparentemente desnecessariamente cruel, mas é essa mesma dimensão ríspida que mantém a noção de que o Velho Oeste Selvagem era, de facto, desnecessariamente cruel. É certo que quase parece retirar um prazer retorcido da sua própria sanguinolência, num niilismo resvalado numa escuridão que ilustra sem espinhas que a selvajaria do Oeste selvagem não significava propósito, ou independência, ou liberdade. Aqui o selvagem era genuinamente bruto, desumanamente natural e inescapavelmente imperdoável.

 

The Revenant é visceralmente diferenciado de Birdman, mas também dos enredos entreligados dos anteriores filmes de Iñárritu (onde se contam, por exemplo, 21 Grams e Babel). Desta feita a história é extraordinariamente simples, inclusive a um ponto prejudicialmente detrimental. De facto, a ambição filosófica e moral é tão exacerbada que no momento em que chegamos à ansiada represália, depois de tanta dor, morte, planos da natureza e minutos inexplicavelmente queimados, é muito difícil não a sentir como uma relativa desilusão.

 

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Na verdade, o que fez Birdman funcionar tão bem foi o harmonioso casamento entre o virtuoso estilo do realizador e o estado caótico da psique das suas personagens. Todo o pandemónio miraculosamente organizado trabalhava em prol da história de um homem que, procurando reencontrar-se consigo mesmo, se perdia ainda mais. Em The Revenant, o estilo e a história não só não parecem estar na mesma página – parecem arrancados de livros diferentes. O investimento feito em encantar os nossos olhos através de cenas que são manifestamente indeléveis (Emmanuel Lubezki destaca-se uma vez mais como um dos mais talentosos e disruptivos diretores de fotografia dos nossos tempos), o mais recente filme de Iñárritu não consegue deixar de se sentir frustrantemente frio, incapaz de nos assoberbar o coração como nos revira as entranhas.

 

Feitas as contas, The Revenant parece mais uma experiência do que um filme propriamente completo e totalmente coerente. Todavia, esse tipo de cinema, esse raro tipo de cinema que nos transporta inesperada e inescapavelmente para um outro tempo e espaço, ao ponto de lhe cheirarmos os odores, de lhe sentirmos os chãos, de lhe sofremos as dores, é sempre bem-vindo.

 

 

7.5/10

 

 

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Point-of-View Shot - Spotlight (2015)

por Catarina d´Oliveira, em 10.02.16

 

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"I'm not crazy, they control everything"

 

Há vários tipos de filmes no mundo, mas apenas alguns deles têm o potencial de nos inspirar (nem que momentaneamente) a mudar de carreira.

 

Rocky fez-nos querer acordar cedo, tomar suplementação e treinar incansavelmente. Braveheart fez-nos querer pintar a cara e lutar pela liberdade com um kilt. Gandhi fez-nos querer ser melhores humanos. Que diabo, Forrest Gump fez-nos querer correr como se não houvesse amanhã!

 

Depois há Spotlight... o filme que nos impele a procurar temas fraturantes e esmiuçá-los até não sobrar nada mais que osso e uma revelação essencial.

 

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E se nos permitem o auxílio de uma útil analogia, o filme de Tom McCarthy é como uma boa banda de cera: uma vez colocada, já não há volta a dar, só resta arrancar. Ambientado ao estado de coisas em 2001, a película baseia-se em factos verídicos e segue a tenaz equipa de repórteres de investigação do Boston Globe. Liderada pelo respeitado mas rebelde Robby, a equipa conhecida por Spotlight trabalha afincadamente para investigar alegações de abuso no seio da Igreja Católica, mas nada os podia preparar para o alcance catastrófico do escândalo ou o quão longe vai a praga de fraude e apatia.

 

Cinematograficamente falando, o conceito de recontar a história de Spotlight tinha tudo para correr horrivelmente mal, mas sob a alçada da mestria de McCarthy, tudo se conjuga com a mais refinada precisão. Honestamente falando, Spotlight é um dos melhores dramas sobre jornalismo de investigação da história do Cinema, equilibrando-se nas alturas com as icónicas presenças de gigantes como All the President's Men ou The Insider.

 

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Equilibrado e astucioso, Spotlight é especialmente exímio na exploração da “área-cinzenta”. Se por um lado os vilões não podem exatamente ser considerados exclusivamente vis, também os heróis não são retratados como tal, estando inclusivamente abertos a um retrato que não persiste sem uma parte de mácula. “Se é preciso uma vila para criar uma criança, é preciso uma vila para abusar de uma”, diz, a certa altura, um dos personagens. E no filme de Tom McCathy ninguém sai incólume.

 

O elenco é formidável, de uma ponta à outra, e grande parte da razão para o sucesso da película. É que este trata-se de um puro exercício de “esforço de equipa”, onde cada ator trabalha com a inteligência da subtileza para não roubar qualquer foco ou importância ao poder do material-base, e no entanto, toda e qualquer performance é crucial para o sucesso do conjunto.

 

O sentido de gestão e contenção é transportado para o fantástico argumento, um musculado exercício em economia – cada palavra importa e cada cena existe com um propósito: o de levar a investigação mais longe. Adicionalmente, não há atalhos desnecessários para a vida pessoal de qualquer um dos jornalistas, o que nos obrigaria ou a requerer um ponto-de-vista único e profundo ou a solicitar a amalgama dos pontos-de-vista de todo o elenco. Ambas revelar-se-iam tarefas incompletas ou virtualmente impossíveis. E McCharthy e Josh Singer escolheram a premissa do distanciamento, dando-nos a conhecer apenas o estritamente necessário sobre cada um dos jornalistas e deixando que o seu trabalho defina o resto da sua figura cinematográfica.

 

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Por outro lado, os sobreviventes não são vítimas – uma diferença crucial estabelecida pelo filme – e o argumento dá um honroso espaço às suas desoladoras histórias e experiências que, emergindo de uma catarata de vergonha, medo e lágrimas, nunca são reduzidas a meros adereços para chegar a um determinado fim.

 

McCarthy orquestra a investigação procedural com precisão cirúrgica, aplicando uma noção de ritmo inacreditável para um filme que contem cenas que se estendem por minutos e que versam sobre esse “lírico” tema que é o obstáculo da burocracia para aceder documentos selados pela justiça mas abertos para consulta pública. E, como que por magia, essas são genuinamente entusiasmantes.

 

Mas o sabor que fica na boca depois de um autêntico showcase de exímia subtileza e contenção estilística não deixa de ser angustiante, como se cinzas se desfizessem na boca. Porque é impossível afirmar com franqueza de um espírito puro que se gostou do filme de McCarthy.

 

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O derradeiro e mais violento soco no estômago chega no final. Spotlight não é um filme para se gostar. É um filme para enraivecer, para gritar. Para acordar e magoar. E como a respetiva reportagem que o inspirou e que não podemos esquecer, é um filme para nos mudar.

 

Tenso, meticuloso e pernicioso, Spotlight é a narração essencial de um escândalo contemporâneo.

 

 

8.5/10

 

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