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"You're in love with a fantasy."
Continuando a rota europeia de Vicky Cristina Barcelona, Woody Allen encontra agora em Paris a sua grande musa. Reencontrando-se e redescobrindo-se, o realizador traz-nos a história mágica de um homem que um dia deixou de ter medo e decidiu seguir o seu sonho.
Gil sempre idolatrou os grandes escritores americanos. A vida levou-o a trabalhar como argumentista em Hollywood, o que se por um lado fez com que fosse muito bem remunerado, por outro lhe rendeu uma boa dose de frustração. Agora, está prestes a ir a Paris com a noiva, Inez, e com os pais dela, John e Helen. John irá à cidade para fechar um grande negócio e não esconde a sua desaprovação pelo futuro genro. Estar em Paris faz com que Gil se volte a questionar sobre os rumos da vida, desencadeando o velho sonho de se tornar um escritor reconhecido.
Midnight in Paris abre, desenvolve e fecha como um belo postal da cidade das luzes. É importante conhecer os locais onde vamos filmar o nosso filme, e Woody Allen não só faz isso como também se apaixona repetidamente por estes locais, e como um jovem embriagado de paixão, filma-os. O que vemos é o resultado dessa relação quase amorosa entre o realizador e as cidades que filma, que sempre tiveram lugar de destaque no seu Cinema.
O realizador e Darius Khondji (fotografia) deram ao filme um estilo visual vívido e único: seja, por exemplo, na montagem inicial em jeito de postal ou nas cenas dos anos 20, cheias de texturas ricas e fluídas.
O filme é cheio de graça e vivacidade, e é impossível não ficarmos inegavelmente apaixonados pelo passado como o nosso protagonista. E todas aquelas fascinantes figuras histórias… fascinantes em toda a humanidade que equiparavam à sua genialidade (e aqui entre nós, os actores pareciam estar a divertir-se à grande).
Estamos perante um conto lírico sobre o prazer, a criatividade e o romance. E se Midnight in Paris tem o seu quê de esquizofrenia, pairando entre a realidade e a fantasia, eu cá não me importo nada com isso.
Os elementos de fantasia nunca são exagerados, e compreendemos sempre que não têm a intenção de serem levados a sério, mas são uma forma interessante e diferente de o filme se manter em cheque com os seus temas mais profundos.
Infelizmente para nós e para a história, há simplesmente algo que não bate certo; os contrastes são demasiado fortes. Como é possível que Gil tenha chegado a este ponto da relação – ao ponto de casar – com uma pessoa que nunca se esforça para o compreender, ou apreciar, ou sequer amar? Este é um dispositivo que serve para nos separar da fantasia e da dura realidade, mas a verdade é que não tinha de ser assim tão dura – que diabo, onde é que ele foi desencantar uma família destas?
O elenco é fantástico; todos os actores parecem perfeitos para o seu papel, e acho que este é o melhor elogio que lhes posso fazer. E como ouvi por aí algures, Owen Wilson parece ser o avatar perfeito de Woody Allen.
Midnight in Paris é encantador, inteligente e nuclearmente esperançoso. E obviamente não tenho espaço nem engenho para prezar este filme quanto baste, por isso toca a levantar os rabinhos da cadeira e vão ver esta maravilhosa parada mágica por vocês mesmos.
8.5/10