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Point-of-View Shot - José e Pilar (2010)

por Catarina d´Oliveira, em 19.10.11
 

“Se eu tivesse morrido antes de te conhecer, Pilar, teria morrido sentindo-me muito mais velho.”

 

Passava-se o século XVI quando o rei D. João III decidiu oferecer ao primo, o arquiduque Maximiliano da Áustria, um elefante indiano que há dois anos estava em Belém. “A Viagem do Elefante”, livro que narra as aventuras e desventuras de um paquiderme, é o ponto de partida e de chegada para José e Pilar, o filme de Miguel Gonçalves Mendes que retrata a relação entre José Saramago e Pilar del Río e que tem conquistado os mais cépticos admiradores.

 

Acompanhar o processo criativo de José Saramago, o primeiro português a vencer o Nobel da Literatura, parece uma oportunidade só ao alcance dos mais sortudos. Hoje isso mudou, e todos podemos seguir passo a passo o seu método que é por vezes surpreendente – quando o trabalho não rende, mais vale mesmo dar uma perninha de Solitário a ver se a coisa arranca.

 
 

Acho que o maior elogio que podemos prestar a Miguel Mendes pelo trabalho hercúleo de seguir este casal enigmático durante meses a fio, é que José e Pilar parece uma história saída do imaginário do próprio Nobel.

 

É claro, Saramago nunca foi homem de histórias de amor, de palavras aveludadas, doces. As suas histórias e contos foram sempre irrequietos. “Vivo desassossegado e escrevo para desassossegar”, dizia ele. E assim era e foi. Para quê escrever histórias de amor, quando temos a sorte de nós mesmos as vivermos, com todos os clichés a que temos direito?

 

Saramago tinha o dom de transformar a mais mundana das coisas em literatura pura, tenha sido na construção de um convento ou na viagem de um elefante. Mas a própria “Viagem do Elefante” serve de metáfora ao período da vida que Saramago ultrapassa. José é o elefante, e este é o retrato da sua pesada e custosa jornada, não entre duas cortes, mas por todo o mundo. E não só. Miguel Mendes não pega o touro pelos cornos, mas por outro sírio qualquer inesperado - talvez o rabo.

 
 
 
Este não é um filme sobre José Saramago, o Nobel, nem tampouco sobre José, o homem. Esta é uma equação mais complexa, e a incógnita de José é acompanhada perpetuamente pela incógnita de Pilar – esta é uma história de amor. Quando José chama por Pilar, o que acontece recorrentemente e em contextos vários, a sua própria voz, a entoação, a mão que procura  a outra (às vezes cegamente, no meio da multidão), parecem declarações eternas.
 

Às vezes chegamos a pensar: “mas como é que permitiram filmar isto?”. E aí está mais uma prova da paixão e perseverança de Miguel Gonçalves Mendes, que diz sempre ter tido de moer bastante para que Saramago o continuasse a deixar gravar. Apesar de tudo, nunca nos sentimos como um intruso – afinal, ainda mais no género documentário, não parece que estamos a ver um filme, mas que estamos realmente lá.

 

Por mais que deteste dizer isto, tenho de ser honesta. Não estou muito habituada a ver documentários. Apesar de ter visto alguns nos últimos anos, são insuficientes para formar uma amostra decente. Mas algo que não me tem escapado à vista, apesar de não acontecer obviamente em todos, é aquela característica especial do género de disparar uma série de números, suposições, factos e depois terminar numa conclusão alarmante. José e Pilar não é nada disto. Não traz números, nem conclusões alarmantes, e para dizer verdade, quase sempre nos esquecemos de que estamos a assistir de facto a um documentário, não fossem algumas fugazes referências dirigidas à equipa de Miguel Mendes.

 
 
 

Este amor que passámos a conhecer, contrasta com o homem frio, irrequieto, descrente em deus e no Homem, e de ar altivo que conhecemos. Sobre a personalidade do escritor, Miguel Mendes defendeu numa entrevista ao Ante-Cinema que o “irritava imenso quando as pessoas diziam que ele era panfletário, porque ele não é nem panfletário nem político nem nada do género. E então eu basicamente queria conhecê-lo, e o filme foi uma desculpa para isso; é tão primário quanto isto, e não tenho qualquer problema em o admitir.”

 

Este outro Saramago, que apesar de continuar a aparência austera, demonstra uma paixão e sentido de humor imensos, tem de ser conhecido, e é pena que só o possamos constatar depois de ele jazer, tal como sempre desejou, à sombra de uma oliveira na Casa dos Bicos.

 

Aqui temos um José solto, um José que “não tem de parecer inteligente”, mas ainda assim o é invariavelmente, seja pelo humor (para mim surpreendentemente) sempre presente, pelas picardias animadas com amigos, pelas considerações filosóficas sobre vida e morte, ou pelas palavras de afecto dirigidas ao seu pilar, Pilar.

 
 
 
Mas esta não é apenas a história de amor de um casal, mas também de um realizador e de uma pequena equipa que se dedicaram a este projecto de corpo e alma, seguindo a frenética agenda do Nobel durante quase quatro anos.
 
Esta produção foi um autêntico tour de force, banhada por sangue, suor e lágrimas. A montagem, que surge de um material-fonte com mais de 240 horas, foi trabalho custoso, mas que se traduz num dos filmes mais bem editados de origem lusa. Juntando-lhe a banda sonora célebre e em todos os momentos perfeita, temos obra de arte.
 
Esta era também altura em que falaria do desempenho dos actores, mas aqui não os há. Aqui há duas personalidades antónimas. Um português puro, bem-humorado mas melancólico e uma espanhola energética e, bom, muito espanhola! Esta é uma simbiose rara e perfeita, encantadora. E no entanto, este é um casal cujas bases não poderiam ser mais banais, mais mundanas. É um retrato tão puro e verdadeiro que assim é mais fácil voltar a acreditar nas histórias de amor dos livros e das canções.
 

Apesar de versar muito sobre a morte, José e Pilar tem uma base muito optimista. Saramago começou tarde a sua carreira, e no fundo, a sua vida, e por isso, tudo está aumentado, tudo está em fast-forward. A vida não espera por nós, e Saramago sabia-o bem. Como o próprio teria dito caracteristicamente “ou vives agora ou não vives, pronto, acabou-se”.
 
Infelizmente, já todos sabemos o final, ou pensamos que sabemos. Esta não é uma história especificamente sobre morte, ou uma homenagem tardia a uma personalidade que tão mais cedo a mereceu. Esta é uma ode à esperança, à dedicação e especialmente, ao amor.
 
Contra tudo e todos, Saramago recuperou e terminou o seu livro dedicando-o como sempre “A Pilar que não deixou que eu morresse”. José era um homem com sede de vida e com uma força tremenda, mas também com uma racionalidade cortante e sempre presente. “O que mais me falta? Tempo. (…) Sentir como uma perda irreparável o acabar de cada dia. Provavelmente é isto a velhice." Quando Pilar lhe pergunta "o que queres que eu faça?", ele responde: "Continuar-me."
 
E mesmo sem querer, é isso que faz também Miguel Mendes. Continua esta linda história de amor para a eternidade.
 
 
10/10 

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3 comentários

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De André Clemente a 19.10.2011 às 18:52

Já o tenho a ver se o vejo ainda esta semana...pela tua crítica parece muito bom, eu até gosto bastante de documentários tenho visto alguns muito bons Senna, Waste Land, The Cove e Inside Job são de facto óptimos dentro do género.
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De Joana Persoa a 19.10.2011 às 20:35

Acabei de ler com um suspiro interior e um sorriso que não sei explicar o que é, mas que acontece sempre que algo é bom, me encanta e me envolve.
Este é um senhor que admiro imenso; o filme/documentário está deslumbrante e envolvente, desde a "história", às imagens, à mensagem que captei e à banda sonora; e tu, estás de parabéns - porque és fantástica, escreves bem e fizeste uma crítica que ainda me deixou mais satisfeita com esta obra.

;)
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De Catarina d´Oliveira a 20.10.2011 às 00:47

É sempre uma alegria deparar-me com as tuas impressões por aqui. Hoje porém foi mais que isso, e agradeço-te por te teres dado ao trabalho de comentar - são poucos os que dão lol.

Não sei se os elogios são todos merecidos, mas são, acredita, muitíssimo apreciados Jo. by the way, já tenho saudades dos nossos atrofios. Pra semana combinamos qualquer coisa, nem que seja um jantar manhoso na pizza hut, topas?

i miss you.

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