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"So long... partner"
Era uma vez uma empresa de animação que, em 1995, pegou num molho de bonecos e arriscou enveredar pelo mundo das longas-metragens animadas. O seu primeiro filme chamou-se Toy Story, e além de ser o primeiro filme da história a ser totalmente feito por computação gráfica, tornou-se num fenómeno imortal.
Hoje, 10 longas depois, surge-nos a mais recente pérola da jovem porém conceituada empresa: Toy Story 3, e estes bonecos nunca foram mais humanos. E aqui, meus amigos, há muitas perguntas sem resposta. Como é que estes mestres conseguem continuar a criar milagres cinematográficos sem parar? Como é que o argumento de uma terceira parcela de um franchise consegue ser tão fresca e inovadora? Às vezes, o melhor é não conseguir arranjar respostas e deixar a magia acontecer.
Devo confessar que a série Toy Story não me convencia. Gostei do primeiro filme, mas não foi uma experiência memorável. O segundo, se querem que vos diga a verdade, já nem estou certa de ter visto. Mas o terceiro obriga-me a dar o braço a torcer, porque é um daqueles ensaios que não são descartáveis e que, sem dúvida, perdurarão por muito, muito tempo.
Andy é agora um jovem de 17 anos pronto para partir para o mundo que é a vida universitária. Molly, a sua irmã, tornou-se numa adolescente “escrava” do iPod e até o alegre cãozinho de família anda agora deitado preguiçosamente pela casa, acusando já a idade avançada. Mas há quem continue na mesma…
Nos tempos em que a idade adulta tomou conta da casa, os antigos bonecos de Andy continuam… bonecos. Sem ninguém para os utilizar em brincadeiras, têm eles próprios de arranjar maneiras de se distraírem. Mas o futuro surge como uma imensa interrogação: alguém brincará com eles de novo ou estarão destinados a uma caixa num sótão poeirento para sempre?
Este é o ponto de partida para a alucinante aventura de Woody e companhia, que tanto toma tons de apocalipse eminente como gargalhada colorida. Este capítulo, o melhor dos três, tem tudo aquilo que mais podemos desejar num filme: humor, emoção, estimulação e inteligência.
Para “sobreviventes” de trilogias, a Terceira vez pode ser a morte do artista para uma série admirada (veja-se The Godfather III). Todavia, Toy Story 3 prosperou onde outros tantos falharam. Isto porque não só se manteve fiel às suas raízes, como também expandiu em largos quilómetros o seu alcance.
Reflectindo mais uma vez uma das melhores características da Pixar, compreende emoções genuínas e não tem medo de as escarrapachar no ecrã. Como o melhor conto de fadas, Toy Story 3 é mais sério do que parece, e, na verdade, nem sequer parece sério! O terceiro episódio da série entreterá as crianças com a sua natureza alegre e divertida, mas também as fará aprender coisas sobre matérias que têm vindo a ser desenvolvidas recentemente pela Pixar numa outra espécie de trilogia. Seguindo Wall-E e Up, Toy Story 3 tem muito a ensinar com a sua sentida contemplação da mortalidade, valor humano, memória e amor.
A mensagem é simples: apesar da distância e do tempo, a família e os amigos são o que mais conta. Não devemos temer a mudança, e a morte… essa devemos sempre enfrentá-la com dignidade.
Esta é uma rara mistura feita com uma habilidade que é mais que habilidade – é inspração. A cena em que escapam da prisão é excitante, e a metáfora light do campo de concentração não pode ter sido acidental.
Michael Arndt encarregou-se, em grande parte, do argumento magnífico, e o realizador Lee Unkrich mantém a linha excepcional dos anteriores, ainda que este seja também um filme muito negro, e que poderá assustar e entristecer as crianças. Calma, o final é feliz, mas credo... estes bonecos devem ter ficado traumatizados para o resto da vida.
Não podia deixar de falar no visual. Vi Toy Story 3 em 2-D e não creio que tenha perdido nada, ainda que reconheça que a Pixar utiliza muito bem o instrumento 3-D. Como seria de esperar, a cor, a profundidade e os pormenores arrebatam-nos completamente. Os bonecos continuam como os conhecemos, porém notamos que estão muito mais trabalhados e expressivos. Uma nota muito importante vai para os personagens humanos, cuja qualidade técnica subiu exponencialmente.
Uma nota muito especial não podia faltar também para as vozes (vi-o no original), onde astros como Tom Hanks, Tim Allen, Joan Cusack, Ned Beatty e Michael Keaton dão uma nova vida aos bonecos que há 15 anos nos acompanham.
Na altura em que o final chega finalmente, seja qual for a nossa idade, compreendemos que não podemos passar de uma fase da vida para outra sem a ajuda e apoio dos nossos amigos.
É sofisticado técnica e filosoficamente. Mas também é honesto sobre a vida, e esperançoso. Ultra-moderno e tradicional ao mesmo tempo. Na minha opinião não supera Up, mas é, realmente, algo muito bonito e especial de se ver.
8.5/10