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Point-of-View Shot - Sangue do Meu Sangue (2011)

por Catarina d´Oliveira, em 10.04.12

 

"Eu vou-te ajudar a resolver esta situação, mas tu vais ter de me prometer que nunca mais te vais voltar a meter em merdas destas"

 

Confesso que tenho uma certa dificuldade em obrigar-me a ver filmes portugueses. Se calhar o erro parte logo da premissa: viram como disse “obrigar-me”? Como se de uma tarefa se tratasse, como lavar a loiça ou aspirar o quarto.

 

Não é, nem deve ser, e no entanto, o Cinema Português tem tido alguma dificuldade em chegar até mim, ou eu até ele.

 

Assumo mea culpa – tenho muitos preconceitos. Alguns que acredito que sejam totalmente errados, mas outros que, podendo ou não verificar-se caso a caso, criam uma espécie de medo. Um medo que se verifiquem e que isso se traduza numa desilusão para a qual não me sinto preparada para me restabelecer, tendo um repertório tão pequeno atrás de mim para me sustentar.

 

Mas chegou um daqueles dias em que tive de mergulhar de cabeça do asfalto. Fechei os olhos e atirei-me assim mesmo. Felizmente, o João Canijo estava lá para me amparar, com aquele que deve ser um dos melhores filmes portugueses do novo milénio.

 

 

O drama de sacrifício de Canijo - Sangue do Meu Sangue - retrata a vida dura num bairro decrépito de Lisboa, onde duas mulheres estão dispostas a fazer o que for preciso para proteger o seu maior tesouro – a família.

 

A exploração da tragédia no coração do português comum é tema recorrente no repertório do realizador português, mas aqui o voo é estratosférico. Canijo surge-nos como o autêntico maestro de um portento cinematográfico. E que maestro! O trabalho de câmara é soberbo: desde os ângulos incomuns, à movimentação firme e pesada, e ao prolongamento milimetricamente correto, que faz com que cada cena se estenda livre e naturalmente até ao frame final.

 

Um dos mais deliciosos pormenores da sua direção são as cenas recorrentes onde dois pares de personagens dividem o enquadramento. Cabe ao espectador escolher a história que mais quer ouvir, porque, e como na vida real, as conversas não se colocam em fila de espera, e a vida ou as vidas acontecem ao mesmo tempo.

 

 

Já que falamos em conversas, o som é, aliás, em si mesmo, quase um personagem. Nos primeiros minutos, quase temos dificuldade em deslindar o que os personagens discutem, mas rapidamente esta se dissolve, quando o ouvido deixa de estar programado para um filme e o passa a estar para uma janela. Uma janela que dá diretamente para a realidade, porque a realidade é isto. São conversas indistintas tidas em surdina, são trocas de palavras paralelas que desafiam a atenção, são discussões abafadas pelo relato da bola.

 

Outro momento especialmente inspirado sobrepõe na perfeição a convergência do trabalho de imagem e de som: aquele momento decisivo da humilhação extrema de Ivete, que é acompanhado, como o carapau e molho à espanhola, pelo golo no Espanha-Portugal que aniquilou o sonho luso na Europa em 2010.

 

Depois de dois anos volvidos a escrever (bebendo inspiração de Mike Leigh) e ensaiar com os atores, o resultado traduz-se num dos títulos mais consagrados do Cinema Português Moderno, com todo o mérito que lhe possamos atribuir. O argumento, acusando dessa mesma construção que lhe deu tempo para respirar e fermentar, transpira a realidade e isto sente-se essencialmente porque, mais do que em qualquer drama social hollywodesco, aqui conhecemos o ambiente e conhecemo-nos como povo, e Sangue do Meu Sangue chega a nem parecer uma ficção. Recuperando um termo já utilizado, é uma janela. Uma janela algures em Lisboa.

 

 

O elenco merece redobradas aclamações. À cabeça temos uma Rita Blanco avassaladora, que rouba todas as cenas onde aparece, e que surge no timming perfeito para a estreia dos nossos Sophias – my early bet. Mas tudo o resto é realidade, e por realidade quero dizer talento: Nuno Lopes, que se confirma uma vez mais como um dos mais talentosos e versáteis atores da sua geração e Anabela Moreira, a cabeleireira que mesmo quase submersa num mar depressivo arranja forças para lutar por quem ama, são os outros dois grandes destaques, não desfazendo, claro está, Rafael Morais, Cleida Almeida e até a pequena participação de Fernando Luís.

 

Apesar de o Cinema de Canijo se pautar por um pessimismo constante e de, Sangue do Meu Sangue abandona-nos com uma mensagem profunda sobre a esperança, a renovação e o amor incondicional de uma família que entre cruezas e durezas e muitas cabeçadas em parede de cimento, vai encontrando o caminho às apalpadelas.

 

E um obrigada a toda a equipa que, revisitando as primeiras linhas deste texto, me assegura que numa próxima vez não terei de ter medo em mergulhar de cabeça.

 

9/10

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1 comentário

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De André Clemente a 11.04.2012 às 20:43

Óptima crítica, grande filme um dos melhores portugueses de sempre 9/10 exactamente a mesma nota que eu dei ;)

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