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Point-of-View Shot - Contagion (2011)

por Catarina d´Oliveira, em 22.12.11

 

"Don't talk to anyone! Don't touch anyone!"

 

 

Entre 1 e 5 % da população mundial sofre de um distúrbio psiquiátrico que, posto de forma simples, se traduz num medo excessivo de contrair doenças graves – Hipocondria. A percentagem pode parecer baixa, mas ela designa apenas os casos mais graves da doença – afinal, quem de nós não é por vezes um pouco paranóico?

 

O que vos quero dizer com isto é que, depois de assistir a Contagion, o mais recente filme de Steven Soderbergh, é muito provável que o número de hipocondríacos aumente a pique.

 

O filme mais assustador do ano não é um daqueles “found footage”, ou um filme de zombies ou sequer um filme com psicopatas. Aqui os vilões são os corrimões, os puxadores das portas, as caixas de multibanco, os copos, os amendoins de um bar, o Casino, o assento do autocarro, o restaurante, o toque.

 

Contagion é um daqueles verdadeiros filmes de terror que não nos prega sustos ao longo do caminho, mas que nos impregna de um medo aterrorizador. A paranóia de ter de tocar em tudo o que já foi tocado milhares, milhões de vezes antes. O tresvario da sobreprotecção. 

 

Realizado e filmado com uma atenção metódica ao pormenor por Steven Soderbergh , Contagion abre de forma brilhante: uma tosse forte começa a atacar Beth, uma mãe executiva que se prepara para regressar a casa depois de uma viagem de trabalho. Quando chega, Beth sente-se ainda pior, desintegrando-se lentamente numa febre forte, ataques, hemorragias internas e, finalmente, morte. Beth é a face do princípio do fim.

 

O início já se toma a meio dos acontecimentos, e é nesse ritmo acelerando - tal como a reprodução do próprio vírus - que se mantém sempre. As personagens e as situações nunca são demasiado aprofundadas, a complexidade do vírus que enfrentamos é tratada de forma fugaz, e é esta a nossa pequenez no mundo, tal como Soderbergh quer que a vejamos. 

 

Gostei particularmente da atenção dada por Soderbergh aos germes que, sem notarmos, trocamos durante todo o dia. Contagion consegue, de facto, ser mais inquietante do que muitos outros filmes baseados em bichezas que nos tramam a vida. Os sintomas não incluem alterações assustadoras – tudo começa com uma simples tosse.

 

 

Este poderia ser um daqueles blockbusters que misturam o que de melhor (e pior) Michael Bay e Roland Emmerich têm para oferecer em mais de duas horas de desgraça apocalíptica. Soderbergh é mais económico, e bastam-lhe 105 minutos de pânico silencioso. Este é um exercício de montagem espectacular – navegando rápida e fluidamente entre personagens doentes, zooms de objectos mundanos e de situações quotidianas.

 

O filme torna-se quase patológico na sua evasão à emoção. Para mim, no limiar do erro, resulta; apesar de admitir que este seja um factor de grande discussão naqueles que gostam/não gostam do filme.

 

Contagion não pertence a nenhum dos actores cujo nome vemos no poster. Eles funcionam apenas como elementos do enredo, dando diferentes pontos de vista sobre uma catástrofe que se abate sobre a humanidade como um todo, e não como um conjunto de seres individuais. A ideia da civilização é muito forte. E é aqui que entra a inteligência de Soderbergh: apesar de o enredo não nos tornar apegados aos personagens, o realizador escolheu a dedo actores que o fazem acontecer automaticamente. Apesar de os personagens se manterem arquétipos, a simpatia que nutrimos por eles enquanto actores torna-nos, inconscientemente, mais sensibilizados para com aquilo que vivem no ecrã.

 

Pode parecer uma realidade fria, mas enquanto Contagion parece quase demasiadamente distanciado das milhares de mortes que nos mostra, o que tenta manifestamente explorar é a forma como a sociedade e as estruturas que construímos reagiriam perante uma situação de desastre como esta, em oposição à talvez mais comum viagem individual e emocional de um ou dois protagonistas à la Spielberg.

A prova-mestra deste argumento é a morte de uma personagem que luta desenfreadamente pelo bem maior e que acaba desumanizada num saco de plástico azul. Creio contudo que esta “des-sentimentalização” vem apenas reforçar o sentido heróico de sacrifício de todos os envolvidos que, de uma forma ou outra, fizeram algo para combater esta pandemia, ainda que mal consigamos recordar os seus nomes (fictícios, claro). Para que realmente nos ligássemos emocionalmente com todos os infortúnios que acontecem no ecrã aos personagens que seguimos, Contagion não necessitaria apenas de ter mais uma hora de duração – teria de se tornar numa mini-série televisiva, no mínimo.

 

A forma como o filme explora o papel da Internet também é imaginativa, mas cabe também às audiências encará-lo como apenas um dos cenários possíveis. A questão da importância do blogging é aqui debatida o suficiente para gerar ideias erradas. “Blogar não é jornalismo; são graffitis com pontuação” diz a certa altura um personagem. E se é verdade que os media “menos nobres” podem incentivar a contaminação social por exposição informações falsas, também é verdade que, em muitos casos, funcionam como fontes bastante legítimas em alturas de crise. Este foi um ponto do argumento que me incomodou não por ser blogger mas porque demonstrou não só algum preconceito como uma certa displicência.

 

Há sequências de uma fluidez e claridade extrema, que apesar de notarem uma qualidade acima da média no seu desenvolvimento, acendem freneticamente as luzes de alerta para o seu conteúdo grave e terrível.

 

Tentem assistir a Contagion sem pensar no último lugar onde andaram com as mãos, tentem assistir ao filme sem tocar na cara. “Uma pessoa normal toca na cara duas a três mil vezes por dia.” – Tomem apenas este momento, esta frase. Tocaram na cara, certo? 

 

Como já por aí li, Contagion deve ser “ o anúncio de serviço público mais caro de sempre”, mas resta relembrar que o Contágio do título tem duplo significado levantando uma questão crucial: o que é pior, a difusão da doença ou a difusão do medo? Sinceramente, e depois do que já vi acontecer neste nosso mundo, não vos sei responder.

 

8/10

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4 comentários

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De André Clemente a 23.12.2011 às 15:33

Óptima crítica Catarina concordo com tudo o que disseste...para mim 8/10 também.
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De Catarina d´Oliveira a 23.12.2011 às 16:34

André, és sempre demasiado simpático :d mas obrigada :P
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De André Clemente a 23.12.2011 às 18:14

Quero ver ai a crítica do "The Ides of March" e do "Moneyball" como prometeste xD
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De Catarina d´Oliveira a 23.12.2011 às 22:08

LOL fair enough :P amanhã ainda ponho cá uma delas de certeza. talvez moneyball :P

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