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Point-of-View Shot - Carnage (2011)

por Catarina d´Oliveira, em 27.12.11

 

"Your son disfigured our son!" 

 

Roman Polanski está bem habituado a manter os seus personagens presos a uma determinada circunstância, e a partir daí, a explorar os seus instintos mais (des)humanos. Se fiz bem as contas, já é a quarta vez que o faz num apartamento.

 

Baseado na peça “God of Carnage” de Yasmina Reza – que ajudou Polanski a escrever o argumento do filme – Carnage não tem um enredo que exista por si mesmo por não ser, na verdade, aquilo que mais interessa.

 

Depois de um desentendimento entre duas crianças que acaba com uma delas com dois dentes a menos, os pais de ambos resolvem encontrar-se para, do alto da sua “adultez”, arranjarem uma solução civilizada para resolver o desacato entre os filhos.

 

Os casais funcionam como opostos simbólicos. Penelope, intensamente interpretada por Jodie Foster, é uma liberal que apoia causas nobres como a do Darfur. Ela é casada com Michael (John C. Reilly), um vendedor aparentemente pacífico mas com pavio curto. Do outro lado do campo temos Alan (Christoph Waltz), um advogado arrogante siamês do seu telemóvel e Nancy (Kate Winslet), uma correctora que se sente cada vez mais afastada do marido. É ela que acaba por originar a famosa cena do vómito, onde restos mortais do que um dia fora uma torta de maçã – deliciosa, como Michael nos relembra várias vezes - jazem sobre um livro de arte, para grande desgosto de Penelope.

 

 

A conversa cordial dá lugar a uma discussão briguenta, e quando o álcool resolve juntar-se à festa, o circo pega fogo com rupturas em ambos os casamentos a serem reveladas. A ponta civilizada do iceberg esconde uma base sombria de natureza agressiva que, todos os dias, numa situação ou outra, tentamos reprimir. Com o desenrolar do serão e do conflito, tanto os Cowan como os Longstreet se deixam consumir por essas forças mais primitivas, expressando-as das mais variadas formas, algumas bem "animais".

  

O filme, tal como a peça que lhe deu origem, nunca abandona o espaço confinado do apartamento. É claro que esta circunstância, no que ao teatro diz respeito, deve resultar fenomenalmente. Por um lado, enquanto audiência, ocupamos, de certa forma, o mesmo espaço das personagens, o que torna a performance muito mais completa e verosímil, por outro lado e talvez ainda mais importante, temos por garantido que aquelas personagens não podem abandonar o espaço daquele apartamento e por isso nunca sequer nos passa pela cabeça que o possam fazer. A questão problemática que se põe na versão cinematográfica de Carnage é primária: porque é que os Cowan não foram embora à primeira ou segunda chance? Em palco, o mais importante é o diálogo, a estrutura mantém-se em segundo plano. Mas em Cinema as coisas não funcionam da mesma forma, o que aqui se torna muito claro.

 

Não me recordo de um filme baseado numa peça de teatro que fosse tão teatral. O ritmo não é consistente e a claustrofobia que se cria começa a ser forte demais para o seu próprio bem… se ao menos algum deles abrisse uma janelinha…

 

 

Infelizmente, a história (ou devemos antes chamar-lhe situação?) torna-se cansativa e a sua natureza cínica faz-se notar bem cedo: a certa altura, Nancy diz “Estamos muito sensibilizados pela vossa generosidade, ao invés de tornarem as coisas mais difíceis. Há tantos pais que se parecem crianças…”.

 

Além desta crítica "subtil", Carnage faz ainda outro apontamento social: relativamente à novas tecnologias, particularmente os telemóveis, que nos roubam cada vez mais da interacção directa com o outro. A certa altura, Nancy faz-nos a vontade e manda o telemóvel do marido à fava.

 

O argumento merece, contudo, que se lhe tire o chapéu. É ácido, e ao mesmo tempo, permite que os actores construam minuciosamente os seus personagens – quero aqui sublinhar a performance de todos eles absolutamente em topo de forma, tirando os momentos finais histéricos de Jodie Foster cujas veias do pescoço recebem demasiado tempo de antena.

 

O design de produção, que esteve ao cargo de Dean Tavoularis está fantástico – quem diria que Carnage foi filmado em Paris e não num qualquer apartamento de Manhattan?

 

 

É um belo ensaio cómico abrasivo que, apesar de carregar pesadas falhas, é eficiente a revelar-nos caricaturalmente comportamentos reprovadores que já vimos em conhecidos nossos e, até por mais que tentemos reprimir, em nós mesmos. Admito que ser-me-ia muito mais fácil prezá-lo enquanto o via do que depois do seu final. Depois de os créditos rolarem, não me ficou grande coisa além do alívio pelo coitado do hamster que afinal ainda se safou de boa deste poço de loucura.

 

Os sintomas são claros, mas infelizmente a cura já não vem a tempo. Exagerado, forçado e teatral, Carnage perdeu muita da graça natural que creio que deverá ter enquanto peça e o que nos sobra são quatro actores sensacionais a debitar diálogo muito bem escrito. Mas este talvez seja um daqueles casos de morte antes da nascença. Porque se há peças de teatro que dão bons filmes, Carnage, pelas suas particularidades estruturais, não me parece poder ser uma delas.

 

Apesar de serem cães que ladram e mordem, os quarto protagonistas acabaram, para mal dos seus pecados, com um ancinho cinematográfico. Too bad…

 

 

6.5/10

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