"Purple in the morning, blue in the afternoon, orange in the evening... and green at night. Just like that. One, two, three, four."
Sara Goldfarb tem um sonho: aparecer na televisão. Não deseja dinheiro, apenas aparecer na televisão. Aparecer e falar sobre o seu marido, o seu filho, os seus sonhos.
Harry Goldfarb (filho de Sara), Marion Silver (namorada de Harry)e Tyrone (amigo de Harry) têm um sonho: uma vida melhor.
O que se poderiam entender como máximas para uma história de força e vontade, metamorfizam-se na absoluta podridão e decadência de um mundo de dependências mortais e doentias. Cada uma destas quatro pessoas tem uma ambição, mas cada uma delas cede, de uma ou outra forma, ao prazer e à escravidão.
É incrível a evolução da personagem Sara ao longo do filme. Ellen Burstyn - com uma performance singular que ficava a merecer um Óscar mas que se ficou pela nomeação - retrata uma figura perdida, completamente entorpecida pelo desejo de aparecer na televisão, caindo nas teias do insano, lenta e dolorosamente.
Com um final visceral e perturbante, põe de lado o final feliz hollywodesco, e também os comuns "clichés" a que estamos tão habituados.
O estilo de Requiem for a Dream é predominantemente diferente daquilo a que estamos habituados: utiliza-se split screen, em vez de um plano que albergue as duas personagens ao mesmo tempo ou uma personagem de cada vez, utilização de Snorricam (câmera é presa ao corpo do actor encarando-o de frente ou costas, sendo que, quando se movimenta, parece que ele próprio não se move mas sim tudo à sua volta), utilização de time-lapse (um objecto é fotografado em diferentes momentos, diferentes frames) e fast cutting (utilização de vários shots por períodos de tempo muito curtos, de modo a fazer passar muita e variada informação, dando uma impressão de velocidade e caos).
Além de utilizar a ideia de consumo de estupefacientes de forma literal, ou seja, focando-se nos seus problemas e implicações, Requiem for a Dream serve-se dele também como metáfora para algo que a toda a hora nos aterra: um desejo inocente e inofensivo; um desejo cínico que sussurra “está tudo bem!” enquanto nos enterra, cada vez mais fundo, uma faca nas costas; um desejo incontrolável que acabará, eventualmente, por matar os nossos sonhos.
Sendo essencialmente abordado como “um filme sobre a dependência das drogas”, prefiro pensar em Requiem for a Dream como um filme com um propósito muito mais profundo: mostrar a desgraça de um sonho desfeito, de um sonho desfeito por si mesmo.
“O sonho comanda a vida.”
Será? Ou será esse o verdadeiro caminho da perdição?
8.5/10