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"I don't want to lie. I can't tell the truth. So it's over.”
Todos os dias chegam aos nossos olhos filmes que nos remetem de certa forma para um sentimento de Dejá vú. Os temas começam a repetir-se, a monotonia começa a instalar-se. De um ponto de vista longínquo, Closer trataria por si só o mais banal dos temas abordados pelo cinema desde a sua criação: O Amor. Felizmente, não é assim.
Uma stripper, um jornalista, uma fotógrafa e um médico. Estão jogadas as cartas para uma espiral sem fim de egoísmo, pseudo-paixão, inveja, desafios morais e traição. Nunca um filme provocou tantos desvios de olhar, tantos "remexeres" na cadeira. As ambiguidades e os paradoxos que nos são impostos ao longo de todo o filme funcionam quase como um choque cerebral para o espectador ao constatar que, muitas vezes, o Amor sofre metamorfose, tornando-se feio e repugnante.
Mike Nichols pega num argumento com diálogos poderosíssimos e aproveita-o de uma forma singular e irrepreensível, juntando uma excelente Fotografia (focada no olhar e nas expressões faciais, exprimindo emoções como nunca se viu), uma banda sonora arrepiante e um elenco de luxo.
Os actores principais, Jude Law e Julia Roberts, estão muitíssimo bem. Law demonstra todo o desnorteio e vazio de Dan, um jornalista infeliz no seu emprego e prisioneiro de uma relação sem chama e Roberts uma fotógrafa também infeliz, vazia e egoísta, com um casamento sem futuro.
É, no entanto, no elenco secundário que aparecem as mais estonteantes performances, que acabaram por ser nomeadas aos Óscares. Clive Owen é irrepreensível no papel de Larry, estando presente em praticamente todos os momentos mais fortes e desconfortáveis do filme. Os diálogos de linguagem crua e conteúdo pesado por ele protagonizados são de tal forma verdadeiros que se tornam desconcertantes sugando-nos por completo.
Por outro lado, Natalie Portman tem aqui uma das suas melhores prestações da sua carreira (se não a melhor!). A inocência enganadora que atribui a Alice, bem como toda a carga dramática subjacente e o seu “vício doentio” por Dan fazem desta uma das personagens mais interessantes dos últimos anos. Alice é tão paradoxa e complexa que é ao mesmo tempo a mais falsa e a mais verdadeira de todas as personagens. A sua cena final, ao som de Damien Rice, é de tal forma portentosa que fica na memória como um símbolo representativo do filme… Uma mulher perdida, mas que todos olham e admiram ao longe.
Talvez a palavra que melhor descreve Closer é: jogo… um jogo jogado por todos, onde se persegue sempre o ideal de uma vida e um amor-perfeito que nunca existiram. Os diálogos, tão verdadeiros que chegam a ser incómodos, e a violência das acções demonstram, em todo o seu esplendor, a decadência emocional que, a cada dia que passa, tentamos ocultar.
Closer não é um romance, muito menos uma história de amor. Na realidade, é difícil classificá-lo num género específico. É um soco no estômago, uma chamada de emergência para o mundo real em que todos os dias nos apaixonamos, traímos e destruímos.
É, de facto, um filme duro, cru. Nada é reconfortante, acolhedor ou feliz.
Closer não pretende ser uma obra-prima, um traço de genialidade, e de facto não é. E por o não ser é tão verdadeiro, tão brilhante.
“
Dan: Who are you?
Alice: I'm no one!”
9/10