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"Our revenge... is to live"
No dia 1 de Setembro de 1939, a Alemanha Nazi invade a Polónia num movimento que viria a despoletar na Segunda Grande Guerra Mundial. O conflito que terá tirado a vida a mais de 50 milhões de pessoas teve finalmente termo em Agosto de 1945 com a rendição do Japão.
Durante quase seis anos os Nazis espalharam o terror pela Europa e pelo mundo. A palavra Holocausto, que até à altura atendia ao significado de “sacrifício (através do fogo)”, passou a designar uma das maiores atrocidades Humanas de todos os tempos.
Desde Schindler’s List de Steven Spielberg foram produzidos mais de 150 filmes sobre o Holocausto, transformando um tema frutífero em termos cinematográficos num novo Género. Vendo bem, só com estreia próxima, consigo recordar-me de mais cinco filmes (além de Defiance) - The Reader, Good, The Boy in Stripped Pajamas, Valkyrie e Adam Ressurrected.
No entanto, e apesar da sobre exploração mais recente, o Nazismo e o Holocausto são temas que suscitam, sempre e sem excepção, grande interesse. Defiance é mais um retrato do monstruoso e negro período; desta vez, um retrato pintado com as cores da revolta, da coragem e da sobrevivência.
Estamos em 1941 e centenas de milhares de Judeus já foram e estão a ser massacrados por toda a Europa do Leste. Três irmãos Bielski escapam miraculosamente de um ataque à sua aldeia Natal e, escondidos, vêem os seus familiares sucumbir à insanidade nazi. Juntos os irmãos resolvem passar a refugiar-se numa densa mata que rodeava a aldeia e que conhecem como a palma da própria mão. Aí iniciam eles a sua própria batalha, a da sobrevivência. Atraindo cada vez mais Judeus ao longo dos anos e nunca rejeitando nenhum, os Bielski criaram um dos maiores grupos de resistência aos Nazis durante a Guerra.
Sentimos a inevitável tendência de comparar Defiance a outra grande história sobre outro dos salvadores dos Judeus – Schindler. Desse prisma, Defiance nunca atinge a mesma potência, carisma ou carga dramática; no entanto, e independentemente das suas falhas, é difícil vê-lo sem sentir a enorme vontade de resistência e esperança.
Daniel Craig e Liev Schreiber são os grandes pilares do elenco com interpretações ricas (dentro do que lhes foi permitido): os conflituosos irmãos separados pelo poder e reunidos pela sede de sobreviver. Schreiber será certamente a “estrela do pedaço” com uma versão potente do rijo Zus, roubando a cena sempre que aparece. O elenco secundário, que inclui jovens promessas como Jamie Bell e Mia Wasikowska, responde também de forma competente ao desafio.
Duas das maiores forças da fita são técnicas: por um lado, a fotografia de Eduardo Serra, pautada pelas cores escuras (verdes, cinzentos e azuis), é simultaneamente bela e trágica; por outro lado, James Newton Howard dirige os violinos com um alcance dramático absolutamente brilhante.
A meu ver, o maior problema de Defiance está no argumento, que sendo bem-intencionado não tem metade da profundidade que deveria; os diálogos deixam a desejar, os clichés são porventura mais do que os necessários e nunca chegamos a estar suficientemente próximos das personagens para realmente compreendermos os seus conflitos e batalhas pessoais (nunca conhecemos, por exemplo, praticamente nenhuns antecedentes da vida dos Bielski antes de estalar o massacre, o que nos envolveria muito mais emocionalmente nas suas disputas). A primeira hora genericamente agradável acaba por tornar-se apenas satisfatória quando se prolonga por mais de 2 horas de fita.
Outra questão importante prende-se com a imagem mais “soft” dos Bielski que acabámos por ver representada. Na verdade, os verdadeiros Bielskis chegaram a cometer os seus próprios actos sádicos e de punição em nome da vingança; alguns que suscitariam uma interessantíssima ambiguidade moral mas que, infelizmente, não foram retratados no filme, tendo-se preferido uma versão quase estritamente altruísta e de solidária do grupo Bielski.
Apesar da espectacularidade da sua história de origem - a verídica jornada dos irmãos Bielski, Defiance acaba por ser muito morno e tenro. Faltam-lhe os "pozinhos mágicos".
No entanto, e apesar de nem todas as peças estarem no lugar, é ainda um bom filme. Como alguém um dia disse, a história dos Bielski demonstra de facto que nem todos os Judeus foram vítimas; alguns foram guerreiros. Apesar das falhas, Defiance tem inegavelmente o poder de nos tocar e, acima de tudo, inspirar.
7/10