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Point-of-View Shot - Margin Call (2011)

por Catarina d´Oliveira, em 07.03.12

 

"These people have no idea what's about to happen." 

 

Muitos de nós, comuns mortais, não estão familiarizados com os trâmites do funcionamento de Wall Street (ou “A Rua”, como é enigmaticamente chamada), o centro financeiro do mundo que, não vamos colocá-lo por menos, é um dos grandes responsáveis pelo (bom e mau) funcionamento da sociedade humana.

 

Desde o café que tomamos pela manhã até ao jantar apressado que compramos em take-away, o preço de tudo o que consumimos depende destes homens que das oito da manhã às seis da tarde não largam o telefone e não descolam o olhar de gráficos e números aparentemente incompreensíveis no ecrã de um computador.

 

E hoje, na situação cada vez mais deteriorada e crítica em que nos encontramos, é cada vez mais importante olhar para lá do nosso umbigo e tentar compreender o que se passa com o mundo. Afinal, o que podemos fazer para que a história não se repita? E ainda mais primário do que isso – o que aconteceu realmente em 2008, que despoletou um dos maiores tsunamis financeiros da história?

 

Uma das respostas possíveis, como se fosse dada a entender a um Golden Retriever a pedido de um dos personagens da trama, é simples. Primeiro, os bancos atraíram pessoas a empréstimos que não poderiam pagar, por exemplo, para comprar uma casa. O passo seguinte e decisivo, era um tiro cego mas financeiramente suculento: bem embonecadas, essas hipotecas arriscadas eram então vendidas a investidores incautos e desprevenidos.

 

 

Margin Call segue uma firma que trava conhecimento com as inevitáveis repercussões deste cenários (ter prejuízos que excedem o capital da empresa) por um dos seus mais jovens e brilhantes trabalhadores. A avalanche eminente desafia as leis de newton caminhando num sentido vertical, de baixo até acima.

 

Eventualmente, chegamos ao elo mais forte da cadeia. O CEO John Tuld (cujo nome é um piscar de olho pouco discreto a Richard Fuld – antigo CEO da Lehman Brothers) é chamado de urgência  e, depois de surgir num dispendioso helicópetro, reúne a artilharia mais pesada da firma às duas da madrugada para delinear uma estratégia desesperada e, bom, desesperante quando lhe conhecemos os traços: livrar-se rapidamente da “maior pilha de excrementos malcheirosos na história do capitalismo” na manhã seguinte, vendendo tudo a preço de saldo antes que os investidores descubram que estão a comprar… bom, trapos.

 

E como infelizmente vimos por experiência própria, esta enchente de trapos no mercado salvou de facto algumas cabeças de rolarem pelo chão, proporcionando-lhes um resto de vida bastante cómodo, mas trouxe aos restantes 99% da população o encarar de um sistema paralisado e profundamente fragilizado.

 

Se desejam ficar ainda mais assustados e encolerizados com o sistema dos colarinhos brancos, corram já para assistir a Inside Job. Se o que pretendem é uma versão ficcional que dê uma perspectiva do ponto de vista das grandes cabeças de Wall Street, bom, não têm de ir mais longe: Margin Call é um dos melhores filmes sobre Wall Street alguma vez feitos, e talvez também um dos mais amigáveis ao espectador comum, que como eu, não está muito ao corrente da maquinaria d’A Rua.

 

 

Margin Call é um olhar intenso perante o abrir portas da crise de 2008 a partir da perspectiva de uma empresa sem nome (cof… Lehman Brothers… cof) que em vésperas de um furacão financeiro, tenta safar-se o melhor que pode enchendo os bolsos de dinheiro sujo mas precioso à sobrevivência. Somos colocados em cima do acontecimento, justamente no momento em que decisões baseadas na ganância e no medo são tomadas, e a mensagem que nos fazem passar é simultaneamente lúcida e assustadora.

 

A realização de J.C. Chandor (na sua película de estreia) é competente, e apesar de não ser particularmente inventiva e da segunda metade do filme ter ligeiros problemas de ritmo, tem toques que merecem menção. Um dos que mais me chamou à atenção, e que penso ser um grande contribuidor para este ser um filme ao alcance de todos é que nunca somos confrontados com a informação que os personagens vêm. Este mecanismo simples tem uma dupla função exímia: por um lado, obriga os personagens a trocarem por miúdos o que se passa sem termos também nós uma dor de cabeça a decifrar o indecifrável, por outro, permite-nos focar em quem aqui interessa – os humanos por detrás das máquinas, os olhares aterradores, a impotência perante o que está para vir.

 

Num enredo guiado pelo diálogo, e de superior em superior, a notícia espalha-se como um cancro entre escritórios escuros e salas de reuniões deprimentes ressaltando ainda mais o distanciamento que, escalando a pirâmide do poder, parece existir relativamente à essência do trabalho n’A Rua. De facto, quanto mais subimos na “cadeia alimentar”, menos se entende da verdadeira maquinaria, mas ninguém tem vergonha de admitir que chegou onde chegou por ganância e cinismo cordial.

 

É verdade que Chandor faz uso do estereótipo, mas não duvidemos da sua eficácia, porque este acaba sempre por ser extrapolado humanizando assim a personagem a que respeita. Estes são Homens que sabem como são vistos mas cuja ganância não é a única força motriz – cada um tem a sua própria estrutura moral e ética.

 

 

O guarda-roupa monocromático foi um toque de classe, exacerbando a ideia que temos de que, de facto, aquelas pessoas longínquas mas de extrema importância para a nossa sobrevivência são quase máquinas, todas iguais, mecanizadas. O azul é a cor predominante com a exceção deliciosa feita, imagine-se ao segurança que escolta os recém-despedidos para fora do prédio, que veste um enigmático fato vermelho.

 

A fotografia é sóbria e acompanha o look azulado do guarda-roupa, dando uma adequada ideia de frieza à “Rua”.

 

Um dos mais óbvios pontos fortes de Margin Call é o elenco, que não toca nem uma nota errada – sim, até Demi Moore é exemplar na personificação de um horror contido do bode expiatório forçado pelo “bem maior” da firma que representa.

 

Mas a verdadeira estrela da madrugada é Kevin Spacey, que com flutuação fantástica entre o leal heroísimo e a vilania golpista nos brinda com uma das melhores performances de 2011 e a melhor de Spacey desde American Beauty. Sam Rogers pode não ser a personagem mais carismática do conjunto, mas é sem dúvida a mais calejada e a mais importante do ponto de vista dramático do enredo. Este é um homem que trocou uma vida familiar pela dedicação leal ao trabalho e que hoje se vê numa encruzilhada entre o moralmente certo e o errado, e onde o dinheiro sujo que porá ao bolso não ajudará a cavar o túmulo do seu cão morto.

 

 

Talvez fosse mais fácil fechar o pano da forma que achamos mais justa: encarcerando até à putrefação todos aqueles que nos arrastaram para a miséria que, quatro anos passados, ainda nos assola como se tivesse sido ontem. Mas Chandor não o faz. Ninguém é marginalizado, culpado ou absolvido. Margin Call apenas mostra uma das respostas que procurávamos para o resultado desde jogo de xadrez onde, desde peões a rainhas e reis, todas as peças são humanas, dispondo “apenas” de um papel de maior relevo na vida dos restantes de nós, e tendo também uma maior oportunidade de ceder aos seus – e nossos - piores instintos.

 

O final, que não foi decerto deixado ao acaso, é profético e emblemático.

 

Entre lágrimas e sofrimento, Sam enterra o seu companheiro de longos anos, mas não apenas isso – o que sai também enterrado e sem glória é a ordem económica que um dia tivemos como certa, e no dia seguinte, como se já não tivéssemos tido lições históricas suficientes, se viu destroçada por um armagedão inesperado que espalhou viralmente miséria em todo o globo.

 

 

8.5/10

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4 comentários

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De Buy Essay a 21.06.2012 às 00:27

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De restaurant chairs a 17.09.2012 às 11:20

um papel de maior relevo na vida dos restantes de nós, e tendo também uma maior oportunidade de ceder aos seus – e nossos - piores instintos.

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